Já se passou tempo suficiente para que se possa dizer que Broadcast News, no Brasil Nos Bastidores da Notícia, é um dos melhores, mais interessantes filmes americanos da década de 80.
Tive certeza disso ao rever o filme agora, exatos 25 anos depois de ter visto na época do lançamento. O filme é inteligente, gostoso, tem ótimo ritmo, os personagens são bem construídos, o elenco está soberbo, a trama é envolvente. É daqueles filmes em que tudo se encaixa à perfeição, não sobra nada, não falta nada.
O tema é sério, dos mais sérios que há: Broadcast News discute basicamente princípios, valores éticos, e também competência profissional, trabalho em equipe, competição dentro da equipe. Poderia ser uma coisa árida, pesada, amarga que nem jiló – e no entanto é tudo fascinante.
A tal ponto que dei com o DVD na prateleira de comédias românticas da locadora. Eu não classificaria o filme propriamente como uma comédia romântica, mas também não seria possível dizer que a classificação feita pela locadora está errada: o IMDB, por exemplo, diz que o filme é comédia – drama – romance.
O autor, roteirista e diretor James L. Brooks conseguiu um resultado tão feliz que seu filme pode perfeitamente ser visto como uma suave comedinha romântica, se o espectador quiser entendê-lo assim. Quem quiser vê-lo como uma séria discussão sobre princípios, sobre ética no jornalismo, terá todos os elementos para isso.
Primeiro, vemos os três personagens quando crianças
Brooks começa sua narrativa com uma brincadeirinha: apresenta ao espectador os três personagens principais quando eles são ainda crianças.
Um letreiro informa que estamos em Kansas City, 1963. O garoto está no pequeno caminhão em que seu pai faz entrega de alimentos aos pequenos mercados. É bonito, e reclama que em todos os lugares por onde passa as mulheres elogiam sua beleza. Um tanto embaraçado, conta para o pai que recebeu o boletim, e ele não é nada animador: três notas C, duas D. O pai comenta que ele estuda tanto – qual seria o problema, então? Será que o garoto gostaria de ter um professor particular para aulas de reforço? “Seria ótimo”, diz o garoto. “Espero que ajude. O que adianta ter apenas boa aparência?”
A câmara se fixa no rosto bonito e surge o letreiro: “Futuro âncora de telejornal de rede”.
Outro letreiro diz que estamos em Boston, 1965; o orador da turma faz seu discurso. É estudioso, aplicado, brilhante, mas metido, presunçoso – e por isso visto com inveja e desdém pelos colegas. À saída da cerimônia de formatura, levará uns socos de uns sujeitos mais velhos e visivelmente menos dotados naquela área que Hercule Poirot chamava de pequenas células cinzentas. O letreiro explica: “Futuro repórter de telejornal de rede”.
Agora, a menininha. Escreve – à máquina – uma carta para uma amiga, enquanto o letreiro nos informa que ela está em Atlanta, 1968. O pai vem falar com ela – e a garotinha se mostra extremamente inteligente, articulada, com um domínio de vocabulário fantástico, e mais energia que todas as turbinas de Itaipu. O letreiro diz: “Futura produtora de noticiário de telejornal”.
Os termos usados no jornalismo televisivo americano são um tanto complexos. A palavra é producer, produtora, mas as funções que a garotinha exercerá quando adulta são maiores do que as de uma produtora; às tarefas de produtora, ela acrescentará também as de editora de texto e de imagem. No Brasil, pelo pouco que sei sobre jornalismo de TV, são trabalhos feitos por dois profissionais – há os produtores, e há os editores. Aparentemente, nos Estados Unidos, o conceito é um pouco diferente, e o produtor é também editor.
Jane se mostra disposta a dar para o repórter bonitão, mas ele não quer saber
Nas sequências seguintes – enquanto vão rolando os créditos iniciais -, nossos três heróis estão aí na faixa dos 20 e muitos anos e já na profissão. Aaron (Albert Brooks) é repórter, Jane (Holly Hunter) é produtora; estão trabalhando numa matéria sobre soldados que voltam para casa depois de servirem as Forças Armadas; ao mesmo tempo, Jane vai fazer uma palestra na universidade local, em um encontro de jornalistas de TV.
