Se Marilyn Monroe precisou fazer mais de uma dúzia de filmes antes de virar uma grande estrela, o problema não foi dela, foi de Hollywood. Quando finalmente deram a ela papéis – e não rápidas aparições como apenas uma loura linda –, aí foi tudo absolutamente rápido, meteórico.
Marilyn fez ao todo 29 filmes, ao longo de 14 anos, a partir de 1947 e até 1961. Em nada menos que 14 deles, teve papéis menores que pequenos. Em vários desses filmes de seu início de carreira, foi pouco mais que uma figurante.
Foram, portanto, apenas 15 filmes com papéis importantes.
Em 1950, teve pequeninas participações em dois grandes filmes que viriam a se tornar clássicos, O Segredo das Jóias, de John Huston, e A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz. Aparecia durante uns 4 ou 5 minutos em cada um deles, como a loura lindérrima amante de um personagem que tinha alguma importância na história.
Em 1952, a 20th Century Fox, o estúdio que a tinha sob contrato, lançou nada menos de cinco filmes com ela. Em um deles, Páginas da Vida, aparecia por não mais que dois minutos, como uma prostituta fazendo o trottoir. Em outro, Almas Desesperadas, um drama pesado, denso, fazia uma mulher pobre, sem qualquer glamour, que trabalhava como babá. Há uma sequência em que ela coloca no pescoço uma jóia da patroa – e é como se a personagem gritasse Shazam! e virasse uma das mulheres mais atraentes do mundo.
Em 1953, num filme absolutamente noir mas em cores, e em cores fortes, Torrente de Paixão, fez uma das femme fatales mais impressionantes que já houve.
A partir daí, foi tudo rápido demais, meteórico, fulminante.
Entre 1953 e 1954, além de Torrente de Paixão, chegaram aos cinemas outros quatro filmes em que Marilyn era uma dos protagonistas: Os Homens Preferem as Louras, Como Agarrar um Milionário, O Rio das Almas Perdidas e O Mundo da Fantasia.
Em setembro 1954 quando começaram as filmagens de O Pecado Mora ao Lado, já era a maior estrela de Hollywood. O Pecado Mora ao Lado, o primeiro dos dois que fez com o diretor Billy Wilder, teria pré-estréia de gala em Nova York em 1º de junho de 1955, o dia em que completava 29 anos de idade.
Depois desse, faria apenas mais cinco filmes: Nunca Fui Santa, O Príncipe Encantado, Quanto Mais Quente Melhor, Adorável Pecadora e Os Desajustados.
Quando morreu, em 5 de agosto de 1962, com apenas 36 anos, Marilyn era a maior estrela do cinema mundial.
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Aqui vai a filmografia de Marilyn Monroe, com uma sinopse de cada um dos 29 títulos e um pequeno parágrafo sobre o personagem dela. Os links nos títulos em negrito levam aos textos deste site sobre aquele filme especifico.
(Este texto continua após a filmografia.)
