(Disponível na Franciellen Taynara do YouTube em 12/2024.)
A maravilhosa, extraordinária Barbara Stanwyck tinha apenas 25 anos mas já era uma estrela em ascensão em 1932, quando foi lançado Shopworn, no Brasil Uma Mulher Notória. É uma firme, forte, contundente denúncia do classismo, dos preconceitos de classe na sociedade norte-americana da época; por causa dos preconceitos – é o que diz o filme –, os ricos, os poderosos, se valem até mesmo de trapaças, abuso de poder, corrupção.
Uma bela, importante, corajosa denúncia. Pena é que – apesar do tema, apesar da presença magnética de Barbara Stanwyck – a trama e o filme não sejam tão bons. Em parte, por causa da censura, como se mostra mais adiante.
Eis um resumo do básico da trama, feito pelo IMDb: “Uma mulher pobre e um homem de família de classe alta se apaixonam, mas a mãe dele não respeitará limite algum para impedir que eles se casem”.
A sinopse absolutamente sintética está correta, não há dúvida alguma. Mas, claro, ela é bastante limitada; do jeito com que a trama é colocada, temos aí apenas um novelão, um dramalhão. E é como Leonard Maltin, o autor dos guias de filmes mais vendidos do mundo, fala de Shopworn, ao qual dá 2 estrelas em 4:
“Novela padrão passada na Depressão com a família rica de (Regis) Toomey rejeitando a trabalhadora Stanwyck.”
No original, Maltin usa o termo “soaper”, uma abreviação depreciativa de “soap opera”, ópera de sabão, o termo coloquial e já um tanto depreciativo para designar primeiro as novelas de rádio, e depois também as de televisão. De qualquer forma, ele realça um dado importante: é um drama feito e lançado durante a Grande Depressão, o período da maior crise econômica da História dos Estados Unidos, com milhões e milhões e milhões de desempregados. Gostaria de voltar ao tema Grande Depressão mais adiante.
Shopworn – coisa usada, gasta, mulher promíscua
O livro sobre o próprio estúdio que produziu o filme, a Columbia, fala do filme com esse mesmo tom de um certo desdém, menosprezo, usado por Leonard Maltin. “Shopworn fez jus a seu título em mais de uma maneira. Com Barbara Stanwyck em um papel rejeitado pela esperta Lila Lee, era a velha banal história de uma garçonete do lado errado dos trilhos que se apaixona por um homem (Regis Toomey) muito acima de sua estação.”
(Humm… Não vai aí neste início de verbete do livro The Columbia Story um um gritante, agressivo preconceito social? “Lado errado dos trilhos?” “Homem muito acima de sua estação?” Isso pra não falar do absurdo de dizer que Lila Lee foi esperta por rejeitar o papel que Barbara Stanwyck aceitou. Quem é Lila Lee, meu Deus do céu e também da Terra, comparada a essa que é uma das maiores estrelas de Hollywood de todos os tempos?)
Shopworn. Eu não conhecia o termo do título original. A palavra é usada pela sra. Livingston (Clara Blandick), a pomposa, arrogante, intolerável mãe de David (Regis Toomey), o jovem que se apaixona por Kitty Lane – o papel de Barbara Stanwyck: – “I won’t let that shopworn woman fasten herself on you. I warn you!” Não vou deixar aquela mulher usada, gasta, se grudar em você! Estou avisando!
Shopworn. Literalmente, usada na loja. “Usado ou gasto por exposição ou manuseio em loja”, segundo o Dicionário Exitus.
Vai na expressão, evidentemente, uma conotação com relação a comportamento, a sexo. Mulher usada, gasta – ou seja, no sentido mais estrito, não “pura”, não virgem. Mas, mais ainda que isso, usada, gasta, com muita quilometragem, promíscua. São falados várias vezes os adjetivos vulgar e barata para definir Kitty Lane. E, lá pelas tantas, depois da metade do filme, quando se reencontra com David, depois de muitos anos, ela mesma diz: – “Cuidado, David. Sou uma mulher notória. Vão falar mal de você (por ser visto comigo)”.
