Dona Flor e Seus Dois Maridos

Nota: ★★★★

(Disponível na GloboPlay em junho de 2022.)

Dona Flor e Seus Dois Maridos é luxo só. Uma beleza, uma maravilha. Não é à toa, diabo, que virou paixão nacional, e durante várias décadas – algumas das melhores da minha vida – foi o filme brasileiro de maior sucesso nas bilheterias.

É absolutamente fascinante a quantidade de talentos que o produtor Luiz Carlos Barreto, o lendário Barretão, conseguiu reunir para levar pela primeira vez o romance de Jorge Amado para as telas, em 1976, o país mergulhado nas trevas da ditadura militar. Ao rever o filme agora, pela primeira vez em muitos anos, para escrever esta anotação, fiquei impressionado com a quantidade de nomes importantes que estão nos créditos iniciais e finais.

A começar, claro, do próprio Jorge Amado, um dos mais queridos, mais populares, mais vendidos dos grandes romancistas brasileiros de todos os tempos. É o autor que mais teve obras adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro – obras que também já foram temas de escolas de samba país afora. Seus livros (49 no total, incluindo volumes de memórias, coletâneas de crônicas) foram traduzidos para 49 línguas e publicados em 80 países.

Dona Flor foi seu 22º livro, lançado em 1966, quando o autor, já absolutamente reconhecido e reverenciado, estava com 54 anos. Veio oito anos depois de Gabriela, Cravo e Canela (1958), e mais tarde viriam ainda Tenda dos Milagres (1969), Teresa Batista Cansada de Guerra (I972), Tieta do Agreste (1977). Uma mina de histórias fascinantes.

A adaptação do romance para a linguagem cinematográfica coube a dois dos mais respeitados roteiristas do cinema brasileiro, Eduardo Coutinho e Leopoldo Serran. E os dois escreveram um roteiro magnífico, perfeito, irretorquível.

A direção de fotografia – que luxo, meu! – é de Murilo Salles, que, como realizador, nos deu entre outros Faca de Dois Gumes (1989) e Como Nascem os Anjos (1996), e, como fotógrafo, iluminou, por exemplo, Lição de Amor (1975), Cabaret Mineiro (1980), Eu Te Amo (1981), Beijo no Asfalto (1981).

Murillo Salles e sua equipe tiveram a sorte de poder rodar o filme, em 1975-1976, numa região que estava idêntica à época em que se passa a história, 1943 – algo dificílimo neste país de cidades que vão destruindo seu passado de maneira aterradora. Felizmente, o Centro Histórico de Salvador, a região do Pelourinho, é um dos poucos espaços urbanos do país, junto com Ouro Preto, Tiradentes e Paraty, que teve seu casario original preservado.

E que beleza são as tomadas da velha São Salvador feitas pelas câmaras de Murilo Salles!

Uma bela trilha de Francis. E tem a canção de Chico

Jorge Amado, Eduardo Coutinho, Leopoldo Serran, Murilo Salles.

E tem mais. No quesito música, tem Chico Buarque de Hollanda, Francis Hime e Simone.

Ah, é muito luxo!

Pelo que conta Wagner Homem, amigo pessoal de Chico e autor do site sobre o artista com todas as letras e informações sobre as canções, “O Que Será (À Flor da Pele)”, a música – aquela coisa fantástica, impressionante – surgiu depois que boa parte do filme já havia sido rodado. Não resisto à tentação de transcrever o que diz Wagner Homem em seu livro Histórias de Canções – Chico Buarque.

“Bruno Barreto pediu a Chico que fizesse uma canção para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, e ele pôs-se a trabalhar. Viu o copião várias vezes, porém o que lhe vinha sempre à cabeça eram as fotos de Cuba que tempos antes o jornalista Fernando Morais lhe mostrara numa reunião em sua casa. E essas imagens inspiraram o que ele batizou de “cubaião”, baião cubano, misturando os ritmos das duas culturas tão parecidas, já que os mesmos negros que aportaram na Bahia foram também parar na América Central.

