As Coisas Impossíveis do Amor / Love and Other Impossible Pursuits

Nota: ★★★☆

Anotação em 2011: Um belo filme, este As Coisas Impossíveis do Amor. O título brasileiro parece indicar uma comedinha romântica. Não é. É um drama sério, sensível, sobre, como diz o título original, o amor e outras procuras impossíveis. Sobre relações afetivas, família, paternidade/maternidade, perda, e as dificuldades do relacionamento com o filho do casamento anterior do parceiro/a.

Os personagens são gente de classe média alta de Manhattan, o umbigo do capitalismo, mas, tirando o fato de que têm mais dinheiro que o eventual leitor e eu, e vivem em Manhattan, são pessoas normais, gente como a gente. Não há ninguém propriamente safado, filho da puta, mau caráter, bandido. São pessoas que têm problemas como todo mundo, e muitas vezes se entregam aos problemas mais do que deveriam, ou fazem ou dizem coisas que não deveriam fazer, e que só causam mais problemas.

Gente exatamente como a gente.

Durante os créditos iniciais, vemos fotos de um recém-nascido, do recém-nascido nos braços da mãe, interpretada por Natalie Portman. Quando terminam os créditos, Emilia – a personagem de Natalie Portman – está esperando pelo filho do marido na escola dele. Muito rapidamente, o espectador verá que o relacionamento entre Emilia e William (Charlie Tahan), o garoto de uns oito anos, não é nada bom. Ao contrário, é bastante tenso, como muitas vezes acontece entre padrastos/madrastas e enteados/as. Emilia se irrita com William, e William se irrita com Emilia.

William questiona Emilia por que eles não anunciam no ebay o berço, o carrinho, as coisas do quarto do bebê.

Emilia manda o garoto calar a boca.

O amor e outras procuras impossíveis

É assim, com cinco minutos de filme, que o espectador fica sabendo: a filha de Emilia, o bebê das fotos mostradas durante os créditos iniciais, morreu.

E Emilia, enquanto enfrenta a perda terrível, absurda, da filha, tem tremenda dificuldade em conviver com o filho do primeiro casamento do marido.

Não demora para haver um flashback. É um flashback um tanto longo, que mostrará como Emilia conheceu Jack, o atual marido (Scott Cohen). Ela era uma jovem advogada, formada em Harvard, filha de um juiz, e foi trabalhar num escritório de advocacia em Manhattan. Jack era um dos sócios proprietários do escritório, e ela se encantou com ele de cara.

Jack era casado com Carolyn (o papel de Lisa Kudrow, que é uma das produtoras executivas do filme), uma obstetra workaholic, famosa, tida como uma das melhores de Nova York. Advogado que trabalha demais, médica que trabalha demais – o casamento não ia muito bem. Jack se interessa pela jovem advogada que está no se escritório, disponível.

Quem haveria de resistir a uma personagem interpretada por Natalie Portman?

Jack e Emilia se apaixonam, Jack e Carolyn se separam, Jack e Emilia se casam, Emilia fica grávida.

O amor e outras procuras impossíveis.

Filho de pais workaholics, William é um garoto carente de afeto

Carolyn não é mau caráter, mas é uma mulher que foi abandonada. E é workaholic, e bem sucedida, muito rica, de família rica. Tem desprezo e raiva pela mulher que roubou o marido. Não vai fazer todo o possível para transformar a vida do agora ex-marido num inferno, mas também não vai ajudar em nada.

E William, que cresceu com pais que o amavam mas seguramente tinham pouco tempo para ele, é um garoto carente de afeto. Inteligentíssimo, entupido de informações que não consegue digerir, ouve da mãe coisas preconceituosas que o colocam de pé atrás na relação com a jovem madrasta, ela própria ainda imersa na dor pela perda da filha. Num diálogo impressionante, ele diz a Emily que Isabel, a bebê, não chegou a ser uma pessoa, porque, segundo as leis religiosas judaicas, só no oitavo dia de vida os bebês passam a ser pessoas – e Isabel morreu no terceiro dia.

O garoto que faz William é um talento. E ainda há Natalie Portman

É impressionante a atuação do garoto Charlie Tahan, que faz o papel de William. A direção de casting que o escolheu fez um trabalho excepcional: o menino é ótimo, e tem o perfeito physique du rôle para o papel. É impressionante como, tão jovem, ele é tão perfeitamente um judeu rico de Nova York. Vejo no IMDb que, apesar de tão jovem, o garoto já é um veterano: tem 12 títulos na sua filmografia.

E é interessante notar como Lisa Kudrow, essa boa atriz, que não é uma mulher especialmente bonita, e foi produtora-executiva do filme, não se importou em fazer um personagem desagradável, antipático, quase repulsivo.

Todo o elenco está muito bem – mas, naturalmente, quem rouba todas as cenas é Natalie Portman, essa atriz maravilhosa, das melhores de sua geração, e que, além do grande talento, ainda tem aquela beleza deslumbrante. Sua atuação é um brilho.

