(Disponível no YouTube em 10/2023.)
Há mais pérolas entre os filmes da época de ouro de Hollywood do que pode sonhar nossa vã filosofia. Essa verdade fica muito clara com O Pão Nosso/Our Daily Bread, que King Vidor escreveu e dirigiu em 1934, e de que jamais tinha ouvido falar, mesmo sendo um velho fanático com os filmes americanos dos anos 30 a 50.
É uma beleza de filme – e é também uma raridade.
Hollywood fez grandes, belos filmes dos mais diversos gêneros nos anos 30, os anos da Grande Depressão, do desemprego, da fome, da miséria, após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, que marcou o início da maior crise da História do capitalismo em todo o mundo. Foi a década dos grandes filmes de horror, e também de belos musicais, comédias, dramas policiais, westerns. Mas foram poucos os filmes sobre a tragédia social que se abateu sobre o país.
A própria indústria cinematográfica também sofreu duramente com a Depressão. Em 1930, 80 milhões de norte-americanas pagaram por entradas nas bilheterias dos cinemas do país; em 1931 foram 70 milhões e em 1932 o número caiu para 55 milhões. “Em 1933, quase um terço dos cinemas foi obrigado a fechar as portas e as salas remanescentes tiveram de baixar o preço dos ingressos”, escreve o estudioso carioca A.C. Gomes de Mattos em seu precioso livro A Outra Face de Hollywood: Filme B,
A indústria entendia que os espectadores não estavam interessados em pagar dinheiro para ver filmes sobre desemprego e fome. Muito ao contrário: o que o cinema oferecia aos magotes eram filmes escapistas, comédias românticas e/ou musicais com um monte de gente elegante, em trajes de noite, entrando e saindo de restaurantes e nightclubs caros.
Isso é mostrado de maneira genial em A Rosa Púrpura do Cairo, a obra-prima de Woody Allen de 1985.
Pois é. Em 1934, no auge da Grande Depressão, remando contra a maré, Our Daily Bread fala de desemprego, fome, miséria. A dura realidade que o país enfrentava e da qual o cinema fugia como o diabo da cruz, o fanático da razão.
É um hino à força de que o ser humano é capaz. Uma elegia à solidariedade, à amizade, ao companheirismo, em um mundo que havia sido destroçado pela competição desenfreada.
Uma parábola, uma alegoria, uma fantasia
Há uma interessante e nada usual frase nos créditos iniciais. Logo abaixo do título do filme, se diz: “Inspirado nas manchetes de hoje”.
A história que King Vidor criou, inspirada nas manchetes da época, no entanto, não tem relação alguma com o realismo. Our Daily Bread parte de dados da realidade, mas é uma parábola, uma alegoria, uma fantasia.
É uma história da carochinha, um conto de fadas. É sobre como o mundo deveria ser – não como ele, infelizmente, é. Como “Imagine”, de John Lennon, para dar o que talvez seja o exemplo mais perfeito.
A narrativa começa com um homem de terno preto subindo todo alegrinho, cantando, vários lances de escada de um edifício residencial. (O ator se chama Sidney Bracey, e só aparece nessa sequência de abertura.) Toca a campainha, uma mulher jovem, simpática, abre a porta. O homem mostra um papel – uma cobrança de aluguel atrasado, evidentemente. A mulher pede que ele dê mais dois dias – o marido dela tem esperança de conseguir um emprego no dia seguinte. O homem aceita o pedido. Está ainda descendo as escadas quando o marido da moça está subindo – ele se esconde para não ser visto pelo cobrador.
Marido e mulher que estão com o aluguel atrasado e correm o risco de ser despejados são os protagonistas da história. John e Mary Sims – os papéis de Tom Keene e Karen Morley. Ela é dona de casa, e aparentemente não trabalhava fora nem quando ainda existiam vagas de emprego. John vinha procurando emprego fazia semanas, meses, sem conseguir nada: quando aparecia uma vaga, havia sempre 400 outras pessoas como ele se oferecendo.
Um tio rico de Mary vai jantar com o casal – John paga com um violão um frango na quitanda perto de casa. Ela não tem vergonha de pedir ao tio que ajude John a encontrar um trabalho. O tio Anthony (Lloyd Ingraham) diz que ele também perdeu muita coisa nos últimos anos, e não teve dinheiro para pagar a hipoteca de uma fazenda dele – mas o banco, até então, não havia cobrado. Quem sabe John não tentaria tocar a fazenda, produzir alguma coisa e com o dinheiro pagar a hipoteca?
