Por que, raios, alguém inventa um título imbecil, babaca, cretino como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa para o maravilhoso Annie Hall? Ou Os Brutos Também Amam para Shane? Ou algo tão absolutamente pomposo como Assim Caminha a Humanidade para Giant, gigante? Ou tão distante do original The Night of the Hunter, a noite do caçador, quanto Mensageiro do Diabo? Ou O Pecado de Todos Nós para Reflections on a Golden Eye, reflexos num olho dourado?
Essa coisa da escolha dos títulos em português, ou mais exatamente para o mercado brasileiro, sempre me grilou, fascinou – e imagino que com muita gente que gosta de cinema aconteça a mesma coisa.
É fascinante ver que esse não é um fenômeno brasileiro, terceiro-mundista. Acontece a mesma coisa em Portugal. E também na França. E também quando um título francês é vertido para o mercado de língua inglesa. É tudo doido igual, sem parâmetro, sem explicação, sem lógica.
Por diversão, curiosidade, loucura, comecei a fazer uma tabelinha com os títulos em inglês, em francês e nos dois portugueses, para os mercados de Brasil e Portugal. Há coisas muito engraçadas.
E nunca há lógica alguma. A escolha dos títulos dos filmes estrangeiros tem menos lógica que o futebol, é mais caixinha de surpresas do que o futebol.
Por exemplo: poderíamos admitir que título de filme estrangeiro com nome próprio – Shane, Annie Hall – não vende, não atrai, e então neguinho tem que inventar um que seja mais chamativo.
Pode ser. Mas então como explicar que o filme Love and Death tenha no Brasil virado A Última Noite de Bóris Grushenko? Bóris Grushenko é nome próprio, e não existia no título original – um título que remete diretamente a Guerra e Paz, já que este filme é a homenagem de Woody Allen ao romance de Tolstói. Os exibidores portugueses perceberam isso claramente, e lá o filme se chamou Nem Guerra, nem Paz; na França, também foram fiéis à idéia do título que lembra Tolstói, e optaram por Guerre et Amour. E Annie Hall em Portugal se chamou Annie Hall. Por que, raios, A Última Noite de Bóris Grushenko, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa?
Já na passagem para o português de Crimes and Misdemeanors – em que Woody Allen cita Crime e Castigo, de Dostoiéviski –, brasileiros e franceses foram mais próximos do original; na França fizeram mais literal, Crimes et Délits; no Brasil ficou Crimes e Pecados, o que é bem fiel à idéia original. Já os portugueses optam por Crimes e Escapadelas, o que até se justifica plenamente pela história do filme, mas parece um tanto brincalhão, um tanto pouco sério, para um filme que é duro, pesado, e a escapadela resulta em assassinato.
Não há qualquer lógica. Às vezes, o título português foge muito do original, e o brasileiro é mais fiel. Às vezes é o oposto. Às vezes o título português se aproxima do francês – e às vezes é o brasileiro que pega carona na idéia francesa. Há, naturalmente, vários casos em que o título brasileiro é idêntico ao português – mesmo quando não tem nada a ver com o título original. Há os casos em que cada um dos quatro vai para um lado diferente. Tem de tudo.
É claro que procurei botar nestas tabelas os títulos que apresentam mais disparidades – os que são todos fiéis não teriam graça, certo?
Gostaria de ir fazendo crescer esta lista. Se os leitores enviassem sugestões seria excelente, enriqueceria muito. Mas, sobretudo, precisaria da ajuda dos leitores de Portugal, porque em muitos casos não encontrei o título usado lá. Será que eles poderiam ajudar nesta brincadeira?
Há muitas coisas que quero comentar, mas vou botar o resto do texto abaixo das tabelas. Há uma para os filmes com título original em inglês, outra para os em francês. Os filmes aparecem em ordem alfabética pelo nome do diretor. (Com o Control+F, ou Control+L, claro, é possível localizar rapidamente se um título está ou não nas tabelas.)
Original em inglês | Brasil | Portugal | França | Diretor e ano | |
Spellbound(literalmente, enfeitiçado, encantado) | Quando Fala o Coração | A Casa Encantada | La Maison du Docteur Edwards | Alfred Hitchcock, 1945 | |
Notorious | Interlúdio | Difamação | Les Enchainés | Alfred Hitchcock, 1946 | |
Strangers on a Train | Pacto Sinistro | O Desconhecido do Norte-Expreso | L’Inconnu du Nord Express | Alfred Hitchcock, 1951 | |
I Confess | A Tortura do Silêncio | Confesso! | La Loi du Silence | Alfred Hitchcock, 1952 | |
Dial M for Murder | Disque M para Matar | Chamada para a Morte | Le Crime était Presque Parfait | Alfred Hitchcock, 1954 | |
To Catch a Thief | Ladrão de Casaca | Ladrão de Casaca | La Main au Collet | Alfred Hitchcock, 1955 | |
The Trouble with Harry | O Terceiro Tiro | O Terceiro Tiro | Mais qui a tué Harry? | Alfred Hitchcock, 1956 | |
Vertigo | Um Corpo que Cai | A Mulher Que Viveu Duas Vezes | Sueurs froides | Alfred Hitchcock, 1958 | |