1 – 1947 | Idade Perigosa/Dangerous Years | |
De Arthur Pierson. Com Billy Halop, Scotty Beckett, Richard Gaines, Ann E. Todd, Jerome Cowan, Anabel Shaw | ||
O líder de uma gangue de adolescentes mata um funcionário público durante um assalto; o promotor vai fazer tudo para condenar o culpado pelo assassinato. | ||
Marilyn aparece em uma sequência como uma garçonete. Ela recebeu US$ 125 pelo trabalho. | ||
2 – 1948 | Torrentes de Ódio/Scudda hoo! Scudda hay! | |
De F. Hugh Herbert. Com June Haver, Lon McCallister, Walter Brennan, Anne Revere, Natalie Wood, Robert Karnes. | ||
Numa área rural, dois irmãos de criação disputam as atenções de uma mesma garota, a filha de um fazendeiro. | ||
Marilyn faz uma amiga da protagonista interpretada por June Haver; algumas das tomadas em que ela aparecia foram cortadas, e ficou apenas uma, em que ela cumprimenta a garota à saída da missa de domingo. | ||
3 – 1949 | Mentira Salvadora/Ladies of the Chorus | |
De Phil Karlson. Com Adele Jergens, MM, Rand Brooks, Nana Bryant, Eddie Garr, Steven Geray. | ||
Mãe (Adele Jergens) e filha (Marilyn) são dançarinas de vaudeville. Quando a moça se apaixona por um jovem milionário, a mãe teme pelo que possa acontecer por causa da diferença de classe social. | ||
Foi o primeiro papel importante de Marilyn – e seu único filme para a Columbia. O estúdio não deu importância ao filme, que, rodado em maio de 1948, só foi lançado em fevereiro de 1949. | ||
4 – 1949 | Loucos de Amor/Love Happy | |
De David Miller. Com Harpo Marx, Chico Marx, Groucho Marx, Ilona Massey, Vera-Ellen, Marion Hutton, Raymond Burr, Melville Cooper, Bruce Gordon, Leon Belasco, Paul Valentine, Eric Blore, MM | ||
Um homem (Harpo Marx) ajuda jovens aspirantes a atores na Broadway, numa trama que inclui diamantes da família imperial russa! | ||
Nos créditos, aparece um “introducing Marilyn Monroe”, o que, obviamente, é uma mentira deslavada. Consta que foi Groucho Marx que escolheu Marilyn para um pequeno papel, entre três atrizes que o produtor mandou caminhar à frente do artista. | ||
5 – 1950 | O Segredo das Jóias/The Asphalt Jungle | |
De John Huston. Com Sterling Hayden, Sam Jaffe, Louis Calhern, Jean Hagen, James Whitmore, John McIntire | ||
Um dos maiores clássicos do cinema policial, um dos melhores e definitivos filmes sobre assalto que já foram feitos. | ||
Marilyn faz Angela, a amante jovem e linda do advogado rico que ajuda a financiar o assalto. Aparece em apenas duas sequências. | ||
6 – 1950 | A Malvada/All About Eve | |
De Joseph L. Mankiewicz. Com Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Barbara Bates, Thelma Ritter | ||
All About Eve pertence àquela categoria singular e exclusivíssima dos melhores filmes que já foram feitos. Seu universo é o do teatro, mas seu tema está presente em boa parte das atividades humanas. É a vaidade, a ambição, a competição, a capacidade que as pessoas têm de mentir, trair, fingir para atingir seu objetivo de vencer na profissão. | ||
Marilyn faz Miss Caswell, a bela aspirante a atriz que o famoso crítico de teatro leva a uma festa no apartamento de uma das duas protagonistas da história, a diva Margo Channing (Bette Davis). | ||
7 – 1950 | O Faísca/The Fireball | |
De Tay Garnett. Com Mickey Rooney, Pat O’Brien, Beverly Tyler, James Brown, Ralph Dumke, Milburn Stone, Bert Begley, MM. | ||
Drama sobre um jovem que foge de um orfanato e se torna campeão de patinação – mas pega poliomielite. | ||
Três diferentes fontes não informam nada sobre Polly, a personagem de Marilyn. O nome dela aparece em oitavo lugar nos créditos. | ||
8 -1950 | Por um Amor/Right Cross | |
De John Sturges. Com June Allyson,
