Susie e os Baker Boys / The Fabulous Baker Boys

Nota: ★★★½

(Disponível em DVD.)

Quando Michelle Pfeiffer, com aquela beleza absurda dela, canta “Makin’ Whoopee”, em cima do piano de cauda que o personagem de Jeff Bridges está tocando, no salão de um hotel rico, elegante, ela não está apenas cantando, diz Roger Ebert, o crítico de cinema que amava ver filmes. “É o que Rita Hayworth fez em Gilda e Marilyn Monroe fez em Quanto Mais Quente Melhor, e eu não queria que ela parasse.”

Era a noite de Ano Novo, e Frank, o mais velho e mais responsável – para não dizer caretão – dos Baker Boys do título tinha sido obrigado a voltar às pressas para a cidade deles, Seattle, porque um dos filhos havia tido um problema. Frank (o papel de Beau Bridges) deixou instruções rígidas para os outros dois membros da trupe, seu irmão Jack e a cantora Susie – mas as instruções conservadoras, ordeiras, caretas, foram completamente deixadas de lado.

E então, para absoluta surpresa dos casais que lotam o grande restaurante do hotel – e também dos espectadores do filme, é claro –, Susie, em um vestido vermelho vivo de tecido fino, trepa no maravilhoso piano de cauda em que Jack toca, e toca maravilhosamente.

Mas, como diz Roger Ebert, Susie não está meramente cantando “Making Whoopee”, uma canção que já é, em si mesma, bastante safada. Ela está também dançando – e sua coreografia (dirigida especialmente por uma profissional do ramo, Peggy Holmes) é uma das coisas mais belas, provocantes, sensuais que o cinema americano já mostrou nestes últimos 120 e tantos anos.

Susie não está apenas cantando e dançando em cima do piano de cauda – ela está nas preliminares, as foreplay, como eles dizem, do sexo.

Por isso é que Roger Ebert escreveu aquilo: “Whatever she’s doing while she performs that song isn’t merely singing—it’s whatever Rita Hayworth did in Gilda and Marilyn Monroe did in Some Like it Hot, and I didn’t want her to stop”.

Não era apenas Roger Ebert: ninguém queria que ela parasse.

The Fabulous Baker Boys, no Brasil Susie e os Baker Boys, de 1989, escrito e dirigido por Steve Kloves, é uma absoluta maravilha. É um daqueles filmes deliciosos de se ver e rever e rever. Daqueles que merecem, por todos os motivos, o título de um dos novos clássicos de Hollywood.

Sim, um novo clássico. Assim do time de Harry e Sally – Feitos Um para o Outro, de Rob Reiner, sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh, Conduzindo Miss Daisy, de Bruce Beresford, o segundo da trilogia De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis, só para citar uns poucos do mesmo ano de 1989.

É a própria Michelle Pfeiffer que canta

Uma das características simpáticas deste The Fabulous Baker Boys é que Frank e Jack, que havia 15 anos trabalhavam como uma dupla de pianistas em bares e restaurantes de Seattle e cidades próximas, e poucos meses atrás haviam contratado Susie como cantora, são interpretados por dois irmãos na vida real, Beau e Jeff Bridges.

Os dois filhos do ator Lloyd Bridges (1913–1998, nada menos que 216 títulos na filmografia!) tiveram muitas lições de piano, para que os movimentos de suas mãos fossem condizentes com os de pianistas profissionais experientes, treinados. Mas quem toca mesmo o piano de Jack Baker-Jeff Bridges é Dave Grusin, o compositor que assina a trilha sonora do filme; o piano de Frank Baker-Beau Bridges é tocado pelo jazzista Johnny Hammond.

Já a voz de Susie Diamond, a voz maravilhosa, envolvente, gostosa, sensual que encanta de cara os irmãos pianistas depois que eles passaram horas e horas e horas ouvindo 37 cantoras ruins, essa é da própria Michelle Pfeiffer.

