Anotação em 2010: Uma comedinha leve, extremamente leve, sobre a vida de adolescentes de classe média na Paris de hoje em dia. Nada de especial, mas nada ruim, também; um filme bem mediano, com várias pitadas de brincadeirinhas formais interessantes.
Muitas seqüências na escola, nas salas de aula – mas não tem nada, absolutamente nada a ver com a seriedade, a profundidade de Entre os Muros da Escola, feito no mesmo ano, 2008. O filme explora bastante os conflitos dos adolescentes com os pais, o eterno choque de gerações – mas também não tem nada a ver a seriedade, a profundidade de Stella, de 2008, nem com a tristeza profunda de Não se Preocupe, Estou Bem!, de 2006, dois filmes franceses da mesma época que também falam sobre relações familiares.
Não, nada a ver – este Rindo à Toa é uma comedinha leve. É tão descaradamente leve que sequer passa perto de qualquer questão racial, ao contrário de Lila Diz…, de 2004, ou Nosso Professor é um Herói, de 1996, outros filmes franceses dos últimos anos que mostram a vida de adolescentes numa sociedade em que a presença de imigrantes negros e muçulmanos é cada vez maior. Entre os sete adolescentes mais importantes na história, há apenas um descendente de imigrantes; todos os demais são brancos.
É um filme que propositalmente quer passar longe de problemas sérios. Bem, ele trata de desentendimentos de adolescentes com seus pais, desentendimentos de adolescentes com seus namorados, desentendimentos de adolescentes consigo mesmos, e a descoberta de sexo, drogas e rock’n’roll, e esses são problemas sérios. Então, o melhor é dizer que este é um filme que propositalmente quer passar longe de uma abordagem séria de problemas sérios. É uma comedinha leve.
Na primeira seqüência, uma brincadeira com os filmes americanos
A primeira bossinha, brincadeirinha formal, é apresentada pela diretora Lisa Azuelos na seqüência de abertura, enquanto vão rolando os créditos iniciais. Um bando de alunos está se aglomerando diante dos portões ainda fechados de uma escola; aí temos uma tomada, em plano americano, de três garotas, de uns 15 anos, que vêm caminhando alegres, a câmara puxada para trás num travelling para ir acompanhando a caminhada delas, em câmara lenta, enquanto uma voz em off diz:
– “Toda volta às aulas é a mesma coisa. Ficamos eufóricas e com medo de nos encontrarmos. A morena é Stephane, minha melhor amiga. A loura é Charlote, minha outra melhor amiga. E eu sou Lola, mas todo mundo me chama de Lol. Estamos em câmara lenta porque nos filmes americanos, quando as mulheres mais bonitas aparecem, é sempre em câmara lenta.”
Neste exato momento, muda-se a velocidade, termina a câmara lenta, prossegue a mesma tomada que mostra as três garotas alegres, enquanto a narrativa de Lola continua também:
– “Tudo bem, na França não é assim, mas e daí?”
E as garotas se aproximam de um grupo de garotos, e a voz em off de Lola vai nos apresentando quem é quem: Arthur (Félix Moati) é o namorado dela, Lola; Medhi (Louis Sommer) é o ex de Stephane; Paul-Henri (Émile Bertherat) é filho de um ministro, “mas é um cara legal”, conforme ela explica. Maël (Jérémy Kapone) é o melhor amigo dela, e também o melhor amigo de Arthur. E há ainda Isabelle de Peyrefitte (Jade-Rose Parker), uma loura oxigenada, uma putinha, na definição de Lola.
Stephane é interpretada por Lou Lesage, uma jovem atriz de cabelos pretos e imensos olhos azuis; Charlotte é feita por Marion Chabassol, uma lourinha de rosto estonteante. A garota que faz Lola, Christa Theret, demonstra um grande talento. Posso estar errado, já fiz trocentas previsões erradas, mas tudo indica que essa garota Christa Theret vai longe.
Eu não sabia, porque sou um ignorante total, mas Lol, o apelido de Lola, é gíria da linguagem MSN para Laughing Out Loud, conforme explica o título original.
Sophie Marceau – tão bela, tão careteira…
Serão esses os principais personagens da história, do lado dos adolescentes.
Como Lola é a protagonista do filme, do lado adulto as figuras mais importantes serão a mãe dela, Anne (interpretada por Sophie Marceau, uma das grandes estrelas do cinema francês, na foto com Lola-Christa Theret), o pai, Alain (Alexandre Astier), a avó materna (Françoise Fabian), e um sujeito chamado Lucas (Jocelyn Quivrin).
Pais de vários dos outros adolescentes vão aparecer, mas não são tão importantes. Servem só para demonstrar que os problemas de relacionamento dos filhos com os pais não são exclusividade de Lola – todos eles têm exatamente os mesmos problemas.
Anne e Alain, os pais de Lola e de mais duas crianças mais novas, estão divorciados, mas continuam transando um tanto em segredo – para espanto e uma certa indignação de Lola. Mais tarde, Anne vai ter um caso com Lucas, que conhece acidentalmente na rua.
Nunca me impressionei muito com a bela Sophie Marceau – mas, neste filme em que os atores estão muito bem dirigidos, ela me pareceu especialmente careteira.
