Quando Setembro Vier / Come September

Nota: ★★★☆

Quando Setembro Vier, no original Come September, a comedinha feita por Robert Mulligan em 1961, com o galãzão Rock Hudson, a gostosérrima Gina Lollobrigida e os garotinhos Bobby Darin e Sandra Dee, e mais estonteantes paisagens da Itália, é uma total, absoluta delícia.

É, entre outras coisas, uma ferina e feroz gozação do falso moralismo, da hipocrisia que imperava nos anos 1950, início dos 1960 – aquela coisa torpe de que sexo é com as profissionais, não pode ser com a moça de família com quem se pretende casar.

Tem um problema, porém: o filme ficou datado.

 

 

 

 

 

Não pelo estilo de narrativa. De forma alguma. A narrativa é clássica, e o clássico não envelhece. O filme tem um timing cômico maravilhoso, que não perdeu absolutamente nada. É esplendorosamente engraçado, tanto nas piadas visuais, as gags, como nas piadas verbais. Os diálogos são inteligentíssimos, espertíssimos, afiados, uma maravilha.

Quando Setembro Vier ficou velho foi nos costumes que ele mostra e contra os quais se bate.

Se passasse hoje na sessão da tarde da TV, a garotinha de dez anos poderia perfeitamente virar para a mãe e questionar: Mas, mãe, por que os dois não trepam logo de uma vez? Por que eles têm que fingir que não são amantes?

Quando Setembro Vier não ficou datado por causa de seu estilo, de sua narrativa. Ficou datado porque os costumes mudaram depressa demais, ao longo destes últimos 51 anos. E isso não é uma reclamação, de forma alguma.

Uma comédia com uns 20 tipos diferentes de piadas

Ao rever agora o filme que vi duas vezes quando tinha 12 anos e mais uma vez quando tinha 13, não consegui deixar de me lembrar de uma frase maravilhosa de M.A.S.H., que Robert Altman realizou em 1972, apenas 11 anos porém uma revolução comportamental depois de Come September. O personagem de Donald Sutherland está em vias de comer uma mulher, não me lembro qual, dentro de sua tenda de exército; alguém do lado de fora o chama, e ele pergunta:

– “Quem empata?”

Quando Setembro Vier é um dos filmes mais insistentes no tema Quem Empata a Foda? Talvez seja o mais insistente de todos.

Mas não é, de forma alguma, uma comédia de uma piada só.

Isso me impressionou muito nesta revisão agora. Não me lembrava (embora tenha revisto o filme uma vez em 1996, conforme consta das minhas anotações) que a trama tivesse tantos e tão variados elementos.

 

 

 

 

 

Quando Setembro Vier brinca com os estereótipos nacionais: os americanos são assim, os italianos são assado, os ingleses são tal coisa. Brinca com o conceito do homem que trabalha demais x o homem que sabe aproveitar a vida. Brinca com a coisa tão séria, e tão babaca, da competição entre os homens – quem é melhor nisso ou naquilo, quem é mais forte, quem é mais esperto. Da competição entre homens jovens x homens maduros. Brinca com a distância entre gerações. Brinca com a distância entre caretas x avançadinhos.

E goza furiosamente o axioma então vigente – fosse em Nova York ou Belo Horizonte – de que moça direita tem que casar virgem.

Quando Setembro Vier é uma comédia de 20 tipos diferentes de piadas.

É uma comédia esperta, inteligente, suavemente safada (dentro do que se podia fazer de filme safado no cinemão comercial de 1961).

Se ficou datada, repito, não é problema do filme – é do mundo, dos costumes que mudaram tão rapidamente entre o 1961 em que o filme foi feito e o tão próximo 1972 do M.A.S.H. de Altman.

Entre uma data e outra houve uma revolução dos costumes. Houve a pílula, o fim do tabu da virgindade. Foi a primeira das duas alegres décadas entre a pílula e a aids – e, nessas duas décadas, houve uma trepação sem fim, e sem culpa, ah que vida boa olelerê, ah que vida boa olarará.

(Entre tantos outros motivos para agradecer a Deus, aos deuses, à vida, tenho este: a de ter sido jovem nessa abençoada época entre a pílula e a aids.)

