Desejo Humano / Human Desire

Nota: ★★★☆

(Disponível no Cine Antiqua do YouTube em 2/2022.)

Em 1953, Fritz Lang dirigiu Glenn Ford e Gloria Grahame em um filme que é uma obra-prima – The Big Heat, no Brasil Os Corruptos, um dos mais brilhantes e admirados filmes noir já feitos. Em 1954, os três se reuniram novamente neste Human Desire, lançado no Brasil com a tradução literal, Desejo Humano.

Consta que o austríaco – simplesmente um dos maiores diretores da História do cinema até então, um dos maiores até hoje – não gostou do título escolhido pelos produtores, os executivos da Columbia Pictures do todo poderoso Harry Cohn. “Que outro tipo de desejo existe?”, consta que ele disse – e disse com absoluta razão, já que é um filme sobre pessoas, e não sobre animais.

Não é uma obra-prima extraordinária como o anterior. Mas é uma beleza de filme este que resultou do segundo encontro, num período de apenas dois anos, de Glenn Ford e Gloria Grahame com o aclamadíssimo diretor, um dos criadores do expressionismo alemão dos anos 1920, movimento que teve imensa influência sobre todo o cinema que veio depois, e foi uma das bases do cinema noir, essa invenção americana que teve a participação de diversos artistas europeus que se radicaram em Hollywood fugindo do nazismo nos anos 1930.

Glenn Ford era, então, um dos atores mais admirados e respeitados de Hollywood. Fazia de tudo – policiais, westerns, dramas românticos, até mesmo musical –, sempre com sucesso. Em 1946 tinha sido o par romântico de Rita Hayworth em Gilda

Linda, maravilhosa, Gloria Grahame estava no auge; vinha de uma série de grandes e ou importantes filmes: Rancor/Crossfire (1947), pelo qual teve indicação ao Oscar de coadjuvante, No Silêncio da Noite/In a Lonely Place (1950), Assim Estava Escrito/The Bad and the Beautiful (1952), que deu a ela o Oscar de coadjuvante, e logo em seguida Os Corruptos.

Os personagens que os dois belos atores interpretam só se encontram quando o filme está com 31 de seus 90 minutos. Demoram um terço do filme para se encontrar.

É um daqueles encontros que estão marcados para ser de maldição, de perdição.

Jeff poderia ter optado pela jovem linda. Mas…

A trama deste Desejo Humano é muito, muito boa. Daquelas que pegam o espectador, fisgam, deixam-no interessado, curioso, fascinado, embasbacado.

Quando se começa a ver um filme de Fritz Lang com Glenn Ford e Gloria Grahame, sabe-se perfeitamente que seus personagens vão se apaixonar. Mesmo que você não tenha visto sequer um cartaz do filme, uma única foto. Diacho, é o óbvio.

Uma das coisas sensacionais da trama é que, antes de vermos Jeff Warren, o papel de Glenn Ford, se encontrar com Vicki Buckley, o papel de Gloria Grahame, vemos esse Jeff Warren se reencontrando com uma moça linda, simpática, a maior gracinha.

As escolhas. Quem entende de Fritz Lang diz que a questão das escolhas, das opções, é um dos temas sempre presentes na obra do realizador.

Jeff Warren poderia ter optado por Ellen (o papel de Kathleen Case, 21 aninhos de idade quando o filme foi lançado).

Mas acho que pulei o início da história. O comecinho, os primeiros minutos.

Jeff Warren, sujeito aí de uns 30 e muitos anos (Glenn Ford estava com 38), tinha acabado de voltar para casa, depois de servir durante três anos na guerra da Coréia. Voltar para casa é força de expressão – solteiro, sem família, ele certamente havia se desfeito da casa em que morava quando se alistou no Exército. De volta à sua cidade, reassumiu o trabalho como maquinista de trens na Central National, e conduzia belos comboios ao lado do seu grande amigo Alec Simmons (Edgar Buchanan). Instalou-se na casa do amigo, até conseguir botar a vida em dia.

A mulher de Alec, Vera (Diane DeLaire), recebe Jeff com grande alegria. Fica evidente que Jeff de fato era grande amigo não apenas de Alec, mas da família.

Quando Ellen, a filha do casal, aparece, Jeff leva um susto. Pergunta onde estão os cachinhos, onde estão as sardas – e vemos que naqueles três anos em que Jeff esteve lutando contra os comunistas do outro lado do mundo, Ellen havia deixado de ser uma garotinha e tinha virado uma mulher, e uma mulher linda.

