Hannah e Suas Irmãs / Hannah and Her Sisters

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4.0 out of 5.0 stars

Hannah e Suas Irmãs é uma absoluta maravilha, um filmaço, uma obra-prima. É um dos melhores entre os tantos belos filmes de Woody Allen.

Rever o filme de 1986 agora me confirmou isso mais uma vez. É uma dessas grandes obras que a gente revê extasiado – e, quando termina, percebe que está alguns centímetros acima do chão.

Hannah é um filme suavemente otimista. Vê seus personagens com simpatia. Escancara seus defeitos, ri e nos faz rir das contradições daquelas criaturas, das suas fraquezas, indecisões, erros, falhas, enganos. Mas faz isso com um olhar simpático, amistoso, solidário.

Uma canção gravada por Joan Baez nos anos 60, de Donovan e Christopher Logue, me impressiona desde que a ouvi pela primeira vez. Chama-se “Be not too hard”, e diz “Be not too hard for life is short / And nothing is given to man. / Be not too hard for soon he’ll die / Often no wiser than he began”.

Perde demais na tradução, mas o sentido é: não seja muito duro porque a vida é curta e nada é dado ao homem. Não seja muito duro porque em breve ele vai morrer, muitas vezes não mais sábio do que quando começou.

zzhannah99Na minha opinião, Hannah e Suas Irmãs vê seus personagens com a mesma simpatia com que essa canção vê as pessoas de uma maneira geral. Alguns poderiam dizer que isso é ser condescendente, tolerante, complacente. Não é isso, não é exatamente isso.

É não julgar as outras pessoas como se fôssemos melhores que elas. Como se fôssemos superiores, sobre-humanos, semideuses.

É não ser intolerante. É ser simpático às outras pessoas. Dar um desconto. Afinal, quem não tem defeitos, contradições, fraquezas, indecisões? Quem não comete erros, falhas, enganos?

É isso. Hannah e Suas Irmãs, assim como a magnífica canção do jovem Donovan, assim como, afinal, Cristo, não que lançar a primeira pedra sobre as criaturas que expõe na tela.

Uma história com cinco protagonistas – e cada um narra um trecho

Hannah, Holly e Lee. Três irmãs – e por isso houve quem lembrasse de Três Irmãs, a peça que Anton Tchekov escreveu bem no início do século XX. Woody Allen é mesmo chegado a usar temas básicos de grandes obras clássicas, adaptando-os a seu próprio estilo e sua visão de mundo. Love and Death, no Brasil A Última Noite de Bóris Grushenko, pode ser visto como uma espécie de Guerra e Paz de Liev Tolstói à la Woody Allen. Crimes e Pecados tem um quê de Crime e Castigo de Fiódor Dostoievski, assim como A Era do Rádio é uma espécie de Amarcord de Fellini. Memórias/Stardust Memories é uma espécie de Oito e Meio, com uma pitada de Morangos Silvestres de Ingmar Bergman – e por aí adiante.

Uma das três irmãs do mestre russo tem um caso extra-conjugal, assim como acontece em Hannah e Suas Irmãs. Mas não sei se há mais do que essas duas coincidências – o fato de serem três irmãs, e uma ter um período de infidelidade – entre as duas obras.

Na verdade, são cinco os personagens centrais, os protagonistas de Hannah e Suas Irmãs. Em torno deles gravitam outros personagens, mas os protagonistas são cinco: as três irmãs, Hannah, Holly e Lee, o marido atual e o ex-marido da primeira.

Cada um deles narrará um trecho da história. A rigor, o espectador ouvirá o que cada um deles está pensando com seus botões. O pensamento, a voz interior dos personagens será ouvida pelo espectador.

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Na festa da família, o marido de Hannah só pensa na cunhadinha

Na seqüência inicial, ouvimos o que está pensando o marido de Hannah (Mia Farrow), Elliot (o papel de Michael Caine). Elliot está pensando em como é bela e gostosa Lee (Barbara Hershey).

Na festa do Dia de Ação de Graças, em que Hannah reúne toda sua família e os amigos mais chegados, Elliot está desejando a cunhadinha! A irmã de sua própria mulher, que ele ama!

O texto que Woody Allen escreveu para botar na boca de Elliot-Michael Caine – a primeira dele do filme – é uma maravilha, e não resisto à vontade de transcrevê-lo:

– “Deus, ela é bonita. Tem os olhos mais lindos. Fica tão sexy naquele suéter. Quero estar sozinho com ela e segurá-la e beijá-la e dizer quanto eu a amo e tomar conta dela. Pare, seu idiota, ela é irmã da sua mulher. Mas não consigo evitar. Ela me consome. Já faz meses. Sonho com ela. Penso nela no escritório. Ah, Lee, o que eu vou fazer?”

