Talento é uma coisa muito impressionante, um mistério denso, insolúvel. Uns têm demais, outros não têm nenhum. Não há reforma talentária, insurreição, revolução, que possa dar jeito nisso. Robert Redfdord, por exemplo, tem demais. Gente como a Gente, seu primeiro filme como diretor, é uma obra-prima. A perfeição. Não há uma tomada sequer que distoe. É tudo um brilho.
A ver. Redford tinha 44 em 1980, o ano em que Ordinary People foi lançado. Começara a carreira como ator, em participações em séries de TV, em 1960. Nem me lembrava disso: fez pequenos papéis em Maverick, Perry Mason, Rota 66, Dr. Kildare, Os Intocáveis, até em Alfred Hitchcock Presents, e diversas outras séries obscuras, de que nunca ouvi falar.
Seu primeiro papel marcante no cinema foi em 1966, o ano em que completou 30, e foi logo em um filme extraordinário, colossal: Caçada Humana/The Chase, de Arthur Penn. Fazia um papel importante, fundamental na trama, o de Bubber Reeves, o homem que foge da prisão e é caçado, mas aparecia pouco na tela, onde brilhavam Marlon Brando como o xerife, Angie Dickinson como sua mulher, E. G. Marshall como o milionário dono de quase tudo na cidade em que se passa a ação, e Jane Fonda, esplendorosamente bela, como a ex-mulher do fugitivo, na época amante do filho do milionário.
A partir daí o relógio andou depressa para Charles Robert Redford Jr: vieram Esta Mulher é Proibida/This Property is Condemned, do então jovem Sydney Pollack, de 1966, e Descalços no Parque, de novo ao lado de Jane Fonda, de 1967. Em 1969 estrelou Butch Cassidy and the Sundance Kid, ao lado de Paul Newman, e aí ele já era um grande astro.
Um roteiro sóbrio, elegante, sem apelar para o sentimentalismo
Escolheu para estrear na direção um drama familiar denso, pesado, sobre uma família despedaçada após uma trágica perda. Teve talento e sorte para escolher o tema e os principais colaboradores. Alvin Sargent, o roteirista, que trabalhou a partir da novela de Judith Guest, já havia assinado roteiros de filmes importantes, desde comédias gostosas – Como Possuir Lissu, Lua de Papel – e dramas – Bobby Deerfield, Julia.
Sargent escreveu um roteiro extraordinário. Sóbrio, elegante, inteligente, sem apelar para sentimentalismo.
Os atores foram um achado, uma perfeição. O pai, Calvin Jarrett, é interpretado por Donald Sutherland, o excelente ator canadense. A mãe, Beth, por Mary Tyler Moore, já então uma lenda da TV americana, apresentadora de seu próprio show, cujo título era apenas seu nome – mas que estava há muito sem um papel dramático importante. O papel do psiquiatra coube a Judd Hirsch, que jamais foi ou seria um astro, mas é um grande ator.
E, para o papel central, o do jovem Conrad Jarrett, foi escolhido Timothy Hutton, já então com uma carreira em filmes e séries de TV e 20 anos de idade, mas com a aparência de menos, de uns 17, que devia ser a idade do protagonista da história.
Que acerto extraordinário, que felicidade, a escolha de Timothy Hutton.
Não precisava mais nada, no elenco – até porque a ação se concentra praticamente o tempo todo no adolescente perturbado, e, de resto, no pai, na mãe e no psiquiatra. Mas a diretora de elenco, Penny Perry, ainda teve a sabedoria de escolher, para o papel de Jeannine, a colega de escola e de coral de Conrad, a garota Elizabeth McGovern, então com 19 aninhos e os olhos mais belos da história do cinema depois de sua xará inglesa, a Taylor.
Em seu primeiro trabalho como realizador, Redford se mostra perfeito diretor de atores
Há muitos grandes cineastas que são exímios diretores de elenco. Claude Lelouch, por exemplo, é um genial diretor de atores – mas, como ele é detestado por 99,9% dos críticos de cinema, é bom lembrar outros, como, por exemplo, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. François Truffaut. Alfred Hitchcock.
Em seu primeiro filme como realizador, Robert Redford juntou-se à seleta galeria dos maiores diretores de atores da história do cinema.
Nos créditos iniciais, em silêncio total, sem música, os nomes aparecem fora da ordem correta
O roteiro escrito por Alvin Sargent não pretende fazer segredo, suspense, de forma alguma. Não é essa sua intenção. Mas, como na própria vida, vai revelando os fatos aos poucos.