Mas é claro que, se Jeff tivesse percebido que aquela mulher linda que ele havia conhecido criança estava interessada nele, e se tivessem se aproximado, eles dois, não haveria história, não haveria filme.

Uma esposa muito bela e muito jovem

O espectador fica conhecendo bem rapidamente o chefe da estação, John Thurston (Carl Lee), um velhinho de maus bofes. E também o subchefe da estação, Carl Buckley, um sujeito de quem Jeff se lembrava. Naqueles três anos em que ele esteve fora – o amigo Alec conta –, Carl havia trabalhado demais, ralado demais, e havia chegado ao cargo de subchefe.

Carl Buckley é interpretado por Broderick Crawford, aquele ótimo ator de tantos e tantos filmes (147 títulos na filmografia, entre 1937 e 1982), grande, corpulento, com um physique-du-rôle perfeito para homens maus, perturbados, complicados, ou as três coisas juntas.

E logo vemos que Carl tem uma briga com o maus bofes chefe Thurston, que o demite. Carl, então, pede à mulher que interceda por ele, que tente fazer com que a demissão não se consume.

A mulher de Carl é muito mais jovem do que ele. É linda, e se chama Vicki – o papel de Gloria Grahame. Ela surge na tela pela primeira vez – fiz questão de anotar – quando o filme está com 12 minutos.

Sou fã de Gloria Grahame. Ela é uma ótima atriz, teve belos papéis em filmes marcantes, mas, além disso, sou fascinado pela vida pessoal dela, tão rica, tão complexa. Gloria casou-se de papel passado quatro vezes, a segunda delas com Nicholas Ray, um dos diretores da época de ouro de Hollywood mais absolutamente incensados pela crítica e por seus próprios colegas; Wim Wenders fez uma homenagem a ele, Um Filme para Nick/Lightning Over Water (1980).

Oito anos depois de se divorciar do diretor de clássicos ou grandes filmes como Amarga Esperança (1948), Johnny Guitar (1954) e Juventude Transviada (1955). Gloria se casou com Anthony Ray, filho do ex-marido. Embora ela não tivesse nenhuma relação de sangue com o filho de outro casamento do marido, embora eles tenham se casado bem depois do divórcio dela com o pai do rapaz, a fofocalhada em torno do que teria sido algo, segundo a imprensa de fofocas da época, próximo de um incesto, acabaria por praticamente destruir a carreira da atriz em Hollywood. Ela se veria forçada a mudar para a Inglaterra, à procura de oportunidade de trabalho – como mostra o magnífico filme Estrelas de Cinema Nunca Morrem/Film Stars Don’t Die in Liverpool (2017), em que Annette Benning dá um show de atuação no papel de Gloria Grahame.

Quando ela surge na tela, aos 12 minutos deste Desejo Humano, me veio à mente a frase da dona da pensão em que Gloria Grahame está vivendo, em Londres, em 1979, no filme sobre seus últimos anos de vida: – “”Famosa, até – ou era. Fazia sempre a biscate. Fez sucesso nos filmes preto-e-brancos, mas não tanto nos coloridos.”

O marido pede que a mulher fale com o milionário

“Biscate”…

Não me lembro a palavra que é usada no original. Mas “biscate” é perfeito para o contexto em que a personagem de Estrelas de Cinema Nunca Morrem se refere aos papéis que marcaram a carreira de Gloria Grahme

Os cartazes originais deste Human Desire têm as seguintes frases, em letras maiúsculas:

“Ela nasceu para ser má… Para ser beijada… Para criar problema!”

Creio que o grande Fritz Lang, que não concordava com o título – ridículo, vamos e venhamos, esse Human Desire –, seguramente não concordaria com aquela frase apelativa que estampa os cartazes originais do filme.

Vicki Buckley não é, de forma alguma, um grande caráter, uma pessoa admirável. Mas também não é essa coisa horrorosa que o pessoal do marketing da Columbia Pictures inventou.

Quando a vemos pela primeira vez, quando o filme está com os 12 minutos que eu relatei, ela se mostra uma mulher vaidosa, cheia de si: está adorando a beleza de suas próprias pernas, adornadas pelas meias de nylon que havia comprado.

Mas quem pede para que ela procure o milionário John Owens é o marido dela, o corpulento e bem mais velho Carl.