Ah, mas que safado, que pilantra, que cafajeste à la personagem Nelson Rodrigues!

Será?

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Não sejamos duros demais, porque os homens têm falhas, defeitos, erram, cometem equívocos.

Em sua magistral crônica “O Amor Acaba”, publicada em 1964, 63 anos depois de Tchekov lançar Três Irmãs e 22 anos antes de Hannah e Suas Irmãs, Paulo Mendes Campos escreveu que “no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar”

A carne é fraca, e a carne de Lee é bela, e quando ela passa junto de Elliot durante a festa, o suéter realçando seus seios, e ele sente o cheiro dela, ele deseja a cunhada. Não é preciso ser propriamente um safado, pilantra, cafajeste, para desejar a cunhada.

Pode-se até ter pena do pobre homem. Está diante de um abismo: não procurou por ele, não saiu atrás dele – mas de repente está ali, diante do abismo, a um passo da tragédia.

Das três irmãs, Hannah é a única inteiramente resolvida, madura

Elliot é um bem sucedido consultor financeiro – um tipo raro entre os personagens de Woody Allen, que em geral são ligados à arte, ao mundo dos espetáculos.

Os pais das três irmãs são gente do show business. Ele (interpretado por Lloyd Nolan) é músico, ela (Maureen O’Sullivan, mãe Mia Farrow na vida real) é cantora, atriz. Na sequência inicial, estão entretendo os convidados na sala do amplo apartamento de Elliot e Hannah em Manhattan, ele ao piano, ela ao lado, cantando.

Veremos depois que aquele casamento de décadas é um tanto tempestuoso. A mãe sempre gostou de flertar com os homens que passam à frente dela, às vezes exagera na bebida, tem um comportamento um tanto extravagante. E isso deixa o pai das moças mortificado.

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Hannah, a primogênita, é atriz de teatro, e uma boa atriz. Havia deixado a profissão durante alguns anos para cuidar dos filhos gêmeos nascidos na época do casamento anterior, mas agora que os garotos estão um pouco maiores, aí com uns 5 anos, Hannah havia voltado a atuar.

Na verdade, Hannah é a única da três irmãs que, no início da narrativa, é uma mulher inteiramente resolvida, madura, independente.

Holly (o papel de Dianne Wiest, no segundo dos cinco filmes que faria com Woody Allen) nunca tinha se achado profissional ou afetivamente. O casamento – com um drogado – tinha fracassado. Ela tinha sido viciada em cocaína: estava limpa agora, e até pensava em estabelecer uma empresa para fornecer salgados e doces para festas, aproveitando o seu talento na cozinha e o da maior amiga, April (o papel de Carrie Fisher, alguns anos após o sucesso como a princesa Leia em Guerra nas Estrelas). Para montar o negócio, Holly precisaria de um capital de giro – que pede emprestado a Hannah num momento em que estão juntas na cozinha.

Lee também ainda não encontrou uma profissão. Fez alguns cursos, tem vontade de fazer outros, mas é tudo muito vago: trabalhar para pagar as contas, nada. Mas ela já havia sido bem mais perdida: tinha um passado de alcoolismo, e ainda hoje frequenta as reuniões dos AA. Alguns anos antes, havia encontrado um homem bem mais velho que ela, Frederick, um pintor de idéias e posturas extremamente rígidas, totalmente avesso à sociedade de consumo. (Frederick é interpretado pelo bergmaniano Max Von Sydow – uma forma de Woody Allen homenagear seu mestre Ingmar Bergman, e talvez de absorver um pouco de sua genialidade. Allen também importaria da Suécia o fotógrafo de Bergman, Sven Nykvist, para trabalhar em três de seus filmes.)

O lado cômico do filme fica por conta do personagem do próprio Woody Allen

Hannah, Holly, Lee, Elliot. O quinto dos protagonistas da história é Mickey, o ex-marido de Hannah, um diretor de programas de TV neurótico, hipocondríaco e cheio de dúvidas existenciais. Mickey é o papel que Woody Allen escreveu para ele próprio interpretar – mais um dos tantos alter-egos de Woody Allen, todos sempre muito parecidos entre si e com seu criador. Nova-iorquino, judeu, intelectual, do meio artístico e/ou do show business, neurótico, hipocondríaco, mergulhado em dúvidas existenciais.