Quando a ação começa, os Fabulous Baker Boys, que é como eles se anunciavam, não estavam num momento tão fabuloso assim. Na verdade, a aprovação do público às suas apresentações – dois pianos tocando canções conhecidas, sucessos, como, só para dar dois exemplos, “Feelings” e “The Girl from Ipanema” – estava ficando cada vez menor. Os gerentes das casas noturnas em que eles tocavam havia anos tinham grande simpatia por eles – mas já demonstravam que a dupla não estavam mais satisfazendo à clientela dos bares e restaurantes.

É com absoluta maestria que o diretor Steve Kloves – também autor da história e do roteiro – nos apresenta a situação em que se encontram naquele momento de suas vidas os irmãos Frank e Jack Baker, depois de tocarem juntos por 31 anos, 15 deles profissionalmente.

Não poderia haver dois irmãos mais diferentes um do outro.

Frank, o mais velho, é absolutamente profissional. É quem marca os compromissos, quem administra a agenda do duo, quem combina os pagamentos. Cuida de todos os detalhes das apresentações – a escolha do repertório, a ordem das músicas. É ele que fala com a audiência no início de cada noite, faz um ou outro comentário teoricamente engraçado, bem-humorado, entre uma música e outra.

Não desgosta do que faz. É sua profissão, seu trabalho, e ele executa a tarefa com cuidado, dedicação, com atenção à sua platéia, até com prazer.

Jack é completamente diferente. É visível que Jack faz seu trabalho apenas e exclusivamente porque é sua obrigação, porque precisa ganhar a vida. Não tem prazer algum naquilo – muitíssimo antes ao contrário.

Vamos vendo, à medida em que o filme vai rolando, que musicalmente Jack é o talentoso dos dois irmãos. Frank é um pianista correto – nada mais que isso. Nem sequer isso, dirá Jack, mais tarde.

Jack tem talento mesmo, de verdade. Mas detesta apresentar toda santa noite as mesmas canções, exatamente do mesmo jeito. Gostaria – isso vai ficando cada vez mais evidente ao longo do filme – é de tocar sem o irmão, num bar de jazz, com músicos de jazz, negros, todos amantes do improviso, da soltura, da inventividade.

Mas precisa ganhar dinheiro para pagar as contas. E, no fundo, no fundo, sente que, sem ele, o irmão dificilmente conseguiria ter convites para apresentações. Sem ele, o irmão teria dificuldade para pagar as contas – e, ao contrário de Jack, que é um solteirão convicto, Frank tem esposa e dois filhos para sustentar.

Uma mulher rebelde, insolente – mas que canta bem

Depois que nos apresenta, de maneira brilhante, esses dois personagens quase antípodas, é que o criador e diretor Steve Kloves introduz a terceira personagem. A mulher que, como diz uma das taglines, as frases mercadológicas para vender o filme, chega e muda tudo na vida dos irmãos.

Uma das taglines do filme diz: “Por 31 anos, foram só os Fabulosos Baker Boys… mas os tempos mudam”. A tagline que aparece na capa da edição brasileira do DVD é uma pequena variação desta: “Por 31 anos eles foram os Fabulosos Baker Boys… mas ela mudou isso”.

De fato, Susie Diamond muda tudo.

É Frank que toma a iniciativa de propor a Jack que os dois contratem uma cantora, para atrair mais público às suas apresentações. – “Dois pianos não dão mais, Jack.” E o Baker que detesta o que faz responde de bate-pronto: – “Nunca deram”.

O filme está com uns 12 minutos quando a primeira candidata a cantora dos Fabulous Baker Boys se apresenta – e é uma deliciosa participação especial de Jennifer Tilly (na foto abaixo). A ótima atriz faz uma mocinha chamada Blanche, que tem o nome artístico de Monica Moran, uma vozinha absolutamente taquara rachada e um jeitinho de cantar e se mover enquanto canta que ela crê ser sensual e na verdade é grotesco. Tadinha da personagem, meu Deus – mas Jennifer Tilly dá um show de interpretação.

Depois dela, vemos, numa montagem bem feitíssima, rápidas tomadas das apresentações de umas dez cantoras – todas fraquinhas, fraquinhas.