North by Northwest | Intriga Internacional | Intriga Internacional | La Mort au Trousses | Alfred Hitchcock, 1959 | |
Marnie | Marnie – Confissões de uma Ladra | Marnie | Pas de Printemps pour Marnie | Alfred Hitchcock, 1964 | |
Family Plot | Trama Macabra | Intriga em Família | Complot de Famille | Alfred Hitchcock, 1975 | |
Rope | Festim Diabólico | A Corda | La Corde | Alfred Hitchcock,1948 | |
The Left Handed Gun | Um de Nós Morrerá | Vicio de Matar | Le Gaucher | Arthur Penn, 1958 | |
Flashbacks of a Fool | Reflexos da Inocência | Reencontrar o Passado | Baillee Walsh, 2008 | ||
The Major and the Minor | A Incrível Suzana | A Incrível Suzana | Uniformes e Jupons Courts | Billy Wilder, 1942 | |
Double Indemnity | Pacto de Sangue | Pagos a Dobrar | Assurrance sur la Mort | Billy Wilder, 1944 | |
Sunset Boulevard | Crepúsculo dos Deuses | Crepúsculo dos Deuses | Boulevard du Crépuscule | Billy Wilder, 1950 | |
Breakfast at Tiffany’s | Bonequinha de Luxo | Boneca de Luxo | Diamants Sur Canapés | Blake Edwards, 1961 | |
Where Eagles Dare | O Desafio das Águias | O Desafio das Águias | Quand les Aigles Attaquent | Brian G. Hutton, 1968 | |
The Night of the Hunter | O Mensageiro do Diabo | A Sombra do Caçador | La Nuit du Chasseur | Charles Laughton, 1955 | |
About a Boy | Um Grande Garoto | Era uma Vez um Rapaz | Pour un Garçon | Chris Weitz e Paul Weitz | |
Play Misty For Me | Perversa Paixão | Destinos nas Trevas | Um Frisson dans la Nuit | Clint Eastwood, 1971 | |
Pale Rider | O Cavaleiro Solitário | Justiceiro Solitário | Pale Rider | Clint Eastwood, 1985 | |
Bird | Bird | Fim do Sonho | Bird | Clint Eastwood, 1988 | |
Possessed | Fogueira de Paixão | Curtis Bernhardt, 1947 | |||
Dark Passage | Prisioneiro do Passado | O Prisioneiro do Passado | Les Pasasagers de la Nuit | Delmer Daves, 1947 | |
Cowboy | Como Nasce um Bravo | Como Nasce um Bravo | Cow-boy | Delmer Daves, 1958 | |
The Hanging Tree | A Árvore dos Enforcados | Raízes de Ouro | La Coline des Potences | Delmer Daves, 1959 | |
Parrish | No Vale das Grandes Batalhas | Bonecas de Carne | Le Soif de la Jeunesse | Delmer Daves, 1961 | |
Rome Adventure | O Candelabro Italiano | Viver é o que Importa | Delmer Daves, 1962 | ||
Two Mules for Sister Sara | Os Abutres têm Fome | Sierra Torride | Don Siegel, 1970 | ||
Dirty Harry | Perseguidor Implacável | A Fúria da Razão | L’Inspecteur Harry | Don Siegel, 1971 | |
She’s the one | Nosso Tipo de Mulher | Aquela que eu Quero | C’est elle | Edward Burns, 1996 | |
Gentlemen’s Agreement | A Luz é para Todos | A Luz é Para Todos | Le Mur Invisible | Elia Kazan, 1948 | |
On the Waterfront | Sindicato de Ladrões | Há Lodo no Cais | Sur le Quais | Elia Kazan, 1954 | |
East of Eden | Vidas Amargas | A Leste do Paraíso | À Lest d’Eden | Elia Kazan, 1955 | |
Baby Doll | Boneca de Carne | A Voz do Desejo | La Poupée de Chair | Elia Kazan, 1956 | |
Splendor in the Grass | Clamor do Sexo | Esplendor na Relva | La Fièvre dans le Sang | Elia Kazan, 1961 | |
America, America | A Terra do Sonho Distante | América, América | America America | Elia Kazan, 1963 | |
The Arrangement | Movidos pelo Ódio | O Compromisso | L’Arrengement | Elia Kazan, 1969 | |
Lady for a Day | Dama por um Dia | Grand dame d’un jour | Frank Capra, 1933 | ||
It Happened One Night | Aconteceu Naquela Noite | New York Miami | Frank Capra, 1935 | ||
Mr. Deed Goes to Town | O Galante Mr. Deeds | Doido com Juízo | L’Extravagant Mr. Deeds | Frank Capra, 1936 | |
You can’t Take it with You | Do Mundo Nada se Leva | Vous ne l’emporterez pas avec vous | Frank Capra, 1938 | ||
Mr. Smith Goes to Washington | A Mulher faz o Homem | Peço a Palavra | Monsieur Smith au Sénat | Frank Capra, 1939 | |
Meet John Doe | Adorável Vagabundo | Um João Ninguém | L’Homme de la Rue | Frank Capra, 1941 | |
Arsenic and Old Lace | Este Mundo é um Hospício | O Mundo é um Manicômio | Arsenic et vieilles dentelles | Frank Capra, 1944 | |
It’s a Wonderful Life | A Felicidade Não se Compra | Do Céu Caiu uma Estrela | La Vie est Belle | Frank Capra, 1946 | |
State of the Union | Sua Esposa e o Mundo | Um Filho do Povo | L’Enjeu | Frank Capra, 1948 | |
Riding High | Nada Além de um Desejo | Jour de Chance | Frank Capra, 1950 | ||
Here Comes the Groom | Órfãos da Tempestade | Si on Mariait Papa | Frank Capra, 1951 | ||
A Hole in the Head | Os Viúvos Também Sonham | Tristezas Não Pagam Dívidas | Un Trou Dans la Tête | Frank Capra, 1959 | |
Pocketfull of Miracles | Dama por um Dia | Milliardaire d’un Jour | Frank Capra, 1961 | ||
High Noon | Matar ou Morrer | O Comboio Apitou Três Vezes | Le train sifflera 3 fois | Fred Zinnemann, 1952 | |
The Philadelphia Story | Núpcias de Escândalo | Casamento Escandaloso | Indiscrétions | George Cukor, 1940 | |
Pat and Mike | A Mulher Absoluta | A Mulher Absoluta | Mademoiselle Gagne-Tout | George Cukor, 1952 | |