A palestra de Jane é séria, árida; boa parte da audiência deixa o auditório enquanto ela ainda está falando. Não fica praticamente ninguém para a fase de debates, perguntas e respostas; o único que aparece para comentar a palestra com ela é Tom (William Hurt).
Tom e Jane saem para jantar, conversam. Tom não fez faculdade, ao contrário de Jane e Aaron, mas já teve a oportunidade de atuar como âncora substituto, na emissora local em que trabalha.
Depois do jantar, esticam no hotel em que ela se hospeda. Jane se mostra obviamente disposta a dar para o repórter bonitão, mas, depois de muita conversa – sobre jornalismo, é claro –, ele vai embora sem tentar se aproximar dela.
Um triângulo amoroso que é também jornalístico
Mais um corte no tempo, e estamos na sucursal de Washington de uma emissora que faz parte de uma rede nacional; Aaron é um repórter brilhante, esforçado, com boas fontes; Jane é uma produtora competentíssima; e Tom acaba de ser contratado pela emissora, está recém-chegado à capital. Não conhece ninguém; confia em que poderá aprender muito com Jane e Aaron.
Está tudo pronto para começar o triângulo amoroso-jornalístico da história – ou talvez jornalístico-amoroso, já que em geral jornalistas põem a profissão acima de tudo.
Aaron baba por Jane – jornalística e amorosamente. Jane baba por Aaron – mas só jornalística e afetivamente. Jane vai babar por Tom – amorosamente, embora não jornalisticamente. E Tom vai querer aprender com os colegas mais experientes. Num determinado momento, vai até mesmo se interessar por Jane mais do que jornalisticamente.
A trama de Brooks cede aos clichês por um tempo – mas depois foge deles
Nas comedinhas românticas em que há triângulos amorosos, em geral um dos dois personagens que disputam as atenções do terceiro é mais bobinho do que o outro. Mais bobinho, ou menos atraente, ou menos sensível, ou menos atencioso. Dá para sacar desde o início com quem a pessoa em dúvida entre duas possibilidades vai ficar.
Mesmo em comédias românticas mais elaboradas, mais inteligentes, menos simplistas, acontece assim. Em Jejum de Amor/His Girl Friday, do mestre Howard Hawks, por exemplo – para lembrar outro grande filme sobre jornalistas e jornalismo –, dois homens disputam o amor da excelente repórter Hildy Johnson (Rosalind Russell). Um é o ex-marido e chefe dela, o editor Walter Burns, sujeito inteligente, charmoso a não mais poder (tanto que vem na pele e nos trejeitos de Cary Grant), e o outro é o atual noivo, que se chama Bruce, é interpretado por um Ralph Bellamy com um jeitão simpático mas um tanto simplório e que na vida exerce a profissão de vendedor de seguros. Não chega a ser muito difícil adivinhar para qual dos dois baterá mais forte o coração maroto (e jornalístico) de Hildy.
James L. Brooks é um roteirista inteligente, de mão cheia. A trama que ele desenvolve cede aos clichês por um tempo – mas só por um tempo.
Diversos filmes já abordaram a diferença entre o jornalismo sério e o sensacionalista
Mais importante do que saber por quem baterá o coraçãozinho de Jane é a questão dos princípios.
E, de novo, Brooks não opta pelas saídas mais simples, mais óbvias. Muito ao contrário.
Há uma divisão nítida, clara, entre o jornalismo sério e o jornalismo sensacionalista. Entre as duas opções há um fosso imenso, um Grand Canyon. Já foram feitos muitos e grandes filmes sobre isso – como, por exemplo, o mais trágico e cruel de todos, A Montanha dos Sete Abutres, de Billy Wilder, em que um repórter, interpretado por Kirk Douglas, coloca conscientemente em risco de morte a vítima de uma tragédia para poder faturar com o furo jornalístico que tem nas mãos. Jejum de Amor de Hawks, e sua refilmagem pelo próprio Billy Wilder, A Primeira Página/The Front Page, expõem os malefícios do jornalismo sensacionalista, da imprensa marrom, como chamamos aqui, ou amarela, como se usava nos Estados Unidos.
Há exemplos para todo tipo de gosto.
