Anos Dourados

Nota: ★★★★

(Disponível na GloboPlay em 3/2022.)

Anos Dourados, a série que Gilberto Braga escreveu e Roberto Talma dirigiu em 1986, é uma beleza, uma maravilha. Uma bênção. Se fosse um filme (e é mesmo um filme, só que longo, em capítulos), seria um dos melhores já feitos no Brasil.

São duas belas histórias de amor, uma dos dois jovens adolescentes lindos, outra do casal de meia idade, cada uma bela à sua maneira, as duas nada fáceis, tranquilas – muitíssimo ao contrário. Mas, sobretudo, é um grande painel, um afresco, uma radiografia das famílias, da sociedade brasileira nos anos 1950 – mais especificamente da classe média do Rio de Janeiro, mas que é um perfeito espelho da moral e dos costumes de todo o país.

E que moral, que costumes! Quanta hipocrisia, mentira, falsidade, caretice, meu Deus do céu e também da Terra. Que horror, que negrume…

Gilberto Braga expôs, tintim por tintim, cada um dos principais absurdos daquela época, os preconceitos e as idiotices que a imensa maioria das pessoas respeitava como se fossem mandamentos da lei divina – mulher tem que ser virgem até o casamento, mulher separada não presta, masturbação é pecado e faz mal à saúde, e por aí vai.

Anos Dourados é um daqueles milagres em que tudo dá certo, em que cada peça da imensa engrenagem é perfeita e se encaixa maravilhosamente no conjunto. É tudo, tudo, tudo certo – a trama, os personagens em primeiro plano, o retrato da sociedade no pano de fundo. A escolha de cada ator para cada personagem, as atuações. Meu, que elenco – e que beleza de direção de atores!

A direção de arte, a cuidadosa, preciosa reconstituição da época. Claro, os carros chamam logo a atenção, os Cadillacs, os rabos-de-peixe – mas é fantástica a atenção que foi dada às xícaras, à louça, às canetas-tinteiro… É preciso dar os nomes. Mário Monteiro, cenários. Alfredo Pereira e Danilo, assistentes de cenografia. Sandra Alvim, pesquisa de arte. Luciana Viggiani, produção de arte.

As roupas, os figurinos! Que trabalho incrível, meu! Tudo bem: os uniformes do Colégio Militar, onde estudavam os rapazes, e do Instituto de Educação, onde estudavam as meninas, isso é simples de reproduzir. Mas todas as roupas do dia-a-dia de adolescentes e adultos dos anos 50, todas as roupas de festa – e, diabo, como iam a festas aquelas pessoas da Tijuca!

Helena Gastal é o nome da artista dos figurinos, com Reinaldo Elias como seu assistente. Edith Head aplaudiria o trabalho dessa senhora.

E a trilha sonora… Ah, mas o que que é aquilo… Uma canção tema composta especialmente para a série pelo maestro soberano Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, à qual adicionou letra ele mesmo, Francisco Buarque de Hollanda. (Fui verificar, mas não consegui determinar exatamente quantas foram as parcerias de Tom e Chico. Parece que foram nove, mas não dá para assegurar.)

E, além de “Anos Dourados”, em duas gravações – a instrumental e a com Chico cantando os versos maravilhosos –, um punhado, uma dúzia de grandes clássicos da canção popular que faziam sucesso naquela época e são lembradas pelas pessoas da minha geração até hoje, escolhidos pelo próprio Gilberto Braga. Um luxo.

Ao rever Anos Dourados no DVD agora, 36 anos depois que a série foi exibida no horário nobre na Rede Globo, em 20 capítulos, fiquei com a sensação de que gosto dela com o mesmo carinho e a mesma emoção com que gosto de Todas as Mulheres do Mundo, aquela beleza com que Domingos Oliveira nos presenteou em 1966.

O eventual leitor não tem por que saber, é óbvio, mas esta aí é uma declaração de amor absolutamente forte, superlativa, porque Todas as Mulheres do Mundo é um dos meus filmes preferidos.

