Pacto de Sangue / Double Indemnity e Assassinos / The Killers


Nota: ★★★★

Anotação em 1998: Interessantíssima coincidência ter visto numa mesma semana estes dois belos filmes, grandes clássicos do film noir, que têm tantas semelhanças e aproximações. A primeira semelhança, claro, é o próprio estilo, dois filmes sobre crime com o maravilhoso estilo noir, as tramas complexas, cheias de sordidez e corrupção, o preto e branco, muitas sombras, a influência do expressionismo alemão trazida pelos imigrantes que fugiam do nazismo.

A segunda é a época em que foram feitos – só dois anos separam um do outro, 1944 e 1946.

A terceira é que os dois se baseiam em histórias criadas por grandes escritores já na época consagrados, Hemingway e James M. Cain.

A quarta é que a música dos dois é do mesmo compositor, o húngaro Miklos Rosza (1907-1996, três Oscars de trilha sonora, fora nove outras indicações).

A quinta é que foram, os dois filmes, indicados para grande número de categorias do Oscar – Pacto de Sangue em 1944 para sete (filme, atriz, diretor, roteiro, fotografia, trilha sonora, som); e Assassinos em 1946 para quatro (diretor, roteiro, montagem e música). Com mais a coincidência de que nenhum deles levou estatueta alguma.

A sexta é que os dois usam o mesmo estilo de narrativa, entremeada de flashbacks, começando no que seriam os dias atuais e já mostrando nos primeiros minutos uma revelação forte – em Assassinos, o assassinato do Sueco, e, em Pacto de Sangue, a confissão de que Walter Neff é o assassino.

A sétima é que os dois foram refeitos mais tarde, em versões consideradas boas, porém inferiores aos originais – Assassinos em 1964, com direção de Don Siegel, e Pacto de Sangue em 1973, dirigida por Jack Smith. Assassinos 1964 foi o último filme daquele canastrãozinho que depois se daria melhor em outra ocupação, Ronald Reagan. Tinha Angie Dickinson, John Cassavetes e Lee Marvin. Pacto de Sangue 1973 tinha aquela gracinha da Samantha Eggar, oito anos depois de O Colecionador.

E a oitava é aquela característica tão cara aos film noirs: ao fim e ao cabo, o espectador compreenderá que toda a trama macabra foi fruto da ganância de uma mulher, uma dame, ou baby, uma femme fatale, linda, astuciosa, fria, que joga os homens a seus pés para conseguir o que desejam. Os homens, pobres joguetes nas mãos delas, fazem o serviço sujo – mas são elas que saem ganhando.

A única diferença, no caso das duas atrizes que fazem a femme fatale, é que Barbara Stanwyck era mais velha (estava com 37 anos) e já estava absolutamente consagrada quando fez o papel de Phyllis Dietrichson, e Ava Gardner era mais jovem (24 anos, só) e, embora já tivesse feito vários filmes, só alcançou o estrelato com este filme, ao interpretar Kitty Collins.

Fantástico.  

Pacto de Sangue/Double Indemnity

De Billy Wilder, EUA, 1944.

Com Fred MacMurray (Walter Neff), Barbara Stanwyck (Phyllis Dietrichson), Edward G. Robinson (Barton Keyes), Jean Heather (Lola Dietrichson), Tom Powers (Mr. Dietrichson), Gig Young (Nino Zachette).

Produção Joseph Sistrom

Roteiro Raymond Chandler e Billy Wilder

Baseado em Indenização em Dobro, de James M. Cain

Música Miklos Rozsa

Direção de arte Hal Pereira

Figurinos Edith Head

P&B, 107 min

 e

Assassinos/The Killers

De Robert Siodmak, EUA, 1946.

Com Edmond O’Brien, Burt Lancaster, Ava Gardner, Albert Dekker, Sam Levene, Virginia Christine

Produção Mark Hellinger

Roteiro Anthony Veiller e John Huston

Baseado em história de Ernest Hemingway

Montagem Arthur Hilton

Música Miklos Rozsa

P&B, 103 min

32 Comentários para “Pacto de Sangue / Double Indemnity e Assassinos / The Killers”

  1. tio, assisti pacto de sangue esse fim de semana… há havia assistido antes mas em tempos de imaturidade… agora, sem dúvida, foi muito mais interessante… ah, sim, mulheres sordidas que fazem os homens fazer o serviço sujo… isso de fato é noir!
    forte e fraterno abraço, seu sobrinho betão

  2. Um filme espetacular. Maravilhoso.
    Uma trama inteligente e extremamente envolvente. A tensão que existe entre os personagens, todo aquele suspense.
    Tudo no filme é perfeito. Extremamente envolvente.
    Edward G. Robinson está impecável na pele do Barton Keyes “.
    Barbara Stanwick, como era linda esta atriz.
    A Phyllis era uma mulher mentirosa, manipuladora, e sem escrúpulo algum.
    Fred MacMurray em uma grande atuação.
    ” Matei um homem por dinheiro.. e por uma mulher. Não consegui o dinheiro. Também não terminei com a mulher. ”
    ” Eu nao conseguia ouvir meus passos era a caminhada de um homem morto. ”
    Eu já disse uma vez que vi filmes muito bons como este no comêço dos anos 70 na Globo. Era só filme deste quilate.
    Com atores e atrizes maravilhosos.
    Jennifer Jones, Ava Gardner,LizTaylor,Ingrid Bergman, a própria Barbara Stanwick , Bete Davis , Joan Crawford , Robert Mitchun , Ray Milland, Joseph Cotten,James Stewart,Gregory Peck . . . que coisa bôa que era !!
    Um abraço!!

  3. Ontém, mesmo tendo voltado para me desculpar pelo “envolvente”, acabei me esquecendo de dizer que outro filmaço do Wilder que vi foi “Crepúsculo dos Deuses”.
    Willian Holden ( grande, muito bom ator ) e Gloria Swanson estiveram soberbos , ela ainda mais.
    Com Holden vi outros filmes mas com a Gloria que me lembre, só vi este.
    Devo também ter visto outros filmes de Wilder que não lembro agora. Vou até, fazer uma pesquisa.
    Um abraço !!

  4. Dois filmes muito bons, mas eu gosto muito mais, mas muito mais de Double Indemnity. É um dos filmes que mais aprecio, e, sem dúvida, o melhor noir. Fred e Barbara estão muito bem, com muito boas interpretações. Edward G Robinson é fabuloso ao ser tão expressivo. O elenco de suporte também está bem. Eu não percebo porque razão Ava demorou tanto tempo a conseguir tornar-se uma grande estrela. Eu julgo que ela começou a carreira como atriz no inicio dos anos 40 na MGM mas só em 1946 é que virou uma sensação. Bem, ela está bem em The Killers, mas o papel dela não tem muito destaque. Eu sei que ela é o motor de tudo mas não aparece muito. É pena este post sobre Double Indemnity ser tão pequeno. Ainda assim, boas coincidências que oSérgio apontou. Uma coisa que eu não concordo: a mulher no filme noir não se sai safando. Ela é castigada, tem um final negativo (a teoria feminista estuda isso mesmo, eu mesmo fiz um trabalho sobre isso). O homem também pode ser castigado mas também se pode sair bem como em The lady from shanghai. De qq forma, um bom post sobre o meu site preferido de cinema

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