O diretor Don Roos, também autor do roteiro, tem mais títulos em sua filmografia como roteirista – 16 – do que como realizador – este foi o quarto filme que dirigiu. Vi dois deles: O Oposto do Sexo, de 1998, com Christina Ricci e Lisa Kudrow, do qual não tenho boas lembranças, e Mais que o Acaso/Bounce, com Gwyneth Paltrow e Ben Affleck, que considero um filme bastante bom.

Love and Other Impossible Pursuits se baseia em romance homônimo publicado em 2006, de autoria de Ayelet Wadlman, uma escritora nascida em 1964, em Jerusalém – a mesma cidade natal, por coincidência, ou não, de Natalie Portman. Como a protagonista Emilia, a autora fez Direito em Harvard, algo só possível para quem é muito rico ou muito inteligente – ou ambos.

Aparentemente, o filme foi um fracasso comercial. Uma pena

Estranho: os dois maiores sites enciclopédicos trataram mal este bom filme. O AllMovie não traz sequer um cartaz, o que é muito raro, não inclui crítica, e tem apenas uma resenha mínima de duas frases. O IMDb diz que é uma comédia-drama. Loucura: não há um único elemento cômico nesse drama pesado. Além disso, o IMDb traz um cartaz do filme com outro título, The Other Woman, sem dar qualquer explicação para o fato; e, no seu ítem Trivia, de informações sobre a produção, diz apenas que Jennifer Lopez chegou a ser cogitada para o projeto.

Ao contrário de muita gente boa, como minha amiga Jussara Ormond, não detesto Jennifer Lopez. Mas sem dúvida alguma o filme saiu ganhando, e muito, com Natalie Portman como a protagonista.

E, de fato, é difícil entender por que os dois grandes sites não deram maior importância ao filme, e por que ele simplesmente não deu certo, em termos comerciais. Vejo no IMDb que, produzido em 2009, ele só estreou nos Estados Unidos em fevereiro de 2011, em apenas dois cinemas.

Não dá para entender. É um filme que merece ser visto.

As Coisas Impossíveis do Amor/Love and Other Impossible Pursuits

De Don Roos, EUA, 2009

Com Natalie Portman (Emilia Greenleaf), Scott Cohen (Jack), Charlie Tahan (William), Lisa Kudrow (Carolyne), Lauren Ambrose (Mindy), Anthony Rapp (Simon), Daisy Tahan (Emma), Debra Monk (Laura)

Roteiro Don Roos

Baseado no romance Love and Other Impossible Pursuits, de Ayelet Waldman

Fotografia Steve Yedlin

Música John Swihart

Produção Incentive Filmed Entertainment, Is or Isn’t Entertainment, Marc Platt Productions. DVD Imagem Filmes.

Cor, 119 min

***

10 Comentários para “As Coisas Impossíveis do Amor / Love and Other Impossible Pursuits”

  1. Vou ficar mal acostumada vendo meu nome sendo citado aqui. =)
    Graças aos bons deuses do cinema a Jennifer Lopez não foi escalada! Teria estragado o filme, ela não sabe atuar. E verdade seja dita: ela não tem mais idade pra fazer papel de uma advogada em início de carreira (no cinema não ia funcionar).

    Gostei muito do filme. O menino é mesmo ótimo (adoraria ter um filho inteligente assim!). Ele soube transmitir muito bem a solidão e a carência (vi um pouco de tristeza tb) típicas de filhos de pais workaholics, ausentes. O personagem é um pouco duro, às vezes, bastante triste para uma criança, mas acho que a convivência com a mãe o deixou assim.

    Tb ajudou não terem colocado um ator-galã pra fazer o papel do marido (gostei bastante dele).
    E que medo dessa Carolyn! Amarga, cáustica, controladora, quase cruel. Como uma pessoa dessas pode ser médica, ainda por cima das que ajudam a trazer vidas ao mundo? Cruzes!

  2. Não sei o que fiz no teclado que meu comentário entrou antes de eu terminar. Menos mal, só assim o comentário não fica longo – se bem que tem gente que comenta aqui no site que já o considera longo. Tolinhos.

  3. Sérgio, o filme tem em DVD? Segundo o site da Imagem Filmes, o filme estreia nos cinemas brasileiros em 21 de setembro. tava bastante interessado e fiquei mais ainda. Abração, André

  4. Tem, sim, André. Peguei na locadora que freqüento, aqui em São Paulo, o DVD da própria Imagem Filmes, no finalzinho do mês de abril. Um abraço.
    Sérgio

  5. Vi esse filme cinco vezes na HBO e na HBO Plus e quero muito a trilha sonora dele. Alguém me manda o link, por favor?

  6. Comecei a rever ontem sem intenção de ir até o final, mas acabei vendo inteiro (lá se foram 2 anos desde a primeira vez) e achei bom do mesmo jeito, mesmo ainda lembrando de várias cenas. O ator que faz o menino foi perfeito em sua atuação, é um chatinho inteligente e adorável! Também com aquela mãe controladora e repressiva não tinha muito como ele ser diferente.
    Pela primeira vez prestei mais atenção à voz da Natalie Portman e achei enjoativa (algum defeito ela tinha que ter, além das orelhas de E.T.), mas ela também está ótima no papel.
    É muito bom rever um filme e continuar achando acima da média.

  7. Amei esse filme, queria saber qual a música do início do filme, não consigo encontrá-la.

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