Carl conta para a jovem mulher que havia sido demitido por Thurston, o chefe da estação – por um erro que na verdade havia sido do próprio Thurston, que havia tentado empurrar a culpa para ele.

Carl sabe que Owens tem grande influência sobre a diretoria da estrada de ferro; e sabe que Vicki conhece o milionário. Por isso, pede que a mulher procure Owens, explique tudo o que aconteceu, e peça que ele interfira para que a demissão seja revista.

Vicki diz que não gostaria de procurar Owen. Diz isso mais de uma vez. Mas o marido pede, pede, pede…

E então ela aceita fazer o que ele pede.

Através de diálogos muitíssimo bem escritos, e muitíssimo bem colocados, naquela época em que o Código Hays de autocensura dos estúdios ainda estava em pleno vigor, o filme nos mostra que a mãe de Vicki havia sido empregada daquele milionário Owens, e seguramente tinha havido algo entre o milionário e a bela filha da empregada.

E então Vicki vai se reencontrar com o ricaço.

O encontro dura cinco horas.

Quando finalmente Vicki reaparece, Carl a interroga sobre o que teria acontecido durante aquele tempo todo.

Demora um tanto, mas ela conta que, para conseguir o que o marido queria, ela fez, sim, aquilo que o marido não quereria nunca que ela tivesse feito.

Quando o filme está com 31 minutos, e Jeff Warren-Glenn Ford e Vicki Buckley-Gloria Grahame se vêem pela primeira vez, ele não sabe ainda que aquela moça é a mulher do seu conhecido Carl Buckley.

A essa altura, espectador já viu Carl Buckley assassinar John Owens, dentro de uma cabine de trem.

“È difícil matar um homem?”, pergunta a mulher

Nestes meus textos sobre filmes, gosto de relatar o que acontece nos primeiras minutos da narrativa. É de fato algo de que gosto muito. Mas faço um grande esforço para não dar spoiler, não revelar partes da trama que só irão aparecer ali depois dos primeiros 30 minutos do filme. Para não revelar jamais o que rola depois que o filme passou de sua primeira metade.

Creio, no entanto, que não chega propriamente a ser spoiler contar que Vicki vai tentar fazer com que Jeff mate Carl.

Assim como a Phyllis Dietrichson interpretada por Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue/Double Indemnity (1944) faz com Walter Neff-Fred MacMurray. Assim como a Cora Smith de Lana Turner faz com Frank Chambers-John Garfield em O Destino Bate à Porta/The Postman Always Rings Twice (1946).

É a coisa mais óbvia do mundo.

O espectador percebe que isso vai rolar muito, muito antes que de fato a coisa aconteça.

O diálogo é impressionante. Ela diz que se casou com Carl porque ele parecia “grande, sólido e decente”, e era isso o que ela mais desejava no mundo: um homem decente.

– “Eu queria um lar. Queria pertencer a algum lugar. Não é fácil para uma mulher pular de um emprego para outro. Quando nos casamos me senti um pouco infeliz. Mas achei que não tinha tanta importância. Nenhuma mulher é feliz, mesmo que finja que é.”

Jeff diz que isso não é verdade – mas ela prossegue preparando o terreno. Conta que não suporta que o marido a toque: – “É como se eu me esfriasse por dentro. Não sei o que fazer quando estamos os dois no mesmo cômodo da casa. Sinto-me perdida, sozinha. Acho que eu não sou boa coisa como mulher, como esposa.”

Jeff senta-se ao lado dela, pega sua mãe, tenta consolá-la: – “Todos nós cometemos erros. Trabalho errado, casamento errado. No Exército conheci muitos caras que eram felizes por estarem longe de casa.”

O Exército, a guerra da qual Jeff havia voltado fazia pouco tempo. Vicki percebe que aquele é um caminho…

– “Que sensação estranha deve ser. De estar rodeado pela morte. Como acontece com os soldados na guerra.”

Jeff responde que, na guerra, quase nunca se pensa na morte: – “A gente pensa no frio que está fazendo, ou na fome, ou no sono. A morte… se transforma numa coisa acidental.”

Ela: – “É difícil matar um homem? Quero dizer, para um soldado.”

O roteiro foge bastante do original de Emile Zola

O autor do belo roteiro de Human Desire é o inglês Alfred Hayes (1911-1985), roteirista de outro filme noir de Fritz Lang, Só a Mulher Peca/Clash by Night (1952), indicado duas vezes ao Oscar de melhor roteiro.

