O Brother, Where Art Thou?, no Brasil E aí, Meu Irmão, Cadê Você?, é um filme genial, uma maravilha, uma obra-prima. Tem qualidades a dar com o pau, e espero poder demonstrar um pouco delas nesta anotação – mas a principal é simples de se explicar. É uma comédia danada de engraçada. É uma das comédias mais absolutamente hilariantes que já vi.
E é um tour-de-force, é uma coisa absolutamente sem jeito: são 106 minutos em que o espectador é surpreendido sem parar, sem ter tempo para respirar, sem poder se recompor da gargalhada e do susto anteriores, porque logo em seguida há outro motivo de gargalhada – e de surpresa.
Se é que tem algum defeito, é este: é um filme tão hilariante, tão absolutamente hilário de gouveia, e são tantas as piadas, uma atrás da outra, e tantos os fatos surpreendentes, inesperados, no roteiro brilhante, que alguns espectadores de coração mais fraco podem ter problemas.
Só tinha visto o filme uma vez, na época do lançamento. Ao rever agora, ri provavelmente mais ainda do que da primeira vez. Ri de gargalhar, dessas gargalhadas que até tiram o ar – e logo em cima vinha outra piada magistral.
Fiquei pensando que talvez este seja o melhor filme dos irmãos Joel e Ethan Coen. Mas isso é algo difícil de dizer: os filmes deles são muitos, e muitos são – o que fazer, se a palavra já gasta é a mais apropriada? – geniais.
Pensando melhor, talvez fosse apropriado dizer que este é o filme dos irmãos Coen que mais me apaixona.
Os irmãos Coen se inspiraram em nada menos que a Odisséia de Homero
Sem qualquer modéstia, sem qualquer resquício de algo parecido com simplicidade, os irmãos Joel e Ethan Coen botaram, nos créditos iniciais, logo após o letreiro que traz seus nomes como autores do roteiro, o seguinte: “Baseado na Odisséia de Homero”.
No original, fica ainda mais metido a besta, mais pretensioso, mais esnobe: “Based upon The Odyssey by Homer”.
A Odisséia de Homero é, junto com a Ilíada, simplesmente a primeira narrativa artística de que se tem notícia na civilização ocidental. É a base de absolutamente tudo, de todas as narrativas que vieram depois dela. A Ilíada e A Odisséia estão para a literatura, e também para as outras artes narrativas, o teatro e o cinema, assim como o Antigo Testemento está para o judaísmo, a Bíblia para todas as religiões cristãs, o Corão para os muçulmanos. É a base de tudo, a fonte fundamental.
Um filme lançado em 2000, escrito por dois irmãos judeus americanos, contando a história de três criminosos que fogem da prisão no Mississipi nos anos 1930, não pode, a rigor, aspirar a ser baseado na Odisséia de Homero, certo?
Certo – ou não?
Bem, o nome de um dos três criminosos fugitivos, a rigor o líder deles, é Everett Ulysses McGill. E os fatos que o filme mostra, após a fuga dos três criminosos, é de fato uma autêntica, verdadeira odisséia.
O Aurélio dá “odisséia” como sendo 1) poema do grego Homero, cujo assunto são as aventuras de Ulisses ao retornar à pátria, após a tomada de Tróia; 2) de maneira figurativa, viagem cheia de peripécias e aventuras; 3) narração de aventuras extraordinárias; 4) série de complicações, peripécias ou ocorrências singulares, variadas e inesperadas.
Ulisses é o nome latino de Odisseu. Na Odisséia de Homero, o herói, o homem que, após lutar por dez anos na guerra de Tróia, leva outros dez anos para voltar para sua mulher, Penélope, se chama Odisseu, daí o título da obra.
Os romanos roubaram a mitologia grega mais ou menos como o lulio-petismo roubou o Brasil – e renomearam todos os personagens das histórias originais dos gregos com nomes latinos. Assim, Zeus virou Júpiter, Héracles virou Hércules, etc, e tal, e Odisseu virou Ulisses.
E então se deu que o sujeito que proclamou a Constituição do Brasil de 1988 se chamava Ulysses, e não Odisseu, e também que o líder dos três criminosos fugitivos no Mississipi nos anos 30 era Everett Ulysses McGill, e não Everett Odisseu McGill.