Mas declaração de amor bonita mesmo é a de Cláudio Corrêa e Castro, o grande ator que interpreta o dr. Carneiro, o pai de Lourdinha, a personagem de Malu Mader. Para o lançamento da série em DVD, a Globo fez um documentário de 24 minutos, um making of, com entrevistas com atores, o criador Gilberto Braga, o diretor Roberto Talma, a figurinista Helena Gastal. Os realizadores do making of adoraram a declaração de amor à série feita por Cláudio Corrêa e Castro – tanto que abriram o pequeno documentário com ela:

“A vida é como uma ópera. Tem muito blá-blá-blá às vezes, mas de repente vem uma ária deslumbrante, e todo mundo guarda, todo mundo assobia, canta, e se recorda. Anos Dourados foi uma dessas árias, talvez a ária mais bonita de todas.”

No começo era Malu Mader

Malu Mader. Malu Mader, aquela menina lindérrima, de sorriso absurdamente belo, olhos castanhos intensos sob aquelas sobrancelhas grossas, cerradas.

Malu Mader foi o começo de tudo.

Não é boato, teoria. Está nas páginas do portal Memória Globo sobre a série. Gilberto Braga havia escrito a novela Corpo a Corpo (1984), em que Malu Mader, então com 18 aninhos, interpretava Bia. Encantado com a moça, como de resto qualquer pessoa de bom senso, o escritor ficou imaginando que ela ficaria ótima como normalista. Posso imaginar até que ele se lembrou de Nelson Gonçalves cantando “vestida de azul e branco, / trazendo um sorriso franco / no rostinho encantador / minha linda normalista / rapidamente conquista / meu coração sem amor”.

“A partir dessa idéia” de ver Malu Mader como normalista, diz o portal Memória Globo, Gilberto Braga “passou a elaborar a sinopse da minissérie, que retratou a rigidez das regras de conduta na formação dos jovens e discutiu temas como repressão sexual, aborto e masturbação“.

Transcrevo outro trecho do portal da Globo sobre a origem da série:

“O título Anos Dourados foi idéia de Daniel Filho. Ele conta que havia um projeto da Casa de Criação Janete Clair para produzir minisséries sobre diferentes épocas da história do Brasil. Criada em 1985, por Dias Gomes (o marido de Janete, é bom lembrar; o cara que era o segundo melhor texto de sua cama, segundo brincava Nelson Rodrigues), a Casa de Criação Janete Clair tinha o objetivo de elaborar e selecionar roteiros para as produções da emissora. A partir dessa idéia, foi decidido que a década de 1950 ficaria com Gilberto Braga. Para a trama sobre os anos de 1960, Gianfrancesco Guarnieri foi o nome sugerido. No entanto, Guarnieri acabou se envolvendo em outros projetos da emissora, e a Casa de Criação Janete Clair fechou. Anos depois, Gilberto Braga escreveu a minissérie Anos Rebeldes, retratando o duro período de repressão do regime militar.”

A série se passa na segunda metade dos anos 1950. Um letreiro, bem no início, especifica que estávamos em novembro de 1956. Passam-se mais de dois anos, quase três, ao longo dos 20 capítulos – os eventos se dão, portanto, entre final de 1956 e 1959. O período Juscelino Kubitschek (na presidência entre janeiro de 1956 e janeiro de 1961). Os anos JK. Os anos em que surgiam a indústria automobilística, uma nova capital no interiorzão bravo, a bossa nova, o cinema novo.

Cinco anos mais jovem do que Gilberto Braga, que é de 1945, eu era muito garoto naqueles anos JK, e, assim como o grande autor, não compreendia o mundo ainda. Mas sempre achei, olhando para trás, que os anos JK foram um período em que parecia que o Brasil iria dar certo. Era tudo novo – música nova, cinema novo, capital nova, indústria nova. O Rio de Janeiro era maravilhoso, e o país tinha Tom Jobim, Sylvinha Telles, Vinicius de Moraes, Nelson Pereira dos Santos, Gianfrancesco Guarnieri, Garrincha, Didi, Vavá, Zagalo, Pelé e Pepe – para citar só alguns.