Butch Cassidy and the Sundance Kid | Butch Cassidy | Dois Homens e um Destino | Butch Cassidy et le Kid | George Roy Hill, 1969 | |
Sting, The | Golpe de Mestre | A Golpada | L’Arnaque | George Roy Hill, 1973 | |
Alice Adams | A Mulher que Soube Amar | Sonhos Dourados | Desirs Secrets | George Stevens, 1935 | |
Woman of the Year | A Mulher do Dia | A Primeira Dama | La Femme de l’Année | George Stevens, 1942 | |
Shane | Os Brutos Também Amam | Shane | L’Homme des Valées Perdues | George Stevens, 1953 | |
Giant | Assim Caminha a Humanidade | O Gigante | Géant | George Stevens, 1956 | |
Niagara | Torrentes de Paixão | Niágara | Niagara | Henry Hathaway, 1953 | |
Bravados, The | Estigma da Crueldade | O Vingador sem Piedade | Les Bravados | Henry King, 1958 | |
Play it Again, Sam | Sonhos de um Sedutor | O Grande Conquistador | Tombe la fille et tais-toi | Herbert Ross, 1972 | |
Bringing up Baby | Levada da Breca | Duas Feras | L’Impossible Monsieur Bébé | Howard Hawks, 1938 | |
To Have and not to Have | Uma Aventura na Martinica | Ter e não Ter | Le port de l’angoisse | Howard Hawks, 1944 | |
Monkey Business | O Inventor da Mocidade | A Culpa foi do Macaco | Chérie, je me sens rajeunir | Howard Hawks, 1952 | |
Out of the Past | Fuga ao Passado | O Arrependido | La Griffe du Passé | Jacques Tourneur, 1947 | |
Humoresque | Acordes do Coração | Fascinação | Humoresque | Jean Negulesco, 1946 | |
The Hudsucker Proxy | Na Roda da Fortuna | O Grande Salto | Le Grande Saut | Joel e Ethan Cohen, 1994 | |
Stakeout | Tocaia | Debaixo de Olho | Étroite surveillance | John Badham, 1987 | |
The Quiet Man | Depois do Vendaval | O Homem Tranqüilo | L’Homme Tranquille | John Ford, 1952 | |
The Searchers | Rastros de Ódio | A Desaparecida | La Prisionnière du Désert | John Ford, 1956 | |
Cheyenne Autumn | Crepúsculo de uma Raça | O Grande Combate | Les Cheyennes | John Ford, 1964 | |
The Manchurian Candidate | Sob o Domínio do Medo | O Candidato da Manchúria e O Enviado da Machúria | Un Crime dans la Tête | John Frankenheimer, 1962 | |
The Towering Inferno | Inferno na Torre | A Torre do Inferno | La Tour Infernale | John Guillermin, Irwin Allen, 1974 | |
The Maltese Falcon | Relíquia Macabra | Relíquia Macabra | Le Faucon Maltais | John Huston, 1941 | |
The Asphalt Jungle | O Segredo das Jóias | Quando a Cidade Dorme | Quand la Ville Dort | John Huston, 1950 | |
Reflections on a Golden Eye | O Pecado de Todos Nós | Reflexos num Olho Dourado | Reflets dans um oeil d’or | John Huston, 1967 | |
Prizzi’s Honor | A Honra do Poderoso Prizzi | A Honra dos Padrinhos | L’Honneur des Prizzi | John Huston, 1985 | |
All About Eve | A Malvada | Eva | Ève | John Mankiewicz, 1950 | |
Midnight Cowboy | Perdidos na Noite | O Cowboy da Meia-Noite | Macadam Cowboy | John Schlesinger, 1969 | |
The Magnificent Seven | Sete Homens e um Destino | Os Sete Magníficos | Les Sept Mercenaires | John Sturges, 1960 | |
Bad Girls | Quatro Mulheres e Um Destino | Mulheres de Armas | Belles de l’Ouest | Jonathan Kaplan, 1994 | |
Gun Crazy ou Deadly is the Female | Mortalmente Perigosa | Mortalmente Perigosa | Le Démon des Armes | Joseph H. Lewis, 1950 | |
Bus Stop | Nunca Fui Santa | Paragem de Autocarros | Arrét d’autobus | Joshua Logan, 1954 | |
Paint your Wagon | Os Aventureiros do Ouro | Os Maridos de Elizabeth | La Kermesse de l’Ouest | Joshua Logan, 1969 | |
The Wind that Shakes the Barley | Ventos da Liberdade | Brisa de Mudança | Le vent se lève | Ken Loach, 2006 | |
Message in a Bottle | Uma Carta de Amor | As Palavras que Nunca te Direi | Une bouteille à la mer | Luis Mandoki, 1999 | |
The Prize | Criminosos não Merecem Prêmio | O Prêmio | Pas de Lauriers pour les Tueurs | Mark Robson, 1963 | |
One-Eyed Jacks | A Face Oculta | Cinco Anos Depois | La vengeance aux deux visages | Marlon Brando, 1961 | |
Hud | O Indomado | O Mais Selvagem entre Mil | Les Plus Sauvage d’entre Tous | Martin Ritt, 1963 | |
The Reckless Moment | Na Teia do Destino | Momento de Perdição | Les Désemparés | Max Ophuls, 1949 | |
In a Lonely Place | No Silêncio da Noite | Matar ou não Matar | Le Violent | Nicholas Ray, 1950 | |
Rebel Without a Cause | Juventude Transviada | Fúria de Viver | La Fureur de Vivre | Nicholas Ray, 1955 | |
Party Girl | A Bela do Bas-Fond | A Rapariga daquela Noite | Traquenard (literalmente, armadilha) | Nicholas Ray, 1958 | |
Touch of Evil | A Marca da Maldade | A Sede do Mal | La Soif du Mal | Orson Welles, 1958 | |
River of no Return | O Rio das Almas Perdidas | Rio Sem Regresso | La Rivière Sans Retour | Otto Preminger, 1954 | |
Dan in Real Life | Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada | O Amor e a Vida Real | Coup de Foudre à Rhode Island | Peter Hedges, 2007 | |
The Right Stuff | Os Eleitos | Os Eleitos | L’Étoffe des Héros | Philip Kaufman, 1983 | |