Uma jovem linda vivendo no meio só de homens
Este é um ponto essencial do filme: Kitty Lane – para usar termos bem suaves – nos é apresentada como, além de pobre, uma garota que não é propriamente recatada como toda boa moça de família tem que ser. E o filme faz isso de forma insistente. A cada momento, há alguém dando a entender que Kitty se exibe para os homens.
A cada momento. Insistentemente. Desde a primeira sequência em que Kitty-Barbara Stanwyck aparece na tela.
Kitty vivia com o pai em uma área remota, de mineração; a mãe havia morrido fazia já um bom tempo. O filme abre com uma sequência em que o pessoal de uma mineradora vai fazer explodir uma quantidade inédita, recorde, de dinamite.
Um homem estava na área que seria atingida pelo deslocamento de terra provocado pela explosão. Os operários percebem, organizam-se para tentar socorrer a vítima soterrada.
Lá de longe, na varanda de um prédio de dois andares – um dos escritórios da mineradora –, um homem e uma mulher observam a imensa nuvem de poeira. Ele é o dr. Boyle (Joe Sawyer), o médico da empresa, ela é Kitty, a filha de Lane, um operário.
Depois de algum tempo, os dois entram na edificação, e Kitty se senta sobre uma das mesas de trabalho.
Os operários chegam ao local em que está o corpo, quase totalmente soterrado, apenas uma mão do lado de fora. Começam o frenético trabalho de remoção da terra e das pedras para tirar a vítima dali. Um homem com jeito de capataz manda um outro chamar o dr. Boyle.
Corta, e o dr. Boyle está apontando para os sapatos de salto alto de Kitty: – “Você deveria usar sapatos mais sensatos, Kitty”.
“Sensible” é a palavra que ele usa. “You ought to wear more sensible shoes, Kitty.” Além de sensível, sensible é sensato, ajuizado.
Kitty responde: – “A maioria dos homens não diz isso.”
O médico: – “Não? O que eles dizem?”
Kitty: – “Ah, eles dizem ‘você tem pernas muito bonitas, Kitty’.”
O médico: – “Bem, você tem.”
Kitty: – “E aí eles dizem ‘você está virando uma mulher e tanto, não está?’ E eles tentam marcar um encontro.”
O médico: – “E eles têm alguma sorte?”
Kitty: – “O quê? Esses caipiras?”
Nesse momento, chega o homem enviado para chamar o médico. – “Ei, Doc, tem um cara ferido”.
O médico pega seu estojo e vai para o local do soterramento. Kitty corre atrás – e logo está lá, a única mulher em um ajuntamento de dezenas de homens que cercam a vítima.
O homem soterrado – que o médico logo diagnostica como tendo o pulmão perfurado por uma costela, e portanto condenado, desenganado – é o pai de Kitty (o papel de Tom London). Antes de ser piedosamente retirado dali e levado até um hospital, onde seguramente morreria, Lane diz para Kitty, debruçada sobre ele, em pranto:
– “Isso é que dá dar sopa para dinamite. Não tenho nada para deixar para você, Kitty. Exceto, talvez, um pequeno aviso. (…) Você vai descobrir um mundo duro, Kitty. Seja dura você mesma. Assim eles não poder te machucar. Não se você aprender a enfrentá-los. Vá para sua Tia Dot. Aqui tem muito homem. Você está crescida agora. Não se esqueça. Procure a minha irmã.”
Uma abertura com bela sacada – e uma forçação de barra
Estou cada vez mais convencido de que o começo de um filme, a forma com que os realizadores abrem a narrativa, isso dá o tom da obra. Esse início de Uma Mulher Notória/Shopworn mostra ao mesmo tempo força e fraqueza, talento e falta dele.
Mostrar simultaneamente as cenas da preparação para a explosão, a explosão, o soterramento de um homem e as tomadas em que o espectador fica conhecendo a protagonista da história é uma grande sacada dos roteiristas. Uma grande sacada. Revi agora a abertura, para checar detalhes, e evitar que fizesse alguma descrição errada, e de fato é uma beleza de idéia intercalar as duas ações.