Um país que tinha essa gente toda aí tinha que dar certo, meu!

Sim, eram tempos de um absoluto horror quanto ao comportamento, eram os tempos mais absolutamente caretas de todo o século XX – não foi à toa que os anos 60 ficariam conhecidos como os que vieram para mudar tudo.

Anos Dourados mostra à exaustão que os anos 1950 eram a coisa mais loucamente careta, calhorda, hipócrita que poderia haver – mas, diabo, também mostra que eram tempos bonitos, charmosos. Esperançosos. Havia um gostinho de algo novo, e o Brasil prometia que iria dar certo. Àquela altura, ninguém poderia saber, é claro, que uma brutal quarta-feira de cinzas se abateria sobre o país no final de março de 1964.

A trama tem quatro protagonistas

Gilberto Braga demonstrou-se um gênio ao criar os personagens centrais, a estrutura da trama, aquilo que os franceses estão chamando de arcos narrtivos.

Sua trama envolve diversas famílias, todas elas de moradores da Tijuca, o bairro classe média por excelência do Rio de Janeiro, cujos filhos – adolescentes aí de 17 anos de idade no início da narrativa, em 1956 – estudam ou no Colégio Militar ou no Instituto de Educação. Todos se conhecem – os pais são amigos entre si, os adolescentes também.

São diversas famílias – mas três delas que são centrais na trama.

Há a família Carneiro; o pai, o dr. Carneiro (o papel do já citado Cláudio Corrêa e Castro), é médico experiente, respeitado; a mãe, Celeste (Yara Amaral), é dona de casa, naturalmente. Senhoras de famílias respeitáveis não trabalhavam fora. A filha Lourdinha (o papel de Malu Mader), normalista, aluna do Instituto de Educação, é uma das quatro protagonistas da história. Pedrinho (Daniel Fontoura), o outro filho, é um garoto de uns 10 anos apenas.

É a chamada família tradicional, que dá a maior importância do mundo às aparências e ao que os vizinhos vão dizer. A Dona Celeste é um poço de caretice, de preconceitos, de estupidez. Lourdinha, moça simpática, gracinha em tudo por tudo, vai sofrer demais nas mãos da mãe hipócrita.

A segunda das três famílias é também tradicional. O pai é major da Aeronáutica, Dornelles (José de Abreu), a mãe se chama Beatriz (o papel da linda Nìvea Maria), e eles têm três filhos. Lauro (Rodolfo Bottino), o mais velho, é engenheiro recém-formado; Marina (Bianca Byington) é colega e grande amiga de Lourdinha; Solange (Izabella Bicalho) é a mais novinha.

O pai de Beatriz – interpretado por José Lewgoy –, brigadeiro da Aeronáutica, é tão reacionário quanto autoritário. Manda na filha, quer mandar nos netos e no genro. É um grande incômodo na vida do major Dornelles – que é mais um dos quatro personagens principais da série.

Os dois outros protagonistas são mãe e filho – e são os representantes da família que os caretas chamavam de desestruturada. Ela, Glória (o papel de Betty Faria, na foto abaixo), havia se separado do marido, o músico e boêmio inveterado Morreu (Milton Moraes) quando o filho, Marcos, tinha apenas 4 anos de idade. Glória e Morreu não haviam ficado inimigos, ou absolutamente distantes. Conviviam bem, de forma mais que civilizada – amigável, afetuosa até. O casamento simplesmente não tinha dado certo – mas eram, os dois, boas pessoas, de boa índole, bom caráter. Haviam se esforçado para criar bem o filho Marcos (o papel de Felipe Camargo) – e tinham tido sucesso. Marcos é um rapaz centrado, tranquilo, honesto, boa gente.

Marcos e Lourdinha vão se encontrar – e se apaixonar perdidamente um pelo outro. Para a indignação, a fúria de Celeste, a mãe da moça – para quem mulher desquitada, que trabalha fora, e ainda mais numa boate em Copacabana, não presta, e filho de desquitada era a pior coisa que poderia acontecer com Lourdinha – moça prendada que Celeste havia criado para ter um excelente casamento com um rapaz de família boa e sobretudo rica.