Dick Powell, Ricardo Montalban, Lionel Barrymore, Teresa Celli, Barry Kelley, Tom Powers, Mimi Aguglia, Marianne Stewart, John Gallaudet. |
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Um drama sobre o mundo do boxe, envolvendo um lutador de origem mexicana, um veterano promotor-agente de desportistas e sua jovem filha, e um repórter esportivo, interpretados, respectivamente por Ricardo Montalban, Lionel Barrymoore, June Allyson e Dick Powell. Os dois homens, lutador e repórter, são amigos – e apaixonados pela moça. | ||
O nome de Marilyn sequer aparece nos créditos. Ela faz Dusky, uma moça de nightclub com que o repórter tem um caso. | ||
9 – 1950 | O que Pode um Beijo/A Ticket to Tomahawk | |
De Richard Sale. Com
Dan Dailey, Anne Baxter, Rory Calhoun, Walter Brennan, Charles Kemper, Connie Gilchrist, Arthur Hunnicutt, Will Wright. |
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Neste western cômico, uma empresa de diligências se sente ameaçada com a chegada de uma linha férrea a uma cidade do interior do Colorado ali por 1876. | ||
Marilyn faz Clara, uma das showgirls da companhia de Madame Adelaide viajando no trem. | ||
10 – 1951 | Sempre Jovem/As Young as you Feel | |
De Harmon Jones. Com Monty Woolley, Thelma Ritter, David Wayne, Jean Peters, Constance Bennett, MM, Allyn Joslyn, Albert Dekker, Clinton Sundberg. | ||
Um veterano impressor inventa um elaborado esquema para escapar da ordem dada pela empresa em que trabalha de que é hora de se aposentar. | ||
Marilyn faz Harriet, a bela secretária do presidente da empresa. | ||
11 – 1951 | Em Cada Lar, um Romance/Hometown Story | |
De Arthur Pierson. Com Jeffrey Lynn, Alan Hale Jr., Marjorie Reynolds, Donald Crisp, Barbara Brown, Melinda Casey | ||
Derrotado na tentativa de se reeleger para o Senado estadual, jornalista volta para sua cidade natal e, para tentar angariar votos na eleição seguinte, começa uma campanha contra as grandes empresas e seu lucro. Diretor (Arthur Pierson), atores principais (Jeffrey Lynn, Donald Crisp, Marjorie Reynolds) e o próprio filme são hoje bem pouco conhecidos. | ||
Marilyn aparece na tela num total de 4 minutos, como a secretária da redação do jornal do protagonista. | ||
12 – 1951 | Joguei Minha Mulher/Let’s Make it Legal | |
De Richard Sale. Com Claudette Colbert, Macdonald Carey, Zachary Scott, Barbara Bates, Robert Wagner, MM, Frank Cady, Harry Harvey. | ||
O processo de divórcio de um casal (Claudette Colbert e Macdonald Carey) está caminhando para o fim. Mas as coisas se complicam quando reaparece no pedaço um antigo admirador da mulher, agora milionário. | ||
Marilyn faz Joyce Mannering, uma alpinista social que está atrás do milionário que está atrás do seu velho amor. | ||
13 – 1951 | O Segredo das Viúvas/Love Nest | |
De Joseph M. Newman. Com June Haver, William Lundigan, Frank Fay, MM, Jack Paar, Leatrice Joy, Henry Kulky. | ||
Jovem casal (June Haver e William Lundigan), ele de volta da guerra, compra um pequeno prédio bem velho e cheio de problemas em Nova York e aluga apartamentos para inquilinos dos mais variados tipos. | ||
Marilyn faz Bobby, que serviu no exército com o protagonista e é convidada para morar em um dos apartamentos – o que faz a mulher dele morrer de ciúme, é claro. | ||
14 – 1952 | Só a Mulher Peca/Clash by Night | |
De Fritz Lang. Com Barbra Stanwyck, Paul Douglas, Robert Ryan, MM, J. Carrol Naish, Silvio Minciotti, Keith Andes | ||
Um drama pesado, de atmosfera noir, sobre mulher (Barbra Streisand) que volta para sua pequena comunidade de pescadores na Califórnia depois de dez anos de vida dura em Nova York. E volta amarga, cínica, desesperançada. | ||