É uma bela forma de nos apresentar a essa Kitty Lane, uma mocinha criada só pelo pai, em um ambiente só de homens, uma mocinha coquete, vaidosa – e, diabo, danada de bonita.
Claro que é uma boa sacada dramática fazer com que o pai da moça seja a vítima da explosão – mas creio que ninguém poderia discordar de que aquela coisa de Lane ainda estar vivo a tempo de falar aquelas frases para a vítima é uma danada de uma apelação, uma forçação de barra, uma coisa melodramática demais…
Aproveito para registrar: diferentemente de 99,99% dos filmes, não há crédito para os autores do roteiro. Nos créditos iniciais é dito que a história é de Sarah Y. Mason e os diálogos, de Jo Swerling e Robert Riskin. Segundo o livro The Columbia Story, o roteiro é dos três.
Sobre o diretor, Nick Grinde (1893-1979), 65 títulos na filmografia, o estudioso e pesquisador Jean Tulard diz: “Um bom artesão hollywoodiano, logo esquecido se Grinde não tivesse dirigido três filmes fantásticos com Boris Karloff: The Man They Could Not Hang, The Man With Nine Lives e Before I Hang. Uma condição suficiente para ficar para a posteridade, mesmo com modesto talento.”
Um amor à primeira vista. E a mãe do moço não aceita
Dessa sequência inicial, em que o pai se despede de Kitty com o conselho de ser forte e procurar a Tia Dot, vamos diretamente para quando a moça já está trabalhando como garçonete na lanchonete de Fred (Lucien Littlefield), tocada por ele e por Dot (Zasu Pitts). Não se fala em momento algum o nome da cidade – o que é a melhor maneira de dizer que a história poderia se passar em qualquer cidade daquele porte. E é um grande porte o da cidade não nomeada. A lanchonete fica perto do campus de uma universidade, e os universitários que a frequentam ficam todos encantados com a bela Kitty, tentando dar em cima dela.
Fred, o dono do lugar, não gosta nada da moça. Acha que ela incentiva a paquera dos rapazes – e diz isso para a Tia Dot. – “Aquela sua sobrinha esperta recebe todas aquelas gorjetas só por servir as mesas!”, ele reclama, claramente dando a entender que Kitty é muito saidinha, muito oferecida.
A frase “os universitários que a frequentam ficam todos encantados com a bela Kitty, tentando dar em cima dela” contém uma inverdade. Nem todos os universitários tentam dar em cima da moça – há uma única exceção. É claro, é óbvio: o cara que é a única exceção é o jovem estudante de Medicina David Livingston (o papel de Regis Toomey, na foto abaixo). Quando finalmente ele presta atenção a ela, é amor à primeira vista, e recíproco.
Para a mãe dele, é rejeição à primeira vista. Mesmo sem conhecer a moça, a presunçosa sra. Livingston (Clara Blandick, na foto abaixo) logo está absolutamente certa de que é uma pobretona atrás do dinheiro da família – e mais, e pior: é “comum”, “vulgar”. Usada, gasta, promíscua, que dá pra qualquer um, uma Geni.
Viúva, e rica, Mrs. Livingstone parece estar sempre, o tempo todo, acompanhada por um tipo pomposo, presunçoso, antipático como ela, um tal Forbes (o papel de Oscar Apfel). Forbes também é rico, e, mais – é importante. É um juiz, conhecido, respeitado.
Há um momento que achei sensacional, extraordinário. O juiz e Mrs. Livingston estão no carro, indo para o hospital – ela não estava se sentindo muito bem, e havia combinado que David, o filho, iria com ela. Mas David havia sumido, não aparecera – e então ela havia pedido a ajuda do amigo sempre presente.
Estão os dois no carro, no trânsito – e vêem que, à frente deles, está David, o braço direito envolvendo uma moça, Kitty, é claro. O motorista emparelha o carro da madame com o do filho dela. Os dois param. A situação é constrangedora – David tenta, educadamente, apresentar a mãe à moça com quem vem saindo, por quem está apaixonado.
Chega um policial e adverte o motorista de que ele está em fila dupla. O motorista aponta para trás, o guarda reconhece o juiz, o cumprimenta e sai dali.