Nos créditos iniciais é dito que o roteiro é “baseado em um romance de Émile Zola”.

Não li A Besta Humana, o livro que o mestre do naturalismo Zola (1840-1902) lançou em 1890, e tampouco tive oportunidade de ver o filme homônimo que outro mestre, Jean Renoir, fez a partir do livro e lançou em 1938, um ano antes, portanto, do início da Segunda Guerra Mundial. Mas, pelas sinopses, pelas descrições disponíveis, dá para afirmar que a história deste Desejo Humano fica mais próxima do filme de Renoir do que do romance – embora tenha grandes diferenças também em relação a ele.

O maior ponto de ligação entre o romance de Zola e o filme de Lang é o mundo das ferrovias, os trens de ferro, a vida em torno deles. Diz a Wikipedia, no verbete sobre La Bête Humaine: “A história evoca o mundo das ferrovias e se desenvolve inteiramente ao longo da linha Paris-Saint-Lazare–Le Havre. Na época em que ele escreveu o romance, a casa de Émile Zola era em Médan, e dava para a linha de ferro. Entre duas estações, descritas com uma grande precisão, os heróis não paran de oscilar, em um trajeto pendular, joguetes das paixões que os dominam. Grandes dramas chegarão ao meio do percurso, no cruzamento dos destinos, dentro de um túnel.”

O personagem central do romance se chama Jacques Lantier, e é um maquinista de trem, que tem um imenso amor pela locomotiva que dirige, a Lison. É um alcoólatra, doença que herdou dos antepassados, e dado a rompantes de violência. “Desde a infância, sofre de dores que atravessam seu crânio”, diz a Wikipedia. “Essas dores continuam até a puberdade, acompanhadas de impulsos assassinos dos quais ele nunca conseguirá realmente escapar: o desejo físico de uma mulher é acompanhado nele por uma necessidade irresistível de matá-la. Quando está prestes a possuir sua prima Flore, ele prefere fugir, para não matá-la. Mais tarde, no entanto, consegue tornar-se amante de Séverine Roubaud e acredita-se curado.”

Séverine era casada com Roubard, um colega de Jacques.

Como se vê, o roteirista Alfred Hayes inverteu os papéis. O personagem central da história do filme é um homem calmo, tranquilo, centrado, bom caráter. Seu “erro” – se é que se pode usar esse termo – foi se apaixonar por uma mulher casada.

Quem bebe demais, tem explosões de violência e é até mesmo capaz de matar não é o maquinista Jeff, e sim o marido da bela mulher, esse Carl Buckley.

Pensou-se em Barbara Stanwick, Rita Hayworth…

Um artigo da famosíssima colunista Louella Parsons publicado no Los Angeles Examiner afirmou que os produtores Jerry Wald e Norman Krasna tinham os direitos de filmagem da história, e pretendiam que os papéis centrais – o protagonista, a mulher e o marido dela – fossem respectivamente de Robert Ryan, Barbara Stanwyck e Paul Douglas. Exatamente o trio que havia estrelado Só a Mulher Peca, que Fritz Lang havia dirigido em cima de roteiro de Alfred Hayes.

Essa idéia acabaria sendo abandonada. Para o papel de Vicki Buckley, os executivos da Columbia pensaram em Rita Hayworth, Olivia de Havilland e Jennifer Jones, antes da decisão final por Gloria Grahame.

A página de Trivia do IMDb sobre o filme traz duas curiosidades interessantes. Lembra que, bem no início do filme, quando chega à casa do grande amigo em que ficará hospedado, Alec Simmons, Jeff Warren entrega à filha dele, a bela Ellen, um quimono, que havia comprado para ela em Tóquio, antes de embarcar de volta para os Estados Unidos, depois de três anos na guerra da Coréia. E Jeff brinca com Ellen dizendo que ela ficaria parecida com uma personagem de A Casa de Chá do Luar de Agosto.

Em 1954, quando o filme foi lançado, a peça The Teahouse of the August Moon fazia um grande sucesso na Broadway. A delícia é que, na versão cinematográfica de 1956, Glenn Ford seria um dos protagonistas, ao lado de Marlon Brando.

A outra curiosidade é que, na cena em Carl Buckley, bêbado, começa uma briga no bar que frequenta, está tocando no jukebox “Put The Blame On Mame”, que Rita Hayworth canta (na verdade, dubla) em Gilda (1946), o filme que ela e Glenn Ford estrelaram.