Marilyn faz Peggy, a moça que o irmão da protagonista ama – e ele teme que Peggy acabe ficando parecida com sua irmã. | ||
15 – 1952 | Travessuras de Casados/We’re not Married | |
De Edmund Goulding. Com Ginger Rogers, Fred Allen, Victor Moore, Jane Darwell, MM, David Wayne, Eve Arden, Paul Douglas, Mitzi Gaynor, Louis Calhern, Zsa Zsa Gabor. | ||
Esta comedinha parte de uma idéia deliciosa: dois anos e meio depois de se casarem diante de um juiz de paz, cinco casais são informados de que o casamento não é válido. As reações à revelação são as mais diferentes possíveis – e as situações que se criam são bem divertidas. | ||
Marilyn faz Annabel, uma das cinco mulheres que de repente ficam sabendo que não estavam casadas legalmente. | ||
16 – 1952 | Almas Desesperadas/Don’t Bother to Knock | |
De Roy Ward Baker. Com Richard Widmark, MM, Anne Bancroft, Donna Corcoran, Jeanne Cagney, Lurene Tuttle, Elisha Cook Jr. | ||
Drama tenso, com atmosfera noir, sobre piloto de aviação comercial (Richard Widmark) que, abandonado por sua namorada, cantora de bar em hotel (Anne Bancroft), se vê atraído por uma babá de criança naquele mesmo lugar (o papel de Marilyn). Direção de Roy Ward Baker. | ||
Creio que Nell, essa babysitter em crise nervosa, profundamente perturbada, foi o primeiro papel importante de Marilyn – e ela está brilhante, magnífica. Na maior parte do filme parece não estar maquilada, em roupa pobre, sem glamour algum – e é impressionante como, ao simplesmente pôr nas orelhas os brincos da madame para quem está sendo babá no quarto de hotel, ela consegue um shazam, uma fantástica transformação. | ||
17 – 1952 | O Inventor da Mocidade/Monkey business | |
De Howard Hawks. Com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn, MM, Hugh Marlowe, Henri Letondal | ||
Esta obra do mestre Howard Hawks é uma das maiores bobagens que já foram feitas nestes cento e tantos anos de cinema – e também uma das maiores delícias. Comédia absoluta escrachada, não se envergonha de nada – e provoca risadas o tempo todo, com a história de um cientista que acidentalmente inventa a loção da eterna juventude. Cary Grant e Ginger Rogers estão ótimos. E Marilyn… Ah, a Marilyn… | ||
Deram a Marilyn o papel de uma loura burra, a srta. Laurel, secretária do patrão do cientista interpretado por Cary Grant. Ela está estupidamente linda – e Hawks usa e abusa da beleza do rosto e do corpo dela. | ||
18 – 1952 | Páginas da Vida/O. Henry’s Full House | |
De Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks e Henry King. Com Fred Allen, Anne Baxter, Jeanne Crain, Farley Granger, Charles Laughton, Oscar Levant, MM, Jean Peters. | ||
São cinco episódios, cinco histórias independentes, baseadas em contos do escritor O. Henry (1862-1910), cada um dirigido por um realizador. Todos eles são bem intencionados, defendem bons valores, e abusam do sentimentalismo. O episódio em que Marilyn aparece é o primeiro, dirigido por Henry Koster. | ||
Marilyn fica na tela por não mais que dois minutos, como uma uma moça belíssima que caminha pelas calçadas, finge que observa as vitrines e foge dos policiais – uma forma sutil, elegante, educada, de mostrar, no início dos anos 50, uma prostituta. | ||
19 – 1953 | Torrente de Paixão/Niagara | |
De Henry Hathaway. MM, Joseph Cotten, Jean Peters, Casey Adams, Denis O’Dea, Richard Allan. | ||
Dois casais se encontram num hotel junto das Cataratas de Niágara – um de jovens em lua de mel, o outro formado por uma mulher de beleza e sensualidade estonteantes e um homem à beira de um ataque de nervos, ciumento, violento. A mulher planeja se livrar dele com a ajuda do amante. | ||
