O poeta é um fingidor. Claro, a gente sabe disso, o poeta nos contou. Agora, tão fingidores quando o poeta, ou talvez até mais ainda, são os personagens dos filmes de Billy Wilder.
Joe – o papel de Tony Curtis – finge que é Josephine, assim como seu amigo e parceiro Jerry – o papel de Jack Lemmon – finge ser Daphne.
Já tinha havido filmes em que homens se travestiam de mulheres antes de Quanto Mais Quente Melhor/Some Like it Hot, a obra-prima que Billy Wilder lançou em 1959. Já comentei aqui, por exemplo, sobre Levada da Breca/Bringing up Baby, de 1938, e A Noiva Era Ele/I Was a Male War Bride, de 1949, ambos de Howard Hawks, ambos em que Cary Grant aparece travestido de mulher.
Então este Some Like it Hot não é propriamente um pioneiro entre os filmes em que homens fingem ser mulheres. Mas, diabo, Tony Curtis e Jack Lemmon travestidos como Josephine e Daphne, ao longo de boa parte das 2 horas de duração dessa comédia deliciosa, fez história. Não sei se é, mas deveria ser um marco para a turma do LGBTIYZKLM+.
Mas não é só esse fingimento que existe no filme.
Joe, que finge que é Josephine, finge de volta que é homem para tentar conquistar Sugar Kane, cana de açúcar – o papel de Marilyn Monroe, naquele que seria seu antepenúltimo filme. Um músico que não tem onde cair duro finge ser milionário. Um homem que finge ser mulher mas está doido para comer a moça gostosérrima finge que é um homem incapaz de ter tesão.
E Jerry, que finge ser Daphne, finge tão completamente que chega a acreditar que é mesmo garota e poderá se casar com o milionário Osgood E. Fielding III (Joe E. Brown). Para, ao final, quando pára de fingir, demonstrar que Osgood E. Fielding III talvez não estivesse fingindo coisa alguma.
Ah, sim: Sugar Kane fingia que tudo que queria na vida era um milionário. Na verdade, queria mesmo era um saxofonista de coração bom, mesmo que pobretão.
E o esquema todo de Spats Columbo, o gângster interpretado por George Raft, o ator que mais fez papel de gângster na História do cinema, finge que o bar-boate em que, no meio da louca, insana Prohibition, Lei Seca, o povo enche a cara e tenta ficar feliz – ou pelo menos fingir que está feliz – é um local de realização de funerais.
Quanto Mais Quente Melhor é, como boa parte da obra de Billy Wilder, uma imensa, deliciosa brincadeira em que todos fingem ser o que não são.
Fingimento, sarcasmo e anticaretice
Antes de falar especificamente do filme, quero lembrar outros fingimentos nos filmes do diretor genial.
Em Beije-me, Idiota (1964), as personagens de Kim Novak e Felicia Farr fingem ser o que não são: a puta tem seu dia de dona-de-casa, e a dona-de-casa tem seu dia de puta.
Em A Incrível Suzana/The Major and the Minor (1942), a estréia de Wilder na direção, o personagem de Ginger Rogers, uma mulher bem adulta, finge ser criança.
Em Irma La Douce (1963), o policial parisiense interpretado por Jack Lemmon finge ser cafetão, que por sua vez finge ser um inglês milionário.
Em Testemunha de Acusação (1957), o personagem de Marlene Dietrich finge, num momento de clímax da história, ser puta.
Em Uma Loura por um Milhão/The Fortune Cookie, o personagem de Jack Lemmon finge estar paraplégico.
O fingimento é mesmo uma das características fundamentais dos filmes desse austro-húngaro que começou como jornalista em Viena e Berlim, tornou-se roteirista do cinema alemão e, como tantos outros talentos, fugiu do nazismo em ascensão e foi parar em Hollywood, a Meca de quem faz cinema.
O fingimento – assim como um sarcasmo forte contra a moralidade burguesa e uma elegia à quebra das regras comportamentais dos caretas.
Dois barbados numa orquestra feminina
Vou roubar a boa, correta e até detalhada sinopse do livro Le Petit Larousse des Films. Vai sem aspas, para me desobrigar de ser literal e permitir que acrescente uma ou outra coisinha:
Em Chicago, em plena Lei Seca (um letreiro avisa logo: “Chicago, 1929”), dois músicos de jazz, Joe e Jerry (Tony Curtis e Jack Lemmon, respectivamente), assistem por acaso a um massacre entre gângsteres. O responsável pela matança, Spats Colombo (George Raft), quer, naturalmente, se livrar daquelas testemunhas. Para escapar, os músicos aceitam se vestir como mulheres para participar de uma orquestra totalmente feminina que está de partida para uma série de apresentações na Flórida. E é assim que eles se vêem em um trem rumo a Miami, rebatizados como Josephine e Daphne. Os dois se interessam imediatamente por Sugar, que toca ukelele e canta na orquestra comandada por Sweet Sue (Joan Shawlee). Como poderia ser diferente, se Sugar vem na pele e no corpo de Marilyn Monroe?
