(Disponível na Netflix em março de 2022.)
Não Olhe Para Cima não é assim propriamente um filme fino, educado, elegante. De jeito algum. Não tem nada a ver com o que antigamente se chamava de piada de salão. É uma piada de botequim – sem qualquer medo de ser grosseira, suja, cheia de palavrões.
É uma comédia de um humor sarcástico, forte, virulento, explosivo. Não veio para ficar em cima do muro, tentando agradar a todos. Não, não, não de jeito algum. É um libelo, um panfleto, um canhão contra a direita radical e até a não tão radical assim, contra os retrógados, os caretas, os negacionistas, os que não enxergam e não querem enxergar os fatos mais óbvios que a ciência aponta, como, por exemplo, as mudanças climáticas, o aquecimento global. Ou negacionistas que por ignorância ou má-fé, ou as duas coisas juntas, tentam diminuir os perigos de uma pandemia, ou menosprezar as melhores armas para combatê-la.
Um filme que goza os trumpistas – e faz piadas sobre a própria polarização em que a sociedade americana se meteu (assim como a brasileira, assim como tantas outras nestes últimos anos) – não poderia mesmo ser acolhido com unanimidade. E não deu outra: poucos filmes lançados nos últimos anos receberam ao mesmo tempo tantos elogios e tanto pau, tanto cacete.
O grande site enciclopédico IMDb anotou que este é um caso raríssimo de filme que recebeu ao mesmo tempo a nota de “rotten”, podre, no site agregador Rotten Tomatoes e também a indicação para o Oscar de Melhor Filme.
(Houve apenas um outro caso parecido, o de Tão Forte e Tão Perto/Extremely Loud & Incredibly Close, de 2011, do inglês Stephen Daldry, com Tom Hanks e Sandra Bullock, sobre os ataques terroristas de 11 de setembro.)
Não conheço direito o Rotten Tomatoes, não entendo muito bem seus signos, mas parece que, entre 288 textos de críticos que o site examinou, 55% deles dizem que o filme é podre.
Fui até o site RogerEbert.com, que, teoricamente, mantém a memória do grande crítico que era sempre bem-humorado, inteligente, sensível, amava ver filmes, amava os filmes que via, e sempre tentava enxergar neles o que havia de melhor. A crítica de Don’t Look Up dá ao filme 1.5 estrela em 4, e é irritadiça, chata, mal-humorada. Não dá para saber, é claro, como Roger Ebert reagiria diante deste filme radical, apaixonado – mas fico aqui imaginando que ele poderia fazer um ou outro senão, mas ao final concordaria com os realizadores. Roger Ebert não era um reacionário pró-trevas – muito antes ao contrário.
Eu diria que quem ficou furibundo com Don’t Look Up ou é um reacionário pró-trevas, ou sofre de um mau humor doentio, ou então simplesmente não entendeu o que viu.
Com 8 minutos de filme, a questão toda está posta
Aos 5 minutos do filme, vemos na tela, em um super big close-up, que a caneta do cientista acabou de escrever num quadro branco o número 0,0. O espectador que estiver muito ligado, muito atento, já percebeu o que está acontecendo.
Quando estamos chegando aos 8 minutos, a coisa é dita com absolutamente todas as letras: um cometa gigantesco, com um diâmetro entre 5 e 10 quilômetros, está viajando no espaço rumo à Terra. Os cálculos foram feitos e refeitos diversas vezes, e não há dúvida alguma: vai haver uma colisão direta do cometa com a Terra dali a 6 meses e 14 dias.
Revi agora, enquanto escrevia este texto, o início do filme. Revi parando e voltando, vendo cada detalhe – e, meu, como é brilhante. Como é extremamente bem elaborado o roteiro, como é magnificamente encenado esse início de filme. Os realizadores apresentam o tema, o quadro geral, a coisa toda em apenas e tão somente 8 minutos!
Quem descobre a existência do cometa é Kate Dibiasky, uma jovem astrônoma que se prepara para obter um PhD e trabalha no observatório espacial da Michigan State University. Os cálculos sobre a trajetória do cometa são primeiramente feitos pelo orientador dela, o dr. Randall Mindy. Os dois passam o dia seguinte refazendo os cálculos – e não dá outra. O cometa vem aí, e o choque dele contra nosso planetinha mixuruca vai simplesmente acabar com todas as formas de vida.