A sequência do conjunto de más cantoras é um brilho – e, ao rever o filme agora, me lembrei de uma sequência bem semelhante de The Commitments, o maravilhoso filme de Alan Parker sobre um grupo de jovens irlandeses que resolve formar uma banda. Lá também aparecem candidatos e candidatas a cantores, gente dos mais variados tipos, muitos apavorantemente ruins. The Commitments veio dois anos depois deste Susie e os Baker Boys, em 1991. Dá para apostar que Alan Parker viu e reviu atentamente essa sequência do filme de Steve Kloves.

Susie-Michelle Pfeiffer aparece uma hora e meia depois do horário que Frank havia marcado para ouvir candidatas. Aparece quebrando o salto do sapato ao entrar no salão em que estão os dois irmãos, falando palavrões por causa disso, chupando chicletes, com um jeito todo desleixado – e a princípio Frank se recusa a sequer ouvi-la, dando em troca um discurso sobre a importância da pontualidade.

Mas é claro que acabam permitindo que ela cante. Ela canta “More than you know”, de Edward Eliscu, Billy Rose & Vincent Youmans, que meio mundo depois de Billy Holliday já gravou – e em meio minuto já dá para perceber que a mulher é uma belíssima de uma cantora.

Muito longe de ser a profissional aplicada que Frank gostaria de ter cantando com ele e o irmão, é claro. Uma mulher que admite de cara que trabalhava como escort – acompanhante, o termo suave para puta –, xinga sem parar, com todas as atitudes de rebeldia possíveis e imagináveis, que não dá qualquer atenção às formalidades todas – inclusive as que dizem respeito a roupas sóbrias para se apresentar diante de platéias teoricamente educadas, refinadas. Mas a mulher canta bem e encanta as audiências, e aí, o que Frank poderia fazer?

Fica absolutamente claro para o espectador que vai rolar algo entre Jack e Susie. Não se sabe quando – mas que vai, disso não há dúvida alguma.

A primeira vez em que, após uma apresentação, Jack pergunta se ela quer tomar um café, a resposta de Susie-Michelle Pfeiffer é assim: – “Escute aqui, você não vai ficar caidinho por mim, vai? Digo, você não vai começar a sonhar comigo e a acordar todo suado e olhando pra mim como se eu fosse uma princesa na hora em que eu arrotar, né?”

Mais de uma hora de filme e duas trepadas depois, ao fim de uma discussão duríssima entre os dois, Jack dirá para ela: – “Não sabia que as putas eram tão filosóficas.”

Uma garotinha sensível, inteligente e solitária

Nessa bela, rica, envolvente história de três personagens muitíssimo bem construídos por Steve Kloves e muitíssimo bem interpretados pelo trio Jeff Bridges, Michelle Pfeffer e Beau Bridges, há uma coadjuvante que é uma espécie de cereja do bolo. É o detalhe que confirma como tudo neste filme é acerto, qualidade. É uma garotinha aí de uns 12 anos de idade, chamada Nina, e interpretada – com brilho – por Ellie Raab.

Nina mora no apartamento acima do de Jack Baker, com a mãe solteira. Não há qualquer referência ao pai – muito provavelmente a garota nunca o conheceu. A mãe tem muitos namorados, e Nina costuma sair de casa para deixar a mãe com o namorado da vez. Ela e Jack se tornaram bons amigos – e Nina adquiriu o costume de entrar no apartamento dele pela janela da sala, vindo pela escada externa do prédio. Às vezes Jack ensina um pouco de piano para a garota, que cuida muito bem de Eddie, o labrador bem velhinho do pianista.

Nina é, com toda a certeza, a pessoa mais próxima de Jack, esse músico talentoso e frustrado que detesta o tipo de música que toca. É a maior amiga desse sujeito solitário – e ele seguramente é o maior amigo da garotinha doce, inteligente, sensível, mas absolutamente abandonada no mundo.