Foi o primeiro filme em cores de Marilyn, o primeiro em que seu nome apareceu à frente de todos os demais nos créditos e nos cartazes. A Rose Loomis que ela interpreta é sensualidade pura, concentrada. | ||
20 – 1953 | Os Homens Preferem as Louras/Gentlemen Prefer Blondes | |
De Howard Hawks. Com Jane Russell, MM, Charles Coburn, Elliott Reid, Tommy Noonan, George Winslow | ||
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As amigas dançarinas Lorelei (a loura Marilyn) e Dorothy (a morena Jane Russell) viajam a Paris num transatlântico. No navio vão também um detetive particular contratado pelo pai do noivo de Lorelei, um velho bilionário safado e muitos outros admiradores carinhosos, inclusive de atletas da equipe olímpica dos EUA. | |
O fato de Lorelei ser dançarina torna natural a câmara mostrar com insistência as coxas de Marilyn. Há uma sequência em que a moça tenta sair da cabine de um sujeito pela janelinha redonda e entala quando chega o momento de passar a anca. Em outro momento, a câmara focaliza os quadris dela ao dançar com o bilionário, e, para os padrões de hoje, é um escândalo. | ||
21 – 1953 | Como Agarrar um Milionário/How to Marry a Millionaire | |
De Jean Negulesco. Com MM, Lauren Bacall, Betty Grable, Cameron Mitchell, Rory Calhoun, William Powell, Fred Clark. | ||
Nesta comedinha que goza as alpinistas sociais, três moças belas e pobres alugam um apartamento caríssimo em Manhattan e saem à caça de homens ricos. | ||
Marilyn faz Pola, a garota avoada, sonsa, míope a não mais poder, que tem a chance de sair com um playboy internacional, mas acaba se envolvendo com o dono do apartamento em que as três moram. | ||
22 – 1954 | O Rio das Almas Perdidas/River of No Return | |
De Otto Preminger. MM, Robert Mitchum, Tommy Rettig, Rory Calhoun, Murvyn Vye, Douglas Spencer. | ||
O acaso une os caminhos de um fazendeiro e uma cantora de saloon numa região de busca de ouro no velho Noroeste americano. | ||
A Kay Weston de Marilyn canta cinco canções para os mineiros sujos, fedorentos, bêbadas, acompanhando-se ao violão e em roupas decotadas e que deixam as coxas à mostra. É virtuosa como uma professorinha de escola – mas está apaixonado por um mau caráter. | ||
23 – 1954 | O Mundo da Fantasia/There’s No Business Like Show Business | |
De Walter Lang. Com Ethel Merman, Donald O’Connor, MM, Dan Dailey, Johnnie Ray, Mitzi Gaynor, Richard Eastham, Hugh O’Brian, Frank McHugh. | ||
Para que sejam apresentadas 18 canções de Irving Berlin, o filme conta a história de uma família de artistas do vaudeville, no período entre o final da Primeira Guerra Mundial e o final da Segunda – entre 1919 e 1945. | ||
Marilyn faz Vicky Parker, uma aspirante a cantora, que surge na tela quando o filme já está com 30 minutos – e aí todos, na história e na platéia, se apaixonam por ela. | ||
24 – 1955 | O Pecado Mora ao Lado/The Seven Year Itch | |
De Billy Wilder. Com MM, Tom Ewell, Evelyn Keyes, Sonny Tufts, Robert Strauss, Oskar Homolka. | ||
No auge do verão escaldante de Nova York, a mulher e o filho do editor de livros Richard Sherman viajam de férias. Ele fica sozinho em casa – e a loura mais gostosa do mundo chega para uma temporada no apartamento bem em acima do dele. | ||
A loura furacão não tem nome. Não precisa. Para que nome? The Girl passeia com Richard Sherman pelas ruas de Manhattan, ela fica parada em cima de um tubo de ventilação do metrô e seu vestido sobe quando o trem passa lá embaixo, numa das sequências mais icônicas do cinema mundial. | ||
25 – 1956 | Nunca Fui Santa/Bus Stop | |
De Joshua Logan. Com MM, Don Murray), Arthur O’Connell, Betty Field, Eileen Heckart, Robert Bray, Hope Lange, Hans Conried, Max Showalter | ||