Os jovens que virem Quando Setembro Vier hoje e não conseguirem botar o filme dentro do contexto histórico poderão perfeitamente achar o filme de uma babaquice atroz. Por que os dois adultos não trepam logo de uma vez? Por que eles têm que fingir que não amantes? E por que o chato do adulto fica empatando a foda dos meninos, ele que está tendo sua própria foda empatada?

Um biliardário ianque que todo mês de setembro come a italiana

Passei o carro na frente de todos os bois.

O filme começa com um Rolls-Royce descendo de um avião cargueiro.

O cargueiro e o Rolls-Royce que desce dele pertencem à Talbot Inc, a  empresa de um mega-milionário chamado Talbot.

Um motorista uniformizado dirige o Rolls-Royce; passa por lugares em que há prédios milenares. Estamos na Itália, não há dúvida – até porque a música é uma canção feita aos moldes das italianas. Moças param nas ruas para olhar o carrão inglês que só milionários possuem. Vamos vendo essas cenas enquanto rolam os créditos iniciais.

O Rolls-Royce passa em frente à grande catedral de Milão. Qualquer espectador alfabetizado localiza: ah, tá, então é Milão.

Chega a um arranha-céu. O motorista dá uma polidinha no Rolls-Royce, em que estão inscritas as iniciais R. E. T. Corta, e temos um close-up num braço que anota ou desenha algo; a abotoadura da camisa tem as iniciais R. E. T. Robert Talbot (não me lembro para que tipo de Edward ou Edgar é a letra do meio) está em uma reunião de negócios, estabelecendo a criação de uma nova empresa, uma joint-venture entre ele de um lado e um bando de investidores italianos de outra.

Robert Talbot vem na pele de Rock Hudson.

Robert Talbot, biliardário ianque, enquanto cria nova empresa multinacional, está desenhando no papel à sua frente uma mulher danada de gostosa. Se repararmos direito, o desenho, muito bem feito, é de Gina Lollobrigida.

Alguém o chama: a ligação para Roma se completou. Robert Talbot, biliardário businessman ianque, pede desculpas e vai para uma sala ao lado, para atender à ligação interurbana que acabava de ser completada.

Uma garotinha de seis anos que vê o filme na sessão da tarde poderia perguntar: mas, manhê, por que ele não ligou do celular dele para o celular dela?

Do outro lado da linha há uma Gina Lollobrigida que está experimentando seu vestido de noiva.

Robert Mulligan faz split-screen, a tela dividida em duas, para que o espectador veja ao mesmo tempo Rock Hudson falando de Milão e Gina Lolobrigida falando de Roma. O mesmo split-screen usado e abusado em outra comedinha romântica da época, com o mesmo Rock Hudson (e mais Doris Day), Confidências à Meia-Noite/Pillow Talk, de 1959.

O espectador percebe então como são as coisas. O multibiliardário americano Talbot todo ano passa o mês de setembro com sua amante, Lisa Fellini. (Epa: Fellini! Uma singela homenagem ao cineasta que fazia então furor no mundo.) Chega setembro, ele tira férias e vai para sua fantástica villa diante de um mar estupidamente belo, sempre com Lisa, aquele violoncelo fantástico que é Gina Lollobrigida.

Mas Lisa, que tem vida própria, é ela também uma mulher de negócios (embora o filme não nos revele qual é seu negócio), cansou-se dessa história de ter um amante americano um mês por ano, e está noiva, prestes a se casar com um inglês profundamente inglês, até no nome, Spencer (Ronald Howard).

Diante da voz de Talbot, no entanto, Lisa amolece, desmelingue.

Ele propõe um encontro na villa. Ela acha estranho, porque ainda não é setembro, é julho – mas concorda. Amolece, desmelingue.

Rivalidade imensa surge entre o biliardário e o jovem estudante

A caminho de sua villa numa colina de frente a um mar extraordinário, em seu Rolls-Royce, o biliardário Talbot se encontra diversas vezes com um grupo de jovens americanos que viajam num jipe amarelo. O líder do grupo se chama Tony, e é interpretado por Bobby Darin (à direita na foto).

Estabelece-se imediatamente entre Talbot, o biliardário bem vivido chegando à meia-idade, e Tony, estudante de Medicina de 20 anos em sua primeira viagem à Itália, uma rivalidade incomensurável. Só falta os dois descerem de seus carros, o Rolls milionário e o jipe simples, e examinarem os pintinhos para ver quantos centímetros um tem a mais que o outro.