A jovem astrônoma Kate, que mais parece uma garotinha groupie de algum grupo da oitava geração do punk inglês, com um horroroso piercing no nariz, e o professor e chefe dela no Observatório da Michigan State são os protagonistas da história – os papéis de Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio. Estão excelentes, assim como todo o maravilhoso elenco, que tem ainda nada mais nada menos que Meryl Streep e Cate Blanchett, e ainda o veterano Mark Rylance e o jovem Timothée Chalamet.
A trama foi criada pelo diretor Adam McKay e David Sirota, e o roteiro é do diretor. É uma maravilha de história – mas há tanta coisa fascinante e surpreendente que fico achando que não deveria ficar relatando aqui, já que seriam spoilers para quem ainda não viu o filme.
Assim, vou tentar relatar só algumas coisas bem básicas.
Fim do mundo? A presidente não dá a menor bola
Meryl Streep interpreta Janie Orlean, a presidente dos Estados Unidos, a quem o dr. Mindy e a jovem Kate, acompanhados pelo dr. Teddy Oglethorpe (Rob Morgan), chefe do Departamento de Coordenação de Defesa Planetária da NASA, vão apresentar a questão.
Cate Blanchett faz Brie Evantee, a apresentadora de um popularíssimo programa de entrevistas da TV. O dr Mindy e Kate vão ao programa que Brie Evantee divide com Jack Bremmer (Tyler Perry) para tentar explicar ao público, ao povo americano, o que está acontecendo, o que está para acontecer.
O Apocalipse, o dia do Juízo Final, o Doomsdsay, o Armageddon. O fim do mundo.
A presidente Orlean está muito mais interessada na questão do indicado dela à Suprema Corte do que no fim do mundo. Ela havia indicado um ex-amante, o xerife Conlon (Erik Parillo), para uma vaga aberta na Suprema Corte, e o nome dele estava encontrando grande resistência na imprensa e no Legislativo, e a controvérsia não era nada boa para ela, já que se aproximavam as midterm elections, as eleições que acontecem ao final do segundo ano dos mandatos presidenciais.
E os apresentadores do programa de gigantesca audiência na TV estão muitíssimo mais interessados na entrevista com a jovem cantora sensação Riley Bina (o papel de Ariana Grande, ela mesma uma cantora sensação) do que no fim do mundo. Riley Bina havia rompido o namoro com o também famoso DJ Chello (o papel de Kid Cudi, ele mesmo um conhecido rapper), depois de flagrá-lo com outra. Os produtores do programa conseguiram, durante a entrevista com a cantora, colocar o DJ na linha e na tela, e os dois artistas sensação reatam ali, ao vivo, o que faz estourar o Twitter, o Facebook, os índices de audiência.
Diante do reatamento, ao vivo, de uma cantora sensação com seu namorado DJ sensação, que importância tem o fim do mundo, meu Deus do céu e também da Terra?
Há ainda um outro personagem fundamental na história, um sujeito chamado Peter Isherwell, dono da (fictícia, é claro) maior empresa de tecnologia dos Estados Unidos e do mundo, a Bash. A Bash é assim uma espécie de Apple misturada com a Microsoft e com a Amazon e com a Tesla, e Isherwell é uma mistura de Steve Jobs, Bill Gates, Jeff Bezos e Elon Musk – com todo o poder deles e sem um pingo sequer do caráter de cada um. É o papel desse excelente Mark Rylance, de Ponte dos Espiões (2015), Dunkirk (2017), Os 7 de Chicago (2020).
Já o papel de Timothée Chalamet, outro jovem sensação do showbiz americano, que Woody Allen dirigiu em Um Dia de Chuva em Nova York (2019), é menos importante. Ele faz Yule, um garotão despreocupado que, já passada a metade do filme, vai dar em cima de Kate.
O negacionismo, a polarização e o poder das corporações
Filme sobre o fim do mundo, o temor do fim do mundo, a aproximação do fim do mundo e mesmo o pós-fim do mundo é o que não falta. É praticamente um gênero, cheio de subgêneros. A guerra fria, o medo de um conflito nuclear foram o pano de fundo para abacaxis e grandes filmes, como, só para dar uns pouquíssimos exemplos, o Dr. Fantástico/Dr. Strangelove (1964) de Stanley Kubrick, A Hora Final/On the Beach (1959) de Stanley Kramer, O Diabo, a Carme e o Mundo (1959) de Ranald MacDougall, O Planeta dos Macacos (1968) de Franklin J. Schaffner e todos os que vieram depois deste original.