Sugar sonha encontrar um milionário em Miami e se casar com ele. Joe então se faz passar por nada menos que o herdeiro da Shell, e, para atrair ainda mais o interesse de Sugar, finge ter sua virilidade fraquejante. Ele finge possuir um belo iate, que pertence ao milionário Osgood Fielding III, que por sua vez se mostra atraído por Daphne. Tudo se complica bastante quando gângsteres de todo o país se reúnem para um congresso no mesmo hotel em que as moças da orquestra estão hospedadas – inclusive, é claro, Spats Colombo.
A história já havia sido filmada na França e na Alemanha
Billy Wilder assina o roteiro de Some Like It Hot juntamente com seu colaborador de vários anos, I.A.L. Diamond. Nos créditos iniciais é dito que o roteiro foi “sugerido por uma história de Robert Thoeren e Michael Logan” – o que indica que Wilder e Diamond usaram alguns elementos apenas da história original, e criaram bastante a partir dela.
A história desses dois autores, Robert Thoeren e Michael Logan, já havia dado origem a dois filmes, um francês e um alemão, ambos com o mesmo título em suas respectivas línguas – Fanfare d’amour, de 1935, e Fanfaren der Liebe, de 1951. Naturalmente, nunca soube disso, como provavelmente a maior parte dos fãs de Some Like It Hot. É o próprio Billy Wilder que fala sobre esses dois filmes, no livro Billy Wilder – E o Resto é Loucura, do crítico, pesquisador e professor alemão Hellmuth Karasek.
Vejo agora que os dois filmes estão no IMDb, o site enciclopédico que tem absolutamente tudo. Os nomes do diretor e dos atores de Fanfare d’amour não me dizem nada, mas está lá a sinopse: “Dois músicos desempregados se vestem como mulheres para serem contratados por uma orquestra só de mulheres, ‘Tulips from Holland’; eles se apaixonam por duas instrumentistas belíssimas”. Tampouco reconheço qualquer nome do filme alemão, mas aparentemente ele chegou a ser exibido comercialmente no Brasil, como título de Ritmos de Amor. A sinopse do IMDb diz: “Dois músicos sem trabalho se põem drag para trabalhar em uma banda só de mulheres. Seguem-se inevitáveis complicações românticas cômicas”.
Diacho: isso em 1951! Apenas oito anos antes de Billy Wilder fazer o seu filme! É estranho que esse fato seja pouco conhecido…
“O filme alemão se passa na época do desemprego na Alemanha e trata de dois músicos que se disfarçam para arranjar trabalho”, conta Wilder no livro de Hellmuth Karasek. ”Ora se vestem como moças, para poder tocar numa orquestra feminina; ora se pintam de preto para poder tocar, como negros, numa banda de jazz; ora põem uniformes para tocar numa banda popular bávara.”
Wilder prossegue: “O que decidiu tudo para nós foi nosso principal achado, ou melhor, nossos dois melhores achados: transpusemos o filme para os anos 20 em Chicago, portanto para um período ‘histórico’ que ainda estava bastante próximo para podermos apresentar como atuais o modo de falar, o procedimento e as idéias dos atores; mas esse período, como época da proibição da bebida e da guerra dos gângsteres, estava suficientemente longe para ser interessante apenas como reconstituição histórica. Podíamos fazer referências ao começo do cinema sonoro por meio do vestuário.
“O segundo pressuposto foi o seguinte: fizemos os heróis testemunhas do massacre no Dia de São Valentim, em 1929 – uma vendetta sanguinária entre os gângsteres de Chicago, que marcou profundamente a consciência americana também porque a terrível chacina ocorreu no Dia de São Valentim, data em que se festeja o Dia dos Namorados. O produtor David O. Selznick, de quem eu era amigo, apenas balançou ceticamente a cabeça quando lhe contei que minha mascarada começaria com o massacre em Chicago, e advertiu-me: aquele banho de sangue não era adequado para começar comédia alguma, e lançaria uma sombra sobre todo o filme, tornando-o insustentável. Felizmente ele não tinha razão.