Fora de setembro, a villa do ricaço vira um hotel

Todos esses deliciosos episódios acontecem nos primeiros 13 minutos de filme.

Quando estamos com 14 minutos de filme, vem uma situação, uma piada sensacional, um achado, um brilho.

Durante os 11 meses em que o ianque biliardário está fora, seu aparentemente perfeito mordomo, Maurice Clavell (Walter Slezak), transforma a villa particular de Talbot em um hotel cinco estrelas, Hotel La Bella Vista.

(La Bella Vista, La Dolce Vida. Lisa Fellini. O público mediano americano de 1961 talvez não tenha notado, mas o filme de Robert Mulligan está citando o realizador que naquela época aparecia como um dos mais geniais de todos os tempos.)

Naquele ano, ao contrário do que fazia sempre, religiosamente, Talbot vai para sua villa no mês de julho – e não em setembro. Está morrendo de saudade de Lisa, e, já que estava mesmo na Itália a negócios, antecipa a ida para seu palacete.

 

 

 

 

 

Dá-se aqui um dos muitos diálogos gostosos do filme. Pego na surpresa, Maurice sugere que o patrão poderia ter mandado um telegrama avisando de sua chegada. Talbot diz que mandou um telegrama, Maurice diz que não recebeu. Estão chegando à villa quando um rapaz vem com um telegrama. Maurice quer pegar primeiro – pode ser uma reserva de algum cliente do hotel –, mas é Talbot que agarra o papel. É o telegrama que ele havia enviado avisando de sua chegada. E Maurice, um fraseur, um gozador de tudo e todos, inclusive de seus próprios pecados, diz:

– “É parte do charme da Itália. É o único lugar do mundo em que um homem pode mandar um telegrama e estar no endereço para recebê-lo”.

E em seguida, ao pegar a bagagem do patrão, morrendo de medo de que ele descubra que sua villa é um hotel:

– “Vou levar seu quarto para suas malas.”

O que virá a seguir é uma trama absolutamente, maravilhosamente deliciosa.

Pena que só pode curtir toda essa delícia hoje pessoas mais velhas, ou os poucos jovens que sabem contextualizar as coisas.

Para as garotinhas de dez anos de idade, será um filme de difícil compreensão. Elas seguramente perguntarão: Mas, mãe, por que os dois não vão logo pra casa de uma vez?

Filmes americanos apaixonados pela Itália, quase um subgênero

Quando Setembro Vier se inclui naquele numeroso tipo de filme americano em que se demonstra uma paixão imensa pela Europa.

Dezenas, centenas de filmes americanos mostraram e mostram essa profunda, talvez freudiana relação entre o Império e o Velho Mundo.

Para não falar da França, da Espanha, da própria Inglaterra; para lembrar apenas alguns casos exemplares de filmes americanos sobre americanos na Itália: A Princesa e o Plebeu/Roman Holiday (1953), A Fonte dos Desejos/Three Coins in the Fountain (1954), Começou em Nápoles/It Started in Naples (1960), Candelabro Italiano/Rome Adventure (1962), Noites de Amor, Dias de Confusão/Buona Sera, Mrs. Campbell (1968).

Isso para não ir lá para trás, para Fogo de Outono/Dodsworth (1936).

E a tradição prossegue em filmes bem mais recentes, como Sob o Sol da Toscana (2003), Cartas para Julieta (2010).

Rock Hudson e Gina estão belos e engraçados

 

 

 

 

 

O entendimento normal era de que Rock Hudson era um ator ruim, quase um canastrão.

É estranho. Quanto mais eu revejo filmes com Rock Hudson, mais acho que ele não era, de forma alguma, um canastrão.

Era um sujeito bonitão, grandão (1 metro e 96, diz o IMDb). Fez  westerns (O Último Pôr do Sol), muito melodrama (alguns importantes com o mestre Douglas Sirk, Tudo o que o Céu Permite e Palavras ao Vento), mas seus maiores sucessos foram as comédias românticas ao lado de Doris Day (Confidências à Meia Noite, Volta Meu Amor, Não me Mandem Flores, todos da mesma época deste Quando Setembro Vier).

Ninguém costumava levar Rock Hudson a sério – mas a verdade é que ele não era um canastrão. Basta lembrar a sequência da briga de bar no final de Assim Caminha a Humanidade/Giant, de 1956, ou O Segundo Rosto/Seconds, de 1966, um filme até hoje surpreendente, fantástico.