Os irmãos Coen usaram o título do filme dentro do filme Sullivan’s Travels
O fato de que o protagonista da história do filme se chama Ulysses, e o fato de que ele realmente encontra pela frente viagens cheias de peripécias e aventuras, não são os únicos traços de união entre este filme e o poema homérico. Os irmãos Coen se empenharam em colocar na história diversas referências – ainda que às vezes um tanto indiretas – à Odisséia, como, só para dar uns poucos exemplos, um homem de um olho bom só (que faz lembrar o Cíclope), três mulheres belas e sedutoras (como as sereias), o fato de a mulher de Everett Ullyses, interpretada por Holly Hunter, se chamar Penny, que pode ser o diminutivo de Penélope), o quase afogamento do herói, o fato de que a cada vez que o herói adormece algo de muito ruim acontece…
Mas, apesar de todas essas referências, a rigor, a rigor, dizer que o roteiro se baseia na Odisséia é uma brincadeira, uma boutade, uma gozação, uma gostosa piada.
Na verdade, se é que este filme se deve a alguma obra anterior, é a Sullivan’s Travels, no Brasil Contrastes Humanos, o maravilhoso filme que Preston Sturges lançou em 1941.
Sullivan’s Travels conta a odisséia de John L. Sullivan (Joel McCrea), diretor de cinema famosíssimo, milionário, autor de comédias e musicais escapistas que fazem a fortuna do estúdio para o qual trabalha, no início dos anos 1940, com os Estados Unidos ainda não saídos de todo da Grande Depressão, com milhões de desempregados e famintos, e o mundo em guerra.
De repente, do nada, John L. Sullivan resolve – para desespero do dono e dos executivos do estúdio – fazer um drama social sério, profundo, que mostre as mazelas, as injustiças, a miséria em que vivem as grandes massas. Como sempre foi um privilegiado, e nunca conheceu nenhum tipo de necessidade das coisas básicas, resolve se vestir como um pobretão e sair pelo país para conhecer de perto as condições de vida da população destituída de tudo.
O filme sério, profundo que ele pretende escrever e dirigir se chamará O Brother, Where Art Thou? Assim, em um tom grandioso, bíbilico usando o pronome do inglês arcaico “thou”, corresponde ao tu, ao vós, e o “art” do presente do indicativo do verbo to be que a língua abandonou faz séculos.
Nada de “e aí, mano, onde é que tu tá?” Não, não, de forma alguma. Ó Irmão, Onde Estais Vós?
O personagem de George Clooney fala sempre numa linguagem emproada, hilária
O Brother, Where Art Thou? dos irmãos Coen se passa na mesma época em que se passaria O Brother, Where Art Thou? que o diretor John L. Sullivan pretendia realizar: os anos 30, a época da Grande Depressão.
E a ação se passa no interiorzão do Mississipi, Sul Profundo, agrário, pobre, inculto.
Começa com um grande grupo de presidiários, vestidos naqueles uniformes zebrados, de listas pretas e brancas, acorrentados uns aos outros, executando trabalho forçado, quebrando pedras com picaretas, sob a vigilância de policiais armados de espingardas.
Não se sabe como (e nem interessa saber), três dos presidiários conseguem fugir. São os heróis da odisséia que está começando – Everett Ulysses McGill, Pete Hogwallop e Delmar O’Donnell, interpretados, respectivamente, por George Clooney, John Turturro e Tim Blake Nelson.
Estão ligados por correntes de ferro presas a seus pés, como se usava num passado não muito distante, em especial em Estados do Sul (como os personagens interpretados por Tony Curtis e Sidney Poitier no pesado drama Acorrentados/The Defiant Ones, de Stanley Kramer, de 1958).
Caminham, caminham e chegam a uma linha de ferro. Passa um trem, e Everett consegue pular para dentro de um vagão de carga que está ocupado por diversos homens sentados no chão, junto do feno – gente pobre, desempregada, que vaga pelo país de lá para cá como passageiros clandestinos de trens de carga. Os “hobos”, cantados diversas vezes pelo grande Woody Guthrie e por vários de seus seguidores na música folk, entre eles Bob Dylan, Joan Baez, Emmylou Harris.
Ulysses Everett McGill, com aquela cara linda de George Clooney, dirige-se então os hobos com as seguintes frases:
– “Digam-me, algum de vocês, rapazes, é um ferreiro? Ou, se não ferreiros per se, teriam vocês sido treinados nas artes metalúrgicas antes que as críticas circunstâncias os forçassem a levar esta vida de vagar sem um destino certo?”