“Pois eu precisava daquele pressuposto: de que outro modo poderia obrigar dois homens a se manterem disfarçados de mulher durante um filme inteiro – a não ser colocando-os em pânico diante da ameaça de morte, porque eram as únicas testemunhas do massacre que poderiam trazer risco de vida aos gângsteres? Devido a essa razão, por mais apaixonados que os dois estivessem, não poderiam voltar à sua verdadeira identidade. Se tudo não passasse de uma brincadeira apenas para que encontrassem trabalho – a todo instante poderiam arrancar os vestidos dos corpos e explicar quem de fato eram. Somente daquela maneira a comédia teria a necessária coerção. Então foi, como disse, a decisão mais importante.”
Tem toda razão Billy Wilder. O medo de serem descobertos pelos gângsteres obriga os pobres Joe e Jerry a se manterem em seus trajes femininos o tempo todo. Não pensei sobre isso enquanto via o filme, pela quarta vez (tinha visto, conforme chequei depois, em 1967, 1989 e 2002), mas tem todo o sentido. Toda lógica.
Uma ode ao próprio cinema americano
O fato é que, ao colocar a ação acontecendo a partir de Chicago, em 1929, Wilder e Diamond de fato abriram várias perspectivas para seu filme, como ele explicou no trecho que transcrevi aí.
Além de contar uma história interessante, cheia de situações hilariantes – o ritmo é impressionante, há uma piada nova a cada nova sequência –, Quanto Mais Quente Melhor funciona também como uma ode ao próprio cinema americano. Há homenagens aos velhos musicais, em números com orquestras e dançarinas. Marilyn brinda os espectadores cantando duas canções – “I Wanna Be Loved By You” e “I’m Thru With Love” – com sua voz pequena mas absolutamente cheia de sensualidade.
Há homenagens aos filmes de gãngster, que foram produzidos às dezenas a partir dos anos 30. E também às comédias das primeiras décadas do século XX.
O verbete do Guide des Films de Jean Tulard sobre Certains l’aiment Chaud, que é o título do filme na França, fala com absoluta propriedade sobre isso. “O filme não poderia ser mais característico do jeito de Wilder; ele lida com o escárnio como um cirurgião maneja o bisturi, que certamente corta, mas com precisão e amor. Paródia dos burlescos do cinema mudo (de Chicago a Miami, o filme se resume a uma perseguição amalucada), dos filmes de gângster dos anos 30 (a evocação do massacre de São Valentim, a utilização de atores que participaram deles, como George Raft, Pat O’Brien e Edward G. Robinson, aqui representado por seu filho), do jazz quente (a orquestra feminina), Certains l’aiment Chaud esconde sob seu tom gozador uma homenagem a todos aqueles gêneros hollywoodianos de que se alimentou Wilder. Mas onde o realizador se revela o mais pessoal é no domínio do sexo e do erotismo. Sabe-se que o erotismo perturba sempre o excitado Wilder: basta lembrar de Ginger Rogers, que, em Uniformes et Jupons Court (no Brasil A Incrível Suzana) se fantasiava de adolescente e perturbava o digno comandante de uma escola de cadetes! Em Certains l’aiment Chaud, esse danadinho desse Billy, não contente de disfarçar seus homens como mulheres (efeito cômico garantido), dá um jeito de põr seus travestis nas situações mais confusas: colocados em uma orquestra feminina, eles são constrangidos (às vezes com imensa alegria) a conviver na maior intimidade com as mulheres – tendo que dissimular o que sentem diante daquele sex-appeal involuntário, e enfrentar a tentativa de sedução de homens…”
E o Guide – que, claro, dá a cotação máxima de quatro estrelas ao filme – conclui assim sua avaliação: “Como encarnação da feminilidade, Wilder escolhe a incomparável Marilyn Monroe no papel de loura sensual pseudo-estúpida mas maravilhosa, de um erotismo natural, cândido, que apenas ela consegue exibir. Uma obra-prima em seu gênero.”
Marilyn, ah, Marilyn…
Que Gilda, que nada: nunca houve uma mulher como Marilyn!
A primeira sequência em que ela aparece já valeria o filme.
Joe e Jerry, quer dizer, Josephine e Daphne estão parados, de pé, na plataforma da estação, junto do trem que levará a orquestra só de mulheres dali de Chicago até Miami – uma viagem muito, mais muito longa. Daphne (o papel de Jack Lemmon, repito) está reclamando de tudo daquela situação ridícula, os dois vestidos de mulher, pisando em saltos altos – “Como elas conseguem se equilibrar nestas coisas?”, ele reclama.