High Sierra | O Último Refúgio | O Último Refúgio | La Grande Évasion | Raoul Walsh, 1941 | |
Sweet Bird of Youth | Doce Pássaro da Juventude | Corações na Penumbra | Doux Oiseau de Jeneusse | Richard Brooks, 1962 | |
Body of Lies | Rede de Mentiras | O Corpo da Mentira | Mensonges d’État | Ridley Scott, 2008 | |
Kiss me Deadly | A Morte num Beijo | O Beijo Fatal | En Quatrième Vitesse | Robert Aldrich, 1955 | |
Come September | Quando Setembro Vier | Idílio em Setembro | Le Rende-vous de Septembre | Robert Mulligan, 1961 | |
To Kill a Mockingbird | O Sol é Para Todos | Na Sombra e no Silêncio | Du Silence et des Ombres | Robert Mulligan, 1962 | |
Summer of ‘42 | Houve uma Vez um Verão | Verão 42 | Un été 42 | Robert Mulligan, 1971 | |
The Hustler | Desafio à Corrupção | A Vida é um Jogo | A’Arnaqueur | Robert Rossen, | |
Phantom Lady | A Dama Fantasma | A Mulher Desconhecida | Les mains qui tuent | Robert Siodmak, 1944 | |
Criss Cross | Baixeza | Dupla Traição | Pour Toi j’ai Tué | Robert Siodmak, 1949 | |
The File on Thelma Jordan | Confissões de Telma | Duas Confissões | La femme à l’écharpe pailletée | Robert Siodmak, 1950 | |
West Side Story | Amor, Sublime Amor | Amor Sem Barreiras | West Side Story | Robert Wise e Jerome Robbins, 1961 | |
The Set-Up | Punhos de Campeão | Nobreza de Campeão | Nous Avons Gagné Ce Soir | Robert Wise, 1949 | |
Somebody up there Likes Me | Marcado pela Sarjeta | Somebody up there Likes Me | Marqué para la Haïne | Robert Wise, 1956 | |
Don’t Bother to Knock | Almas Desesperadas | Os Meus Lábios Queimam | Troublez-moi Ce Soir | Roy Ward Baker, 1952 | |
Ride the High Country | Pistoleiros do Entardecer | Os Pistoleiros da Noite | Coups de feu dans la Sierra | Sam Peckinpah, 1962 | |
Major Dundee | Juramento de Vingança | Major Dundee | Sam Peckinpah, 1965 | ||
The Wild Bunch | Meu Ódio Será Sua Herança | A Quadrilha Selvagem | La Horde Sauvage | Sam Peckinpah, 1969 | |
The Ballad of Cable Hogue | A Morte Não Manda Recado | Un Nomée Cable Hogue | Sam Peckinpah, 1970 | ||
Straw Dogs | Sob o Domínio do Mal | Cães de Palha | Les Chiens de Paille | Sam Peckinpah, 1971 | |
Good, the Bad and the Ugly, The | Três Homens em Conflito | O Bom, o Mau e o Vilão | Le Bon, la Brute et le Truand | Sergio Leone, 1966 | |
Funny Face | Cinderela em Paris | Cinderela em Paris | Drôle de Frimousse | Stanley Donen, 1957 | |
The Killing | O Grande Golpe | Um Roubo no Hipódromo | L’Ultime Razzia | Stanley Kubrick, 1956 | |
Dr. Strangelove or… (etc, etc.) | Doutor Fantástico ou… (etc, etc.) | Dr. Estranho Amor ou… (etc, etc.) | Docteur Folamour ou… (etc, etc.) | Stanley Kubrick, 1964 | |
Dirty Pretty Things | Coisas Belas e Sujas | Estranhos de Passagem | Stephen Frears, 2002 | ||
The Star | Lágrimas Amargas | La Star | Stuart Heisler, 1952 | ||
Cool Hand Luke | Rebeldia Indomável | O Presidiário | Luke la Main Froid | Stuart Rosenberg. 1967 | |
Absence of Malice | Ausência de Malícia | A Calúnia | Absence de Malice | Sydney Pollack, 1981 | |
The Postman Always Rings Twice | O Destino Bate à Porta | O Destino Bate à Porta | Le Facteur Sonne Toujours Deux Fois | Tay Garnett, 1946 | |
Mr. Skeffington | Vaidosa | Femme Aimée est Toujours Jolie | Vincent Sherman, 1944 | ||
The Damned don’t cry | Os Desgraçados Não Choram | L’Esclave du Gang | Vincent Sherman, 1950 | ||
The Bad and the Beautiful | Assim Estava Escrito | Cativos do Mal | Les Ensorcelés | Vincente Minelli, 1952 | |
Designing Woman | Teu Nome é Mulher | A Mulher Modelo | La Femme Modèle | Vincente Minnelli, 1957 | |
Roman Holiday | A Princesa e o Plebeu | Férias em Roma | Vacances Romaines | William Wyler, 1953 | |
The Big Country | Da Terra Nascem os Homens | Da Terra Nascem os Homens | Les Grands Espaces | William Wyler, 1958 | |
Annie Hall | Noivo Neurótico, Noiva Nervosa | Annie Hall | Annie Hall | Woody Allen, 1971 | |
Sleeper | O Dorminhoco | O Herói do Ano 2000 | Woody et les Robots | Woody Allen, 1973 | |
Love and Death | Última Noite de Bóris Grushenko | Nem Guerra, nem Paz | Guerre et Amour | Woody Allen, 1975 | |
Crimes and Misdemeanors | Crimes e Pecados | Crimes e Escapadelas | Crimes et Délits | Woody Allen, 1989 | |
Everyone Says I Love You | Todos Dizem Eu Te Amo | Toda Gente Diz que te Amo | Tout le Monde dit – I Love You | Woody Allen, 1996 | |
Desconstructing Harry | Desconstruindo Harry | As Faces de Harry | Harry dans tous ses états | Woody Allen, 1997 | |
Sweet and Lowdown | Poucas e Boas | Através da Noite | Accords et désaccords | Woody Allen, 1999 | |
Small Time Crooks | Trapaceiros | Vigaristas de Bairro | Escroques mais pas trop | Woody Allen, 2000 |
Original em francês | Brasil | Portugal | EUA e/ou Inglaterra | Diretor e ano |
La Graine et le Mulet | O Segredo do Grão | O Segredo de um Cuscuz | Couscous | Abdel Kechine, 2007 |