“Entretanto, as três letras nada têm a ver com Cuba, ele garante. Quando, em 1992, Chico teve acesso à sua ficha no Dops, deu de cara com a interpretação que os censores fizeram da letra e achou graça, já que nem ele mesmo sabe “o que será”, e se soubesse não haveria sentido em explicar, uma vez que a letra em si é uma pergunta.

“O dueto com Milton Nascimento surgiu de maneira absolutamente casual. Francis Hime tocava a canção ao piano na gravadora quando Milton, que estava no estúdio ao lado, ouviu, encantou-se com a música e sugeriu que fosse cantada em dueto pela dupla. Chico e Francis gostaram da idéia e terminaram os arranjos já considerando a voz do cantor mineiro. No álbum de Chico Meus Caros Amigos, ambos cantaram ‘O que será? (À flor da terra)’, e no álbum Geraes, de Milton, repetiram a formação cantando ‘O que será? (À flor da pele)’.”

Não poderia haver voz mais perfeita para cantar as três letras diferentes criadas por Chico em cima de sua bela melodia do que a da baiana Simone.

E, de resto, a trilha sonora que Francis Hime compôs para o filme é bela, e se casa perfeitamente às imagens.

Bruno Barreto tinha 20 anos no início da produção!

É muito louco pensar que Bruno Barreto, de 1955, tinha apenas 20 anos de idade em 1975, a época do início da produção de Dona Flor.

Bruno já havia feito um belo filme, outra adaptação de obra literária de autor importante, A Estrela Sobe (1974), de Marques Rebelo, com Betty Faria no papel título – Betty Faria no auge da beleza jovem-madura, aos 33 anos, entre as novelas globais O Bofe e O Espigão, seis anos de fazer a Salomé de Bye Bye Brasil.

Mas o diretor era jovem demais, meu Deus do céu e também da Terra.

Bruno Barreto é um extraordinário diretor de cinema. Sua filmografia tem diversos filmes que, quando não excelentes, são ao menos muito bons, feitos tanto no Brasil quanto em Hollywood. Cito só alguns: Romance da Empregada (1988), de novo com Betty Faria, Atos de Amor (1996), O Que é Isso, Companheiro? (1997), Bossa Nova (2000), Flores Raras (2013). E a minissérie O Hóspede Americano (2021).

Aos 20 anos, Bruno Barreto já dava um toque pessoal a este filme que reúne tantos talentos: que bela homenagem ele fez a Betty Faria, colocando-a para cantar “Somebody Loves Me”, de George & Ira Gershwin, na sequência em que Vadinho finalmente leva Flor ao chiquetérrimo Plaza.

Que beleza de homenagem. Me lembrei de uma assim que Woody Allen faria anos mais tarde: em Radio Days, de 1987, em pela Era Mia Farrow, o cara botou Diane Keaton para cantar uma música numa sequência passada na noite de ano novo.

Jorge Amado, Eduardo Coutinho, Leopoldo Serran, Murilo Salles, Chico Buarque de Hollanda, Francis Hime, Simone, Betty Faria.

E ainda tem os atores que fazem o triângulo central: Sônia Braga, José Wilker, Mauro Mendonça.

 “Sujeito vagabundo, cachaceiro e gigolô”

Não poderia haver atriz mais perfeita para fazer Flor, não poderiam haver atores mais perfeitos para fazer, respectivamente, Vadinho e o dr. Teodoro.

Mauro Mendonça tem o todo o biotipo do dr. Teodoro Madureita, dedicado farmacêutico, estudioso da farmacopéia, defensor dos remédios aviados especificamente para cada cliente. O típico senhorzinho absolutamente conservador, careta, careta demais – exatamente o contrário do marido anterior, esse Vadinho que é a essência do hedonismo, do culto ao prazer, e as responsabilidades que se danem.

José Wilker está ótimo como Vadinho. Parece que foi feito para ser Vadinho.