Meu, que maravilha de sacada! Um pequeno detalhe – e o filme acabou de denunciar que, na terra da liberdade, da democracia, os homens não são iguais, e uns têm mais direito que outros.
A denúncia firme de que há muita coisa podre naquela sociedade está só começando.
O juiz tenta subornar a moça. Depois a mandam prender
O juiz Forbes será o sujeito que vai sujar as mãos para atender ao desejo de Mrs. Livingstone de impedir que David insista em querer casar com Kitty.
Ele tenta suborná-la com US$ 5 mil, em notas, en effectivo, cash. (O IMDb fez as contas e diz que aqueles U$5 mil de 1932 valeriam mais de US$ 108 mil em 2022.)
Kitty Lane olha para o maço de notas com aquela expressividade do rosto de Barbara Stanwick e contra-ataca: – “O que o senhor está tentando fazer de mim – aquilo que gostaria que eu fosse? Alguma coisa barata e comum, que o dinheiro pode comprar? Bom, o senhor não vai conseguir. Ninguém vai conseguir. O senhor e as pessoas boas, decentes que mandaram o senhor aqui é que são baratas. (…) Se isso é ser decente, felizmente eu sou comum! Se isso é ser rico, felizmente eu sou barata, e vou continuar barata. Porque por mais que eu seja barata, não estou à venda!”
O rico e decente juiz vai então comprar Fred, o dono da lanchonete, para que ele conte uma mentira para o apaixonado David.
Mas isso ainda é pouco: o rico e decente juiz vai inventar que Kitty violou o código de conduta moral, e fazer com que um colega, um outro juiz, a condene a vários meses em uma Casa Estadual para a Regeneração para Mulheres – uma prisão em que as condernadas executam trabalhos forçados, sob o tacão de guardas sádicos.
Ah, meu… Isso não tem nada a ver com um – como é que é? “Standard soaper”, novela padrão. “A velha banal história de uma garçonete do lado errado dos trilhos que se apaixona por um homem muito acima de sua estação.”
Leonard Maltin e The Columbia Story menosprezam este Uma Mulher Notória/Shopworn – mas o ótimo livro This Was Hollywood – The 1930’s o coloca entre os filmes de maior destaque do ano de 1932. O verbete sobre o filme faz uma sinopse da história, sem, no entanto, realçar a questão da denúncia do preconceito social e da corrupção.
A Wikipedia define Shopworn como “um drama romântico americano pre-Code de 1932” “sobre uma pobre garçonete trabalhadora que encontra um rico estudante universitário e se apaixona por ele”. “A mãe dele rejeita a relação e consegue fazer uma armação para que a garçonete seja condenada como trabalhadora sexual.”
Um filme vítima dos rigores da censura
Embora o verbete da Wikipedia não se aprofunde nisso, a referência ao Código é muito importante. O Código Hays, oficialmente Motion Picture Production Code, Código de Produção, foi um conjunto de normas de censura aceito pelos grandes estúdios de Hollywood em 1930, resultado da pressão dos conservadores, moralistas, católicos, cristãos de maneira geral contra o que consideravam abuso de licenciosidade do cinema.
O lançamento deste Shopworn foi, como já foi dito e redito, em 1932, o que pode causar estranheza na definição de que é um filme pre-Code. Mas a explicação é simples. Assim como o golpe militar de 1964, que sofreu um golpe dentro do golpe em dezembro de 1968, que endureceu muito mais o regime ditatorial, o Código Hays teve um recrudescimento, uma escalada em 1934 – e em geral consideram-se pre-Code os filmes lançados até 1933, Shopworn, é claro, inclusive.
(Diacho! Vou me permitir aqui uma tergiversação – tentarei que seja rápida… A comparação do Código com o golpe de 1964 me ocorreu agora, enquanto escrevia esta anotação – e, cacete, tem mesmo a ver uma coisa com a outra. O golpe dentro do golpe de 13 de dezembro de 1968 seguiu-se a um ano em que a ditadura foi duramente testada, com protestos e passeatas quase todas as semanas nas principais cidades do país e manifestações artísticas de aberta oposição ao regime. De maneira semelhante, a exigência de total rigor aos ditames do Código, sem exceções, sem perdão, veio em 1934 depois que alguns – ou muitos – filmes pós-1930 ousaram desobedecer às regras da censura, como, só para dar o exemplo mais escrachado, bandeiroso, os de Mae West, aquela fantástica atriz que é a definição da contestação à caretice. Pronto. Fecha a tergiversação.)