Nina é exemplo dramático daquela coisa de que sempre falo: para ter o direito de ser pai ou mãe, as pessoas tinham que passar por exames duros, sérios, para provar que terão competência de encarar o desafio. A mãe de Nina – de quem apenas ouvimos a voz, em uma sequência – é a prova cabal de que há pessoas que deveriam ser proibidas de ter filhos.

Atores recusaram os papéis, um diretor desistiu…

Steve Kloves, o autor, roteirista e diretor deste belo filme é texano de Austin, de 1960. É dificílimo acreditar, porque parece um absoluto veterano, mas este aqui foi o primeiro filme que dirigiu. O primeiro de apenas dois: em 1993 dirigiria A Força de um Passado/Flesh and Bone, também roteiro original dele, um belo filme, drama pesado, com Dennis Quaid e Meg Ryan, que à época estavam casados.

Ele emprega seu talento é mesmo na criação de histórias e de roteiros. É dele, por exemplo, o roteiro de Garotos Incríveis/Wonder Boys, o excelente filme que Curtis Hanson lançou em 2000, com Michael Douglas, Frances McDormand, o jovem Tobey Maguire e uma canção feita especialmente para a obra por Bob Dylan, “Things Have Changed”, que levaria o Oscar de melhor canção.

Logo depois de fazer o roteiro daquele drama adulto, baseado em romance de Michael Chabon, Steve Kloves mergulhou de cabeça na saga Harry Potter: farias os roteiro de sete dos oito filmes baseados nos romances de J.K. Rowlings sobre o bruxinho, de Harry Potter e a Pedra Filosofal, de 2001, até Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, de 2011. Fez um trabalho excelente, excepcional, extraordinário.

The Fabulous Baker Boys teve uma história de vida – gosto de usar essa expressão para os filmes – tão conturbada quanto as relações entre Frank e Jack e entre Jack e Susie. Consta que Madonna teria sido sondada para fazer o papel de Susie, e recusado alegando que a história era muito “mushy” – molenga, sem consistência. E que os irmãos Dennis e Randy Quaid foram procurados para fazer os dois irmãos, e recusaram.

A Warner Bros. demonstrou interesse em filmar a história criada por Steve Kloves, e o estúdio escolheu George Roy Hill – o bom diretor dos sucessos Butch Cassidy (1969) e Golpe de Mestre (1973), ambos com Paul Newman e Robert Redford. George Roy Hill chegou a trabalhar durante algumas semanas com Steve Kloves – mas eles se desentenderam, e o diretor abandonou o projeto.

Segundo o IMDb informa, o filme acabou sendo feito pelo próprio Steve Kloves, e da maneira com que ele desejou, graças a Sydney Pollack, que assumiu o cargo de produtor executivo e garantiu que o criador da história tivesse plena liberdade.

Pelo que dá para entender, o filme foi realizado por produtoras independentes, fora dos grandes estúdios. Depois que ele ficou pronto, arranjou-se que a 20th Century Fox se encarregaria da distribuição nos Estados Unidos. E os executivos da Fox decidiram fazer um lançamento em pequena escala, como se fosse um filme sem chance de sucesso comercial. Foi exibido a partir de setembro de 1989 em apenas 800 salas de cinema no país inteiro – o que era muito pouco para uma produção que, afinal de contas, tinha dois astros conhecidos e uma estrela que estava no auge, após uma belíssima série de filme.

As sessões dos filmes nos cinemas de Nova York, Chicago e Los Angeles ficavam absolutamente cheias, graças basicamente à divulgação boca a boca. O executivo da Fox encarregado do marketing e distribuição chegou a admitir para Steve Kloves que o estúdio havia errado em não dar a ele um tratamento melhor, com lançamento com mais propaganda e em circuito maior.

Os executivos da Fox devem ter ficado absolutamente envergonhados quando saíram as indicações ao Oscar e o filme recebeu quatro – melhor atriz para Michelle Pfeiffer, melhor fotografia para Michael Ballhaus, melhor montagem para William Steinkamp e melhor trilha sonora para Dave Grusin. Grusin e Michelle receberam também indicações ao Bafta, o maior prêmio britânico.