Sim, é assim que fala Ulysses Everett McGill, e esta é uma das muitas piadas deliciosas do filme. Ele fala o tempo todo, absolutamente todo, com um linguajar pretensamente cultivado, acadêmico, uma fala emproada, empostada, metida a besta, como um advogado de meio século atrás querendo soar chiquissimamente.
Eis o delicioso original desta primeira fala do filme: – “Say, any of you boys smithies? Or, if not smithies per se, were you otherwise trained in the metallurgic arts before straitened circumstances forced you into a life of aimless wanderin’?”
Frases assim, ditas por um George Clooney que não vive sem passar brilhantina no cabelo e só dorme com rede para alisar, domar a cabeleireira, são irresistivelmente cômica, absolutamente engraçadas.
O segundo a subir no trem é Pete Hogwallop – mas o terceiro do bando, Delmar O’Donnell, não consegue a façanha – e de repente Pete é puxado para fora do trem, e logo em seguida o prosador Everett também cai ao chão, reclamando da incompetência dos colegas.
Ao que Pete protesta: – “Péra lá. Quem elegeu você líder desta equipe?”
Everett: “Bem, Pete, eu imaginei que deveria ser aquele com a capacidade para o pensamento abstrato. Mas se esse não é o consenso, então, diabo, façamos uma votação.”
Há complicações, peripécias e fatos singulares que não acabam mais
É tudo tão delicioso que dá vontade de ficar aqui contando o filme, como se estivéssemos conversando num bom bar num fim de semana de clima ameno.
Enumero algumas das “complicações, peripécias ou ocorrências singulares, variadas e inesperadas” que comporão a odisséia de Everett, Pete e Delmar:
* o encontro com um músico negro que, numa encruzilhada deserta, à meia-noite, vendeu sua alma ao diabo em troca da arte de trocar como ninguém o violão. O músico se chama Tommy Johnson (Chris Thomas King), nome que remete diretamente a Robert Johnson (1911-1938), o grande cantor e guitarrista de blues que, reza a lenda, de fato vendeu sua alma ao diabo numa crossroads;
* a experiência de gravar uma canção folk – “I am a man of constant sorrow” – num estúdio de uma pequena rádio perdida no meio do nada, com o acompanhamento do músico que vendeu a alma e toca bem pra cacete. Os três fugitivos não ficam sabendo, mas a gravação que eles fizeram, sob o nome falso de The Soggy Brothers, fará um sucesso retumbante, e o disco venderá como água;
* o encontro com um grande grupo de fiéis que pastores batizam nas águas de um rio, enquanto Alison Krauss canta com sua voz angelical “Down to the river to pray”;
* o encontro com três sereias, três bruxas más em corpos de mulheres fascinantes, que enfeitiçam nossos heróis (e, nesta cena com as mulheres sensuais, ouvimos “Didn’t leave nobody but the baby” com Emmylou Harris, Alison Krauss e Gillian Welch);
* o encontro com um falastrão, que se diz vendedor de Bíblias, e não passa de um ladrão – interpretado pelo sempre ótimo John Goodman (na foto abaixo);
* a participação em um assalto a banco, a reboque do assaltante profissional George Nelson (Michael Badalucco), um tremendo de um maníaco-depressivo, que passa da euforia à mais profunda depressão em questão de minutos, bastando para tanto que alguém o chame de Baby Face Nelson. O personagem é obviamente inspirado em Lester Joseph Gillis (1908-1934), que ficou conhecido como Baby Face Nelson, um dos assaltantes de banco que ficaram famosos durante a Grande Depressão, assim como o casal Bonnie Parker e Clyde Barrow;
* a experiência de assistir a uma reunião noturna de um grupo da Ku-Klux-Klan, a organização ultra-racista que matou dezenas e dezenas de negros nos Estados Unidos, em especial nos Estados sulistas;
* a participação, embora involuntária na campanha para a eleição do governador do grande Estado do Mississipi.
O filme delicioso é também uma coletânea de pérolas da música folk
É preciso realçar que uma das muitas belas sacadas do filme é que os irmãos Coen optaram por um estilo de interpretação dos atores todos, mas em especial do trio central, os ótimos George Clooney, John Turturro e Tim Blake Nelson, que foge absolutamente do realismo, do naturalismo. Os atores todos exageram – é o mais puro over-acting que se pode imaginar. John Turturro e Tim Blake Nelson fazem as maiores caras de sonsos, zonzos, idiotas. Arregalam os olhos, esbugalham os olhos – é tudo, tudo absolutamente hilariante.