O filme abre com os créditos iniciais – letras brancas sobre fundo escuro. Coisa mais normal do mundo, começar pelo começo – hoje, no entanto, são pouquíssimos os filmes que começam pelo começo; em geral, há uma seqüência de impacto, e só depois teremos os créditos iniciais, misturando-se aos diálogos, e então o pobre espectador não sabe se lê os nomes dos atores, da equipe, ou se acompanha a ação, os diálogos superpostos aos créditos.
Os créditos iniciais de Gente como a Gente têm dois detalhes interessantes, raros. Neles não aparece o nome do compositor, do autor da trilha sonora. E, enquanto eles estão aparecendo na tela, não há música, não há ruído. Os créditos aparecem em silêncio total.
Eles têm também um erro: a ordem em que aparecem os nomes dos atores não é a correta, não segue a importância dos atores na trama. Seguem a importância dos atores na época em que o filme foi feito – primeiro Donald Sutherland, depois Mary Tyler Mooe, depois Judd Hirsh, e só então Timothy Hutton. Na verdade, era Timothy Hutton que deveria aparecer diante dos outros, pois ele faz o protagonista. Mas cinema é indústria, e Timothy Hutton, aos 20 anos, era desconhecido das platéias de cinema.
Uma bela paisagem outonal de lugar habitado por ricos, ao som do Canon de Pachelbel
Ao fim dos créditos iniciais, uma tomada de um lago que se perde de vista – o infinito começa nele. A câmara faz um suave travelling para a esquerda, para um terreno gramado e cheio de belas árvores de folhas amareladas. Seguem-se algumas outras tomadas de paisagens outonais, o chão cheio de folhas caídas, enquanto vamos ouvindo, primeiro bem baixinho, em solo de piano, o Canon de Pachelbel.
Tomada geral de um edifício sólido.
Tomada interna – um grupo de coral ensaia um contracanto por sobre o Canon de Pachelbel, aquela coisa absurdamente bela.
Jovens bem vestidos, jovens de classe média alta.
A câmara faz um travelling mostrando os rostos deles. Vemos o rosto lindo de Elizabeth McGovern, e, atrás dela, na última fila, o de Timothy Hutton. A câmara passa por eles, não se fixa neles, mas depois volta, passa de novo pelos vários membros do coral, passa pelo rosto de Elizabeth McGovern, finalmente fixa-se no de Timothy Hutton.
Corta, e vemos Timothy Hutton acordando assustado, suado, em sua cama.
Corta, e um casal conversa. Vemos o casal em plano americano.
Homem: – “Sabia que fizemos amor 113 vezes? Fiz as contas na minha calculadora.”
Risos. Vemos que o casal está interpretando uma peça de teatro. A câmara mostra um casal, depois outro casal – Mary Tyler Moore, Donald Sutherland. Ele está com os olhos fechados, cochila.
Ator: – “Não sei qual é sua canção preferida. Não sei qual é seu perfume preferido.”
Atriz: – “Engraçado: é ‘My Sin’ (meu pecado)”.
Risos fortes na platéia. O personagem de Donald Sutherland acorda.
Os dois casais de amigos saem do teatro comentando a peça. A peça, claro, foi Same Time, Next Year, no Brasil Tudo Bem no Ano Que Vem.
Com extremo cuidado, o pai tenta conversar com o filho atormentado
Tomadas do casal principal no carro, voltando para casa. Beth-Mary Tyler Moore aconchega-se no ombro de Calvin-Donald Sutherland.
Quando o carro chega diante da casa – casa grande, ampla, de classe média alta –, a câmara mostra a placa; é Illinois. Estamos, portanto, em um subúrbio elegante à beira dos Grandes Lagos, perto de Chicago.
Calvin e Beth entram na casa rica, espaçosa, sobem para o primeiro andar. Beth se encaminha diretamente para o quarto do casal. Calvin repara a fresta entre a porta e o chão do quarto do filho: a luz está acesa.
Bate suavemente na porta.
Conrad-Timothy Hutton rapidamente pega um livro que estava ao lado do travesseiro, finge ler, e aí diz para o pai entrar.
Calvin (voz suave, sorriso suave): – “Você está bem?”
Conrad (fingindo voz firme, normal, serena): – “Sim. Como foi a peça?”
Calvin: – “Está difícil para dormir?”