Vários já falaram especificamente dessa coisa de cometas e/ou meteoritos avançando contra a Terra. O site Pipoca3D.com.br fez uma relação de dez filmes sobre o tema. Aqui vão alguns, em ordem cronológica inversa: Destruição Final: O Último Refúgio (2020), de Ric Roman Waugh, Armageddon (1998), de Michael Bay, Impacto Profundo (1998), de Mimi Leder, Meteoro (1979), de Ronald Neame, A Morte Vem do Espaço (1958), de Paolo Heusch, Fim do Mundo (1951), de Rudolph Maté
E a lista tem ainda Fim do Mundo, um filme que Abel Gance fez em 1931, muito antes do início da guerra fria, oito anos antes do começo da Segunda Guerra Mundial! Abel Gance, o visionário que fez em 1927 o mastodonte Napoleão, de 5 horas e 30 minutos de duração. O cara que o grande crítico e historiador Jean Tulard define assim: “Abel Gance ocupa no cinema francês um lugar comparável ao de Victor Hugo na literatura. É o grande pioneiro. Inventou de tudo.”
Nunca soube desse La Fin du Monde de Abel Gance, mas a vida é assim mesmo, wimwenders e aprendenders (e depois esquecenders, mas isso é outra história), e então vale a pena mencionar que naquele filme, pelo que vejo agora, dois irmãos, Jean e Martial, estão apaixonados pela mesma mulher, Geneviève. Jean é um ator pobre, idealista, e Martial é um respeitado astrônomo que descobre que o cometa Lexell está em trajetória rumo à Terra. Martial tenta aproveitar a ameaça que paira sobre a humanidade para tentar fazer os políticos compreenderem a necessidade de reorganizar e melhorar as estruturas sociais.
O temor do fim do mundo por um conflito nuclear parecia uma coisa que tinha ficado para trás, depois do fim da guerra fria – até o tiranete Vladimir Putin mostrar suas garras. Até janeiro de 2022, antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, e das ameaças veladas do ditador de usar armas nucleares, o perigo do fim do mundo não vinha de bombas, mas da destruição do ambiente pelos homens, que está levando ao aquecimento global.
A contagem regressiva para a chegada do cometa de Não Olhe Para Cima é evidentemente uma metáfora para a iminência da destruição do planeta pelo aquecimento global.
O que torna o filme especial, importante, urgente, necessário é que ele, diferentemente de todos os anteriores, focaliza especificamente este fenômeno terrível – e atualíssimo – do negacionismo.
A presidente dos Estados Unidos leva um tempão para se mexer e começar a levar a sério a informação de que todo tipo de vida no planeta será extinto numa data determinada, que se aproxima. A imprensa demora demais.
E, além do negacionismo dos líderes políticos e dos jornalistas, o filme mostra, com brilho, como a população se divide ao meio entre os que crêem no que os cientistas estão falando e os que se negam a acreditar. Os que se recusam a olhar para o céu e os que chamam a atenção dos outros para o fato de que basta olhar para o céu que já se vê o cometa chegando.
E é impressionante a gente ver como o negacionismo está associado à extrema direita – Donald Trump, Jair Bolsonaro… Os mesmos que trataram a pandemia do novo coronavírus como se fosse uma gripezinha.
A polarização – metade do país de um lado, metade do país de outro. Exatamente como os Estados Unidos diante de Donald Trump, exatamente como o Brasil diante de Bolsonaro.
A polarização política se exacerbou, de fato, nos últimos anos – não há dúvida alguma disso. Mas a verdade é que os Estados Unidos, em especialmente, já são um país dividido ao meio faz tempo, e o cinema sempre mostrou isso. Pena de morte ou não pena de morte, direito ao aborto ou aborto proibido, ensino de criacionismo ou evolucionismo nas escolas – bons filmes já mostraram a polarização da sociedade americana diante de todos esses temas importantíssimos.