A sequência em que os três cantam, no estudiozinho da rádio perdida no meio do nada, “I am a man of constant sorrow” é de matar de rir, com George Clooney cantando com uma cara de sujeito absolutamente tresloucado, insano.
E aí chego, depois de 200 linhas, a um dos pontos centrais da beleza deste filme: a música.
Ao contar essa história passada no Sul Profundo no fundo do fundo da Grande Depressão, e misturar lendas e fatos da época, O Brother acaba sendo também uma coletânea de pérolas da música folk americana.
Os irmãos Coen têm seu compositor cativo, Carter Burwell – assim como Federico Fellini tinha Nino Rota, Brian De Palma tem Pino Donaggio, Steven Spielberg tem John Williams. Mas, para produzir a música deste filme, chamaram T Bone Burnett. T. Bone Burnett – como eu escrevi na anotação sobre Cold Mountain, outro filme com trilha sonora dele – é uma das figuras mais respeitáveis da música popular americana das últimas décadas. Nascido em 1948, é compositor e instrumentista, participou das bandas Alpha e Guam, tocou guitarra na louca Rolling Thunder Revue de Bob Dylan em meados dos anos 70, mas ficou mais conhecido como produtor. Foi o responsável por discos de diversos artistas, de Roy Orbinson a Elvis Costello e Counting Crows.
O disco da trilha sonora de O Brother, Where Art Thou, produzido por ele – uma maravilha absoluta, acompanhado de um encarte que é uma obra de arte – vendeu cerca de 9 milhões de cópias nos Estados Unidos, deu a Burnett quatro prêmios Grammy, mas, mais ainda do que isso, se tornou um fenômeno cultural, relançando a moda da folk music da mesma maneira com que havia sido relançada no final dos anos 50 e início dos anos 60 por Pete Seeger, os Weavers, Harry Belafonte, e logo depois por Joan Baez, Bob Dylan, Peter, Paul and Mary, Judy Collins.
Cresci ouvindo esse povo todo, a partir dos 13, 14 anos, nunca parei de ouvi-los, e então para mim o filme ainda tem esse atrativo especial, o de ser embalado o tempo todo por pérolas do folk e do blue grass – a música de raiz do Sul americano, muito próxima do próprio folk.
Só para ficar num exemplo da importância de algumas músicas que são cantadas no filme: Bob Dylan gravou “Man of constant sorrow” em seu álbum de estréia, de 1962. Peter, Paul and Mary também gravaram essa canção tradicional em seu primeiro disco, lançado naquele mesmo ano de 1962. A gravação feita por Joan Baez saiu no álbum Very Early Joan, com músicas apresentadas ao vivo entre 1960 e 1963. E a canção está ainda no primeiro disco de Judy Collins, de 1961 – e também no título dele, A Maid of Constant Sorrow.
No começo da narrativa, os três fugitivos encontraram um oráculo
Depois que terminamos de rever o filme, e ainda estávamos rindo só de lembrar uma ou outra das muitas e esplêndidas piadas, me ocorreu que o roteiro incrível criado pelos irmãos Coen tem uma certa semelhança com o que André Klotzel e Carlos Alberto Sofredini, com a colaboração de José Roberto Eliezer, fizeram em A Marvada Carne (1985), o delicioso filme dirigido pelo primeiro.
Em A Marvada Carne, os autores conseguiram colocar os personagens de sua trama – passada no universo dos caipiras, gente simples, pobre, de região rural do Estado de São Paulo – envolvidos com diversos dos mitos, das lendas criadas pelo imaginário popular brasileiro, como o saci pererê, a mula sem cabeça, o curupira.
Da mesma maneira, o roteiro dos irmãos Coen envolve os três heróis em diversas lendas e acontecimentos que reproduzem fatos reais da história americana da época da Grande Depressão.
Para dar algum ar de semelhança com a Odisséia de Homero, os irmãos Coen fazem com que Everett, Pete e Delmar se encontrem, bem no começo da narrativa, após a frustrada tentativa de viajar como clandestinos no trem de carga, um velhinho negro cego de barba branquíssima.