Conrad: – “Não.”
Calvin: – “Tem certeza?”
E, depois de algum tempo: – “Já pensou em ligar para aquele médico?”
Conrad: – “Não.”
Na manhã seguinte, Beth está servindo o café da manhã na cozinha para o marido. Os dois conversam sobre coisas do dia-a-dia. Conrad está acordado na cama, ouve a conversa.
Os problemas vão aparecendo pouco a pouco – e são grandes, imensos
Quando os pais estão sozinhos, não parece que há um grande problema. Quando vemos Conrad, sabemos que há um problema, dos imensos, dos sérios, dos pesados.
A incapacidade de contato entre pais e seus filhos adolescentes é um dos grandes dramas da vida de qualquer família, de qualquer um, de qualquer ordinary people. Já é um drama imenso quando não há um grande problema. Na vida daquela família, veremos, há grandes problemas, pesados problemas.
Mas eles virão à tona pouco a pouco. Somente aos 17 minutos de filme, quando finalmente Conrad toma coragem de ir – como quem dá-se ao carrasco, para usar a imagem belíssima criada por Chico Buarque – ao psiquiatra (interpretado por Judd Hirsch, na foto), ficaremos conhecendo um deles.
Um predecessor de uma bela linhagem de filmes sobre dramas familiares
O cinema tem feito diversos bons filmes sobre dramas familiares, muitos deles envolvendo problemas graves, perdas. Toda Forma de Amor/Beginners, Corações Perdidos/Welcome to the Rileys, Reencontrando a Felicidade/Rabbit Hole, As Coisas Impossíveis do Amor/Love and other Impossible Pursuits, Em Busca de uma Nova Chance/The Greatest, Vida que Segue/Moonlight Mile, Os Garotos Estão de Volta. Todos esses são filmes sobre perdas, e o tocar a vida depois – histórias de famílias, do difícil convívio familiar.
De uma certa maneira, Gente como a Gente é uma espécie de predecessor dessa bela linhagem de filmes.
É tudo feito com uma sensibilidade incrível, fantástica – mas sem roçar, hora nenhuma, no sentimentalismo. É um filme extraordinário, uma beleza imensa, uma obra-prima.
Gente como a Gente teve seis indicações ao Oscar. Mary Tyler Moore foi indicada ao de atriz coadjuvante, Judd Hirsch ao de ator coadjuvante. Os dois não levaram o prêmio.
Nas outras quatro categorias, levou o Oscar: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Timothy Hutton.
É ilógico que Timothy Hutton tenha sido indicado ao prêmio de ator coadjuvante, sendo, como é, o protagonista. Seu personagem está em, sei lá, 80% das cenas – ou mais. O certo teria sido ele ser indicado na categoria de ator, e não de ator coadjuvante. Mas a lógica de Hollywood às vezes é ilógica mesmo. E o prêmio é mais que merecido.
A interpretação de Timothy Hutton é uma das mais fascinantes, emocionantes, apaixonantes de toda a história.
O filme ganhou outros 20 prêmios, fora outras nove indicações.
Foi um grande sucesso de público – e de crítica. Está no livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer; tanto Leonard Maltin quanto Roger Ebert deram cotação máxima, 4 estrelas.
O filme é pontuado por silêncios, e assim o espectador observa a dor dos personagens a seco
Como a ausência do nome de um compositor nos créditos iniciais já antecipava, Gente como a Gente não tem uma trilha sonora própria. Não foi composta nenhuma música para o filme – e isso parece bem proposital. O filme – como a vida – é recheado de silêncios.
Essa opção pelo silêncio me parece ter dois efeitos. Em primeiro lugar, realça a tremenda angústia em que está mergulhado o protagonista, o rapaz Conrad, e os silêncios em que mergulha aquela triste família, incapaz de se comunicar, ou que só consegue se comunicar em alguns poucos momentos, a duras penas.
Em segundo lugar, ajuda a despir o filme de toda e qualquer dose de sentimentalismo. Muitas vezes, em muitos bons filmes, acordes fortes que realçam a dor que os personagens estão sentindo ajudam o espectador a se emocionar, a cair em lágrimas. O silêncio pelo qual Redford optou afasta essa possibilidade. Observamos a dor de Conrad, de Calvin, a seco, sem anestésicos.
A maravilhosa melodia do Canon de Pachelbel, que abre a ação, voltará mais para o final da narrativa. Não é propriamente uma música incidental. Faz parte da ação, da história.