Neste filme aqui, ele está ótimo. Cumpre perfeitamente o papel do biliardário americano que se divide entre a vontade de comer a amante italiana e a necessidade de proteger as virginais garotas dos moçoilos safados que as querem comer. Se a gente olhar bem, ele cumpre mais do que perfeitamente o papel – é capaz de sutilezas deliciosas.

Que ele, homão com cara macha, voz macha e papéis de macho, tenha se revelado gay no início da chegada da aids, na metade dos anos 1980, só aumenta minha admiração por ele. Gay não assumido porque na época não era permitido, Rock Hudson é perfeitamente convincente como comedor convicto em muitos filmes.

Vi menos filmes com La Lollô do que deveria.

A Itália é um celeiro de mulheres esplendorosamente belas que também são boas atrizes. La Lollô é de fato uma gostosura, uma maravilha de corpo, os 206 ossos do corpo mais bem arranjados que já se viram, como diz o garotão Tony. Não tenho condições de julgar sua capacidade de atuação. Mas como, em Come September, seu papel é o de uma italiana gostosérrima que muitas vezes fala sem parar enquanto gesticula mais que Elis Regina cantando “Arrastão”, ela está ótima, divertida, engraçada. E ainda por cima desfila pela tela com aquela bunda e aqueles peitos aquele rosto lindo que Deus lhe deu,,, Ah, que maravilha!

Como no filme, mocinho e mocinha se apaixonam na vida real

Foi nas filmagens de Come September que Bobby Darin e Sandra Dee (ao centro na foto abaixo) se apaixonaram.

 

 

 

 

 

A história foi mostrada no filme Uma Vida Sem Limites/Beyond the Sea, um projeto pessoal de Kevin Spacey, lançado em 2004. O próprio Kevin Spacey interpreta Darin, e Kate Bosworth faz Sandra Dee

Bobby Darin (1936-1973) é uma figura absolutamente fascinante. Era um showman multitalento, uma coisa assim tipo Sammy Davis Junior. Cantor, ator, compositor, homem de stand up comedy. Quando filmava Quando Setembro Vier, na Itália, apaixonou-se perdidamente pela mocinha, Sandra Dee.

Sandra Dee (1942-2005), na minha lembrança de adolescente, era a coisa mais bonita do mundo. Vendo hoje, Sandra Dee parece uma adolescentinha bocó. Muito bocó. É aquela adolescente beleza padrão que parece fria que nem cucumber. Gelada.

Nem sei bem por que Kevin Spacey brigou tanto para fazer um filme sobre Bobby Darin. Talvez porque ele se sentisse muito próximo de Darin – os dois são bons atores, mas são também cantores, fazem quase tudo, showmen.

No filme, Spacey, um notório progressista, realça demais o papel político de Darin como um ícone contra a guerra do Vietnã.

Eu, por mim, tenho Bobby Darin como o ator de um grande filme, Tormentos d’Alma/Pressure Point, de 1962 – em que ele faz um sociopata com idéias nazistóides que vai se tratar com um psiquiatra negro, interpretado por Sidney Poitier.

Como um cantor do rock e pop do início dos anos 60, tem um som bastante gostosinho. E fez uma das melhores versões de “Mack the Knife” que há.

 

 

 

 

 

Está ótimo neste Quando Setembro Vier como o garoto Tony. Tony tem um ar inocente, meio bobão, com que esconde o safadão que de fato é.

As batalhas entre seu personagem, o garotão esperto que se julga invencível, e o personagem de Rock Hudson, o camarada já na matuiridade que se julga invencível, são absolutamente deliciosas.

O diretor Robert Mulligan faz uma grande, deliciosa gozação dos homens e seu machismo, seu orgulho, suas certezas, sua elevadíssima auto-estima.

Um detalhe espantoso que eu não notei sequer nesta revisão – só me deparei com ele agora, ao escrever esta anotação:

Um dos rapazes do grupo de Tony, cujo apelido é Beagle, é interpretado por um garotinho chamado Joel Grey. Meu Deus do céu e também da terra, ele mesmo, o Joel Grey que faria, com extremo brilhantismo, o mestre de cerimônias de Cabaret, de Bob Fosse (1972).