“Um cowboy ingênuo mas teimoso se apaixona por uma cantora de saloon e tenta levá-la à força para se casar com ele e viver em seu rancho em Montana.” (Sinopse do IMDb) | ||
Chérie, moça do interiorzão que sonha em ir para Hollywood, é um papel que cai como uma luva para Marilyn. É a perfeita mistura de beleza estonteante, paralisante, com carência afetiva, pureza, inocência, ausência de malícia e uma sensualidade explosiva, irresistível. | ||
26 – 1957 | O Príncipe Encantado/The Prince and the Showgirl | |
De Laurence Olivier. Com MM, Laurence Olivier, Sybil Thorndike, Richard Wattis, Jeremy Spenser, Edmond Knight, Paul Hardwick, Rosamund Greenwood, Aubrey Dexter, Maxine Audley | ||
“Uma dançarina americana se envolve em uma intriga política quando o príncipe regente de um país europeu (fictício) tenta seduzi-la.” (Sinopse do IMDb.) Depois de ter dirigido a si próprio em três tragédias de Shakespeare, o grande Laurence Olivier resolveu fazer comédia. Ele e Marilyn se deram terrivelmente mal. | ||
O que se vê no filme é um história boba, tola, bocó, beirando a idiotice completa – e uma atriz fenomenal, maravilhosa, estupenda, uma comediante em completo domínio de suas habilidades, que paira soberba quilômetros acima do filme bobo em que atua. | ||
27 – 1959 | Quanto Mais Quente Melhor/Some Like it Got | |
De Billy Wilder. Com
MM, Tony Curtis, Jack Lemmon, George Raft, Pat O’Brien, Joe E. Brown, Nehemiah Persoff, Joan Shawlee, Billy Gray, George E. Stone |
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Joe, que finge que é Josephine, finge de volta que é homem para tentar conquistar Sugar Kane. Um músico que não tem onde cair duro finge ser milionário. Um homem que finge ser mulher mas está doido para comer a moça gostosérrima finge que é um homem incapaz de ter tesão. E Jerry, que finge ser Daphne, finge tão completamente que chega a acreditar que é mesmo garota e poderá se casar com o milionário Osgood E. Fielding III. | ||
Marilyn tem uma das melhores interpretações da carreira como essa Sugar Kane, música que achava que seu sonho na vida era um milionário e, na verdade, queria mesmo era um saxofonista de coração bom, mesmo que pobretão. | ||
28 – 1960 | Adorável Pecadora/Let’s Make Love | |
De George Cukor. Com MM, Yves Montand, Tony Randall, Frankie Vaughan, Wilfrid Hyde-White, David Burns, Gene Kelly, Bing Crosby, Milton Berle | ||
“Um milionário ridicularizado em um show da Broadway entra incógnito na trupe. Apaixona-se por uma dançarina, que sucumbe a seu charme. O encontro Marilyn Montand, cercados por Gene Kelly, Bing Crosby, Milton Berle.” (Sinopse do Petit Larousse des Films.) | ||
Mais uma vez, ainda uma vez, Marilyn faz o papel de uma dançarina – motivo para que seja vista com as fabulosas coxas de fora. Sua Amanda Dell no palco é um vulcão de sensualidade, mas fora dele, é uma garota simples, bom caráter, nada fascinada com luxo e riqueza. | ||
29 – 1961 | Os Desajustados/The Misfits | |
De John Huston. Com Clark Gable, MM, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach, James Barton, Kevin McCarthy, Estelle Winwood | ||
Depois de obter seu divórcio em Reno, a capital americana do divórcio rápido, Evelyn, uma mulher solitária, emocionalmente instável, fica conhecendo um grupo de caubóis contemporâneos que caçam cavalos selvagens em Nevada. | ||
Marilyn “nunca tinha trabalhado tão completamente a sua vulnerabilidade” quanto no papel dessa mulher sensível demais e sofrida demais, escreveu Pauline Kael. |
Uma atriz fantástica, um absoluto milagre
A rigor, tudo o que escrevi na abertura, antes da filmografia propriamente dita, é História, é coisa conhecida. Quem gosta de cinema sabe disso – se é que já não está cansado de saber.