L’Une Chante, l’Autre Pas | Duas Mulheres, Dois Destinos | One Sings, the Other Doesn’t | Agnès Varda, 1977 | |
On Connait la Chanson | Amores Parisienses | É Sempre a Mesma Cantiga | Same Old Song | Alain Resnais, 1997 |
Coeurs | Medos Privados em Lugares Públicos | Private Fears in Public Places | Alain Resnais, 2006 | |
Les Égarés | Anjo da Guerra | Strayed | André Téchiné, 2003 | |
Douce | Dulce, Paixão de uma Noite | Love Story | Claude Autant-Lara, 1943 | |
La Bonne Anné | A Dama e o Gângster | Happy New Year | Claude Lelouch, 1973 | |
Tout une Vie | Toda uma Vida | Toda uma Vida | And Now My Love | Claude Lelouch, 1974 |
Les Uns et les Autres | Retratos da Vida | Uns e os Outros | Bolero. Ou Dance of Life | Claude Lelouch, 1981 |
Roman de Gare | Crimes de Autor | Crossed Tracks. Ou Tracks | Claude Lelouch, 2007 | |
Fauteils d’Orchestre | Um Lugar na Platéia | O Lugar Ideal | Avenue Montaigne. Ou Orchestra Seats | Danièle Thompson, 2006 |
Prête-moi ta Main | A Noiva Perfeita | I do | Éric Lartigau, 2006 | |
La Nuit de Varennes | Casanova e a Revolução | The Night of Varennes | Ettore Scola, 1982 | |
Le Placard | O Closet | Sai do Armário | The Closet | Francis Veber, 2001 |
Le Quatre Cents Coups | Os Incompreendidos | Os Quatrocentos Golpes | The 400 Blows | François Truffaut, 1959 |
Tirez sur le Pianiste | Atirem no Pianista | Disparem sobre o Pianista | Shoot the Piano Player | François Truffaut, 1960 |
Jules et Jim | Uma Mulher para Dois | Jules e Jim | Jules and Jim | François Truffaut, 1962 |
La Peau Douce | Um Só Pecado | Angústia | Silken Skin ou The Soft Skin | François Truffaut, 1964 |
Fahrenheit 451 | Fahrenheit 451 | Grau de Destruição | Farenheit 451 | François Truffaut, 1966 |
La Mariée était em Noir | A Noiva Estava de Preto | A Noiva Estava de Luto | Bride Wore Black, The | François Truffaut, 1967 |
L’Enfant Sauvage | O Garoto Selvagem | O Menino Selvagem | Wild Child, The | François Truffaut, 1969 |
Les Deux Anglaises et le Continent | As Duas Inglesas e o Amor | As Duas Inglesas e o Continente | Two English Girls | François Truffaut, 1971 |
Une Belle Fille Comme Moi | Uma Jovem Tão Bela Como Eu | Uma Bela Rapariga | Such a Gorgeous Kid Like Me | François Truffaut, 1972 |
La Nuit Américaine | A Noite Americana | A Noite Americana | Day for Night | François Truffaut, 1973 |
L’Argent de Poche | Na Idade da Inocência | Na Idade da Inocência | Small Change | François Truffaut, 1976 |
L’Homme qui Aimait les Femmes | O Homem que Amava as Mulheres | O Homem que Gostava das Mulheres | Man Who Loved Women, The | François Truffaut, 1977 |
La Chambre Verte | A Câmara Verde | O Quarto Verde | Green Room, The | François Truffaut, 1978 |
Vivement Dimanche | De Repente, num Domingo | Finalmente!, ou Finalmente Domingo | Confidentially Yours | François Truffaut, 1983 |
Le Plus Beau Métier du Monde | Nosso Professor é um Herói | The Best Job in the World | Gérard Lauzier, 1996 | |
Aime Ton Père | Meu Pai, Meu Filho | Um Pai… E um Filho | A Loving Father | Jacob Berger, 2002 |
Les Parapluies de Cherbourg | Os Guarda-Chuvas do Amor | Os Chapéus de Chuva de Cherburgo | The Umbrellas of Cherbourg | Jacques Demy, 1964 |
À Bout de Souffle | Acossado | O Acossado | Breathless | Jean-Luc Godard, 1960 |
Pierrot le fou | O Demônio das 11 Horas | Pedro o Louco | Pierrot le fou | Jean-Luc Godard, 1965 |
Un Long Dimanche de Fiançailles | Amor Eterno | Um Longo Domingo de Noivado | A Very Long Engagement | Jean-Pierre Jeunet, 2004 |
Le feu follet | Trinta Anos Esta Noite | Fogo Fátuo | A Time to Live and a Time to Die | Louis Malle, 1963 |
Fatale | Perdas e Danos | Relações Proibidas | Damage | Louis Malle, 1992 |
La Môme | Piaf – Um Hino ao Amor | La Vie en Rose | La Vie en Rose | Olivier Dahan, 2007 |
L’Homme du Train | Uma Passagem para a Vida | The Man on the Train | Patrice Leconte, 2002 | |
Le Roi de Coeur | Este Mundo é dos Loucos | O Rei dos Doidos | King of Hearts | Philippe de Broca, 1966 |
Est-Ouest | Leste-Oeste | Vida Prometida | East-West | Regis Wargnier, 1999 |
Plein Soleil | O Sol por Testemunha | Purple Noon. Ou Blazing Sun | René Clément, 1960 | |
Palais Royal | Palácio Real | Dondoca à Força | Valérie Lemercier, 2005 | |
Comme les Autres | Baby Love | Baby Love | Vincent Gareng, 2008 |
Tem até título bom
Tem mesmo de tudo. Tem até casos em que, mesmo fugindo do título original, obtém-se um bom título, como Rastros de Ódio, a melhor das três traduções de The Searchers, o clássico de John Ford de 1956 em que o personagem de John Wayne passa mais de dez anos procurando pela sobrinha raptada por índios. Searchers, buscadores, é de fato difícil de se passar para o português; Rastros de Ódio foi uma boa saída, me parece – melhor que a opção de Portugal, A Desaparecida, e que a da França, La Prisonnière du Désert.