– “Aliança? Nunca usou. Vendeu na véspera do casamento pra jogar no bicho”, diz uma amiga de Flor enquanto o corpo do malandrão está sendo velado na casa da família, depois de, na sequência de abertura, antes mesmo dos créditos iniciais, bater as botas em pleno amanhecer do domingo de carnaval de 1943.

– “Não só batia nela como gastava o dinheiro dela todo no bicho”, prossegue a amiga.

A afirmação não é de todo verdadeira. Ele gastava o dinheiro dela todo, sim – o dinheiro que Flor ganhava com suas aulas de culinária. Mas não gastava apenas no bicho. Também na roleta do cassino, com os ternos e camisas finas que comprava, e com as putas.

E, à pergunta de qual foi a causa da morte, Norma, outra amiga (o papel de Haydil Linhares), esclarece, ainda no velório, quando estamos com apenas 7 dos 150 gostosos minutos do filme: – “Ah, não foi bem uma causa. Foi um monte de causas. Fígado imprestável. Rins estrompados. Coração em pandareco. O pulmão…” Ao que o farmacêutico da vizinhança, o dr. Teodoro, resume: – “Vida desregrada”.

– “Era um batalhador”, proclama para Dona Florípedes um puxa-saco.

– “Sujeito vagabundo, cachaceiro e gigolô”, define, em roda de senhoras ali no velório, uma outra amiga de Flor. – “E muito mais: picareta, sem vintém e jogador.”

Tudo isso enquanto, ao fundo, ouvem-se os sons dos batuques do carnaval. Vadinho era um malandro porreta, admirado por um bando de gente – mas não ia ser porque ele morreu que o carnaval da Bahia iria parar, né?

Como o filme, o livro abre com a morte de Vadinho

Não foi invenção dos roteiristas Eduardo Coutinho e Leopoldo Serran essa bela sacada de começar a narrativa no momento da morte e do velório de Vadinho, em pleno domingo de carnaval – essa coisa de iniciar a história num momento de grande impacto, para só depois voltar atrás no tempo e contar como a história começou. Foi o próprio Jorge Amado que optou por isso que eu chamo de narrativa-laço, e tem um nome chique, “in media res”, o latinorium para “no meio das coisas”.

A primeira parte do livro tem o título de “Da morte de Vadinho, primeiro marido de Dona Flor, do velório e do enterro”.

Antes dessa primeira parte, antes de a narrativa começar, há a transcrição de “um bilhete recente de dona Flor ao romancista”. Também não resisto à tentação de transcrever ao menos em parte:

“Caro amigo Jorge Amado, o bolo de puba que eu faço não tem receita, a bem dizer. Tomei explicação com dona Alda, mulher de seu Renato do museu, e aprendi fazendo, quebrando a cabeça até encontrar o ponto. (Não foi amando que aprendi a amar, não foi vivendo que aprendi a viver?)

“Vinte bolinhos de massa puba ou mais, conforme o tamanho que se quiser. Aconselho dona Zélia a fazer grande de uma vez, pois de bolo de puba todos gostam e pedem mais. Até eles dois, tão diferentes, só nisso combinando: doidos por bolo de puba ou carimă. Por outra coisa também? Me deixe em paz, seu Jorge, não me arrelie nem fale nisso. Açúcar, sal, queijo ralado, manteiga, leite de côco, o fino e o grosso, dos dois se necessita. (Me diga o senhor, que escreve nas gazetas: por que se há de precisar sempre de dois amores, por que um só não basta ao coração da gente? As quantidades, ao gosto da pessoa, cada um tem seu paladar, prefere mais doce ou mais salgado, não é mesmo? A mistura bem ralinha. Forno quente.)

“Esperando ter lhe atendido, seu Jorge, aqui está a receita que nem receita é, apenas um recado. Prove do bolo que vai junto, se gostar mande dizer. Como vão todos os seus? Aqui em casa, todos bem. Compramos mais uma quota da farmácia, tomamos casa para o veraneio em Itaparica, é muito chique. O mais, que o senhor sabe, naquilo mesmo, não tem conserto quem é torto. Minhas madrugadas, nem lhe conto, seria falta de respeito. Mas de fato e lei quem acende a barra do dia por cima do mar é esta sua servidora, Floripedes Paiva Madureira dona Flor dos Guimarães.”