Foi muitíssimo divulgado, de todas as maneiras possíveis – na imprensa, nas várias biografias dela, em depoimentos de atores e diretores, em um belo filme sobre um momento de sua vida, Sete Dias com Marilyn (2011) – que era uma pessoa difícil, extremamente difícil. Trabalhar com Marilyn era um horror: ela raríssimamente chegava na hora para as filmagens, tinha terrível dificuldade para decorar as falas, demonstrava imensa insegurança diante de tudo. E, nos últimos anos da vida, aparecia nos sets de filmagem – para a mais profunda irritação do realizador do filme – acompanhada por uma diretora pessoal de atuação.
Dois exemplos ilustram muito bem essa questão toda.
Primeiro, a escolha do parceiro da atriz em Adorável Pecadora.
O filme seria lançado em 1960. Marilyn era inequivocamente a maior estrela de cinema do mundo. No entanto, por um motivo ou outro, diversos astros de grande fama na ocasião não puderam ou não quiseram aceitar o convite para trabalhar ao lado dela: Gregory Peck, Yul Brynner, Cary Grant, Rock Hudson, Charlton Heston e Stephen Boyd
Gregory Peck chegou a ser escalado para fazer o principal papel masculino – mas, segundo afirma o IMDb, ficou irritado com o fato de que o dramaturgo Arthur Miller, então marido de Marilyn, dava umas mexidas no roteiro original de Norman Krasna para aumentar e melhorar o personagem dela, Amanda, e abandonou o projeto.
Em sua biografia, Charlton Heston, outro que estava no auge do auge da carreira, escreveu que a 20th Century Fox ofereceu a ele o papel, mas ele recusou por causa da fama de pouco profissionalismo de Marilyn.
Pode?
Ah, não… Trabalhar ao lado de Marilyn Monroe? Conviver com ela? Estar ao lado dela, ela só de maiô? Quero não…
Pode?
O segundo exemplo:
Nos depoimentos que deu a Hellmuth Karasek, e que formam boa parte do livro Billy Wilder – E o Resto é Loucura, o fantástico cineasta fala longamente dos problemas que teve com a estrela durante as filmagens de O Pecado Mora ao Lado, e depois de Quanto Mais Quente Melhor. Ele conta que, sobre a época do primeiro dos dois filmes, a imprensa reproduziu frases dele tipo: “Antes ela chegava na quinta-feira, quando começávamos a filmar na segunda. Agora ela chega no outono, quando começamos a filmar na primavera.”
“As frases são engraçadas, mas menos engraçadas eram as dores nas costas que eu tinha trabalhando com ela. Em Quanto Mais Quente Melhor isso atingiu um ponto extremo. O que, como diretor, me levava ao completo desespero não era o fato de ela se atrasar ou só conseguir decorar seu texto com dificuldade. É preciso levar em conta e computar tais inseguranças. O que não dá para levar em conta é a insegurança na insegurança. É isso que dá mais trabalho a um diretor. E foi esta certamente a razão de minhas dores nas costas, que me fizeram perder o sono por meses a fio depois de trabalhar com ela, sobretudo depois de Quanto Mais Quente Melhor.”
Havia uma sequência em Quanto Mais Quente Melhor em que Sugar Cane, a personagem de Marilyn, num momento de tristeza, desilusão, deveria bater na porta do quarto de Josephine e Daphne (os papéis de Tony Curtiss e Jack Lemmon, travestidos como mulheres), e, uma vez que um deles abrisse a porta, deveria dizer apenas, enquanto abria um armário: – “Where is the Bourbon?” Onde está o uísque? Quatro palavras apenas.
Marilyn não conseguia fazer a cena.
“Tivemos de fazer essa cena – acreditem – 65 vezes”, disse Billy Wilder. “Gastamos um dia e meio para filmar essa única frase.”
O impressionante, o fantástico, o incrível é que, ao vermos esses filmes todos, em especial os últimos da vida dela, quando já era a maior estrela do cinema mundial e esses problemas todos aconteciam durante as filmagens, não dá para perceber absolutamente nada de problemático, de difícil, de anormal.
O que vemos é uma atriz extraordinária, excelente, maravilhosa.