O Petit Larousse des Filmes diz o seguinte sobre Susie et les Baker Boys, depois de um parágrafo de sinopse: “A vida cotidiana desses músicos itinerantes não é exaltante; tem até alguma coisa de irrisória e de lamentável. No entanto, a carga de humanidade que o realizador (um estreante) introduziu nessa descrição a deixa excitante. É preciso dizer que os irmãos Bridges fazem maravilhosamente os irmãos Baker (ternura, cumplicidade) e que Michelle Pfeiffer é uma Susie extraordinária.”

Que fase vivia essa atriz deslumbrante

Sim, Michelle Pfeiffer está extraordinária. Michelle Pfeiffer excede. Michelle Pfeiffer merece todos os superlativos positivos que houver.

O grande Roger Ebert cita duas estrelas superlativas, Rita Hayworth e Marilyn Monroe – esta última talvez a estrela mais superlativa de todas as que já houve. Andei mexendo muito com os filmes de Marilyn nas últimas semanas, para fazer o post com a filmografia dela – queria que o post estivesse pronto em agosto de 2022, quando se completavam 60 anos de sua morte.

Depois de rever agora Susie e os Baker Boys para escrever esta anotação, com a cabeça ainda cheia de Marilyn, vi que o grande crítico tem toda razão em fazer o paralelo de Michelle com a estrela.

Michelle Pfeiffer estava de fato numa fase gloriosa, na época em que fez este belo filme aqui. Meu, quanto filme bom ela fez ali naquele final de anos 80, começo dos 90… E como estava absolutamente, deslumbrantemente, loucamente linda, e esbanjava charme, elegância, glamour – e sensualidade, quando queria. O Feitiço de Áquila (1985). As Bruxas de Eastwick (1987). Ligações Perigosas (1988). Este Susie e os Baker Boys (1989). A Casa da Rússia (1990). Frankie & Johnny (1991). A Época da Inocência (1993).

Ô louco, meu!

Leonard Maltin deu apenas 2.5 estrelas em 4 para este belo filme aqui: “A parceria de 15 anos de dois irmãos tocando piano em nightclubs fica estremecida pela adição de uma cantora mal-humorada (e sexy), que provoca mudanças no trabalho e na relação deles. A estréia na direção do roteirista Kloves é estilosa e segura, com algumas grandes cenas, mas ela tem problemas na história – nunca se revela o personagem sombrio de Jeff Bridges. Os irmãos Bridge foram muito bem escolhidos, e Pfeiffer é ideal. Sua fumegante interpretação de “Makin’ Whoopee” em cima de um piano já é considerado um clássico menor.”

Ai, ai… Há vezes em que não concordo com coisa alguma do que Maltin diz. A história é toda redonda, tudo é bem engendrado, o personagem sombrio de Jeff Bridges é absolutamente bem construído – e a a interpretação de Michelle cantando “Makin’ Whoopee” não tem nada, mas nada, mas absolutamente nada de menor.

Roger Ebert dá ao filme 3.5 estrelas em 4, e o trata com o respeito que ele merece. Os textos de Ebert são grandes, e então vou transcrever apenas dois trechos.

The Fabulous Baker Boys é uma nova versão da velha fórmula de show-biz sobre velhos parceiros cuja relação é ameaçada quando um deles se apaixona pela nova e sexy cantora. Young Man with a Horn (no Brasil Êxito Fugaz) é uma versão desse material, assim como vários outros filmes, mas raramente com um elenco tão intrigante e uma mão tão segura com o material. Há provavelmente alguma verdade autobiográfica sob a rivalidade dos irmãos Bridges, velhas feridas dos 20 anos em que eles vêm atuando no cinema. E Pfeiffer simplesmente tem um dos papéis de uma vida como a call girl cara que quer se tornar uma cantora de nightclub com salário baixo.       “

E mais adiante:

The Fabulous Baker Boys não faz nada muito original, mas o que ele faz, faz maravilhosamente bem. Foi escrito e dirigido por um estreante, Steve Koves, e mesmo que o roteiro dependa de fórmulas, nós começamos a esquecer isso: nós começamos a gostar daquelas pessoas, especialmente quando a relação entre os irmãos se volta para dentro e eles começam a olhar com mais atenção para o que ambos realmente querem da vida.