De repente, passa por eles a moça que se chama – saberemos logo – Sugar Cane. Passa por eles e segue em frente, os saltos altos batendo no cimento da plataforma, e aquela bunda de Marilyn Monroe se mexendo do jeito que tantas canções de Dorival Caymmi falam das mulheres se mexendo enquanto caminham, dançam ou até cozinham.
As expressões de Jack Lemmon e Tony Curtis diante daquela sinfonia, daquele balé majestoso são de matar a gente de rir.
Aí, lá adiante, um dos vagões solta um bafo de ar quente, gás, ou seja lá o que for, bem no momento em que Sugar-Marilyn está naquele exato lugar – e ela faz uma ginga de Garrincha para escapar do sopro do ar quente.
Jack Lemmon, um dos maiores comediantes do cinema americano de todos os tempos, com aquela cara de Jerry travestido de Daphne, exclama algo mais ou menos assim: – “Olhe só uma coisa destas! Veja como ela se mexe! É como gelatina em cima de louça! Deve ter algum tipo de motor interno, ou coisa parecida! Vou te contar, é um sexo totalmente diferente”.
Marilyn provocou terríveis dores nas costas do diretor
Billy Wilder já havia dirigido Marilyn quatro anos antes, em O Pecado Mora ao Lado/The Seven Year Itch. Naquele ano de 1955, Marilyn já era a mais famosa estrela do cinema americano – mas a cada novo filme, a cada ano que se passava, a atriz ficava mais problemática para os diretores. Tomava remédios demais, jamais chegava na hora certa para as filmagens. Demonstrava uma gigantesca insegurança. Tinha dificuldade imensa de decorar as falas – e, na época das filmagens de Some Like It Hot, carregava a tiracolo uma personal, uma professora de arte dramática indicada por Lee Strasberg, então o chefe do Actos Studio. Depois de cada tomada, consultava a personal para saber se havia atuado direito – o que, obviamente, deixava o diretor do filme enfurecido.
Nos depoimentos que deu a Hellmuth Karasek, e que formam boa parte do livro Billy Wilder – E o Resto é Loucura, o cineasta fala longamente dos problemas que teve com a estrela durante as filmagens de O Pecado Mora ao Lado, e depois de Quanto Mais Quente Melhor. Ele conta que, sobre a época do primeiro dos dois filmes, a imprensa reproduziu frases dele tipo: “Antes ela chegava na quinta-feira, quando começávamos a filmar na segunda. Agora ela chega no outono, quando começamos a filmar na primavera.”
“As frases são engraçadas, mas menos engraçadas eram as dores nas costas que eu tinha trabalhando com ela. Em Quanto Mais Quente Melhor isso atingiu um ponto extremo. O que, como diretor, me levava ao completo desespero não era o fato de ela se atrasar ou só conseguir decorar seu texto com dificuldade. É preciso levar em conta e computar tais inseguranças. O que não dá para levar em conta é a insegurança na insegurança. É isso que dá mais trabalho a um diretor. E foi esta certamente a razão de minhas dores nas costas, que me fizeram perder o sono por meses a fio depois de trabalhar com ela, sobretudo depois de Quanto Mais Quente Melhor.”
E em seguida Wilder relata dois exemplos disso que ele estava dizendo – duas sequências do filme. Uma é a do primeiro encontro de Sugar com Joe-Josephine-Tony Curtis fantasiado de bilionário, na praia. “Uma cena externa complicada, com muitos diálogos”, define ele. “Pensei comigo que, dada a indisciplina dela e a insegurança com o texto, e tendo em vista a complexidade da tomada, precisaria de quatro dias até ter a cena do jeito que eu queria. Nem sinal disso. Ela interpretou o texto impecavelmente, sem nenhum erro. Tínhamos conseguido na primeira tentativa, embora se tratasse de quase duas páginas de puro diálogo. Em vez de quatro dias, a filmagem da cena não durou nem vinte minutos.”
E no entanto…
Havia uma outra sequência que era bem mais simples do que essa. Sugar, num momento de tristeza, desilusão, deveria bater na porta do quarto de Josephine e Daphne, e, uma vez que um deles abrisse a porta, deveria dizer apenas, enquanto abria um armário: – “Where is the Bourbon?” Onde está o uísque? Quatro palavras apenas.
Marilyn não conseguia fazer a cena.
“Tivemos de fazer essa cena – acreditem – 65 vezes. (…) Gastamos um dia e meio para filmar essa única frase.”