Outro western que acabou tendo um título feliz no Brasil foi o pouco conhecido Ride the High Country, belíssimo filme de Sam Peckinpah de 1962, seu primeiro longa-metragem (foto). O título original faz referência ao planalto, às montanhas onde a ação se passa – dois velhinhos (Randolph Scott e Joel McCrea) fazendo a escolta de um carregamento de ouro num Oeste outonal, na temperatura, na época do ano, nas árvores de folhas amarelas e no figurativo, de final de era, um novo tempo que deixava o bangue-bangue para trás. Os franceses foram atrás da idéia de High Country e criaram Coups de feu dans la Sierra, golpes de fogo na serra com sotaque mexicano. Os ingleses, aquele país onde se diz que na América não falam inglês há décadas, tiveram uma bela sacada com o tom outonal do filme e traduziram para Guns in the Afternoon. Portugueses e brasileiros seguiram essa trilha; Portugal radicalizou com Os Pistoleiros da Noite. O Brasil fez bonito, com Pistoleiros do Entardecer – entardecer, fim de feira, fim de época.
Bonequinha de Luxo, o título brasileiro de Breakfast at Tiffany’s, o filme de Blake Edwards de 1961, baseado no conto de Truman Capote sobre garota do interior que vai para a capital do mundo, interpretada por uma diáfana Audrey Hepburn, é distante do original, mas é um bom título, próximo do escolhido pelos portugueses, Boneca de Luxo; e a saída dos franceses também foi boa, Diamants Sur Canapé.
A Malvada, para o filme de Mankiewicz sobre as invejas e as sacanagens do mundo do teatro de Nova York, estrelado por Bette Davis, que fez mil papéis de malvada, também é um bom título – até por induzir o espectador ao erro sobre quem é a malvada. Poderia perfeitamente ser Tudo Sobre Eva, literal de All About Eve, mas ficou bom. Os portugueses e franceses foram mais diretos e lá o filme se chamou respectivamente Eva e Ève.
Alguns títulos deixam marca
Há as traduções que acabam ficando marcantes. The Magnificent Seven, de John Sturges, de 1960, a transposição para o western do clássico Os Sete Samurais, de Kurosawa, em Portugal teve um título mais literal, Os Sete Magníficos. Na França, teve um título a rigor correto, embora distante do que o filme queria realçar, Les Sept Mercenaires. Os sete caras trabalhavam por dinheiro, é verdade, mas o importante é que eram magníficos. No Brasil o filme virou Sete Homens e um Destino. A fórmula deu tão certo que rendeu filhotes. Butch Cassidy and the Sundance Kid, de George Roy Hill, de 1969, que no Brasil virou só Butch Cassidy, em Portugal foi Dois Homens e um Destino. E Bad Girls, sobre as aventuras de quatro belas mulheres no Oeste selvagem e machista, que em Portugal se chamou Mulheres de Armas, no Brasil foi Quatro Mulheres e um Destino.
Na adolescência, nos anos 60, vi o maravilhoso O Sol é Para Todos, de Robert Mulligan, de 1962, com Gregory Peck interpretando Atticus Finch, um dos personagens mais íntegros, admiráveis, da história do cinema. Depois comprei e li o livro de Harper Lee que originou o filme; era uma edição da Civilização Brasileira, na época a melhor editora do país. O livro, que havia sido lançado nos Estados Unidos em 1960, chegou aqui depois do filme (tenho quase absoluta certeza disso), e por isso também se chamou O Sol é Para Todos. Poderiam ter se chamado, os dois, Matar um Passarinho – já que mockingbird, do título original To Kill a Mockingbird, é, segundo os dicionários, “um pássaro canoro americano, que imita o trinado de outras aves (Mimus polyglottus)”, ou seja, um passarinho que não tem um nome popularmente conhecido em português.
Aí os caras da distribuidora do filme no Brasil se saíram com O Sol é Para Todos. Bonito – um título amplo, geral e irrestrito, que até faz lembrar um pouco Hemingway, O Sol Também se Levanta.
Só bem mais recentemente vi Gentlemen’s Agreement, de Elia Kazan, de 1947, outro filme extraordinário, em que o mesmo Gregory Peck interpreta outro personagem íntegro, admirável, que, como Atticus Finch, enfrenta o racismo. No Brasil Gentlemen’s Agreement tinha tido o título de A Luz é Para Todos. Imagine se não foi esse o raciocínio dos caras da distribuidora de To Kill a Mockingbird: filme preto-e-branco, Gregory Peck, sujeito íntegro que enfrenta o racismo – ah, vai ser O Sol é Para Todos.
O filme de Kazan teve o mesmo título no Brasil e em Portugal, A Luz é para Todos. Na França, Gentlemen’s Agreement virou Le Mur Invisible. Tem a ver com a história, claro – o racismo é um muro invisível. Mas por que não simplesmente o literal Acordo de Cavalheiros? Já no caso de To Kill a Mockingbird, aqui O Sol é Para Todos, portugueses e franceses optaram pela mesma idéia: Na Sombra e no Silêncio em Portugal, Du Silence et des Ombres na França.
Nessa coisa de um título influenciar outro, me ocorreu o seguinte. Em 1989, fez um bom sucesso de público o Querida, Encolhi as Crianças, tradução literal do original Honey, I Shrunk the Kids. O filme teve, se não me engano, duas continuações, as duas com títulos seguindo essa fórmula. Em 1952, um marqueteiro imaginativo da distribuidora francesa de Monkey Business, de Howard Hawks, havia criado o título Chérie, je me sens rajeunir – de fato, o personagem de Cary Grant, um cientista doidão, se sentia rejuvenescer quando bebia a droga que testava nos macacos; Marilyn Monroe fazia um papel secundário, como uma secretária boazuda (foto). No Brasil o filme chamou O Inventor da Mocidade, e, em Portugal, A Culpa foi do Macaco. Pois dá pra desconfiar que alguém soprou aquele esquema francês de “Querida, me sinto rejuvenescer” para o filme de 1989 com Rick Moranis. Ou não?