Cada geração canta o acasalamento de sua própria maneira

Fico curioso para saber o que dizem os alfarrábios sobre este filme que me fascinou quando eu era um garoto entrando na adolescência e voltou a me fascinar agora, já velhinho.

“Comédia frothy sobre a geração mais joven (Darin e Dee) versus as pessoas ‘mais velhas’ (Hudson e Lollobrigida) numa villa italiana. Boa diversão, com alguns canções datadas apresentadas por Darin”, diz Leonard Maltin.

O que diabos ele terá querido dizer com o adjetivo frothy? Ah, tá bom. Além de espumoso, espumante, frothy significa frívolo, insignificante, vão. Mas Maltin dá ao filme frothy 3 estrelas em 4.

Séria, sisuda, Dame Pauline Kael não perdeu tempo escrevendo sobre Come September.

O Guide des Films do mestre francês Jean Tulard diz: “Honesta comédia, bem realizada, em que estréia o célebre cantor de rock Bobby Darin, que interpreta ‘Multiplication’”.

 

 

 

 

 

Gastei dezenas e dezenas de linhas e não falei que Bobby Darin canta, no filme, sua canção “Multiplication”. Vejo no livro US Top 40 Hits que a música ficou entre as mais vendidas da Billboard durante cinco semanas, em 1962. Aliás, o livro mostra que Bobby Darin botou nada menos de 21 músicas entre os compactos mais vendidos segundo a Billboard, entre 1958 e 1967. O bicho era fodinha.

“Multiplication” é assim uma espécie de versão adolescente do clássico de Cole Porter “Let’s do it (let’s fall in love)” – aquela canção safada, bem humorada, que diz que todos os bichos do planeta trepam, e então o negócio é trepar. A letra de Darin, evidentemente, não tem a sofisticação de Cole Porter. É a versão jovem, simples, direta: “When you see a gentleman bee, / ’Round a lady bee buzzin’ / Just count to ten, then, count again: / There’s sure to be an even dozen! / Multiplication… that’s the name of the game! / And each generation… it’s played the same!”

Cada geração canta os hábitos de acasalamento das espécies de sua própria maneira.

Poucos filmes resumiram tão bem a hipocrisia daquela época 

Tony-Bobby Darin canta “Multiplication” numa boate, onde vão Talbot e sua Lisa Fellini, mais as garotas hospedadas na villa que tinha virado hotel e os garotos do jeep amarelo. Estamos no meio da narrativa, e Talbot deixou em segundo ou terceiro plano sua vontade ainda insatisfeita de comer Lisa para tornar-se, em primeiro lugar, o defensor da virgindade das moças. Dança com cada uma delas, Sandy-Sandra Dee primeiro, é claro, e vai desfiando para ela as seguintes pérolas:

– “Respeito. É o que uma garota quer de um rapaz. Se a garota for muito fácil, o rapaz nunca vai levá-la a sério.”

– “O quarto de dormir é como um vestido de noiva. Dá azar deixar o rapaz ver você lá antes do casamento.”

– “Quando você vai a um supermercado, você não compra nada que tenha sido pegado por muitas mãos.”

Poucos filmes resumiram tão bem a hipocrisia reinante naquela época quanto este. Quando Setembro Vier, além de gostosa comédia, é também uma bela peça de museu. Mostra, com graça, leveza, inteligência, como eram a guerra dos sexos, a guerra das gerações e o mito da virgindade no iniciozinho dos anos 1960, antes da revolução comportamental que mudaria quase tudo.

Uma pérola.

Anotação em setembro de 2012

Quando Setembro Vier/Come September

De Robert Mulligan, EUA, 1961

Com Rock Hudson (Robert Talbot), Gina Lollobrigida (Lisa Fellini), Sandra Dee (Sandy Stevens), Bobby Darin (Tony), Walter Slezak (Maurice Clavell, o mordomo),

e Brenda de Banzie (Margaret Allison, a acompanhante das moças), Rossana Rory (Anna), Ronald Howard (Spencer, o noivo), Joel Grey (Beagle), Ronnie Haran (Sparrow),

Roteiro Stanley Shapiro e Maurice Richlin

Fotografia William Daniels

Música H.J. Salter

Montagem Russell Schoengarth

Produção Universal. DVD Universal

Cor, 112 min

R, ***

Título na França: Le Rendez-vous de Septembre. Em Portugal: Idílio em Setembro. 

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