É uma coisa mágica o tal do cinema. Um milagre, uma magia. Quando a gente vê Quanto Mais Quente Melhor – e eu vi agora, como já disse, pela quarta vez –, é absolutamente impossível imaginar que as filmagens tenham tido esses problemas, que Marilyn tivesse dias assim, que chegasse sempre atrasada, e sempre acompanhada da personal coach, ou fosse o raio de nome que se desse à sua diretora dramática exclusiva do Actors Studio.
E que o pobre diretor sofresse de terríveis dores nas costas.
Previam que o filme seria um fracasso…
Quanto Mais Quente Melhor teve seis indicações ao Oscar: melhor direção, melhor ator para Jack Lemmon, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia em preto-e-branco, melhor direção de arte em preto-e-branco, melhor figurino. Acabou só levando a estatueta desta última categoria.
Levou três Globos de Ouro – melhor filme, melhor ator para Jack Lemmon e melhor atriz para Marilyn no gênero comédia. E Jack Lemmon ainda levou o Bafta de melhor ator em filme não britânico.
Diz o livro 501 Must-See Movies: “Nada em Some Like It Hot – um dos filmes favoritos das audiências de todos os tempos – falha. Apesar de todos os problemas que foram divulgados sobre trabalhar com uma ‘atordoada e confusa’ Marilyn, o resultado é soberbo. Wilder consegue até ficar Shakespeareano, apresentando Sugar e Junior como em uma comédia de classe, e Daphne e Osgood como seus palhaços. O melhor filme drag até Tootsie (1982).”
O livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer fala da decisão de Wilder de – contra todas as sugestões dos colegas em Hollywood – fazer o filme em preto-e-branco. Tomou a decisão, diz o livro, “não apenas para reforçar a época em que a ação se passa como para, astuciosamente, esconder a maquilagem dos homens. A transformação deles é supreendentemente engraçada, mas imaginada em Technicolor seria grotesca demais. Os especialistas da indústria previram que a obra seria um fracasso por quebrar várias das regras tradicionais da comédia (a história parte de um terrível massacre, apenas metade do roteiro estava escrito quando as filmagens começaram e o filme tem duas horas de duração), mas o ele conquistou o público e foi considerado pelo American Film Institute a melhor comédia de todos os tempos.”
“Will you look at that! Look how she moves!”
É. Quanto Mais Quente Melhor é uma absoluta delícia.
Anotação em novembro de 2020
Quanto Mais Quente Melhor/Some Like it Hot
De Billy Wilder, EUA 1959
Com Marilyn Monroe (Sugar Kane),
Tony Curtis (Joe/Josephine/Shell Jr.),
Jack Lemmon (Jerry/Daphne)
e George Raft (Spats Columbo), Pat O’Brien (Mulligan), Joe E. Brown (Osgood E. Fielding III), Nehemiah Persoff (Little Bonaparte), Joan Shawlee (Sweet Sue, a chefe da orquestra de moças), Billy Gray (Sig Poliakoff, o agente de músicos), George E. Stone (Toothpick Charlie, o bandido que deda Spats Columbo), Dave Barry (Beinstock), Mike Mazurki (capanga de Spats), Harry Wilson (capanga de Spats), Beverly Wills (Dolores), Barbara Drew (Nellie), Edward G. Robinson Jr (Johnny Paradise)
Roteiro Billy Wilder e I.A.L. Diamond
“Sugerido por uma história de Robert Thoeren e Michael Logan
Fotografia Charles Lang
Música Adolph Deutsch
Montagem Arthur P. Schmidt
Casting Phil Benjamin
Produção Billy Wilder, Ashton Productions, The Mirisch Corporation, distribuição United Artists. DVD MGM.P&B, 119 min (1h59)
Disponível em DVD.
R, ****
Título na França: Certains l’aiment Chaud. Na Itália: A Qualcuno Piace Caldo
Como eu amo esse filme, não consigo entender até hoje que o Jack Lemmon, não tenha levado o Ocar por esse filme. Eu não sei se verdade ou não mas dizem que o diretor Billy Wilder, depois de tanto questionamentos sobre os atrasos de Marilyn durante as filmagens, ele teria dito: “Sim, ela atrasa, é verdade. Já eu tenho uma tia que nunca atrasa, mas ninguém pagaria um centavo para vê-la numa tela”. A observação diz muito sobre o estilo de Wilder, irônico ao extremo e capaz de manter sempre um distanciamento de seus personagens. Billy Wilder era demais.
Adoro o fato de Tony Curtis ter imitado Cary Grant quando fez o milionário. Do sotaque, modo de falar, de vestir até a linguagem corporal, Tony falou que tentou replicar Cary e é bem notório.