Um registro sobre Kathleen Case (na foto acima), a atriz que faz Ellen Simmons, a moça que Jeff Warren presenteia com um quimono. Que bela era essa Kathleen Case, meu Deus do céu e também da Terra – mas, aparentemente, o que tinha de beleza não tinha de sorte. Nascida em 1933 (estava, portanto, com 21 aninhos quando interpretou Ellen Simmons), começou a carreira em 1951 – e, nos dez anos seguintes, trabalhou em 40 filmes e/ou séries de TV, mas nunca chegou a ter a oportunidade de fazer um papel principal. Abandonou a carreira em 1962, e morreria em 1979, com apenas 45 anos.

“Os personagens se movem numa atmosfera repugnante”

Diz o livro The Columbia Story; “Human Desire, com roteiro de Alfred Hayes a partir de um romance de Émile Zola, era um caso ponderado e auto-conscientemente “artístico”, dirigido por Fritz Lang e estrelado por Glenn Ford como um condutor de trens, Gloria Grahame como a vagabunda casada que prega uma peça nele, e Broderick Crawford como o marido insanamente ciumento de Grahame. Juntos eles formaram um trio que não apenas mexia com os nervos uns dos outros, mas também com os nervos das platéias.”

Que besteira danada! A única coisa que presta no verbete do The Columbia Story é a informação de que, na Grã-Bretanha, o filme teve o título de Judas Was a Woman, Judas era uma mulher! Ô louco, meu!

Com o tempo, os exibidores britânicos devem ter mudado de idéia. Segundo o IMDb, o filme lá teve o mesmo título americano, Human Desire.

Leonard Maltin deu ao filme apenas 2.5 estrelas em 4. “A sequência de Lang para The Big Heat é o relato bem dirigido mas confuso da história do maquinista Ford, que volta da Coréia e se vê às voltas com a casada Grahame e com assassinato. Baseado na obra de Zola La Bête Humaine, filmada em 1938 in França por Jean Renoir.”

O Guide des Films de Jean Tulard dá 3 estrelas em 4: “Refilmagem da obra de Renoir, Désirs Humains transporta a ação de La Bête Humaine para o mundo das estradas de ferro americanas depois da guerra da Coréia. O filme começa de fato sobre os trilhos que vão passando diante de nossos olhos. Nós não escaparemos mais das estações ferroviárias e das locomotivas: os personagens se movem numa atmosfera repugnante, mais próxima do filme noir do que do romance naturalista.”

O Guide sintetizou com perfeição o espírito do filme: de fato, o espectador não escapa jamais do universo das estradas de ferro, dos trens de ferro. Desde a abertura – vemos o trem dirigido por Jeff Warren, tendo ao lado seu velho companheiro Alec Simmons, durante uns bons três ou quatro minutos, sem que se pronuncie uma única palavra – até a sequência final, a câmara está sempre junto dos trilhos da ferrovia.

E a sequência climática, o auge da tensão, quando o filme já se encaminha para o final, se passa num pátio de operação de uma estação de ferro. Carl Buckley está bêbado, trôpego, e vemos que Jeff Warren chega perto dele – mas de repente não vemos o que está acontecendo, porque entre a câmara e eles há agora uma composição que acaba de chegar à estação.

É uma daquelas sequências de que só um mestre, um gigante, como Fritz Lang, é capaz.

Anotação em fevereiro de 2022

Desejo Humano/Human Desire

De Fritz Lang, EUA, 1954.

Com Glenn Ford (Jeff Warren),

Gloria Grahame (Vicki Buckley),

Broderick Crawford (Carl Buckley)

e Edgar Buchanan (Alec Simmons, o amigo de Jeff), Kathleen Case (Ellen Simmons, a filha de Alec), Diane DeLaire (Vera Simmons, a mulher de Alec), Peggy Maley (Jean, a amiga de Vicki), Grandon Rhodes (John Owens, o milionário), Carl Lee (John Thurston, o chefe da estação), Jean Engstrom (a secretária de Owen), Dan Seymour (Duggan, o dono do bar)

Roteiro Alfred Haynes

Baseado em história de Emile Zola

Fotografia Burnett Guffey

Música Daniele Amfitheatrof

Montagem Aaron Stell

Direção de arte Robert Peterson       

Figurinos Jean Louis

Produção Lewis J. Rachmil, Columbia Pictures.

P&B, 90 min (1h30)

***

3 Comentários para “Desejo Humano / Human Desire”

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *