À Francesa / Le Divorce

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3.5 out of 5.0 stars

O filme é americano, obra da trinca internacional James Ivory-Ruth Prawer Jhabvala-Ismail Merchant, mas 99% da ação se passam em Paris. Metade do imenso elenco cheio de bons, respeitáveis nomes, é de língua inglesa, mas a outra metade é formada por atores franceses. O título original é um achado: é em francês, algo muito ruim para a bilheteria de um país monoglota como os Estados Unidos – mas uma das duas palavras tem grafia idêntica em francês e em inglês: Le Divorce.

(Os distribuidores brasileiros, sempre criativos, saíram-se com este À Francesa. Não é das piores invencionices deles; na verdade, é um título bem bonzinho.)

É uma deliciosíssima, inteligente, charmosa, elegante, às vezes sutil, às vezes ferina demais, comédia de costumes. Fala de amor, casamento, traição, esposas x amantes, separação, divórcio – é claro –, e, portanto, partilha de bens. Mas, sobretudo, Le Divorce é uma maravilhosa comédia sobre esse tema absolutamente fascinante que é a relação de amor e ódio entre Estados Unidos e Europa, que se potencializa, se agiganta quando se trata de Estados Unidos e especificamente a França.

As relações entre França e EUA “foram, são e serão sempre conflituosas e excelentes”

Anos atrás, criei aqui uma tag e escrevi um texto sobre esse fenômeno, “EUA-Europa, uma relação de amor e ódio”, e a presença dele em dezenas, centenas de filmes. Lembrei da ligação entre os estadistas que criaram os Estados Unidos e as idéias humanistas dos pensadores franceses: “Os founding fathers – Thomas Jefferson, George Washington, Benjamin Franklin – foram influenciados de maneira decisiva pelo pensamento do inglês Thomas Hobbes e do francês Jean-Jacques Rousseau sobre os direitos naturais dos indivíduos. Essas noções inspiraram a Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, que por sua vez influenciou de volta os franceses na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na Revolução Francesa, em 1789.”

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E citei uma entrevista do então presidente francês Jacques Chirac, após os atentados de 11 de setembro de 2001: “Elas (as relações franco-americanas) foram, são e serão sempre conflituosas e excelentes. É da natureza das coisas. Você não pode mudar uma cultura. Aconteça o que acontecer com a cultura francesa, a América terá sempre um lugar à parte. Da mesma forma, existe nos Estados Unidos uma certa idéia da França. Nós nos lembraremos sempre que os boys vieram nos salvar duas vezes. Como os americanos se lembram de que os franceses os ajudaram a conquistar sua independência. Isso cria uma ligação. Os Estados Unidos acham a França insuportavelmente pretensiosa. E nós achamos os Estados Unidos insuportavelmente hegemônicos. Haverá sempre brasas, mas fogo, não. Isso não vai mudar. O dia em que um precisar do outro, o outro estará lá.”

Os franceses sempre dizem infidelidade é normal, reclama a americana

Neste delicioso Le Divorce, os franceses são tidos pela americana Roxeanne (o papel de Naomi Watts) como uma gente que se recusa terminantemente a falar de dinheiro – mas que, em matéria de traição, de infidelidade conjugal, acha tudo muito natural.

– “Se eu dissesse para meus amigos franceses que ele (o marido) me abandonou, eles diriam: é natural. Os franceses sempre dizem que é normal. (Com uma careta de desgosto: ) C’est normal, mais bien sür!”

Roxeanne, Roxy para os familiares, Roxeanne de Persand nos documentos de identidade após seu casamento com Charles-Henri de Persand (o “de” indica família muito tradicional e muito rica), é abandonada pelo marido nos primeiros momentos da narrativa. zzdivorce3

Após maravilhosos créditos iniciais, com bela animação – num estilo que faz lembrar comédias bem humoradas dos anos 1960, tipo A Pantera Cor de Rosa –, e ao som de “Qu’est-ce qu’on attend pour être heureux” (de André Hornez-Paul Misraki), dueto de Patrick Bruel e Johnny Hallyday para o fantástico CD duplo do primeiro, Entre-Deux…, vemos uma bela loura chegando num vôo vindo dos Estados Unidos. É Isabel (Kate Hudson, lindérrima como sempre, ou talvez como nunca), irmã de Roxy, e junto com ela, a protagonista desta história de muitos, muitos personagens.