Uma visão caricatural dos ingleses
Como é um filme de 2008, passado em 2008, todos os adolescentes usam computador direto e reto. O filme parece merchardising da Apple: todos no filme têm laptops Apple.
E uma das bossinhas visuais é que, em diversas cenas em que os adolescentes estão trocando mensagens no computador, abre-se uma janela para vermos a tela do computador. Há uma cena bem sacada, em que Charlotte, a loura, que é uma tremenda de uma safada (paquera o professor de matemática, dá para um colega no banheiro da escola), está em seu quarto vendo sacanagem na internet; a mãe chega, ela fecha o laptop, e a janelinha que mostra a tela do laptop vai se fechando também.
Uma curiosidade interessante é a forma como o filme goza os ingleses. É forte, espantoso. A turma de Lola faz uma viagem de ônibus à Inglaterra, e os alunos ficam hospedados em casas de família. Em diversas seqüências curtas, a diretora Lisa Azuelos debocha arrasadoramente dos modos ingleses. Uma das famílias, por exemplo, tem toda a casa decorada com imagens da família real, e a filha do casal se chama, evidentemente, Diana. O filme espinafra com o comportamento de todos os casais de ingleses mostrados – com a comida, com a decoração das casas. É uma agressão muito violenta, uma provocação brava ao velho inimigo e rival do outro lado do Canal da Mancha.
Ao mesmo tempo, todo o filme demonstra que os jovens franceses têm uma grande fascinação pela Inglaterra, pela língua inglesa, pelo pop inglês e americano.
Pois a diretora Lisa Azuelos é filha de Marie Laforêt!
Meu Deus do céu e também da terra! Fui dar uma olhada em quem é essa diretora Lisa Azuelos, e eis que ela é filha de Marie Laforêt, a belíssima atriz e cantora que fez bastante sucesso nos anos 60, a garota dos olhos de ouro, a musa do filme O Sol por Testemunha/Plein Soleil, de 1960! Ulalá!
Lisa Azuelos, nascida em 1965, fez seu primeiro filme como diretora, Ainsi soient-elles, em 1995, no qual se assinou como Lisa Alessandrin, e no qual trabalhou Marie Laforêt. Segundo o iMDB, depois disso há um grande hiato; ela voltaria a dirigir apenas em 2006. Parece que está preparando uma continuação deste filme aqui.
Pelo papel central como Lola, a garota Christa Theret foi indicada para o César de atriz promissora – meilleur espoir féminin. De fato tem muito talento, como eu já havia anotado.
A diretora Lisa Azuelos também é talentosa. Escolheu um tom leve, descompromissado, nada sério, para este filme aqui, mas sabe o ofício.
No final, no início dos créditos finais, a diretora pôs um letreiro dizendo que o filme se inspira numa história real. Não dá, é claro, para saber se é brincadeira ou não.
Bom para pais e filhos adolescentes verem juntos
Assim que pus esta anotação no site, me ocorreu que este é um filme bom para ser visto por pais e filhos adolescentes, juntos e ao vivo. Pode servir como um bom tema para que conversem sobre as questões da adolescência. Cada adolescente tem, em geral, a tendência de achar que só ele tem problemas com os pais. Ver os embates de pais e filhos no filme pode ser bom, pode ser instrutivo, pode ser gostoso.
Rindo à Toa/LOL (Laughing Out Loud)
De Lisa Azuelos, França, 2008
Com Christa Theret (Lola), Sophie Marceau (Anne), Jérémy Kapone (Maël), Marion Chabassol (Charlotte), Lou Lesage (Stéphane), Émile Bertherat (Paul-Henri), Félix Moati (Arthur), Louis Sommer (Mehdi), Jade-Rose Parker (Isabelle de Peyrefitte), Alexandre Astier (Alain), Jocelyn Quivrin (Lucas), Françoise Fabian (a mãe de Anne)
Argumento e roteiro Lisa Azuelos e Delgado Nans
Fotografia Nathaniel Aron
Música Jean-Philippe Verdin
Produção Pathé
Cor, 103 min
**1/2
tem como alguem me avisar quando vai passar na tv?
Hum… Meio difícil, isso, né, Taine? Por que você não pega o filme na locadora?
Passou ontem no Telecine. Dá uma olhada no site para ver quando será reprisado. Lembrei da crítica que tinha lido aqui, por isso que vi. Perdi só os primeiros 5 ou 10 minutos.
não consigo achar em nenhuma locadora o filme, ninguém sabe onde posso baixar, porque também não acho ):
passa no telecine cult
gente, tem no site telona.org pra baixar.
esse é o filme que eu mais me indentifico é simplismente maravilhoso.
eu já havia visto este filme desde o ano passado pelo tele cine e me indentifiquei muito com ele, nao achei ele assim normalzinho como a critica diz,pois ele é um retrato feito dos adolencentes de hoje em dia e suas dificuldades de comunicações com seus pais
Bem, passou ontem anoithe no Telecine, 14.07.2011 e eu goostei bastante do filme, retrata não só a vida de adolescentees franceses, mas fala de em média 80% da juventude de hoje em dia!
Cara eu revirei o site para achar esse filme de novo assisti 1 vez e nunca mais esqueçi
me identifiquei a mãe da lola pareçe to-di-nha a minha eu amo a musica da trilha sonora acho que a banda é Keane.. eu adoro esse filme!