Ué, é uma possibilidade, não? O casal topa.
“Uma comunidade cooperativa. Você me ajuda, eu ajudo você”
A casa da fazenda não tinha móveis, estava suja e abandonada. Mas o casal é trabalhador, e dá uma bela geral. A questão é que John não sabe coisa alguma de fazenda, plantação.
Um golpe de sorte: pára na estrada bem ao lado da fazenda um carro com um casal. A gasolina tinha acabado. John conversa com o homem, Chris (John Qualen), que explica que era fazendeiro, mas perdeu sua terra para o banco e então está indo rumo à Califórnia, em busca de algum emprego, alguma oportunidade. Mas… ele não era fazendeiro? E que tal se ele ficasse ali e ensinasse John a cuidar da terra?
Claro que Chris topa. E começam a trabalhar os dois na terra.
– “Estava pensando no quanto aquele homem fez em dia”, diz John para Mary, uma noite, em casa. “Deve ter muita gente na mesma situação. Dirigindo por aí até acabar a gasolina. Se um homem pode fazer o mesmo que ele em um dia, dez homens podem fazer dez vezes mais. Sabe? Um encanador, um pedreiro, um carpinteiro… Uma comunidade cooperativa! Em que o dinheiro não é tão importante. Você me ajuda, eu ajudo você…”
Sim: por aquela estrada vizinha à fazenda passa uma procissão de carros de gente que perdeu suas terras ou seus empregos e vaga pelo país à procura de alguma chance.
John pinta cartazes na cerca da fazenda: “Procuram-se dez homens…” “Com habilidades…” “Para viver do seu ofício…” “Nesta bela fazenda…” “Compartilhar trabalho…” “Por que pagar aluguel?…” “Entre aqui.”
Antes que Mary dê uma piscadela em seus belos olhos, uma dúzia de famílias se apresenta.
Uma utopia que veio em uma época de distopias
Claro, haverá problemas. Mesmo nos contos de fadas há problemas. Haverá, sim, e muitos. Um deles aparece na figura de um xerife que vem colocar a fazenda em leilão – uma hora qualquer o banco haveria de cobrar a hipoteca. Um problema grave aparece na forma de uma loura que tem todo jeito de biscate de causar perigo (interpretada por Barbara Pepper, na foto abaixo). Mais grave ainda que ela é o causado pela natureza – a seca.
Mas esta aqui não é uma história que tenha compromissos com o realismo. É uma alegoria, cacete, uma parábola – uma utopia.
Uma utopia que veio em uma época de distopias, de previsões de um futuro negro, desesperançado, horroroso. Em 1932, dois anos antes deste utópico Our Daily Bread, Aldous Huxley havia lançado Admirável Mundo Novo. Em 1949 George Orwell lançaria 1984, e em 1952 viria Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, muito provavelmente as três distopias mais marcantes do século XX. Isso quanto às literárias, porque, afinal, a vida real teve as piores distopias jamais imaginadas pela humanidade, o nazifascismo e as ditaduras comunistas a partir do stalinismo.
Ironicamente, o próprio comunismo havia começado como uma utopia, o sonho de uma sociedade justa, igualitária, solidária.
A rigor, não há grandes diferenças entre a fazenda cooperativa criada por King Vidor e os sonhos de socialistas utópicos ou de socialistas românticos.
A rigor, a rigor, esse casal John e Mary Sims, com a ajuda de Chris, acabou criando algo não muito distante do ideal dos hippies, da contracultura dos anos 1960, de uma sociedade baseada na solidariedade e não na competição, nos valores morais e não nos da conta bancária.
Hum… Parece que dei um viajandão? Não é culpa minha, caro eventual leitor. É o filme que dá um viajandão delicioso, maravilhoso.
O diretor teve que bancar o filme com seu dinheiro
Algumas informações objetivas sobre esta obra fascinante do qual eu jamais havia ouvido falar até Mary a encontrar num passeio pelos filmes da época de ouro de Hollywood disponíveis no YouTube:
Acho que antes de mais nada é preciso registrar que o filme teve reconhecimento, sim. Não passou em brancas nuvens, de forma alguma. O fato de eu nunca ter ouvido falar nele é problema meu, falha minha.
Consta que, no início dos anos 1950, Orson Welles colocou Our Daily Bread na lista de seus 10 filmes favoritos.