Toda a forma com que Sônia compõe Flor é um brilho

A Florípedes Paiva Madureira criada por Jorge Amado e que vemos na tela na pele de Sônia Braga – e que pele, meu Deus! – é uma mulher fascinante.

Não dá para saber, é claro, como foi que ela se preparou para o papel, o quanto ela e Bruno Barreto conversaram sobre a personalidade de Dona Flor. Ela era também bastante jovem – estava com 26 anos quando o filme foi lançado em 1976 –, embora já experiente. Tinha já sido a protagonista em A Moreninha (1970), tinha participado de Cleo e Daniel (1970), entre outros filmes, e das novelas globais Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Fogo Sobre Terra. Sobretudo, já havia sido a Gabriela da novela de extraordinário sucesso em 1975, direção geral de Walter Avancini e canção-tema composto especialmente por Dorival Caymmi, o Deus supremo da baianidade musical.

A Flor do livro de 1966, no entanto, é bastante diferente da Gabriela do livro de 1958. Esta última, uma sertaneja que se radica em Ilhéus e enlouquece de desejo o árabe Nacib, é um vulcão de sensualidade. Flor também tem sua cota – e imensa – de sensualidade, mas ela fica escondida sob os ares recatados, educados, quase puritanos de moça de família classe média de Salvador.

De uma certa maneira, Flor é uma contradição ambulante, quase um oxímero – uma explosão de sensualidade, sim, mas muito bem guardada, reservada, sob toda aquela aparência de jovem senhora “de família”, “de respeito”.

Não é à toa que suas escolhas recaiam nos extremos – Vadinho, o radical da malandragem, do culto ao prazer, da irresponsabilidade, e o dr. Teodoro, o sério, sisudo, de bons modos, o caretão total e absoluto.

Sônia Braga dá um show como a contradição ambulante que, entre a segurança do casamento burguês e o prazer do amante desregrado, não tem jeito – fica com os dois.

Todo o seu gestual de moça de família vai sumindo diante do tesão de Vadinho. É uma delícia ver os olhinhos de Flor-Sônia irem sendo tomados pelo desejo.

E toda a composição da figura de Flor foi muito bem feita. Vemos Flor-Sônia de corpo inteiro em dezenas e dezenas e dezenas de tomadas, e é fantástico. A gente sabe que ali está aquela atriz de corpo de beleza estrondosa, fora de série, fora de jeito – mas os vestidos, o modo de ela andar, de se postar, tudo no jeito com que Sônia Braga compôs Flor não indica o furacão que ela é.

O padre Venâncio (Francisco Santos), como perfeitamente sabia Vadinho, admirava as formas de Flor – a câmara de Murilo Salles até o flagra olhando para a bunda dela, num momento lá. Mas vamos ter que admitir que o padre Venâncio era um homem muito esperto.

Porque, caminhando ali pelas ruas de Salvador, aquela Flor não é assim uma Sônia Braga do Eu Te Amo (1981) de Arnaldo Jabor, ou do A Dama do Lotação (1978) de Neville de Almeida. Não é a vizinha do lado daquela canção de Dorival Caymmi, aquela que quando passa com seu vestido grená todo mundo diz que é boa, porque ela mexe com as cadeiras pra cá,

ela mexe com as cadeiras pra lá, ela mexe com o juízo do homem que vai trabalhar.

A Flor que Sônia Braga criou – que ironia! aquela Sônia Braga toda! – é, na imensa maior parte do tempo, uma jovem senhora muito educada, “de boa família”, recatada, temente a Deus Nosso Senhor. Só Vadinho faz com que ela grite shazam e vire aquele vulcão, aquela torrente de paixão.