Isabel está vindo dos Estados Unidos para Paris para fazer companhia à irmã que está grávida de uns cinco meses de seu segundo bebê – ela e Charles-Henri já tinham tido Gennie (Esmée Buchet-Deàk), que está hoje aí por volta de sete anos.

Então temos os créditos iniciais, a seqüência de Isabel chegando ao Charles de Gaulle – e a segunda seqüência do filme se passa no apartamento do casal. Charles-Henri (Melvil Poupaud) está cascando fora do apartamento e do casamento da forma mais tosca que se pode imaginar – de repente, sem ter falado uma palavra sequer com a mulher. À francesa, como dizemos aqui. Fez uma ou duas malas e de repente está se dirigindo até a porta – sem um olhar para a filha, um abraço.

Roxy tenta correr atrás dele, faz perguntas, ele não sabe responder.

Veremos depois que Charles-Henri, filhinho mimado de gente rica, ainda adolescente imaturo apesar de estar aí passando dos 30, que se acredita pintor mas não consegue vender quadro algum, apaixonou-se perdidamente por uma russa, Magda.

E para o fim de semana seguinte ao dia da chegada de Isabel e da cascada fora de Charles-Henri, estava combinado um almoço na propriedade dos de Persand, no interior. Roxy vai com a filha e a irmã. Estão no trem quando Roxy reclama que para os franceses traição é coisa normal, bien sür.

zzdivorcelesliePara a mãe do marido fujão, Suzanne de Persand (interpretada por Leslie Caron, 52 anos após dançar com Gene Kelly em Sinfonia de Paris, 45 anos depois de estrelar Gigi, nove Oscars na premiação de 1959, inclusive o de melhor filme), diz que ele viajou para uma cidade do interior para tratar da venda de um quadro.

Durante o almoço, o irmão da dona da casa, Edgar Cosset (Thierry Lhermitte) um cinquentão bonitão, charmoso, leva a conversação para as aventuras sexuais de um político americano. Vai aí uma referência – não explícita, é claro – a Bill Clinton.

Roxy, abandonada há poucas horas pelo marido com um bebê de cinco meses na barriga, se irrita: – “Por que adultério e traição são sempre tratados como uma piada? Não acho que seja engraçado!

A americana Isabel terá então, simultaneamente, dois amantes franceses

Então: para a americana Roxy, os franceses são assim – sempre se recusando a tratar de questões relativas a dinheiro, mas sempre dispostos a fazer piadinhas sobre adultério, traição, e a considerar que “c’est normal, mais bien sür” um marido abandonar a mulher.

Já para a francesa Suzanne de Persand, a nora e a irmã dela são umas desmioladas. Ela dirá para a outra nora, Charlotte (Nathalie Richard), casada com Antoine (Samuel Labarthe), irmão de Charles-Henri: “Aquelas garotas não são como a gente. Não conseguimos lhes ensinar postura e boas maneiras. Elas acham isso ridículo. Só confiam nos seus instintos. Seus feelings (e aqui ela faz uma careta de desgosto, como Roxy faz ao citar as palavras francesas c’est normal)! E ao que isso leva? A emoções descontroladas. (…) Como eu odeio quem perde o controle.”

Há dezenas de outros diálogos gostosos, engraçados, de franceses sobre os americanos e de americanos sobre os franceses, ao longo de Le Divorce, e faço questão de transcrever alguns mais adiante.

Antes, porém, é bom apresentar os principais personagens da história, aproveitando para, aí mesmo, adiantar alguns dos fatos centrais da trama – uma trama, aliás, absolutamente maravilhosa.

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A família de Persand já foi introduzida: há então a mãe, a matriarca, agora viúva, Suzanne, interpretada por Leslie Caron. O filho Antoine é casado com Charlotte. O outro filho é Charles-Henri, o marido que abandonou mulher grávida e filha para se entregar à paixão por Magda, uma russa fogosa.

Falta apenas citar Amélie Cosset (Marie-Christine Adam), a cunhada de Suzanne, casada com Edgar Cosset. Amélie só vai aparecer em algumas poucas sequências, quando a narrativa já se aproxima do final, mas Edgar, esse tem papel bastante importante na trama.

Depois de conhecê-lo no almoço dominical na propriedade interiorana de Suzanne de Persnad, Isabel ficará curiosíssima ao vê-lo sendo entrevistado na televisão. Ficará sabendo que Edgar é um ativista político de extrema direita, um conservador radical.

Isabel é jovem, solteira, desimpedida – por que não dar um telefonema para o tio Edgar?

Terão um caso, a irmã de Roxy e o irmão da sogra da pobre mulher engravidada e abandonada.