O velhinho funciona assim como uma espécie de representante do coro das tragédias gregas, e faz a seguinte profecia para os três fugitivos:
– “Vocês procuram uma grande fortuna, vocês três que estão agora acorrentados. Vocês encontrarão uma fortuna, embora não vá ser aquela que procuram. Mas antes… antes terão que viajar por uma estrada longa e difícil, uma estrada repleta de perigos. Hum… Vocês hão de ver coisas maravilhosas de se contar. Vocês verão uma vaca no telhado de uma casa. E, ah, tantas coisas incríveis. Não posso dizer quanto essa estrada vai durar, mas não temam os obstáculos em sua rota, porque o destino já garantiu a preservação de sua recompensa. Embora a estrada possa ter muitas curvas, sim, seus corações possam ficar lúgubres, ainda assim vocês prosseguirão, até sua salvação.”
Todas as predições do oráculo do Mississipi serão confirmadas.
Numa sequência, o filme cita explicitamente Sullivan’s Travels
Leonard Maltin deu ao filme 3.5 estrelas em 4: “Três condenados fugitivos compartilham uma série de aventuras e inadvertidamente se tornam uma sensação cantando músicas antigas no Mississipi dos anos 30. Deliciosamente excêntrica adaptação de A Odisséia de Homero, cheia de idéias inteligentes, música irresistível e diálogo afiado. Roteiro de Ethan e Joel Coen; o título deriva de Sullivan’s Travels, de Preston Sturges. Uso inovador de cores pelo diretor de fotografia Roger Deakins.”
É bom que Maltin tenha mencionado Sullivan’s Travels. Acho importante registrar, embora o texto já esteja bem longo, que, lá pelo meio da narrativa, os irmãos Coen fazem uma bela homenagem ao filme do diretor Preston Sturges. Nele, o personagem central, o diretor John L. Sullivan, está na pior, absolutamente na pior, quando um grupo de presidiários assiste a uma comédia – e então Sullivan, que estava querendo fazer um drama social sério, pesado, denso, percebe que, quando se está na pior, não há nada como uma comédia que fuja do sério, do pesado, do denso.
Aqui, lá pelo meio da narrativa, Everett e Delmar estão num cinema, vendo uma comedinha, quando um grande grupo de presidiários entra no cinema, conduzido por guardas, para usufruírem de um momento de lazer, de fuga de sua dura realidade. Exatamente como a sequência fantástica de Sullivan’s Travels.
O filme que está passando naquele cinema é Myrt and Marge, uma produção de 1933, com Os Três Patetas.
Adoro filmes que citam filmes.
Ainda mais quando é um filmaço como este aqui citando outro filmaço.
Anotação em fevereiro de 2016
E aí, Meu Irmão, Cadê Você?/O Brother, Where Art Thou?
De Joel e Ethan Coen, EUA, 2000
Com George Clooney (Everett Ulysses McGill), John Turturro (Pete Hogwallop), Tim Blake Nelson (Delmar O’Donnell)
e John Goodman (Big Dan Teague), Holly Hunter (Penny), Chris Thomas King (Tommy Johnson), Charles Durning (Pappy O’Daniel, o governador), Del Pentecost (Junior O’Daniel), Michael Badalucco (George Nelson), J.R. Horne (assessor de Pappy), Brian Reddy (assessor de Pappy), Wayne Duvall (Homer Stokes, o candidato a governador), Ed Gale (o pequeno homem), Ray McKinnon (Vernon T. Waldrip, o noivo de Penny), Daniel von Bargen (xerife Cooley), Frank Collison (Wash Hogwallop), Quinn Gasaway (o garoto Hogwallop), Gillian Welch (fã dos Soggy Brothers)
Argumento e roteiro Joel e Ethan Coen
“Baseado em A Odisséia de Homero”
Fotografia Roger Deakins
Música T Bone Burnett
Montagem Ethan Coen e Joel Coen (sob o pseudônimo de Roderick Jaynes) e Tricia Cooke
Casting Ellen Chenoweth
Produção Touchstone Pictures, Universal Pictures, StudioCanal, Working Title Films, Mike Zoss Productions. DVD Universal.
Cor, 106 min
R, ****
Essa referência a lenda do pacto com o diabo feita pelo instrumentista Robert Johnson já foi citada tantas vezes na cultura pop americana. A música Melissa do Allman Brothers, que eu adoro, por exemplo. Por quê será que os americanos tem tanta fixação por essa história?
Ô rapaz, quanto tempo eu não te lia. Falha minha hein…
Eu não vi esse aqui, vou ver por sua causa, mas vi o Onde os Fracos. Pra mim, que sou muito burro, fraco.
Mas quem sabe depois de te ler eu entendo mais a coisa…