Nos créditos finais, o compositor Marvin Hamlisch se assina, modestamente, como autor da adaptação musical. Hamlish, que morreu em agosto de 2012, participou das trilhas de mais de 110 de filmes e séries, foi autor de mais de 50 e levou três Oscars para botar na lareira de casa.
Elizabeth McGovern e Timothy Hutton mereciam carreiras mais gloriosas
Foi o primeiro filme nas carreiras tanto de Elizabeth McGovern quanto de Timothy Hutton. O rapaz, como já se disse aqui, tinha feito antes filmes para a TV, mas não para o cinema. A garota tinha participado apenas de uma única série para a TV.
Por uma dessas estranhas coincidências, tanto Timothy Hutton quanto Elizabeth McGovern tiveram carreiras menos brilhantes do que mereciam. Ou, tentando ser mais exato, tiveram menos boas oportunidades do que mereciam.
A filmografia de Timothy Hutton tem 70 títulos de filmes e/ou séries. Além do Oscar por Gente como a Gente, ganhou dez prêmios, fora outras sete nomeações. Esteve em Quando me Apaixono/Everybody’s All American, Surpresas do Coração/French Kiss, A Janela Secreta, O Escritor Fantasma. Mas não me lembro dele em outro grande papel. Uma pena.
Vejo no IMDb que Elizabeth McGovern estudava na Juilliard, a prestigiosíssima escola de artes cênicas e música de Nova York, quando foi chamada para interpretar a interessante Jeannine Pratt no primeiro filme dirigido por Robert Redford. A escola permitiu que ela fizesse o filme, com a condição de que só viajasse para Chicago – onde a ação se passa e o filme foi feito – na sexta-feira à noite, voltando no domingo. Foi a primeira vez, diz o IMDb, que a escola deu permissão para um estudante participar de um filme durante o período letivo.
Belíssima, formada na Juillard, a sorte de, aos 19 anos, ainda estudante, participar de um filme importante, com atores importantes, com diretor estreante mas astro célebre – e um filme que levaria os dois principais Oscars. Tinha tudo para ser o começo de uma carreira gloriosa.
Entre 1981 e 1984, Elizabeth McGovern teve duas outras oportunidades de ouro. Em 1981, o ano seguinte ao de Gente como a Gente, teve um papel importante, embora curto, em Na Época do Ragtime, do gigante Milos Forman. Em 1984, teve o principal papel feminino em outra obra-prima, Era Uma Vez na América, o grande afresco de Sergio Leone. Ela fazia Deborah Gelly, a única e grande paixão da vida de Noodles Aaronson, o papel de Robert de Niro. (A Deborah criança era interpretada por uma adolescente de olhos igualmente magnéticos e beleza também esplendorosa, então com 14 anos de idade, Jennifer Connelly.)
Depois teria ainda o papel principal em um filme de outro ótimo diretor, Curtis Hanson, Uma Janela Suspeita/The Bedroom Window, de 1987. Em 1988, fez uma simpática comédia romântica, Ela Vai Ter um Bebê, de John Hughes. Em 1994, outra comédia simpática, interessante, Um Favor Indecente, de Donald Petrie.
Não é uma carreira desprezível, de forma nenhuma. Mas ela merecia ter tido mais papéis grandes, fortes, marcantes.
Fazem-se 198 filmes sobre gente extraordinária para 2 sobre gente comum, gente como a gente
A anotação já está longa, mas ainda gostaria de fazer uma pequenina digressão envolvendo os títulos do filme, tanto o original, Ordinary People, quanto o brasileiro, Gente como a Gente.
São, os dois, belos títulos. São quase uma tag, o nome de um subgênero. Umas 374 vezes já usei, nestas anotações aqui, essas expressões para designar o tipo de filme, o melhor tipo de filme que há – filmes sobre gente como a gente, ordinary people. Não sobre super-heróis, não sobre marginais, criminosos, biliardários, famosérrimos, mas gente como a gente, ordinary people.
Há 200 vezes mais gente comum no mundo que super-heróis, marginais, criminosos, etc, mas há 198 filmes sobre estes últimos para cada 2 filmes sobre aqueles.
Paul McCartney adora a expressão ordinary people.
Me lembro de ter lido uma vez um crítico de rock inglês, ou americano, sei lá, reclamando que Paul McCartney estava enchendo o saco, ao repetir tanto em suas letras a expressão ordinary people.