Uma paixão nacional, recordista por décadas

Este Dona Flor de Bruno Barreto tem algo a ver com … E o Vento Levou.

Durante longos anos, o melodramão sobre a Guerra Civil americana que o produtor David O. Selznick, mais do que os diretores envolvidos, realizou, em 1939, foi o filme de maior bilheteria do mundo. Se não me engano, ele só foi suplantado por A Noviça Rebelde/The Sound of Music, de 1968. Três décadas inteiras de reinado.

Dona Flor foi o filme brasileiro de maior bilheteria durante 35 anos. Seu recorde só seria quebrado por Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, de 2010, segundo assegura o IMDb. Que também afirma que essa paixão nacional foi o filme mais visto nos cinemas brasileiros durante 20 anos, recorde que só seria quebrado por Titanic, o arrasa-quarteirões de 1997.

Na Wikipedia, dados atualizados com base tanto em números da Ancine quanto do site Filme B, a bíblia brasileira de bilheteria, mostram que hoje, 2022, 46 anos depois do seu lançamento, Dona Flor ocupa o quinto lugar entre os filmes brasileiros mais vistos nas salas de cinema. Tropa de Elite 2 caiu para o quarto lugar, e os três primeiros são Nada a Perder (2018), Minha Mãe é uma Peça (2019) e Os Dez Mandamentos – O Filme (2016).

(Não vou entrar em considerações sobre a coisa de número absoluto de entradas vendidas na bilheteria, que diferem naturalmente à medida em que um país passa de uma população de 93 milhões em 1970 para 212 milhões hoje. Juro que não vou perder tempo com isso.)

Acho que não dá para ninguém negar que Dona Flor é uma paixão nacional.

E teve sua cota de prêmios também: 3 prêmios, fora 4 outras indicações.

(A cota não foi nem de longe tão generosa quanto de dois filmes bem mais recentes com Sônia Braga – Aquarius, de 2016, teve 47 prêmios e 47 outras indicações, e Bacurau, de 2019, teve 52 prêmios e 72 outras indicações. Sobre essa disparidade imensa, oceânica, eu poderia argumentar também com a questão do aumento populacional, do aumento do número de festivais a premiar filmes mundo afora e do aumento da polarização ampla geral e irrestrita que tende a privilegiar obras mais obviamente “de esquerda”, mas não sou besta de mexer com esse vespeiro.)

Sônia Braga teve uma indicação ao Bafta de “Most Outstanding Newcomer to Leading Film Roles”, mais proeminente recém-chegado a papéis principais no cinema. O filme teve uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme estrangeiro. E Bruno Barreto, uma indicação ao prêmio de melhor direção no Taormina International Film Festival.

 Depois dele viriam duas séries e dois filmes

De 1976 para cá, houve – pelo que pude saber – outras quatro adaptações da obra de Jorge Amado:

* Dona Flor e Seus Dois Maridos, 1998 – Uma série da Rede Globo, com Giulia Gam como Dona Flor, Edson Celulari como Vadinho e Marco Nanini como Teodoro. A direção geral foi de Mauro Mendonça Filho, algo fantástico – o filho do grande ator que havia feito Teodoro no filme original. A minissérie colocou a ação não mais se passando nos anos 40, e sim nos 90. Parece que foi uma daquelas produções extremamente caprichadas da Globo: a série, de 20 episódios, teve 4.500 figurantes, uma coisa à la Cecil B. DeMille.

* Meu Adorável Fantasma/Kiss Me Goodbye, 1982 – Uma adaptação hollywoodiana da história de Jorge Amado, dirigida pelo grande Robert Mulligan, o diretor de tantos bons filmes – A Taberna das Ilusões Perdidas/The Rat Race (1960), Quando Setembro Vier/Come September (1961), O Sol é Para Todos/To Kill a Mockinbird (1962), Houve uma Vez um Verão/ Summer of ’42 (1971), Tudo Bem no Ano que Vem/Same Time Next Year (1979).