Mais personagens: conheceremos Olivia Pace, uma famosa escritora americana radicada há tempos em Paris, amiga de Roxy – que, eu ainda não tinha tido oportunidade de dizer isso, é poeta. Uma poeta quase absolutamente inédita, assim como o marido, agora ex-marido, é um pintor quase absolutamente inédito.

Olivia Pace é interpretada por Glenn Close – uma Glenn Close com longos cabelos grisalhos que não fizeram muito bem a seu rosto.

zzdivorce9Olivia precisa de alguém para ajudá-la a arrumar seus papéis, seus manuscritos, suas fotos. Roxy indica a irmã, e assim Isabel passa a trabalhar algumas horas por dia na casa da escritora. Lá Isabel conhecerá Yves, garotão que trabalha como faz-tudo para Olivia, e é interpretado por um Romain Duris com o cabelo imenso penteado para cima, meio como um punk, meio como um índio norte-americano forte, meio como Neymar, um troço bastante grotesco.

Olivia sugere a Isabel que conheça os encantos de Paris com Yves – e Isabel fica conhecendo os encantos da cama do rapagão. Isabel terá então, simultaneamente, dois amantes franceses: um pobre e jovem e esquerdista, o outro coroa e rico e reaça. O coroa lhe dá presentes caros e a leva para os mais finos restaurantes, e o pobretão descolado a leva para lugares aos quais os turistas nunca vão.

Um parênteses para um registro óbvio: um diretor que consegue atrair a grande Glenn Close e o astro francês em super ascensão Romain Duris para fazer papéis pequenos é um diretor que merece respeito. James Ivory, “o mais inglês dos diretores americanos”, é respeitadíssimo por seus pares e pelos atores.

Ao ver a filha afrancesada, o pai acha que ela parece estar no filme Ata-me!

Paris é uma festa, todo mundo sabe, mas mesmo as metrópoles têm suas coisas de cidade pequena, porque, afinal, o grupo em as pessoas andam nunca é gigantesco demais, e então a escritora Olivia vai perceber muito rapidamente que a jovem Isabel está dando para o galãzão Edgar, que pode ser direitaço, mas tem charme e grana. Veremos que Olivia, quando bem mais jovem, também havia passado pelas mesmas experiências que Olivia passa agora.

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Estamos já com metade da narrativa ida, quando enfim viajam para Paris os demais membros da família Walker. O pai, Chester (Sam Waterston), a mãe, Margreeve (Stockard Channing) e o irmão, Roger (Thomas Lennon) de Roxy e Isabel desembarcam para ver como andam as duas moças. E aí há um diálogo sensacional. Ao ver a filha com novo corte de cabelo e roupas francesas, o pai diz para o único filho homem:

– “Ela parece que saiu do filme Tie Me Up! Tie Me Down!

Tie Me Up! Tie Me Down! foi o título americano do filme – agraciado lá com a classificação etária reservada aos filmes pornô – Ata-me!, de Pedro Almodóvar.

Ao que Roger responde: – “Não sei, não vi esse filme”.

Pai e mãe viajaram de Santa Barbara, Califórnia, à beira do mar, até Paris, preocupados com o estado da filha grávida e abandonada. Roger, o irmão, esse não deve ter visto um único filme europeu, a rigor um único filme não americano na vida. Roger só tem uma preocupação no mundo: grana.

Um tio de Chester – tio-avô, portanto, de Roxy, Isabel e Roger -, havia comprado em Paris, muitas décadas antes, um grande quadro, em que aparece Santa Úrsula, e era atribuído a alunos de Georges de La Tour (1593-1652). Quando o tio morreu, o quadro foi para a casa dos Walker em Santa Barbara.

Ao casar e se estabelecer na França, Roxy, que, dos três irmãos, era a que mais gostava do quadro, levou-o para seu apartamento.

Depois que Charles-Henri casca fora de casa, e um advogado dele começa a conversar com Roxy sobre le divorce, vem à tona a questão de que, pelo acordo pré-nupcial assinado pelo casal, em hipótese de separação cada um teria direito a metade dos bens do outro. E começam menções ao valor do quadro. Uma curadora do Getty Museum, da Califórnia, acha que pelo menos parte do quadro pode ser de autoria de La Tour. Um representante do Louvre diz que não é La Tour de forma alguma.

Um especialista da Christie’s, a casa de leilões de Londres, Piers Janely, examina a obra, e dá o veredicto: é um La Tour.