Na Inglaterra em que os jornais sérios e os sensacionalistas são tão nitidamente diferentes que cada tipo tem seu tamanho – os sérios são tamanho normal, standard, e os sensacionalistas são tablóides –, o genial Ian McEwan abordou as fronteiras entre os dois tipos de jornalismo em seu romance de 1998, o desconcertante, atordoante Amsterdã.
Nos Estados Unidos, essa questão da separação entre o que é news, notícia séria, e o que é infotainment, mistura de informação com entretenimento, a transformação da notícia em fantástico show da vida, é motivo de discussão faz décadas, e o cinema não pára de abordá-la. Ela está, por exemplo, em Íntimo e Pessoal/Up Close & Personal, com Robert Redford e Michelle Pfeiffer; em Uma Manhã Gloriosa/Morning Glory, com Rachel McAdams, Harrison Ford e Diane Keaton.
A lista é praticamente interminável.
A discussão, aqui, é bastante mais sutil
Pois bem. Em Broadcast News, não se discute o abismo entre o que jornalismo sério e jornalismo sensacionalista. Esse abismo é amplo demais, está claro demais.
A discussão aqui é bastante mais sutil.
A discussão é: qual é, exatamente, o ponto que separa a informação do infotainment?
Onde, exatamente, se localiza esse fio da navalha?
Quando estamos com exatos 27 dos 132 minutos de filme, há uma seqüência fundamental, fascinante, simbólica.
Aaron e Jane estão na América Central, cobrindo a guerrilha na Nicarágua entre os sandinistas e os contras, estes últimos armados e financiados pelo governo americano. Tiveram acesso a um acompamento dos contras. Uma hora lá, o cinegrafista percebe que um guerrilheiro acabou de tirar sua bota, e pede a ele que calce de novo, para poder filmar a cena.
O cinegrafista não estava inventando nada. Não estava refazendo a realidade. A rigor, a rigor, não estava sendo sensacionalista, não estava fazendo infotainment, não estava obrigando ninguém a encenar uma peça de ficção. Apenas havia perdido o momento exato em que o guerrilheiro ao final do dia tira a sua bota, e queria que ele repetisse o movimento, a ação.
Se o espectador normal soubesse quantas vezes as autoridades – de todas as dimensões morais possíveis – já refizeram gestos para que eles fossem captados de forma melhor pelas câmaras da Rede Globo, ou até mesmo da TV da Câmara Municipal de São José do Pito Acesso…
Jane ouve o cinegrafista pedindo para que o guerrilheiro calce de novo a bota e, fula da vida, intervém.
– “Não! Pare! Não vamos inventar nada. Espere e veja o que ele vai fazer.”
E aí o cinegrafista, câmara na mão, diz:
– “Senhor, faça o que quiser.”
O guerrilheiro olha para a bota, olha para o grupo de gringos que o observa, e – seguramente pensando que ali está um bando de loucos – calça a bota novamente.
Como ele calçou a bota porque quis, a tomada será usada na matéria muitíssimo bem editada por Jane que irá ao ar.
O repórter ouve a entrevistada relatando uma agressão sexual – e uma lágrima escorre
Simples, rápida, a seqüência da bota é de fato emblemática na discussão sobre o que é verdade, o que é encenação, o que é jornalismo rigorosamente sério, o que chega perto do infotainment.
Haverá outra sequência igualmente emblemática. É quando Tom faz uma longa matéria sobre agressões sexuais a mulheres. Num determinado momento da edição das imagens, há uma mulher relatando a agressão de que foi vítima, e em seguida um rápido contracampo de Tom ouvindo seu relato – e dos olhos do repórter saem lágrimas.
Essa tomada do rosto de Tom com lágrimas caindo diante do que ele estava ouvindo de uma entrevistada terá importância fundamental no desenrolar da trama, quando ela vai se aproximando do final.
A tênue fronteira, o fio da navalha que separa a verdade da mentira
Podem parecer detalhes, pequenos detalhes – tanto a bota do guerrilheiro quanto a lágrima do repórter. Podem parecer, ou são apenas detalhes. Mas são importantes. São simbólicos.
E aí é que, na minha opinião, está a maestria maior de Broadcast News, este filme que fala de coisas sérias como se estivesse nos apresentando uma comedinha romântica.
O que o filme parece querer dizer é: os princípios estão muito acima dos detalhes. Os princípios devem ser respeitados sempre – ou então não são mais princípios.