Imagino que quando Paul fala em ordinary people, está se referindo basicamente à working class, gente simples da classe trabalhadora. Hoje biliardário, Sir, ele não se esquece que nasceu working class.
E então talvez os títulos Ordinary People e Gente como a Gente possam causar espanto para algumas pessoas, já que os Jarrett, a família da trama, é uma rica, ou, se não propriamente rica, da classe média alta de Illinois. E, portanto, muito diferente de ordinary people no sentido de working class, ou no sentido de gente como a gente que eu uso sempre.
A maior parte dos cineastas italianos da segunda metade do século XX, e muitos dos franceses também, tendem a entender que bons são apenas os trabalhadores, os pobres. Para boa parte do cinema italiano, em especial, se a pessoa está acima do limite da pobreza, se é o que chamam, com nojo, de burguês, então é ruim da cabeça ou doente do pé, ou as duas coisas, ou pior ainda.
Dino Risi, por exemplo, gozava Antonioni pelo fato de ele ter focalizado, a partir de A Noite, de 1961, as dores existenciais dos “burgueses”. Walter Hugo Khoury nunca teve, para a maioria dos críticos, um bilionésimo do charme de um Gláuber Rocha.
Como se ter algum dinheiro no banco – mesmo que obtido por herança, ou por trabalho honesto, duro – fosse um crime.
Nesse sentido, acho ótimo que Redford – um sujeito de quem não se pode dizer, de forma alguma, que é “direitista”, “reacionário” – tenha retratado as angústias de uma família “burguesa”.
As angústias dos Jarrett estão acima da distinção de classes sociais. São absolutamente universais. O fato de terem uma casa confortável não diminui nem um pouquinho as dores, o sofrimento.
Os Jarrett são, sim, ordinary people. Gente como a gente.
Anotação em junho de 2012
Gente como a Gente/Ordinary People
De Robert Redford, EUA, 1980.
Com Timothy Hutton (Conrad Jarrett), Donald Sutherland (Calvin Jarrett), Mary Tyler Moore (Beth Jarrett), Judd Hirsch (Dr. Tyrone Berger), M. Emmet Walsh (Salan), Elizabeth McGovern (Jeannine Pratt), Dinah Manoff (Karen Aldrich), Fredric Lehne (Joe Lazenby)
Roteiro Alvin Sargent
Baseado em romance de Judith Guest
Fotografia John Bailey
Montagem Jeff Kanew
Produção Paramount. DVD Paramount
Cor, 124 min
****
Sérgio, você já disse tudo, só me restou acrescentar que Robert Redford deu o papel a Mary Tyler Moore, porque ela acabara de perdeu seu único filho por overdose. (É o que me lembro na época). O papel – segundo ela – ajudou-a a lidar melhor com o luto. Da minha parte eu vejo Beth como a mãe que durante vinte anos tivera o casamento perfeito, a casa perfeita, o marido perfeito, filhos perfeitos e de repente precisa lidar com o caçula que tentara o suicídio e que estiveram em uma clínica de recuperação. Ou seja, o luto pela morte de um filho foi superada pela “vergonha” da tentativa de suicidio do caçula. Enfim, para aquela mãe que precisa de um universo perfeito e aquele filho não se enquadrava, daí a frieza, a distância… Experimente ler o livro, nele, as sessões de terapia são um capítulo a parte. Trata-se mesmo de uma obra-prima.
Gostei do filme, que é sóbrio mesmo; contido, sem estardalhaços. Mas gosto mais do romance, que reli algumas vezes.
Este filme despertou em mmim duas paixões que nunca morreram, ao contrário. São elas a musica Canon e a psicologia.
Sinto nao ter tido acesso ao livro, tão bem comentado aqui pelos fãs do site.
Acabei de ver depois de tantos anos e senti a mesma emoção passada.
Grande filme, grande elenco, também sinto pelas carreiras que não deslancharam (?). Como diria Woody Allen, questão de sorte….
Assisti essa belíssima obra ainda muito jovem. E desde então, passou a ser meu filme favorito. Nunca mais houve nenhum parecido. Cinéfila inveterada, leitora fanática, li o livro muitas vezes. Porque a cada leitura, a história não mudava, mas eu via sempre algo novo. Assim como no filme. A cada assistida, uma nuance nova. Um sentimento novo. Concordo com suas palavras, obra prima.
Perfeito! Grande obra! Eu posso assistir 10, 20,30 vezes… Nunca me canso.