E Charles Chaplin garantiu que a empresa fundada em 1919 por ele e por Douglas Fairbanks, Mary Pickford e D. W. Griffith, a United Artists, se encarregasse da distribuição do filme.
À época, os estúdios controlavam também a distribuição pelas salas de cinema Estados Unidos afora, muitos deles pertencentes às próprias companhias. E Our Daily Bread foi produzido por uma empresa criada pelo próprio diretor e autor da história, a Viking Productions. King Vidor bancou a produção do filme com US$ 90 mil de seu próprio bolso.
O diretor era contratado pela MGM, mas o chefão do estúdio, o lendário Irving Thalberg – o sujeito que inspirou o personagem-título do romance que F. Scott Fitzgerald deixaria inacabado, The Last Tycoon, O Último Magnata, ao morrer em 1940 – não quis bancar o projeto.
King Vidor procurou a RKO Radio Pictures, o estúdio que era assim uma espécie de primo mais pobre entre os grandes – mas, depois de muita negociação, a empresa também não topou tocar o projeto.
“Infelizmente, os bancos eram relutantes a bancar um filme com esse tema”, diz o IMDb. Infelizmente, sim, mas compreensível: os bancos são mostrados no filme como os vilões que tomam as casas, as fazendas de quem não tem condições de pagar as prestações devidas.
O diretor não teve outra opção a não ser bancar ele mesmo o filme.
Com o orçamento curtíssimo, não pôde contar com atores conhecidos. De fato, Tom Keene, Karen Morley, John Qualen, Barbara Pepper e Addison Richards nunca chegaram a ter grande importância.
Deles, apenas Karen Morley, que faz essa doce porém firme, decidida Mary, me pareceu digna de nota. Dois anos antes, em 1932, havia trabalhado em Scarface: A Vergonha de uma Nação, o grande clássico de Howard Hawks. No mesmo ano, trabalhou também em Arsène Lupin, de Jack Conway, creio que o primeiro filme americano com o ladrão de casaca criado no iníciozinho do século por Maurice Leblanc. Em 1932, participou de Jantar às Oito, de George Cukor.
Mas John Qualen também é digno de nota, e muito – conforme alertou em comentário a Senhorita, moça culta, cultivada, que adora e conhece os clássicos, me dá a honra de ler este site e de vez em quando mandar comentários – sempre curtíssimos, precisos e preciosos.
Sim, John Qualen sem dúvida alguma é digno de nota. “Um dos melhores coadjuvantes do cinema”, segundo a Senhorita, John Qualen (1899-1987), nascido em Vancouver, Canadá, tem 221 títulos na filmografia, entre eles nada mais, nada menos, que Vinhas da Ira (1940), Casablanca (1942), Anatomia de um Crime (1959) e O Homem Que Matou o Facínora (1962.
Um diretor respeitado, desde o cinema mudo
King Vidor (1894-1982) dirigiu 77 títulos, em uma carreira iniciada ainda no cinema mudo. Começou dirigindo curtas ainda em 1913, com ridículos 19 anos de idade, e seus últimos trabalhos também foram curtas, em 1973 e 1980. Entre 1913 e 1980, foi indicado a cinco Oscars de melhor diretor, por A Turba (1929), Aleluia (1930), O Campeão (1932), Cinderela (1939) e Guerra e Paz (1957). Não vi os quatro mais antigos, mas este último é uma beleza de filme, com Henry Fonda, Audrey Hepburn e Mel Ferrer como os principais personagens do romance de Liev Nikolaevitch Tolstói, e ainda Vittorio Gasmann e Anita Ekeberg, mais Herbert Lom como Napoleão Bonaparte.
Diz Rubens Ewald Filho sobre King Vidor em seu Dicionário de Cineastas:
“Quem um dia viu o filme mudo A Turba (The Crowd) jamais o esquecerá e olhará para sempre com respeito para este diretor que se nunca chegou a ser o que chamam de ‘um autor’ certamente for um grande ‘profissional’ de Cinema. Mas essa opinião conflita com a de alguns críticos que o acham o melhor diretor de Hollywood (teve inclusive cinco indicações ao Oscar ganhando finalmente um honorário em 1979). Seus filmes lidavam sempre com um tema (definido por Quinlan como ‘as crises de um homem na luta solitária contra um inimigo, sejam os elementos, a sociedade ou até a própria vida. Às vezes vencendo, às vezes perdendo’). Foi um dos maiores diretores do Cinema mudo que prosseguiu brilhantemente a carreira no sonoro, aposentando-se a partir de 1959, quando se dedicou a lecionar Cinema, escrevendo uma autobiografia e um livro didático (King Vidor on Film Making).”