“Este é um dos filmes que serão usados como um documento, daqui a muitos anos, quando começarem a traçar os passos pelos quais Michelle Pfeiffer se tornou uma grande estrela. Não posso dizer que eu reparei sua presença única na tela em seu primeiro filme, que foi, creio, Grease 2…”

Ahnn… Na verdade, Grease 2: Os Tempos da Brilhantina Voltaram (1982) não foi o primeiro filme da deusa. A filmografia dela tem 11 títulos antes dele – a maior parte séries e filmes para a TV.

“Não posso dizer que eu reparei sua presença única na tela em seu primeiro filme, que foi, creio, Grease 2, mas certamente na época em que ela fez Ladyhawke (O Feitiço de Áquila), Tequila Sunrise (Conspiração Tequila), Dangerous Liaisons (Ligações Perigosas) e Married to the Mob (De Caso com a Máfia), alguma coisa estava acontecendo, e este aqui é o filme da sua floração – não apenas como uma mulher bela, mas como uma atriz com a habilidade de fazer você gostar dela, de fazer você sentir o que ela sente. Todas essas qualidades estão aqui neste filme, e assim é a sequência de “Makin’ Whoopee”, que eu consigo elogiar adicionando-a a uma lista curta: seja o que for que está fazendo enquanto apresenta aquela canção, ela não está meramente cantando. É o que Rita Hayworth fez em Gilda e Marilyn Monroe fez em Quanto Mais Quente Melhor, e eu não queria que ela parasse.”

É exatamente isso.

Quando eu crescer, gostaria de escrever como Roger Ebert. Mas até lá, gostaria de ver e rever os filmes com Michelle Pfeiffer.

Anotação em julho de 2022

Susie e os Baker Boys/The Fabulous Baker Boys

De Steve Kloves, EUA, 1989

Com Jeff Bridges (Jack Baker),

Michelle Pfeiffer (Susie Diamond),

Beau Bridges (Frank Baker)

e Ellie Raab (Nina, a garotinha vizinha de Jack), Xander Berkeley (Lloyd),

Dakin Matthews (Charlie), Jennifer Tilly (Monica Moran, a primeira das cantoras ruins), Ken Lerner (Ray), Albert Hall (Henry), Terri Treas (a moça na cama), Gregory Itzin (Vince Nancy), Bradford English (Earl), David Coburn (o rapaz no veterinário), Todd Jeffries (Theo), Stuart Nisbet (o veterinário)    

e, como as cantoras ruins, Martina Finch, Winifred Freedman, Wendy Goldman, Karen Hartman, D.D. Howard, Lisa Raggio, Vickilyn Reynolds, Krisie Spear, Carole White

Argumento e roteiro Steve Kloves

Fotografia Michael Bsallhaus

Música Dave Grusin

Montagem William Steinkamp

Casting Wallis Nicita

Desenho de produção Jeffrey Townsend

Figurinos Lisa Jensen

Coreografia em “Makin’ Whoopee” Peggy Holmes

Produtor executivo Sydney Pollack. Produção Mark Rosenberg,

Paula Weinstein. Gladden Entertainment, Mirage, Tobis. Distribuiição 20th Century Fox.

Cor, 113 min (1h53)

R, ***1/2

3 Comentários para “Susie e os Baker Boys / The Fabulous Baker Boys”

  1. Esse filme é uma obra prima. Uma joia muito bem lapidada. Não canso de rever. Se repararmos bem, Jack deixa de ser sombrio após se libertar da rotina com seu irmão. E tenta, realmente ser melhor. Na última cena percebemos o quanto ele está mais leve e muito mais amável com Susie. Assim como, um pouco antes, ele se desculpa com Nina. São os detalhes sutis e delicados do filme, assim como as notas musicais.

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