Ou bem se respeitam os princípios, ou então não há princípios.
Se você acha que não tem problema algum contar uma pequena mentirinha, ferrou.
Se você acha que não tem problema algum surrupiar uns 2 míseros reais que alguém esqueceu no balcão do bar, ferrou.
Jane, a pentelha, a rigorosa, a obsessiva, estava certa ao impedir que o cinegrafista desse ordens ao guerrilheiro para obter uma tomada melhor. Ao fazer aquele pequenino gesto que pedia uma mentira, o cinegrafista estava cruzando a tênue fronteira, o fio da navalha que separa a verdade da mentira.
“A intenção do Diabo é fazer baixar, pouco a pouco, nossos padrões morais”
Lá pelo meio da narrativa, Aaron faz para Jane um duro ataque a Tom. Claro, ele estava com ciúme do sujeito bonitão, atraente, por quem todos na emissora estavam se apaixonando. Mas a crítica que ele faz a Tom é porque ele começava a perceber que o rival tinha uma quedinha pelo infotainment.
O diálogo é sensacional:
Aaron – “Eu sei que você gosta dele. Nunca vi você desse jeito com ninguém, e então por favor não me entenda mal quando eu disser que Tom, embora seja um sujeito legal, é o Diabo.”
Jane: – “Isso não é amizade. Você é louco, sabia?”
Aaron: “Como você acha que o Diabo seria, se aparecesse por aqui?”
Jane: – “Meu Deus!”
Aaron: – “Ninguém gostaria de um cara com um rabo grande, vermelho. (…) Ele seria atraente! Ele seria legal e prestativo. Ele arranjaria um emprego onde poderia influenciar uma grande nação temente a Deus. Ele nunca faria uma maldade! Ele nunca iria ferir deliberadamente um ser vivo… Ele apenas iria, pouco a pouco, baixando os nossos padrões mais importantes. Apenas um pouquinho. Apenas daria mais importância à aparência do que à substância. Só um pouquinho. E ele nos diria que somos na verdade vendedores. E ele pegaria todas as grandes mulheres.”
Três grandes atores, em atuações soberbas
Rever Broadcast News agora, em 2013, quando a tênue fronteira entre o jornalismo sério e o jornalismo sensacionalista já praticamente desapareceu do planeta, e nossos padrões já foram para debaixo da terra, é muitas vezes angustiante, doloroso.
Para quem é jornalista, e vive neste país, em que o jornalismo sério é xingado pelos apaniguados do poder da vez com os adjetivos que para eles são os mais abjetos – “reacionário”, “burguês”, “das elites” – , chega a ser uma tortura quase chinesa.
Dá a sensação de que estamos na mais profunda das Idades da Caverna.
Mas não quero que o fato de o Brasil estar há dez anos caminhando rumos às trevas interfira na minha admiração por Broadcast News – nem neste texto.
E então é preciso botar sob a perspectiva de 1987 esses três fabulosos atores.
Aos 40 anos, Albert Brooks já tinha uma bela carreira como ator e diretor. Em 1985, havia dirigido seu terceiro longa, Relax.
William Hurt estava com 37 anos, e vinha de uma série de grandes filmes: Corpos Ardentes (1981), O Reencontro (1983), O Beijo da Mulher Aranha (1985), pelo qual havia ganho o Oscar, e Filhos do Silêncio (1986), pelo qual havia sido novamente indicado ao Oscar. Era, sem qualquer dúvida, um dos maiores atores americanos da época.
Holly Hunter… Ah, Deus meu, Holly Hunter, em 1987, era nada menos que uma das melhores atrizes novas do cinema – o americano e o mundial.
Estava com 29 anos, e havia começado no cinema seis anos antes, em 1981. No mesmo ano de Broadcast News, trabalhou sob a direção dos irmãos Coen em Arizona Nunca Mais/Raising Arizona. Em 1989 seria a estrela de Além da Eternidade/Always, um dos filmes mais subestimados de Steven Spielberg. Em 1993 levaria o Oscar de melhor atriz por O Piano, de Jane Campion; por seu desempenho como Jane em Broadcast News tinha tido uma indicação ao Oscar, e voltaria a ser indicada por A Firma (1993) e Aos Treze (2004).
