2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: Diabo, onde é que está o erro do ótimo, competente Cacá Diegues neste filme de boa fotografia, bom elenco, boa câmara, boa direção de arte, música excelente?
Acho que foi na história, frouxa, talvez por ser pretensiosa demais, querendo tratar de diversos temas fortes, pesados, ao mesmo tempo.
José Wilker, voltando a trabalhar com Cacá 27 anos depois do excepcional Bye Bye Brasil, faz o papel de Antônio, um respeitado astrofísico que trabalha nos Estados Unidos e viaja ao Rio para receber uma homenagem. (Mais uma citação de Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, como em A Força das Palavras/Emile, do canadense Carl Bessai, e em Desconstruindo Harry, de Woody Allen.)
Antônio chega de volta a seu país logo após saber que tem um tumor no cérebro e pouco tempo de vida. Ficará sabendo da verdadeira identidade de seus pais, conhecerá a estranha história de amor entre eles, terá uma improvável amizade com uma jovem lindíssima num subúrbio (Taís Araújo) e empreenderá uma jornada para dentro de si mesmo e ao mesmo tempo para dentro da miséria da miséria da miséria da periferia do Rio de Janeiro.
Numa entrevista à Folha de S. Paulo na época do lançamento do filme, Cacá Diegues disse: “Este país tem uma coisa muito estranha. A cultura dos vencidos sempre representou o país dos vencedores. O Brasil era identificado sempre pelo carnaval, pelo samba, pelo futebol. Quer dizer, os vencidos socialmente é que fizeram uma cultura que representou o Brasil não só para nós mesmos, mas mundialmente.”
E também: “Não faço filme para o meu próprio gosto. Um filme só se completa quando o outro vê. Não precisa ser 1 milhão de espectadores. Essa codificação, em moda no Brasil, é absurda. Não estou condenado a fazer público de 1 milhão.”
Cacá diz ainda que tentou demonstrar, com este filme – o 16º de uma carreira respeitável, sólida, uma das melhores do cinema brasileiro -, que, “num estado social de esgarçamento das relações a um ponto de extrema miséria, a ética é outra. (…) Reconheço que O Maior Amor do Mundo não está muito no mainstream do cinema brasileiro. Não está nem na ponta das comédias românticas de grande sucesso nem na outra ponta, dos filmes pessimistas. É o que eu posso fazer.”
Sim, porque Cacá diz que seu filme quis dizer duas coisas simultaneamente: “Ao mesmo tempo em que estamos dizendo ‘Olha a situação de miséria assombrosa em que essas pessoas vivem no seu cotidiano’, também dizemos: ‘Olha como existem virtudes e qualidades que você pode encontrar aí’.”
Acho estranho Cacá dizer que seu filme não é pessimista. Me pareceu terrivelmente pessimista, triste, sem saída, sem solução. Acho que devo ver o filme mais uma vez.
O Maior Amor do Mundo
De Carlos Diegues, Brasil, 2006.
Com José Wilker, Taís Araújo, Sérgio Britto, Léa Garcia, Ana Sophia Folch, Hugo Carvana, Stepan Nercessian
Roteiro Carlos Diegues
Fotografia Lauro Escorel
Música Guto Graça Mello, canções de Chico Buarque e Gilberto Gil
Produção Globo Filmes
Cor, 106 min.
Caros Srs.
Gostaria de saber os nomes das músicss que foram tema do filme, bem como os seus respectivos autores .Mais especificamente se houve alguma música de Candeia .
Att
Walter Muniz
Caro Walter, estas são as músicas da trilha sonora do filme. Espero que ajude:
Estrela, com Gilberto Gil;
Águas de Moloch, com Afroreggae;
Memórias, com Pitty;
Vida da gente, com Zeca Pagodinho;
Casa da minha comadre, com Mart’nália;
Funk Dennis DJ, com Dennis DJ;
Não identificado, com Caetano Veloso;
Sempre, com Chico Buarque;
Braço de Mar, com Quito Ribeiro;
Coisa de Negão, com Afroreggae;
Férias, com Leléo;
Confidências, com Itamar Assiere;
Volta, com Orlando Silva;
Bachianas Brasileiras no. 4.