Os pais de Lourdinha vão infernizar a vida da filha, e lutar de todas as maneiras contra o namoro dela com Marcos.

A mãe “boa” é um nojo, a mãe “que não presta” é gente fina

Não há sutileza aí. Gilberto Braga deixa as coisas muito claras. Os pais da família tida como exemplar, perfeita, tradicional, são os vilões da história. Celeste é o protótipo da mãe retrógada, careta, horrorosa – e o pai parece quase o tempo todo um banana, que se deixa dominar pela mulher. (Bem ao final, o espectador saberá que o dr. Carneiro é muito pior que um banana.)

Já as pessoas da família “desestruturada” são gente boa, gente fina.

O acaso fará com que Glória fique conhecendo o major Dornelles. Uma mulher desquitada, separada do marido havia muitos anos. Um homem com problemas na família, que já não tinha muito amor pela mulher bela mas um tanto vazia.

Não poderia dar outra: rola paixão.

A princípio, Dornelles, caráter não nota 10, esconde de Glória que é casado. Quando ela fica sabendo, já está muito envolvida, muito apaixonada – mas, mesmo assim, bate o pé que quer acabar o caso.

Um casal de jovens apaixonados que não consegue ter um namoro tranquilo por causa dos preconceitos da mãe da moça. Um casal de adultos apaixonados que não conseguem ter um namoro tranquilo porque ele era casado.

Uma bela trama.

Há ainda diversas subtramas, diversos personagens gostosos. Dois dos mais deliciosos são o Urubu, colega e amigo de Marcos, e Rosemary, colega e a princípio não tão amiga assim de Lourdinha. Os dois são interpretados por bons atores que estão excelentes em seus papéis. Taumaturgo Ferreira é o Urubu, garotão extrovertido, brincalhão, bem humorado, que pensa em sexo 25 horas por dia. Isabela Garcia é Rosemary, garota levada da breca, como se dizia naquele tempo, que adorava sexo abertamente, ousadamente. (Nem tão ousadamente assim, mas era o que parecia.)

Sexo é tema fundamental na trama. Fala-se demais de sexo, como na vida real. E fala-se da melhor forma que pode haver. Gilberto Braga é o talento a serviço do bem.

O talento a serviço do bem. Anos Dourados mostra como era pavoroso para os jovens enfrentar o absurdo tabu da virgindade. E tem a coragem de falar de aborto de forma limpa e adulta: vemos ali que, quando quer ou precisa, a classe média faz, sim, o aborto. Vai às clínicas clandestinas e faz.

O elenco – que maravilha de elenco! Como estão bem dirigidos todos aqueles muitos atores, os jovens e os maduros. Malu Mader e Felipe Camargo estão excepcionais – lindos, jovens e talentosos. Taumaturgo Ferreira e Isabela Garcia dão um show. Betty Faria, Nívea Maria, Yara Amaral – todas estão ótimas. Há grandes nomes em papéis pequenos, interpretando pais de alguns dos adolescentes da história: Jece Valadão, Paulo Villaça, Maria Lúcia Dahl. O veterano John Herbert faz uma participação especial como um coronel da Aeronáutica.

Duas belas jovens atrizes – além de Malu Mader e Isabela Garcia – se destacam como alunas do Instituto de Educação. Já citei Bianca Byington, a irmã da maravilhosa cantora Olívia. Como é bela Bianca Byington, com aqueles olhões gigantescos que a deixam com um certo de ar de sonhadora e distante. Faltou citar Paula Lavigne, então com 17 aninhos, estreando na televisão; faria em seguida outras sete novelas e uma minissérie na Globo, antes de virar sra. Caetano Veloso e empresária. Paula Lavigne faz Marly, uma amiga de Lourdinha que, ao contrário desta, tem pais de mente aberta, companheiros da filha.