De repente, o quadro para o qual ninguém dava grande bola passa a ter a possibilidade de obter em um leilão uma fortuna impensável, inimaginável.

Esse especialista inglês Piers Janely, que aparece em apenas duas sequências, é interpretado pelo mítico Stephen Fry.

E ainda há mais dois atores de renome a serem apresentados aqui. Um é Jean-Marc Barr, que faz Bertram, um experiente advogado indicado por Olivia para representar Roxy no processo todo de partilha dos bens e eventual divórcio.

zzdivorcenylonO outro é Mathew Modine. Ele interpreta Tellman, o americano que é casado com Magda, a russa fogosa que o abandonou por Charles-Henri. Tellman é um alucinado total, completamente pirado. Fica seguindo Roxy pelas ruas, dizendo que os dois devem se unir para impedir que seus ex-fiquem juntos.

O doidão Tellman provocará uma sequência de ação, suspense e medo na Torre Eifell, bem ao final da narrativa, que não fica a dever nada às sequências de clímax criadas pelo mestre Alfred Hitchcock em monumentos marcantes, a Estátua da Liberdade em Sabotador/Saboteur (1942) e as gigantescas esculturas dos presidentes americanos no Monte Rushmore em Intriga Internacional/North by Northwest (1959).

Algum eventual leitor poderá achar que exagero. Poderá gritar truco! Pois mantenho o que disse. O em geral discreto, sutil, elegante James Ivory se aventurou aqui ao criar uma sequência de ação – e conseguiu um resultado esplendoroso.

Acabei me estendendo bem mais do que pretendia. Vamos a alguns dos deliciosos diálogos e situações do embate Astérix x Mickey Mouse.

“Não há crimes passionais nos Estados Unidos. Lá só matam por dinheiro ou drogas.”

No restaurante chiquetérrimo, toda a família Walker almoça. O advogado Bertram, que está de olho em Roxy, faz companhia. Ao final, diante da conta, Roger, o que só pensa em dinheiro, diz que a conta é um absurdo de cara, já tem os 15% e portanto ele vai pagar nada a mais. A mãe manda ele botar uma nota de 20 euros, mas ele não põe sequer uma moedinha de 1. Bertram se deixa ficar por último, tira da carteira uma nota de 50 euros e joga na mesa.

No trem, a família Walker todinha rumo a um almoço dominical na propriedade de Madame de Persand. Roxy: – “Eles julgam que o quadro de Santa Úrsula é parte do meu dote”.

Roger: – “Dote? Como assim? Estamos na Idade Média?”

Margreeve, a mãe: – “Não. Na França.”

Roxy, algum tempo depois: – “Não esperem que eles falem sobre isso no almoço. Conversam sobre qualquer tema tabu, mas sobre dinheiro, jamais.”

No almoço, Chester, educadissimamente, ergue um brinde à França, ao prazer de estar na maravilhosa propriedade de Suzanne de Persand. Fala-se de amenidades. Antoine surge de repente com um papo sobre caçar, caçadas, a beleza e o prazer da caçada.

Roxy não consegue deixar de lado a vontade de conversar com a família do ex-marido sobre o quadro de Santa Úrsula, que é de sua família e não poderia jamais ter seu valor dividido num processo de divórcio:

– “Bem, eu acho que agora é o momento de dizer que eu nunca teria imaginado, quando saí de Santa Barbara com algumas poucas lembranças…

Suzanne, a sogra, interrompendo bruscamente: – “Este Beaufort não está bom. Está passado.” Antoine fala do Beaufort, Charlotte, a mulher de Antoine, fala do Beaufort. Suzanne, a matriarca, retoma a palavra: – Mas nem tudo está perdido: o Reblocon está perfeito.”

Maravilha!

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A câmara está dentro de um carro de polícia, colocada no banco de trás. Vemos pelas costas dois policiais, um homem e uma mulher, nos bancos da frente. Há uma pequena multidão de curiosos num lugar que está sendo cercado pela polícia.

Voz no rádio do carro de polícia: – “Tiroteio no Futurama. Homem atirou na esposa russa e fugiu. Um americano. Crime passional.”

A mulher policial, para o colega: – “Não há crimes passionais nos Estados Unidos. Lá só matam por dinheiro ou por drogas.”

O filme se baseia em um livro de uma americana que tem apartamento em Paris

A trama deliciosa, os diálogos saborosíssimos, devemos à dupla James Ivory-Ruth Prawer Jhabvala, autora do roteiro, e à escritora Diane Johnson, autora do romance Le Divorce, lançado em 1997.