Alguns o tempo muda
Para escolher os títulos que botei aí nas duas tabelas, não segui nenhum tipo de método – a pesquisa foi bem sem rumo, quase ao léu, ou randômica, como agora se diz. (Só fiz o Word ordenar os filmes, depois da pesquisa, pelo nome do diretor.) Na verdade, o início das tabelas acima, e desta anotação aqui, foi o livro Film Noir, de Alain Silver, James Ursini e Paul Duncan; ganhei de presente da Mary a edição portuguesa, lá atrás, em 2006, e fiquei espantado com a disparidade dos títulos lá e aqui; comecei a fazer uma tabela na época, em laudas que ficaram lá dentro do livro. Agora, com o site, e minha vontade de colocar sempre que possível os títulos em Portugal, já que há muitos acessos vindos da pátria-mãe, resolvi juntar mais e mais exemplos e, com a ajuda do Cinéguide e do iMDB, ir atrás também dos títulos na França. (Em Belo Horizonte, nos anos 60, tinha nego que gostava de falar os títulos em francês, mesmo dos filmes americanos, pra demonstrar que tinha ao menos dado uma folheada no Cahiers du Cinéma… Eta ferro, o que é o comportamento humano.) Aí fui pelos grandes diretores.
Então, as tabelas acabaram tendo mais filmes antigos do que novos. Mas o que dá para perceber é que não mudou muita coisa, da década de 1940 para esta década dos 2000. Claro, antigamente havia uma tendência um pouco maior para uma dramaticidade, uma coisa meio tango, meio bolero, exagerada, melô: Os Desgraçados Não Choram (tradução literal do título original), Festim Diabólico, Fogueira da Paixão, A Mulher que Soube Amar, Vitória Amarga, Lágrimas Amargas. Mas no limiar dos anos 70 ainda se transformava The Wild Bunch, que em Portugal foi o literal A Quadrilha Selvagem, em Meu Ódio Será Sua Herança. E estão aí hoje, em cartaz nos cinemas e na TV, filmes recentes com títulos como Cabana Macabra, Há Tanto Tempo que Te Amo, Tinha que Ser Você, A Vingança dos Derrotados. Não mudou tanto…
Alguns títulos de filmes, no entanto, mudam com o tempo. O que gerações brasileiras conheceram como Relíquia Macabra (olha a dramaticidade dos anos 40 aí) foi lançado em DVD como O Falcão Maltês, tradução literal de The Maltese Falcon, a estréia de John Huston, em 1941. O mesmo aconteceu com o filme que fez babar gerações com o nome de Houve uma Vez um Verão; no DVD, virou Verão de 42, idêntico ao original Summer of ’42.
O belo sotaque luso
Há ainda filmes que botei nas tabelas não porque tiveram títulos muito diferentes nas três línguas, mas simplesmente porque achei extremamente saboroso o sotaque português. É o caso de Les Parapluies de Cherbourg, de Jacques Demy, com Catherine Deneuve, que teve tradução literal em inglês, The Umbrellas of Cherbourg, um pequeno criativol no Brasil, Os Guarda-Chuvas do Amor, e, em Portugal, virou o delicioso Os Chapéus de Chuva de Cherbourgo.
A delícia do sotaque português aparece também em Paragem de Autocarros, o filme de Joshua Logan de 1954 em que uma Marilyn Monroe de meias negras e xadrez e coxas à mostra deixou multidões babando mundo afora – de resto, uma tradução literal do original Bus Stop, que os franceses também traduziram literalmente para Arrét d’Autobus. No Brasil abriram o vidro de criativol e, talvez inspirados na persona de Marilyn, inventaram um Nunca Fui Santa.
O sotaque luso delicia também em A Rapariga daquela Noite, com uma estonteante Cyd Charisse dirigida por Nicholas Ray, em 1958. Este filme, aliás, é um daqueles exemplos perfeitos de cada país indo para um lado diferente ao escolher o título. O original é Party Girl, simples assim, garota de festa. Os franceses o chamaram de Traquenard – armadilha. O Brasil foi de A Bela do Bas-Fond. Cem reais para o brasileiro nascido depois de 1958 que souber o que significa bas-fond.
Agosto de 2011
Sérgio Vaz, belo trabalho esse de comparar as traduções dos filmes. Alguns que achei bons na versão em português, tive o prazer de ver citados, depois, por você. Caso de Bonequinha de Luxo e Pacto Sinistro. Também gostei de Cinderela em Paris. A introdução da lista está muito divertida – e diversão de qualidade está fazendo muito bem nos dias de hoje. Parabéns.
Eu ia dizer que “Rastros de Ódio” é melhor que o original, mas já tá dito lá, exatamente o que eu ia dizer.
Um bom para entrar na tabela é “Quando explode a Vingança – Giu La Testa – Duck, Your Sucker – Era Uma vez na Revolução…” Como será que ficou em Portugal?
Abração
Sergio Vaz,
Lembra daquele filme sobre o julgamento de professor que ensinava o evolucionismo de Darwin na escola de uma cidade do interior dos EUA? O elenco tinha Spencer Tracy, Fredric March e Gene Kelly.Tinha um nome sonoro,acho que “O Vento Será Tua Herança”.Você se lembra do nome original?
Sem dúvida, esse é um bom filme para entrar na lista. O título original é Inherit the Wind, herdar o vento, herdarás o vento. Vejo que os franceses foram de Le Procès de Singe, os espanhóis de La Herância del Viento. Ainda segundo o iMDB, a Itália optou por E l’uomo creò Satana!, com exclamação e tudo.
um título que foi curioso no Brasil: Down by law – daunbailó do Jim Jarmusch
“A streetcar named desire” (Um bonde chamado desejo), de Elia Kazan, passar para “Uma rua chamada pecado” é o que há de moralizante num título.
E nada mais ridículo que um título brasileiro como “Fé demais não cheira bem”, para um filme cujo título original me escapa, com Steve Martin. É o horror, é o horror!!
Oi, Sérgio, aí vai a minha contribuição. Sabem o q eu li a propósito dessas traduções sem propósito outro dia, na Internet. Que não era à toa q na hora de virem os créditos, ao início ou ao final do filme, nunca vinham os dos tradutores. Vcs já viram tb as pessoas q fazem as legendas de filmes? Já vi Yo te quiero, do espanhol, traduzido como eu te quero e não eu te amo…sem comentários.
Guenia
http://www.sospesquisaerorschach.com.br
Sem falar em “Splendor in the grass” que virou o tenebroso “Clamor da carne” ugh!
