O Sol Por Testemunha / Plein Soleil


Nota: ★★☆☆

Anotação em 2006, com complemento em 2008: Não envelheceu bem este filme que foi um marco, um cult na época em que a gente era muito jovem e nem usava essa palavra, que só viraria moda, e moda cult, muito depois.

 Vi o filme pela primeira vez adolescente – e ficou na memória uma coisa idílica, bonita, prazerosa. Tudo era absolutamente belo – Marie Laforêt com aqueles gigantescos olhos verdes, aquela pele lindíssima sob o sol do Mediterrâneo, arranhando um violão e cantando com aquela vozinha pequena, suave e sensual. Não era possível admitir, mas, cacilda, Alain Delon e Maurice Ronet são igualmente bonitos, bonitos pra cacete. Aquelas roupas esportivas simples e maravilhosas, belos jeans e camisetas. O azul profundo do mar italiano. O dolce far niente, a vida boa de playboy endinheirado indo de Roma para o litoral, e para outra cidade do litoral mais linda ainda. E até o crime – o mocinho bonito mas pobretão pegando a assinatura, o iate, o dinheiro e a mocinha linda do mocinho rico – parecia quase uma conquista socialista, o proletariado expropriando os bens de produção da burguesia.   

Ao rever o filme, 46 anos depois que ele foi feito, o charme derrete como sorvete au plein soleil.

As brincadeirinhas do jovem playboy rico com o jovem aventureiro que vai à procura do outro para tentar convencê-lo a voltar para casa não funcionam mais. Parecem patéticas, idiotas. Mas que diabo estão fazendo esses sujeitos na faixa dos 25, 28 anos, agindo feito adolescentes de 14 nas ruas de Roma? Por que não vão procurar alguma coisa de útil pra fazer na vida? E por que aquelas mudanças de humor, repentinas, de uma hora para outra? Por que de repente se abatia aquele tédio profundo naquelas pessoas?

Todos os personagens parecem hoje falsos como uma nota de 3, as situações todas parecem carecer absolutamente de qualquer tipo de sentido.

Acho que tem filmes da época da adolescência que a gente não deveria rever.

Algumas coisas, é claro, sobrevivem. A própria beleza do trio de atores. A fotografia de Henri Decae, um dos melhores diretores de fotografia do cinema. A música de Nino Rota, um dos maiores compositores do cinema. E – atração à parte, especial – a beleza ainda mais ofuscante que tudo o mais da jovem Romy Schneider, na época começando o namoro com Alain Delon, na transição da atriz adolescente de Sissi para a estrela de Visconti e Sautet. Ela é apenas uma figurante; aparece rapidamente numa seqüência numa rua de Roma, no início do filme. É de babar.

Vamos ver o que diz quem entende do assunto.

Estranho: Sérgio Augusto não selecionou esse filme para a edição brasileira de 1001 Noites no Cinema, de Pauline Kael. Vamos ao livro original, 5001 Nights at the Movies:

“Maurice Ronet e Alain Delon como americanos decadentes vagabundeando na Itália – Ronet rico e vicioso, Delon pobre, amoral e assassino. Quando Delon experimenta as roupas de Ronet, é claro que elas ficam melhores nele. O diretor, René Clément, mantém esse thriller no estilo de cartões postais de viagem de férias ensolaradas, com o ódio homossexual e a inveja inflamando. Cria uma atmosfera sensual, pesada; você se sente como se estivesse respirando alguma coisa bela e podre.”

Falta mencionar o óbvio: a história de Patricia Highsmith foi refilmada em 1999 por Anthony Minghella, com Jude Law no papel que tinha sido de Maurice Ronet, Matt Damon no de Alain Delon e Gwyneth Paltrow no de Marie Laforêt, mantendo o título do livro, The Talented Mr. Ripley, O Talentoso Ripley. Está mencionado.

O Sol Por Testemunha/Plein Soleil

De René Clement, França-Itália, 1960.

Com Alain Delon, Marie Laforêt, Maurice Ronet

Baseado no livro The Talented Mr. Ripley, de Patricia Highsmith

Fotografia Henri Decae

Música Nino Rota

Cor, 112 min

Título em Portugal: À Luz do Sol

30 Comentários para “O Sol Por Testemunha / Plein Soleil”

  1. Um dos filmes que marcaram minha vida no período da juventude. Sempre aconselho os jovens a vê-lo. Eu mesmo quero ver de novo.

  2. Hoje eu tenho 60 anos.Ví o filme e outros tantos da época. Sempre fui apaixonada por cinema. Alguns lembranças ficam para sempre na vida da gente.

  3. Estranho esse sentimento não é? Como pode algo que adoramos um dia, simplesmente se desintegrar no tempo. Ainda bem que nos sobra a beleza!