Estão absolutamente maravilhosos, os três grandes atores, William Hurt, Albert Brooks e Holly Hunter.
Um diretor de poucos filmes – poucos e bons
James L. Brooks divide seu tempo entre o cinema e a TV – e se deu muitíssimo bem nas duas áreas. É roteirista, produtor e diretor. Coleciona 43 prêmios (inclusive três Oscars) e 51 outras indicações. Estreou como diretor em 1983, com Laços de Ternura/Terms of Endearment, que teve 11 indicações ao Oscar e levou cinco – melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor atriz para Shirley MacLaine e melhor ator coadjuvante para Jack Nicholson.
Brooks dirigiu pouquíssimos filmes – apenas seis longas, em três décadas. Jack Nicholson participou de três deles: além de Laços de Ternura, o ator está também em Como Você Sabe (2010) e neste Bastidores da Notícia, em que faz praticamente uma participação especial, como o todo-poderoso editor-geral e âncora do principal jornal da rede, baseado em Nova York. O nome dele não aparece nos créditos iniciais.
Maravilha, maravilha de filme.
Anotação em janeiro de 2013
Nos Bastidores da Notícia/Broadcast News
De James L. Brooks, EUA, 1987
Com William Hurt (Tom Grunick), Albert Brooks (Aaron Altman), Holly Hunter (Jane Craig)
e Robert Prosky (Ernie Merriman), Lois Chiles (Jennifer Mack), Joan Cusack (Blair Litton), Peter Hackes (Paul Moore), Jack Nicholson (Bill Rorich, o âncora)
Argumento e roteiro James L. Brooks
Fotografia Michael Ballhaus
Música Bill Conti
Montagem Richard Marks
Produção Twentieth Century Fox, Amercent Films, American Entertainment Partners, Gracie Films. DVD Fox
Cor, 132 min
R, ***1/2
Sérgio,
Já que nenhuma alma mais madura comentou, lá vou eu perturbar você novamente… Afinal, esse belo filme tem que ser comentado de uma maneira ou outra.
Não tinha assistido esse filme, mas corrigi hoje essa minha falha de caráter.
Em primeiro lugar, devo dizer que a Holly Hunter, no derradeiro ano pré-balzaquiano, está monumental. E o mais assustador é que a performance dela é severamente superior ao espetáculo visual que ela proporciona.
O “clima” do filme tem mudanças curiosas: ele vai abandonando a galhofa do começo, exemplificada na cena do Joan Cusack correndo com a fita (no “Uma manhã gloriosa”, a Rachel McAdams protagoniza um cena semelhante, ou a minha mente está me traindo?), e intensifica o trágico da situação.
A alteração do comportamento demonstrado pela personagem do Willian Hurt chegou ao limite do maniqueísmo, mas, felizmente, o diretor soube conduzir a coisa de um modo muito verossímil.
Mas o destaque mesmo vai mesmo para a exposição da canalhice que é a mídia enquanto poder e corporação. Aqui, as atuações de Peter Hackes e Jack Nicholson são fundamentais. O jornalismo é acertadamente demonstrada como uma profissão capaz não só de difundir mentiras, mas como de levar seus operadores ao esgotamento mental.
Um pequeno episódio que ilustra bem o meu ponto de vista: recentemente, como todos sabem, a abertura do Jornal Nacional doa dia 18 de março não saiu do modo planejado (http://www.youtube.com/watch?v=5GBsSKM0Mag). A tal Fabíola Reipert, parte de uma das piores repercussões do “jornalismo/ entretenimento”, sendo a maior fofoqueira da internet, tratou logo de “investigar” como a redação reagiu ao assunto (http://entretenimento.r7.com/blogs/fabiola-reipert/erro-no-jn-gera-gritaria-e-confusao-na-globo-cabecas-podem-rolar/2013/03/19/). Evidentemente, a diretoria da emissora estava assaz preocupada com a quebra do chamado “Padrão Globo de Qualidade”. Ou seja, dane-se a informação, danem-se os espectadores. O que realmente interessa é se o Willian Bonner vai aparecer o bonequinho de cera de sempre. Não é a toa que ele é o Editor-Chefe do programa, esse cargo que é puramente decorativo, não é, Sérgio?
No Brasil, é assim que funciona a central de jornalismo da maior rede de TV do país.
Grande abraço!
André