Há vários pontos na narrativa que ficam um tanto estranhos, um tanto difíceis de se compreender, e muito provavelmente isso não se deve a uma eventual falta de talento do trio de roteiristas Sarah Y. Mason- Jo Swerling-Robert Riskin – e sim à dificuldade de contar uma história tendo que atender às muitas e ridículas exigências do Código de censura.
É bem possível que tenha sido por causa das exigências do Código que o trio de roteiristas não conseguiu definir muito claramente a personalidade, o caráter da protagonista da história. A Kitty Lane que o filme mostra é uma moça vaidosa, sim, que gosta de se vestir bem e de ser admirada – mas, muitíssimo ao contrário de Geni, não dá pra qualquer um. Na verdade, não há indicação de que ela tenha dado sequer uma vez na vida, antes de se apaixonar por David. Então por que todo mundo, do idiota do tal Fred dono da lanchonete até os pomposos Mrs. Livingston e juiz Forbes garantem que ela é “barata”?
Há um momento, na segunda metade do filme – depois que a trama toma um rumo um tanto inesperado, sobre o qual não vou falar nada, por entender que seria spoiler –, em que vemos a primeira página de um jornal com a manchete “Kitty Lane citada em um processo de divórcio”. Em nenhum momento se explica como foi essa história.
Deve, muito provavelmente, ter havido cortes na edição final do diretor, para atender, ou tentar atender, às exigências do Hays Office. Harry Cohn, o chefão da Columbia e produtor deste filme, embora não tenha tido seu nome creditado, seguramente faria qualquer coisa, até vender a mãe, para agradar aos censores.
Diz o IMDb na página de Trivia sobre o filme que a cópia exibida no canal Turner Classic Movies tem créditos redesenhados em 1938 para um relançamento depois que foram cortados vários minutos da versão original, para atender às exigências reforçadas do Código. O IMDb acrescenta que mesmo no filme original a Columbia já havia cortado algumas sequências, para garantir a aprovação do Hays Office. A revista Variety, em sua edição de 5 de abril de 1932, afirmou que havia trechos do filme “que não se unem de forma suave na história, sequências que ficam no ar, faltando background e sentido, como se passagens dependendo delas tivessem sido retiradas”.
Um registro sobre a Depressão – e sobre Barbara
Esta anotação já está bem longa, mas ainda quero fazer registros sobre a Grande Depressão e sobre esse monumento que é Barbara Stanwyck.
Em 1931, o segundo ano após o crash da Bolsa de Nova York, que deu início ao maior período de recessão econômica dos Estados Unidos, a audiência semanal dos cinemas caiu de cerca de 90 milhões para 75 milhões – 15 milhões de ingressos a menos vendidos! Em 1932, houve nova queda de 15 milhões de ingressos, para 56 milhões. “Se 1931 tinha sido ruim, 1932 foi muito pior”, diz o livro This Was Hollywood – The 1930’s. “Uma taxa foi imposta em todas as entradas, com exceção das mais baratas, fazendo com que os frequentadores das salas ficassem mais seletivos e menos frequentes em suas visitas.”
O livro relata em seguida que os preços pagos pelos direitos de livros e peças de teatro caíram. Salários foram cortados. A maior parte dos estúdios fechou o balanço anual com prejuízo – com a única exceção da MGM e da Columbia, que era então o menor dos grandes, e teve um lucro mínimo, em boa parte graças às estratégias de Harry Cohn para cortar custos. O número de longa-metragens foi reduzido de 379 em 1929 para 300 em 1932.