Um monte de referências a fatos da época

Para escrever a série, Gilberto Braga fez, é claro, pesquisas sobre os anos 50. Recorreu à própria memória – afinal, em 1958, ele tinha já 13 anos, já entendia um pouco o mundo. Mas também fez reuniões com amigos e conhecidos um pouco mais velhos do que ele, e ouviu suas histórias, suas lembranças, antes de escrever os diálogos, os detalhes da trama.

É uma delícia ver as referências a eventos, situações, climas que eram típicos dos anos 50. Muitos deles ainda existiam no início dos anos 60, quando eu entrava na adolescência. Por exemplo: ir ao cinema era a mais perfeita ocasião para pegar a namorada/o namorado. Desde as pegadas mais inocentes, mão na mão, até as mais avançadas, tipo mão na coxa da moça.

Há referência a Brigitte Bardot em E Deus Criou a Mulher, que é de 1956. Há referência às coxas de Cyd Charisse, coisa mais natural do mundo, já que A Roda da Fortuna, por exemplo, é de 1953, Meias de Seda é de 1957. Fala-se do disco novo dos The Platters – e a gente falava assim mesmo, os The Platters.

Há inside jokes, auto-referências, metalinguagem. Uma hora qualquer lá fala-se de uma novela de Janete Clair que estava em cartaz na Rádio Nacional – uma absoluta delícia, porque Janete Clair era um dos ídolos de Gilberto Braga. Em outro momento, há referência ao Grande Teatro que era apresentado numa emissora de TV, e cita-se a peça A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca, com Fernanda Montenegro.

A Copa do Mundo de 1958 tem importância grande na trama. Não poderia deixar de ter. Ao rever a série agora, nos momentos em que a Copa do Mundo aparece em primeiro plano, me lembrei de Minha Vida de Cachorro, do sueco Lasse Hallström, cuja ação se passa na segunda metade dos anos 50, e a Copa da Suécia também tem boa importância na trama.

Há diversas referências a fatos políticos. Fala-se muito de Brasília, a capital que estava sendo construída no Planalto Central pelo governo Juscelino Kubitscheck. Lauro, o filho de Dornelles e Beatriz, engenheiro recém-formado, tinha vontade de ir trabalhar lá – mas o avô, o brigadeiro reacionário, direitista, lacerdista, faz de tudo para evitar que o neto vá se meter naquela empreitada do presidente que não era nada, nada benquisto por oficiais da Aeronáutica de extrema direita. Fala-se várias vezes de JK, assim como de Carlos Lacerda, que havia combatido duramente Getúlio Vargas como jornalista e era então deputado federal pela UDN, partido de direita.

Gilberto Braga é o talento do bem, e então é simples: os personagens que têm simpatia por Lacerda são conservadores, caretas, gente não muito boa, em suma. Os que, ao contrário, têm simpatia por Juscelino são pra frente, simpáticos, gente fina. Essa coisa da polarização sem dúvida alguma piorou demais com o lulo-petismo, o nós versus eles – mas da mesma forma não pode haver dúvida de que não foi o lulo-petismo que inventou o Fla-Flu na política.

Canções em cinco línguas diferentes

Tão absolutamente delicioso quanto ver a série Anos Dourados é ouvir o disco Anos Dourados.

O álbum Anos Dourados foi lançado em maio de 1986 pela SomLivre, a gravadora do Grupo Globo, simultaneamente à exibição da série. Reunia as músicas que tocam ao longo dos 20 capítulos, músicas que eram sucesso na época da ação – e é uma das melhores compilações que já foram feitas em qualquer época, em qualquer lugar.

Só tem clássicos, só tem maravilhas – as tais canções escolhidas pelo próprio Gilberto Braga.

Uma das coisas extraordinárias é que é uma reunião de canções em várias línguas. Ali pelos anos 80, 90, as emissoras de rádio brasileiras passaram a tocar canções em apenas duas línguas, o português e o inglês. Coisa mais chata, mais reducionista. Nos anos 50, assim como no início dos anos 60, quando eu já ouvia rádio, as emissoras brasileiras eram poliglotas. A gente ouvia espanhol nos mais diferentes sotaques, a gente ouvia francês, italiano – além, é claro, do português e do inglês. Acho que o jeito que eu peguei para aprender línguas teve a ver com ouvir canções de diversos países.