  4. Desculpe. Gosto é gosto. Mas vc pegou pesado
    demais. Esse filme foi, é e, daqui 30 anos,
    será maravilhoso. Alain Delon e Gerard Phillipe foram os maiores galãs do cinema francês de todos os tempos. Maurice Ronet era um ator extraordinário – notável no
    soberbo 30 Anos Esta Noite (Feu Follet). E, ainda mais, a história é sensacional. Sem
    ofensa, mas naõ aceito comparação com a versão americana “O Talentoso Ripley”, apesar
    de Gwyneth Paltrow, Jude Law e Matt Damon.
    Esse filme nos fez todos sonharmos em ter um
    iate e vagabundear pelo mundo…

  5. Caro Mário, pelamordedeus, não é o caso de pedir desculpa! Posso, sim, ter pego pesado demais na hora em que fiz a anotação, posso ter revisto o filme numa hora ruim. Eu tinha uma lembrança fantástica dele, e ele me decepcionou. Mas esta é apenas minha opinião pessoal. Claro que respeito a sua opinião, que é também a de muita, mas muita gente boa.
    De qualquer forma, cabe um esclarecimento: não fiz comparação com a versão americana. Só citei que ela existe; não disse de forma alguma que a versão americana é melhor.
    Um abraço.
    Sérgio

  6. quem viu la dolce vita de fellini, sabe que igual aos anos sessenta nunca mais. passei um ano assistindo todos os dias. é o cult mais cultuado, assim como o sol por testemuna. alain dellon etostá bello e pungente quanto i marcello mastroiann´. é magia dos anos sessenta.não ficar triste por existe mais esta magia, foi uma dádiva para os que temm mais de sessenta não ficar triste. foi um privilegio ser jovem nos anos sessenta. agora é só cultuar os cults.

  7. Bôa tarde !!

    Ía assistir este filme agora em um site de filmes online. Mas , quando dei o play , o filme foi retirado, deletado. Uma pena.
    Seria muito bom assisti-lo pelos atores e pela beleza da época.
    Mas, não lamento de todo. Digo isto porque assisti ” O Talentoso Ripley ” e , confesso, não sabia que era refilmagem deste.
    No “Talentoso”, os atores tbm são bonitos.
    E eu gostei muito do filme.
    Um abraço !!

  8. Atenção: Este comentário contém spoiler – revela o final da trama!
    Me parece que há um erro de continuidade. Quando Tom assassina Philippe ele tem o cuidado de atar uma âncora ao corpo e desatar totalmente o corpo do barco.
    Ao fim do filme o corpo aparece atado ao barco.
    Fora isso é uma perfeição o filme com momentos de tensão e suspense.

  9. ESSE FILME O SOL POR TESTEMUNHA É UM CLASSICO DO CINEMA. ASSISTE E GOSTEI E ATÉ HJ.QUERO ASSISTIR NOVAMENTE E NÃO ENCONTRO. LINDA HISTORIA COO O FAMOSO ALAN DELEN NO AUGE DA FAMA. FILME NOTA 10

  10. Seu texto é muito bom, claro e criativo. No entanto, ela começa mal, com sua frase lapidar: “Não envelheceu bem este filme”… Depois você arremata com outra frase e conserta o equivoco, concluindo que o filme “foi um marco, um cult na época em que a gente era muito jovem e nem usava essa palavra, que só viraria moda, e moda cult, muito depois”. Mas concordo com noventa por cento do texto,quando você comenta que o filme tem uma coisa idílica, bonita e prazerosa, sem esquecer Marie Laforet (1939-2019), “com aqueles gigantescos olhos verdes, aquela pele lindíssima sob o sol do Mediterrâneo, arranhando um violão e cantando com aquela vozinha pequena, suave e sensual”. Sem esquecer a presença juvenil de Alain Delon e Maurice Ronet e de suas roupas esportivas, há ainda a deslumbrante cenografia do Mar Mediterrâneo e o contraste entre duas classes sociais. Mas o bom mesmo é quando você observa que, na disputa do iate e da mocinha, está onipresente uma conquista socialista, “o proletariado expropriando os bens de produção da burguesia”. Portanto, o filme tem uma temática atual que teima em não desaparecer

  11. Eu o assisti há 50 anos atrás e achei, no mínimo, um drama inteligentissimo, como a maioria dos filmes franceses de suspense. Eu também achei a música de Nino Rota a mais bonita da história do cinema. Infelizmente não quero rever este clássico depois que você o depreciou pois tenho medo da decepção e da desmistificação, que geralmente acontece com alguns clássicos muito antigos. Que pena!

  12. Olá, Francisco!
    Rapaz, eu não me lembrava de ter depreciado esse clássico que marcou nossas gerações.
    Seu comentário me deixou assustado.
    Vou reler com muita calma e atenção o que escrevi. Posso ter pintado com cores fortes demais as sensações que tive ao revê-lo. E muitas vezes acontece de você ver e/ou rever um filme num momento em que você simplesmente não entra em sintonia com ele.
    Eu pediria a você que não se deixasse influenciar pelo que eu disse, e, tendo oportunidade, que você revisse o filme. Pode perfeitamente acontecer de você adorar a experiência.
    Um abraço.
    Sérgio

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