Numa de suas muitas idas ao médico, Mickey se queixa de que não está ouvindo muito bem no ouvido esquerdo (ou seria o direito? ele não sabe ao certo). Mandam que ele faça exames, depois mais exames – e Mickey passa a ter a certeza de que tem uma doença terminal.

O que o levará a uma busca frenética por encontrar Deus. Tenta o catolicismo. Flertará até com o hare-krishna do Central Park.

O lado comédia escrachada de Hannah e Suas Irmãs é por conta do personagem e Mickey.

Há graça também quando a narrativa se concentra nos demais personagens, mas é uma graça bem mais suave, contida. O espectador gargalha quando Mickey-Woody Allen está em cena. O cotidiano das três irmãs, de Elliot e dos demais personagens é mostrado quase (mas só quase) como se fosse um drama sério sobre a vida o amor a morte.

Com Hannah, Woody Allen nos mostra algumas verdades óbvias – ou não tão óbvias

Na minha opinião, o roteiro de Hannah e Suas Irmãs é um dos mais perfeitos, mais intensos, mais belos, mais líricos da extensa filmografia do cara. O desenvolvimento da trama, os encontros, desencontros e reencontros, é tudo fascinantemente genial.

zzhannah4Com Hannah, Woody Allen, na minha opinião, nos mostra, de uma maneira linda, algumas verdades óbvias e outras não tão óbvias assim:

* Como escreveram Chico Buarque e Ruy Guerra, há distância entre intenção e gesto. E ela pode ser maior que um Amazonas, um Grand Canyon. Os personagens pensam uma coisa, sabem que devem agir de determinada maneira – mas em seguida fazem o exato oposto do que haviam planejado, do que acham que era o correto. A cena em que o pobre Elliot diz para si mesmo que deve ir com calma, que tem que ser diplomático, que não pode assustar Lee – e no momento seguinte se atraca com ela, em plena casa de Frederick, o companheiro dela – é antológica.

* “Be not too hard for soon he’ll die / Often no wiser than he began”, escreveram Donovan Leach e Christopher Logue – e, no entanto, as pessoas podem mudar, sim. Podem aprender, melhorar, avançar. Ninguém está condenado a ficar parado onde sempre esteve. Está aí Holly que não nos deixa mentir. Estão aí também os exemplos de Elliot, de Lee, do próprio Mickey.

* Um caso de infidelidade não necessariamente destrói um casamento. Muita gente não concorda com isso, acha que, se houve traição, acabou, danou-se. Não é verdade. Um caso de infidelidade não necessariamente destrói um casamento.

* E quer saber? A vida é bela. No mínimo, no mínimo, pode ser bela, nóis é que estraguê-la, como dizia o Fernando Rios, sabe-se lá por onde andará ele.

“Parar de procurar respostas que jamais encontraria, e curtir a vida enquanto ela dura”

Não sei se Woody Allen viu Sullivan’s Travels, no Brasil Contrastes Humanos. Muito provavelmente viu, é claro: é um apaixonado por filmes, e Sullivan’s Travels, que Preston Sturges lançou em 1941 é um clássico, uma obra-prima. Ao rever o filme em 2012, anotei: “Na minha opinião, Sullivan’s Travels, ao lado de A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, é o que de melhor o cinema já fez como pensata a respeito dos filmes escapistas que divertem multidões durante os períodos mais miseráveis da História.”

zzhannah7Minha opinião não interessa. O fato é que Woody Allen, ao final da narrativa de Hannah e Suas Irmãs (feito um ano após A Rosa Púrpura do Cairo), cita, conscientemente ou não, uma fabulosa sequência do final do filme de Preston Sturges – a antológica sequência em que o protagonista, o diretor de cinema bem sucedido John L. Sullivan, vê uma centena de homens miseráveis, despossuídos de tudo, até mesmo da liberdade, gargalharem até chorar diante de um desenho de Walt Disney.

Naquele momento, John L. Sullivan compreende pela primeira vez que as comédias – algo que ele havia feito com sucesso e depois passara a desprezar profundamente – podem ser a única fonte de alegria para as pessoas que não têm absolutamente nada.

Ou: rir é o melhor remédio. Ou ainda: o povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.

Mickey-Woody Allen, o judeu nova-iorquino intelectual neurótico, no fundo do fundo do poço de uma crise existencial, após vagar horas pelas ruas de Manhattan, entra num cinema para descansar, sem saber que filme está passando. E está passando um filme dos Irmãos Marx, que ele já havia visto várias vezes, desde que era criança.