O que o livro The United Artists Story diz sobre o filme que o estúdio distribuiu me pareceu muito interessante, mas depois gostaria de fazer um comentário:
“Our Daily Bread (na Grã-Bretanha The Miracle of Life), de King Vidor, foi uma brava tentativa, embora crua, de injetar temas contemporâneos no escapista cinema americano dos anos 30. No entanto, era tão ambíguo politicamente que os jornais de Hearst (William Randolph Hearst, o magnata da imprensa tido como o modelo do personagem-título do Cidadão Kane de Orson Welles) o chamaram de ‘pinko’ (algo tipo ‘rosado’) e os jornais russos de ‘propaganda capitalista’. A história de Vidor (com roteiro de Elizabeth Hill) colocava seu casal urbano, John e Mary de The Crowd (MGM, 1928), em um ambiente rural, oferecendo uma solução para o problema do desemprego. Eles herdam uma fazenda abandonada e decidem começar uma cooperativa agrícola com muitos artesões despossuídos pela Depressão. O ideal utópico, e o filme, enfrentam obstáculos quando uma floozie (uma palavra bonitinha para designar “vagabunda”) tenta atrair John de volta à grande cidade, e quando a fazenda começa a se estagnar sem irrigação apropriada. Vidor usou o que ele chamou de ‘música silenciosa’, uma técnica de montagem rítmica, para o celebrado clímax otimista do filme, em que os fazendeiros salvam a colheita ao freneticamente cavar um canal de irrigação. Os papéis centrais foram para os descoloridos Tom Keane e Karen Morley (Keene, que foi George Duryea até 1931, virou Richard Powers em 1944). Outros papéis foram interpretados por Barbara Pepper (a vamp), John Qualen, Addison Richards e Harry Holman. O filme foi produzido de forma independente por King Vidor, com fundos limitados. Depois do fracasso nas bilheterias, ele voltou para o cinema comercial.”
O que o livro sobre os filmes da United Artists trata como defeito – a “ambiguidade política” – é o que me parece uma das qualidades da obra de King Vidor. O fato de os jornais de Hearst classificarem o filme como simpatizante do comunismo e os jornais russos o chamarem de propaganda capitalista mostra que o filme de fato não foi feito para agradar nem um lado nem ao outro – nem o capitalismo selvagem, sem respeito por imensas camadas da sociedade, nem o regime que, para defender uma teórica igualdade, tirava todas as liberdades de escolha da população.
Pode parecer ou ser sonhadora, distante da realidade, conto de fadas – mas a idéia, me parece, era justamente propor uma terceira via entre os dois sistemas, o capitalista e o comunista – algo que a social-democracia tentou e em certa medida até conseguiu durante décadas em países europeus avançados, como a Suécia.
A sequência final é uma maravilha absoluta
Pauline Kael elogiou a forma e desceu a lenha no conteúdo. Sérgio Augusto incluiu o filme na edição brasileira do livro 5001 Nights at the Movies, aqui reduzido para 1001 Noites no Cinema. Eis aí:
“Mostra como um jovem casal (Karen Morley e Tom Keene) tenta ganhar a vida numa fazenda falida transformando-a numa cooperativa. King Vidor_- incansável, jamais satisfeito com seu sucesso comercial – endividou-se até o pescoço para fazer este filme, inovadoramente bem dirigido. Faz experiências com as idéias russas de montagem, e consegue criar um grand finale dos fazendeiros da cooperativa abrindo uma vala para irrigar um milharal – trapaceando só um pouquinho, ao enaltecer a cena com uma música orquestral. As concepções visuais rítmicas são realizadas com muita beleza, mas a interpretação e o texto, terríveis; sofisticado em termos de cinema; em termos dramáticos, um filme primitivo. A seriedade do título indica onde Vidor errou; o filme sofre de idéias vexatoriamente simples e da virtude excessiva atribuída a personagens de homens comuns. Com John Qualen e Barbara Pepper. Escrito por Elizabeth Hill, Joseph L. Mankiewicz e Vidor; fotografado por Robert Planck; distribuído pela United Artists. p & b.”