Barbara Stanwyck…
Vi várias informações sobre a diva que desconhecia (ou das quais não me lembrava, o que dá na mesma). Aqui vão algumas básicas:
* Era Ruby Catherine Stevens quando nasceu, no Brooklyn, Nova York, em 1907. A mãe morreu quando ela tinha 4 anos, e, abandonada pelo pai, foi criada por pais adotivos. A partir dos 13 anos (meu Deus do céu! Minha netinha vai fazer 12!), trabalhou como modelo e dançarina, chorus girl.
* “Teve uma torrente de papéis provocativos em filmes pre-Code, inclusive Baby Face (1933), uma fita franca, cínica, sobre uma vagabunda amoral que dorme seu caminho até o alto de um arranha-céu”, como diz o livro 501 Movie Stars. “Comprovada como uma estrela e uma atriz versátil que podia representar solteiras reprimidas (The Bitter Tea of General Yen, 1933) tão bem quanto atrevidas sem espartilho, Stanwyck sobreviveu à chegada da censura mais pesada em meados dos anos 1930 para se beneficiar de papéis talhados para ela, como Annie Oakley (1935), em que mostrou pela primeira vez como fica bem em westerns, e Stella Dallas (1937), em que é mais honestamente comovente em dramalhões que Joan Crawford em papéis semelhantes.”
* Tinha algo em comum com Charles Chaplin e Alfred Hitchcock: como os dois grandes mestres, jamais ganhou um Oscar, a não ser o honorário, o prêmio de consolação que a Academia dá para os injustiçados. Foi indicada quatro vezes, mas nunca levou, e ganhou o epíteto de “a maior atriz que nunca ganhou o Oscar”.
Que atriz, meu Deus.
Gostaria de ter anotações sobre todos os filmes de Barbara Stanwyck, o que é impossível, já que ela 107 títulos no currículo. E eu até agora só consegui escrever sobre uns poucos:
A Mulher Miraculosa/The Miracle Woman (1931),
A Mulher Proibida/Forbiden (1932),
Serpentes de Luxo/Baby Face (1933),
O Último Chá do General Yen/The Bitter Tea of General Yen (1933),
Conflito de Duas Almas/Golden Boy (1939),
Lembra-te Daquela Noite/Remember the Night (1940),
Adorável Vagabundo/Meet John Doe (1941),
Bola de Fogo/Ball of Fire (1941),
As Três Noites de Eva/The Lady Eve (1941),
Até que a Morte nos Separe/The Great Man’s Lady (1942),
Mistérios da Vida/Flesh and Fantasy (1943),
Pacto de Sangue/Double Indemnity (1944),
O Tempo Não Apaga/The Strange Love of Martha Ivers (1946),
Uma Vida por um Fio/Sorry, Wrong Number (1948),
Confissões de Telma/The File of Thelma Jordon (1949),
Almas em Fúria/The Furies (1950),
Casei-me com um Morto/No Man of Her Own (1950),
Sangue da Terra/Blowing Wild (1953),
Desejo Atroz/All I Desire (1953),
Um Pecado em Cada Alma/The Violent Men (1955),
Chamas que Não se Apagam/There’s Always Tomorrow (1956),
Da Ambição ao Crime/Crime of Passion (1957).
Anotação em dezembro desd 2024
Uma Mulher Notória/Shopworn
De Nick Grinde, EUA, 1932
Com Barbara Stanwyck (Kitty Lane)
e Regis Toomey (David Livingston), Zasu Pitts (Dot, a tia de Kitty), Lucien Littlefield (Fred, o dono da lanchonete), Clara Blandick (Mrs. Livingston, a mãe de David), LeRoy Mason (Toby, um estudante na lanchonete), Oscar Apfel (juiz Forbes, o amigo de Mrs. Livingston), Maude Turner Gordon (Mrs. Thorne), Albert Conti (Andre, o empresário francês), James Durkin (o promotor), Joe Sawyer (dr. Boyle, o médico do campo), Tom London (Lane, o pai de Kitty)
História Sarah Y. Mason
Diálogos Jo Swerling e Robert Riskin
Fotografia Joseph Walker
Montagem Gene Havlick
Produção Harry Cohn (não creditado), Columbia Pictures.
P&B, 72 min
**1/2