E aí, no escurinho do cinema, enquanto a platéia gargalha diante da comédia dos Irmãos Marx, e o espectador também vê as cenas, Mickey – como ele mesmo narra para uma personagem e para quem está vendo Hannah e Suas Irmãs –, pensa que “deveria parar de procurar respostas que jamais encontraria, e curtir a vida enquanto ela dura”.

O filme ganhou 3 Oscars, e foi o maior sucesso comercial de Allen até Match Point

Algumas informações, alguns fatos sobre o filme, tirados do IMDb e de outras fontes, inclusive minha memória:

* Hannah e Suas Irmãs teve sete indicações ao Oscar. Perdeu nas categorias de melhor filme, melhor direção, melhor direção de arte e melhor montagem. Levou as estatuetas de melhor ator coadjuvante para Michael Caine, melhor atriz coadjuvante para Dianne Wiest e melhor roteiro original para Woody Allen.

* No total, o filme ganhou 29 prêmios, fora outras 20 indicações.

* Eis aí uma informação do IMDb que me surpreende: com US$ 40 milhões na bilheteria, este foi o filme de maior sucesso comercial do diretor até Match Point, de 2005. O site especializado Box Office Mojo confirma a renda de US$ 40 milhões e especifica que essa foi a bilheteria doméstica (Estados Unidos e Canadá). Não há referência à bilheteria no resto do mundo, o que é estranho, porque me parece que os filmes de Allen rendem mais fora dos Estados Unidos do que no mercado interno.

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* A narrativa é dividida em capítulos, como nos livros, como em muitos dos filmes da nouvelle vague francesa. Os títulos aparecem em letreiros brancos sobre fundo preto, com a mesma tipologia usada nos créditos iniciais de 99% dos filmes de Allen, e são bastante literários, bem construídos. Um deles, por exemplo, é “…. nobody, not even the rain, has such small hands” – ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas, um verso de e. e. cummings, com o qual Elliot pretende impressionar Lee.

* Como em tantos outros filmes do cineasta, a trilha sonora é formada por clássicos da Grande Música Americana. Há, por exemplo, “You made me love you” “I’ve heard that song before’, com a orquestra de Harry James; “Bewitched”, “I could write a book” e “Where or when”, de Rodgers & Hart; “Love is here to stay” e “Let’s call the whole thing off”, de George & Ira Gershwin. A ação se passa nos anos 80, mas a trilha é anos 40 puros.

* Allen disse em entrevista que resolveu escrever o roteiro do filme depois de reler Anna Karênina, de Liev Tolstói.

* Muitas das cenas de Hannah foram filmadas no apartamento de Mia Farrow em Manhattan. Embora tenham tido uma relação amorosa que durou quase dez anos, a atriz e o diretor nunca moraram na mesma casa.

* Os créditos finais mencionam Daisy Previn e Moses Farrow – dois dos filhos de Mia – como intérpretes dos filhos de Hannah. Segundo o IMDb, são quatro os filhos de Mia que aparecem em cenas das festas do Dia de Ação de Graças, inclusive Soon-Yi Previn, filha adotiva de Mia e do maestro e compositor Andre Previn e, desde 1997 e até hoje, esposa de Woody Allen.

* Que eu saiba, esta foi a única vez em que Maureen O’Sullivan – que ficou famosa como a Jane dos filmes de Tarzan dos anos 30 – interpretou a mãe da personagem de Mia Farrow, sua filha na vida real.

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* Quando Max von Sydow e Barbara Hershey terminaram de gravar a úlima sequência em que seus personagens aparecem juntos, a equipe e os demais atores os aplaudiram de pé, como na ópera.

* Lloyd Nolan, que faz o pai das três irmãs, morreu quatro meses depois da estréia o filme. Tinha 83 anos.

* O espectador terá que ser bem atento para observar uma pequena participação de John Turturro como um roteirista na emissora de TV em que trabalha Mickey-Woody Allen. Naquele mesmo ano se 1986 Turturro teria um papel bem mais importante em A Cor do Dinheiro, de Martin Scorsese. Em 2013, dirigiria Amante a Domicílio/Fading Gigolo, em que Woody Allen atua.

* O grande ator Richard Jenkins também faz uma ponta pequenina, como um dos médicos visitados pelo hipocondríaco Mickey. O papel é tão pequeno que não o reconheci, e me espantei ao ver seu nome nos créditos finais.

* Não aparece nos créditos finais – não sei por quê – o nome de outro ótimo ator, Sam Waterston. E ele aparece em várias sequências, no papel do arquiteto David, por quem as personagens Holly (Dianne Wiest) e April (Carrie Fisher) ficam caidinhas.