Opiniões à parte, é importante a citação que Dame Kael faz a Joseph L. Mankiewicz (1909-1993), um dos maiores realizados do cinema norte-americano, autor das obras-primas A Malvada/All About Eve (1950) e A Condessa Descalça (1954). Excelente roteirista, escritor de mão cheia, Mankiewicz, então com 25 anos, apenas, foi o autor dos diálogos de Our Daily Bread.
Leonard Maltin elogiou os propósitos de King Vidor, mas deu apenas 2.5 estrelas em 4: “Uma experiência que foi um marco, feito pelo sempre inovador Vidor, que saiu do sistema dos estúdios para fazer esse drama audacioso, pé no chão, sobre vida em comunidade. Infelizmente, as atuações – especialmente do protagonista Keene – são tão prosaicas que conseguem sabotar as boas intenções do filme. A sequência climática da irrigação, no entanto, é merecidamente famosa.”
A longa sequência do grupo de homens cavando o canal de irrigação citada por esses vários autores de fato é impactante, extraordinária, belíssima. Sim, faz lembrar o estilo do gênio russo Sergei Mikailovich Eisenstein. E é a essência do filme, é o que o filme quer dizer, e é, exatamente como o filme, sonhadora, visionária, idealizada, distante da realidade – e do realismo. Utopia.
De toda a História do cinema, possivelmente é a sequência que mais traduz o que é utopia.
O Guide des Films de Jean Tulard trata dessa sequência de uma forma arrebatada e arrebatadora. Eu tinha pensado em terminar minha anotação com o parágrafo acima, que é um bom fecho de texto – mas o verbete do Guide sobre Notre Pain Quotidien, assinado por A.P., Alain Paucard, é absolutamente sensacional. E ele cita duas influências sobre King Vidor na criação do filme que nem eu nem os autores que citei aí acima havíamos abordado: o escritor e filósofo norte-americano Henry David Thoreau, um defensor da vida simples e do convívio dos homens com a natureza, e o New Deal, o conjunto de políticas públicas implementadas pelo governo do presidente Franklin D. Roosevelt para recuperar a economia dos Estados Unidos e auxiliar os deserdados pela Grande Depressão.
Como sempre no Guide, há um parágrafo sobre a trama e um parágrafo com a apreciação da obra.
“Desempregados, desqualificados, rejeitados da grande depressão se organizam em uma comunidade agrícola.
“Thoreau mais New Deal, História bem dentro do espírito da época, que antecipa As Vinhas da Ira de Ford e à qual, como um eco, La Belle Équipe responde na França. (La Belle Équipe, no Brasil Camaradas, 1936, de Julien Duvivier, com Jean Gabin.) A última sequência é de tirar o fôlego. Para salvar sua colheita, os agricultores escavam um canal com a velocidade da água que irrompe. Se para você essa sequência não é cinema muito muito grande, feche este dicionário.”
Anotação em outubro de 2023
O Pão Nosso/Our Daily Bread
De King Vidor, EUA, 1934
Com Tom Keene (John Sims), Karen Morley (Mary Sims)
e John Qualen (Chris, o fazendeiro experiente), Barbara Pepper (Sally, a loura que chega), Addison Richards (Louie, o grandão mal-encarado), Lloyd Ingraham (Anthony, o tio rico de Mary), Sidney Bracey (o cobrador do aluguel), Henry Hall (Frank), Nellie V. Nichols (Mrs. Cohen), Frank Minor (o encanador), Bud Era (o pedreiro)
Roteiro Elizabeth Hill
Baseado em história de King Vidor
Diálogos Joseph L. Mankiewicz
Fotografia Robert H. Planck
Música Alfred Newman
Montagem Lloyd Nosler
Casting Ray Hanson
Produção King Vidor, Viking Productions.
P&B, 74 min (1h14)
***1/2
John Qualen era digníssimo de nota, um dos meus favoritos da turma do John Ford, e um dos melhores coadjuvantes do cinema.
Opa, Senhorita! Vou mudar o texto, então! Obrigado pela dica!
Um abraço.
Sérgio
Minha nossa, que honra, fiquei extremamente emocionada com essa mudança de texto e esses elogios à minha pessoa. Muito grata, de coração.
(Se quiser ver a Senhorita perder a linha e postar textões longos, imprecisos e malucos, é só escrever sobre o Gregory Peck, hehehe)