Anos Dourados, o disco – assim como a série, é claro – tem inglês (“When I fall in love” com Nat King Cole, “Smoke gets in your eyes” com “os The Platters”, “I Apologise” com Billy Eckstine, e tem “Por Causa de Você” com Dolores Duran, “Alguém Como Tu” com Dick Farney, “As Praias Desertas” com Elizeth Cardoso – e também tem “Mon Mènage à Moi” com Edith Piaf, “Tu me Acostumbraste” com Roberto Yenes, “Accarezzame” com Teddy Renno. Um disco com cinco línguas.

Boa parte da sociedade brasileira era careta, hipócrita, filha da mãe, naquela segunda metade dos anos 50. Posso dizer, de cátedra, com minha experiência de vida, que avançamos muito depois daquela época de tanta treva. Ainda falta muito para que cheguemos perto de algo mais aceitável – e, com a tristíssima loucura que foi a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, o país foi lançado ao fundo das mais tenebrosas trevas que se pode imaginar.

Mas eram também, repito, tempos bonitos, charmosos. Esperançosos.

O país tinha tudo para dar certo. Eram anos dourados. Bonitos, charmosos, esperançosos como essa série magnífica.

Anotação em março de 2022

Anos Dourados

De Roberto Talma, Brasil, 1986

Com Malu Mader (Maria de Lourdes Carneiro, Lourdinha),

Felipe Camargo (Marcos Cantanhede),

Betty Faria (Glória, mãe de Marcos),

José de Abreu (major Dornelles)

e (os adolescentes, os filhos) Isabela Garcia (Rosemary), Taumaturgo Ferreira (Joaquim, Urubu), Paula Lavigne (Marly), Bianca Byington (Marina Campos Dornelles), Rodolfo Bottino (Lauro Campos Dornelles), Antonio Calloni (Claudionor, Clau-clau), Izabella Bicalho (Solange Campos Dornelles), Daniel Fontoura (Pedrinho, o irmãozinho de Lourdinha),

(os adultos, os pais) Nívea Maria (Beatriz, a mulher do major Dornelles, mãe de Marina, Lauro e Solange), Yara Amaral (Celeste Carneiro, a mãe de Lourdinha), Cláudio Corrêa e Castro (Dr. Carneiro, o pai de Lourdinha), Milton Moraes Cláudio Cantanhede (Morreu, o pai de Marcos), José Lewgoy (brigadeiro Campos, o pai de Beatriz), Lúcia Alves (Vitória, a grande amiga de Glória), Tânia Scher (Marieta), Jece Valadão (Gracindo, o pai de Urubu), Maria Lúcia Dahl (Abigail, Bibi, a mãe de Rosemary), Roberto Pirillo (Rafael, o amigo de Dornelles), Lys Beltrão (Marlene, a empregada da casa de Urubu), Paulo Villaça (Joel), Vera Gimenez (Lilian), Roberto de Cleto (Orlando Campos)

(e ainda) Denise Bandeira (Laís), Jorge Botelho (Nuno), Anselmo Vasconcellos (capitão Serpa), Rosane Gofman (Lenita), Norma Geraldy (tia Pequetita), Helber Rangel (Rodolfo), Tonico Pereira (Ronaldo), Arthur Costa Filho (Olivério), Glória Alves (Rosita), Cininha de Paula (prostituta),

e, em participação especial, John Herbert (coronel)

Argumento e roteiro Gilberto Braga

Montagem Paulo Lopes e Aníbal Veiga

Direção musical Sérgio Saraceni

Produção musical Gilberto Braga

Figurinos Helena Gastal e Reinaldo Elias

No DVD. Produção Sergio Renato, Roberto Vaz, Helio Guarilha. Simão Castelo Branco, Rede Globo de Televisão

Cor, cerca de 430 min (7h10) a versão em DVD

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