* Também não é creditado o ator Tony Roberts, que interpreta Norman, ex-colega e amigo de Mickey-Woody Allen. Tony Roberts trabalhou com Allen em Sonhos de um Sedutor (1972) e Annie Hall (1977).

“Tentamos organizar nossas vidas, mas nossos planos se perdem no tumulto das emoções”

Esta anotação já está imensa, e então vou aproveitar este fato como uma desculpa para não ter o trabalho de transcrever trechos de outras opiniões. Mas é necessário registrar que Roger Ebert, o grande crítico que amava os filmes que via, considerou, na época do lançamento, que Hannah e Suas Irmãs era o melhor de todas as obras de Woody Allen.

Ebert – que, é claro, dá a cotação máxima de 4 estrelas – fala da coisa dos capítulos, de que cada capítulo tem seu título. E resume, naquele texto maravilhoso dele: “Lá pelo fim do filme, os títulos dos capítulos e as citações estabeleceram uma verdade irônica: tentamos organizar nossas vidas de acordo com aquilo que lemos e aprendemos e acreditamos, mas nossos planos se perdem no tumulto das emoções”.

Grande Ebert!

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Leonard Maltin dá 3.5 estrelas em 4. Diz que Allen extrai ouro ao examinar como as vidas de alguns nova-iorquinos se cruzam.

Dame Pauline Kael, a língua mais ferina que já jogou veneno sobre os filmes os outros, diz: “Filme em tom menor, simpaticamente habilidoso de Woody Allen, um novo canto em seu contínuo poema de amor à cidade de Nova York, que inclui Annie Hall e Manhattan. É gostoso, mas desejaríamos que houvesse mais do que gostar”.

Tom menor é a senhora progenitora de Dame Pauline Kael.

O livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer faz paralelos entre o filme e o universo de Anton Tchekov.

– “Ah, Lee… Você é demais. Você está linda.”

Anotação em fevereiro de 2014

Hannah e Suas Irmãs/Hannah and Her Sisters

De Woody Allen, EUA, 1986.

Com Woody Allen (Mickey), Michael Caine (Elliot), Mia Farrow (Hannah), Barbara Hershey (Lee), Dianne Wiest (Holly), Lloyd Nolan (o pai de Hannah), Maureen O’Sullivan (a mãe de Hannah), Carrie Fisher (April), Max von Sydow (Frederick), Daniel Stern (Dusty), Lewis Black (Paul), Julia Louis-Dreyfus (Mary), Sam Waterston (David, o arquiteto), Tony Roberts  (Norman), John Turturro (roteirista na TV), Richard Jenkins (Dr. Wilkes), Bobby Short (ele mesmo), Daisy Previn, Moses Farrow e Soon-Yi Previn (os filhos de Hannah)

Argumento e roteiro Woody Allen

Fotografia Carlo Di Palma

Montagem Susan E. Morse

Direção de arte Stuart Wurtzel e Carol Joffe

Casting Juliet Taylor

Produção Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions, Orion Pictures Corporation. DVD MGM.

Cor, 106 min

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12 Comentários para “Hannah e Suas Irmãs / Hannah and Her Sisters”

  1. De entre os filmes que já vi de Woody Allen, este é, para mim, o melhor deles todos. Que maravilha, que delícia, que saboroso, que confortável que é ver “Hannah and her sisters”. A música “bewitched…” é, só para mim, uma mais valia. Além de ser uma balada linda, faz-me lembrar a cena da Rita Hayworth em “Pal Joey”, cantando essa mesma música com a sua blusa de dormir amarela e o cabelo ruivo. Essa música em instrumental dada no filme é ótima para adormecer crianças e adultos. As interpretações são ótimas. Diane Wiest está maravilhosa, mostrando a mulher frustrada e que se cansa depressa das coisas ou muda rapidamente de objetivo. O filme é Allen claramente: relativizar os problemas, perdoar os outros. Uma obra prima

  2. Que bom encontrar mais pessoas que adoram esse filme!!!
    Apesar dos prêmios que ganhou, eu não conhecia ninguém que o citava entre os melhores filmes da vida (aqui ele está entre os que tem a pontuação máxima: 4 estrelas).
    A graaande maioria da pessoas com que já conversei sobre ele, o acha leeento.
    Sim, não é um filme de ação, é um filme de “beleza”, de sentir a tripla conexão: autor (diretor) + arte (7a.) + espectador (eu).
    Filme de uma época que me cabia o rótulo “cinéfilo”.

    Parabéns pelo site!

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