A ação se passa-se em Nova York. Kay (Sally Field) fica viúva de Jolly (James Caan), um coreógrafo da Broadway. Anos depois, casa-se com um egiptólogo do Metropolitan Museum, Rupert (Jeff Bridges). Claro que o fantasma de Jolly reaparece…

* Dona Flor e Seus Dois Maridos, 2017 – No lugar da estonteante Sônia Braga, a estonteante Juliana Paes. Marcelo Faria como Vadinho, Leandro Assum como Teodoro. O diretor é Pedro Vasconcelos.

Bem, se até West Side Story foi refilmado. Se até Psicose foi refilmado. Se até Rebecca, a Mulher Inesquecível foi refilmado…

* Doña Flor y Sus Dos Maridos, 2019 – Uma série mexicana de 70 (sim, 70) episódios. Os nomes dos atores não me dizem nada: Ana Serradilla como María Flor Méndez Canúl, Joaquín Ferreira como Valentín Hernández, Sergio Mur como Teodoro Hidalgo Flores. Nem o do diretor, Benjamin Cann.

Podem me chamar de careta, bobo, antiquado, conservador, o que for, mas não vou, jamais, me dispor a ver como a lindérrima Juliana Paes ficou como Flor. Nem o West Side Story do grande Spielberg. Rebecca de Ben Wheatley? Bah…

Haveria ainda muita coisa a se dizer, mas, diabo, este texto já está grande até para os meus padrões, e então eu só gostaria de registrar uma frase que está nos créditos finais, e que diz muito, mas muito sobre o filme:

“Agradecimento ao Governo do Estado, à Igreja e ao Povo da Bahia”

O Dona Flor de Bruno Barreto é que nem a mulata quando dança, quando todo o seu corpo se embalança, como diz o samba de Luiz Peixoto e Ary Barroso: luxo só.

Anotação em junho de 2022

Dona Flor e Seus Dois Maridos

De Bruno Barreto, Brasil, 1976.

Com Sônia Braga (Florípides, Dona Flor),

José Wilker (Valdomiro Santos Guimarães, Vadinho),

Mauro Mendonça (dr. Teodoro Madureira)

e Dinorah Brillanti (Rozilda), Nelson Xavier (Mirandão, amigo de Vadinho), Nelson Dantas (Clodoaldo, o poeta), Arthur Costa Filho (Carlinhos, o violonista), Rui Resende (Cazuza, o bêbado), Mário Gusmão (Arigof), Haydil Linhares (Norminha, a amiga de Flor), Nilda Spencer (Dinorah, a amiga de Flor), Sílvia Cadaval (Jacy), Ivanilda Ribeiro (Sofia, a empregada de Flor), Sue Ribeiro (Magnólia), Francisco Santos (padre Venâncio), Francisco Dantas (Dr. Argemiro), João Gama (Moreira), Álvaro Freire (Silvério), Hélio Ary (Venceslau Diniz), Wilson Mello (Vivaldo), Lourdes Coimbra (Dionísia, a puta), Miguelão (Paranaguá Ventura), Manfredo Colassanti (Pelanchi), Antonio Ganzarolli (Dedinho), Jurandyr Ferreira (Emílio Veiga), Mara Rúbia (Claudete), Lícia Magna (Filó), Joaquim Menezes (comendador), Betty Lsgo (Zizi), Mercedes Ruehl (garota americana no cassino)

e, em participação especial, Betty Faria (Leniza Mayer, a cantora na boate)

Adaptação e roteiro Eduardo Coutinho, Leopoldo Serran

Baseado no romance de Jorge Amado

Fotografia Murilo Salles

Música Francis Hime

Canção tema Chico Buarque de Hollanda, cantada por Simone

Montagem Raimundo Higino

Desenho de produção Anísio Medeiros

Figurinos Anísio Medeiros

Cor, 110 min (1h50)

Produção Luiz Carlos Barreto, Lucy Barreto, Newton Rique, Companhia Cinematográfica Serrador. DVD Paramount.

R, ****

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