Marcia Rebolal
Bom dia Sergio,
Pois é nos temos um nome de familia que pelo que sei nao se pode traduzir!!! e como costumo dizer a brincar, temos um “primo” muito celebre que o partilhou!!!
Bom mas isto foi so um aparte!
Ando a procura de um filme que vi quando miuda. E vim dar aqui ao seu site.
Pelo que sei a questao das traduçoes as vezes bastante irrealistas dos nomes dos filmes, tem a ver com uma questao economica!
Vivo em França e por vezes quando quero encontrar um filme, tenho dificuldades por ex quando vou a Portugal, por causa justamente da mudança dos titulos!
Ainda nao li a lista toda dos filmes que aqui expos mas se puder ajudar vou fazê-lo.
Terei mais facilidade com os titulos em frances pois como disse é aqui que vivo.
O filme que procuro, ainda o vi quando vivia em Portugal. Lembro-me que foi no cinema, pois ir ao cinema na altura era algo de extraordinario e claro que marcava a lembrança.
Era um filme ingles, passava-se em Inglaterra (lembro por causa de maneira como se vestiam para ir a escola) e penso que devia ser nos arredores de Londres.
O que me ficou da historia desse filme foi a de duas crianças que se adoram e no fim do filme fogem, como adultos.
Nao tera marcada a memoria de outras pessoas, mas a mim sim pois tinha o mesmo desejo de fugir e achei estupendo o que vi!!!! So que no filme eles nao explicavam como fazer!!!!!!
Lembranças que tenho com ternura! Nem sei se esse filme existe ainda se ele foi exito, nada!
Vou continuando pode ser que de com ele.
Entao ate um dia destes e vou reler a sua lista.
Margarida Vaz
Olá, fãs de filmes, tenho 46 anos e qdo tinha aproximadamente 8, assisti um filme que ficou marcado em minha memória até hoje. A verdade é que não sei e nem faço idéia de qual seja o título, mas a estoria conta que um minerador negro fica preso dentro uma mina após um ataque de bombas de neutróns, alguns dias depois achando que seus colegas desistiram do resgate ele consegue sair e percebe que não existe mais ninguem exceto ele. O filme se passa em Nova Yorque e no decorrer da estoria o mineiro descobre o que houve, encontra uma loira pela qual se apaixona e aí começa outra estoria…
Se alguém souber que filme é esse e onde
encontra-lo, por favor, mande um e-mail para Kbral_kbral@hotmail.com , ficarei grato e talves consiga tira-lo da cabeça rs. abraço a todos e parabéns pelo trabalho maravilhoso.
Olá, Sérgio.
O filme que você cita é – muito provavelmente – “O Diabo, a Carne e o Mundo”. O negro é interpretado por Harry Belafonte. A loura, por Inger Stevens. E o branco que os dois encontram depois, por Mel Ferrer.
Veja sobre o filme no IMDb:
http://www.imdb.com/title/tt0053454/
Um abraço.
Sérgio
Na França “O Cangaceiro” teve o título de “Sans Peur, Sans Pitié” (Sem medo,sem piedade), e nos EUA “The Ninth Bullet” (A nona bala).
Psicose não foi traduzido em Portugal para O Filho Que Era Mãe? Há exemplo de nome pior que esse?
Não, Paulo. “Psicose” em Portugual se chama “Psico”. Essa história de O Filho Que Era Mãe é uma piada, só isso.
Um abraço.
Sérgio
Excelente lista. Também sempre fiquei intrigado com esses títulos cafonas.
Algumas adições: “Twelve O’Clock High”, com o Gregory Peck virou “Almas em Chamas”, pode? Notei que havia nas décadas de 50 e 60 no Brasil de dar títulos romanticizados, tipo os encontrados nos livros pseudo-literários Sabrina e Júlia”, pois palavras como “almas”, “suplício”, etc. davam um tom melodramático que provavelmente apelava muito ao público feminino da época – talvez com a intenção de ludibriá-lo que haveria algum romance. No caso de “Almas em Chamas” não há sequer um elenco feminino presente, na maioria das cenas; pois se trata de um esquadrão aéreo que surpreende os nazistas atacando em plena luz do dia – portanto o “Twelve O’clock” do filme!
Mas o pior título que já vi, em termos de tradução mal-feita, foi “The Evil Dead” (Algo como Os Mortos Maléficos): Algum energúmeno provavelmente achou que “dead” fosse morte em inglês (na verdade é “Death”) e “evil” fosse o demônio, o tinhoso (na verdade é “Devil” em inglês!!
Já que “Morte do Capeta” soaria mais como um longa do Zé do Caixão, tascaram o “A Morte do Demônio”: Quando o assistí nos anos 80, fiquei esperando matarem o capeta mas tudo que Bill Campbell matava eram os zumbis (os mortos malvados do título original!
Oi! Adorei a lista, realmente alguns titulos não tem nada a ver e podem até passar uma impressão errada sobre o filme. Um exemplo disso é Os amores de Pandora, de 1951, cujo titulo original é “Pandora and the flying Dutchman”.Apesar de o filme não fugir do gênero romance, o nome que deram no Brasil deixa um tom muito água com açúcar, mesmo sendo mais comercial e poético.
Há uma pérola da asneira nos títulos de filmes em Portugal: A Hard Day’s Night, o famoso filme dos Beatles chama-se por estes lados… segurem-se bem… Os Quatro Cabeleiras do Após-Calypso! O autor desta preciosidade calculo que tenha tido um esgotamento cerebral depois do esforço para imaginar isto.
Nossa Mãe do Céu, José Luís!
De fato, essa é uma pérola! De deixar com inveja quem inventou “Depois Daquele Beijo” para “Blow-up” e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” para “Annie Hall”!
Muito obrigado pela colaboração!
Um abraço.
Sérgio
Apenas uma dica: “mockinbird” é um nome genérico a pássaros do gênero Mimus, como você notou bem. Muitos pássaros desse gênero, no Brasil, recebem o nome “sabiá”: sabiá-da-praia (M. gilvus) é o Tropical mockinbird; sabiá-do-campo (M. saturninus) é o chalk-browed Mockingbird; calhandra-de-três-rabos (M. triurus) é o White-banded mockingbird.