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Aqueles detalhes sobre os atores que não quiseram trabalhar em Adorável Pecadora e sobre o que Billy Wilder falou a respeito da atriz talvez não sejam tão conhecidos por todos os fãs de Marilyn – mas as informações básicas sobre as dificuldades que ela enfrentava foram exaustivamente divulgadas.
O que me chocou, enquanto preparava esta filmografia aqui, foi a quantidade de coisas que eu não sabia sobre a atriz.
Sou fã de Marilyn há muitas décadas; quando Marilyn morreu, 60 anos atrás, em agosto de 1962, dois cinemas de Belo Horizonte, o Tamoio e o Guarani, fizeram uma retrospectiva com os filmes dela, e o garoto Sérgio Vaz teve a oportunidade de ver sete deles – pela ordem, Os Desajustados, Adorável Pecadora, Torrente de Paixão, O Mundo da Fantasia, Nunca Fui Santa, O Pecado Mora ao Lado, Como Agarrar um Milionário. Ao longo destas seis décadas, vi e revi seus filmes – aqueles da segunda metade da sua filmografia, em que ela tem papéis importantes, em que é atriz, e não uma figurante ou pouco mais que isso.
São muitos os títulos de sua filmografia, os da primeira metade, os feitos até 1952, que são muito difíceis de achar. Dez, para ser exato. Um terço dos filmes em que ela aparece.
Até agora há pouco, eu não sabia, entre muitas outras coisas, que:
* Marilyn fez um filme com Fritz Lang! E nele ela trabalhou ao lado da grande, imensa, maravilhosa Barbara Stanwyck. Chama-se Só a Mulher Peca.
* Marilyn fez filme com os Irmãos Marx! Loucos de Amor é o nome. Conta-se que Groucho Marx contava que os produtores fizeram desfilar diante dele três jovens atrizes iniciantes, para que ele escolhesse uma. Como Grocho não era louco, sabemos quem ele escolheu.
* Então Marilyn teve um papel importante logo em seu terceiro filme, Mentira Salvadora? Nunca soube que entre os primeiros e pouco conhecidos filmes dela havia um em que ela teve papel destacado – e nesse aí, de 1949, ela fazia a filha da personagem central, dançarina como a mãe. Pois é: o filme foi uma produção da Columbia. Na minha cabeça, toda a carreira da atriz havia sido na 20th Century Fox.
* Marilyn fez um filme com Mickey Rooney! O Faísca – esse é o nome do filme em que brilha o ator que, quando garoto, fez par em diversos filmes com outra atriz mirim, Judy Garland… E aí me ocorre: Mickey Rooney, Marilyn Monroe: que destinos mais díspares… Ela viveu 36 anos e fez 29 filmes; ele viveu 93, e sua filmografia tem 345 títulos…
* E então Marilyn fez um filme dirigido por John Sturges, o cara que nos brindaria depois com Conspiração do Silêncio (1955), Sem Lei e Sem Alma (1957), Duelo de Titãs (1959), Sete Homens e um Destino (1960). Por um Amor – um filme sobre o mundo do boxe, isso que é quase um subgênero do cinema americano. Gostaria muito de ver esse filme. Bem, gostaria de ver todos os dez filmes em que Marilyn aparece, no início de sua carreira, e que ainda não tive chance de ver.
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Sobretudo, acima de tudo, no entanto, eu não sabia que a infância de Norma Jeane Mortenson havia sido tão louca, tão desesperadamente infeliz.
Norma Jeane jamais soube quem foi seu pai. Sua mãe era louca, incapaz, e a criança viveu um tempo em um orfanato, e muitos anos com pais adotivos. Tinha 16 anos quando os então pais adotivos a forçaram a se casar.
Meu Deus do céu e também da Terra!
Diante da tragédia horrorosa que foi a infância dessa mulher, todo e qualquer problema que ela tenha demonstrado ao longo da vida é coisa de somenos importância, é coisa mínima, ínfima, menor que a poeira do cocô do cavalo do bandido.
Meu Deus do céu e também da Terra! Que essa moça tenha sido essa atriz tão extraordinária é um absoluto milagre.
Este texto foi sendo escrito ao longo de vários meses, até julho de 2022.
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