Nascida no interior de Illinois, em 1934, Diane Johnson escreveu vários romances satíricos sobre mulheres americanas vivendo na França. Tem experiência para falar sobre o assunto: há muitos anos divide seu tempo entre uma casa em San Francisco, seguramente a cidade mais européia dos Estados Unidos, e outra em – fazer o quê? ninguém é de ferro – Paris.

Deve ser uma mulher fascinante, com toda certeza, essa Diana Johnson. Teve apenas uma experiência como roteirista – uma experiência que vale por mil. Ela divide com Stanley Kubrick a autoria do roteiro de O Iluminado/The Shining (1980), baseado no livro de Stephen King.

Detalhinho: na livraria parisiense em que a escritora americana Olivia Pace, a personagem de Glenn Close, está lançando um livro, e Roxy-Naomi Watts lê alguns poemas, está visível a edição francesa do romance Le Divorce.

Tulard e Maltin não gostaram do filme. Ebert elogia com ressalvas

Cada cabeça, uma sentença. Fui checar o Guide des Films do mestre Jean Tulard – e ele detestou. Ele mesmo assina o verbete, sequíssimo, de apenas dois parágrafos, um de sinopse, outro de opinião. E Tulard em geral demonstra grande admiração pelo cinema americano de maneira geral, e até indica aqui que admira o diretor James Ivory.

Poucas vezes vi um pau tão taxativo no Guide:

“Duas irmãs. Uma se divorcia de seu marido francês, a outra se transforma na presa de um sedutor francês. Decepção. Como Ivory pôde fez um filme assim tão sem interesse?”

zzdivorce99Um caso de concordância EUA-França: Leonard Maltin também não gostou do filme. Deu 2 estrelas em 4: “Há muitas complicações na trama, mas elas não acrescentam muita coisa; o potencial para explorar as diferenças culturais entre os americanos e os franceses é desperdiçado”

Felizmente existia ainda Roger Ebert em 2003, quando o filme foi lançado. Roger Ebert deu ao filme 3 estrelas em 4. Transcrevo a abertura e o final de seu longo texto (que pode ser lido na íntegra aqui).

Le Divorce, que é sobre os padrões contrários franceses e americanos a respeito de casamento, adultério, divórcio e negócios, mostra que as duas nações são simplesmente incompatíveis. Embora haja personagens demais e históriasx demais em um filme para nos envolver, é divertido como uma série de esquetes sobre como os franceses pensam que eles são uma raça engraçada (ou os americanos, pode escolher).”

Le Divorce não funciona como se pretendia, porque não nos importamos o suficiente com as interações do enorme elenco. Mas funciona de um outro jeito, como um retrato sofisticado e amplo de valores em colisão. Se você compreende francês e tem um caso de amor-ódio com a mais enigmática das nações, provavelmente você vai se divertir com o filme, mesmo se ele não adicionar coisas para você.”

Acho que todos eles – Maltin, Tulard e mesmo Ebert – subestimaram o filme. Não sintonizaram direito com ele, essa coisa que volta e meia acontece.

Adorei rever. Gostei ainda mais do filme ao rever agora do que quando vi pela primeira vez.

Anotação em maio de 2015

À Francesa/Le Divorce

De James Ivory, EUA, 2003

Com Com Kate Hudson (Isabel Walker), Naomi Watts (Roxeanne de Persand), Stockard Channing (Margreeve Walker), Sam Waterston (Chester Walker), Thomas Lennon (Roger Walker) (a família americana),

Leslie Caron (Suzanne de Persand), Thierry Lhermitte (Edgar Cosset), Melvil Poupaud (Charles-Henri de Persand), Samuel Labarthe (Antoine de Persand), Nathalie Richard (Charlotte de Persand), Esmée Buchet-Deàk (Gennie de Persand), Marie-Christine Adam (Amélie Cosset) (a família francesa),

Jean-Marc Barr (Bertram, o advogado do Roxeanne), Glenn Close (Olivia Pace), Romain Duris (Yves), Stephen Fry (Piers Janely), Matthew Modine (Tellman), Rona Hartner (Magda)

Roteiro Ruth Prawer Jhabvala e James Ivory

Baseado na novela homônima de Diane Johnson

Fotografia Pierre Lhomme

Música Richard Robbins

Montagem John  David Allen

Produção Merchant Ivory Productions e Radar Pictures. DVD Fox.

Cor, 117 min

R, ***1/2