Além da crítica feroz ao negacionismo diante dos alertas da ciência, e além da exposição da polarização da sociedade, o filme também insiste (e muito) na questão do poderio gigantesco, absurdo, das grandes empresas, das grandes corporações, através da figura daquele bilionário Peter Isherwell. O mega-empresário consegue alterar completamente, em benefício próprio, o projeto que o governo americano havia enfim decidido tocar de lançar mísseis poderosos para explodir o cometa bem antes de ele se aproximar mais da Terra.
McKay dirigiu três indicados ao Oscar de melhor filme
Exatamente como o Dr. Strangelove de Kubrick tratava a ameaça de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética com doses mastodônticas de humor, ironia, sarcasmo, este Não Olhe Para Cima usa humor, ironia, sarcasmo para alertar que o perigo do fim do mundo com o aquecimento global existe, sim, e não há tempo a perder.
A comparação com a obra-prima de Kubrick faz sentido, sim. Os dois têm a ver um com o outro. Mas os filmes que são mais próximos deste Não Olhe Para Cima, na minha opinião, são Mera Coincidência/Wag the Dog (1997), de Barry Levinson, e A Lavanderia/The Laundromat (2019), de Steven Soderbergh.
No primeiro, um esperto assessor do presidente americano, candidato à reeleição, procura um produtor de Hollywood para fabricar uma guerra e com isso desviar a atenção dos eleitores de um recente escândalo sexual envolvendo o presidente. Lá pelas tantas o produtor e o assessor (interpretados respectivamente por Dustin Hoffman e Robert De Niro) montam uma reunião de estrelas da música popular para gravar uma música à la “We Are the World”. Em Não Olhe Para Cima há algo bem parecido – um show de música em que a garotinha sensação Riley Bina-Ariana Grande e seu namorado DJ Chello-Kid Cudi, recém-convertidos à turma pró-ciência, apresentam a canção “Just Look Up”, apenas olhe para cima.
O segundo filme de que me lembrei demais por causa de Don’t Look Up, A Lavanderia, é uma paulada, um panfletaço contra as mazelas do capitalismo, em especial da área das finanças, contra a forma com que funciona boa parte do sistema financeiro mundial. Como é uma paulada, um panfletaço, não tem nada a ver com sutileza, elegância, refinamento. Exatamente como este filme aqui escrito e dirigido por Adam McKay.
Quem mesmo?
Pois é. Confesso, com alguma vergonha, que não tinha a mínima idéia de quem é Adam McKay.
Nem o Dicionário de Cineastas de Rubens Ewald Filho, nem o Dicionário de Cinema – Os Diretores de Jean Tulard, nem o 501 Movie Directors de Steven Jay Schneider têm verbete sobre Adam McKay. Isso poderia ser um consolo – mas talvez seja um aviso de que meus alfarrábios estão ficando velhos.
Adam McKay nasceu na Filadélfia, em 1968, o ano em que mudei para São Paulo e vi, só para citar alguns dos primeiros do meu caderno, Cão Danado de Akira Kurosawa, A Faca na Água de Roman Polanksi, A Guerra Acabou de Alain Resnais, Persona de Ingmar Bergman e Sindicato de Ladrões de Elia Kazan.
Começou a carreira em 1995 – e é do tipo que trabalha demais. É produtor (91 títulos na filmografia), roteirista (41 créditos), ator (15 créditos) e diretor (27 títulos, entre séries de TV, curtas e longa-metragens). Entre os filmes que dirigiu estão Quase Irmãos (2008), Os Outros Caras (2010) e Tudo por um Furo (2013), todos eles comédias, todos eles estrelados por seu amigo Will Ferrell, com quem tem uma companhia produtora.
Em 2015 e depois novamente em 2018 Adam McKay se aventurou em dois filmes mais sério, embora o IMDb os classifique tanto como drama quanto como comédia. A Grande Aposta mostra um grupo de investidores que apostou contra o mercado de hipotecas – o setor em que se iniciou o que viria a ser a mais grave crise financeira do mundo capitalista desde a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. O filme foi muitíssimo bem recebido pela crítica, teve 37 prêmios e 81 indicações; ganhou cinco indicações ao Oscar, inclusive nas categorias de melhor filme e melhor direção, e levou o de roteiro adaptado, de autoria deMcKay e Charles Randolph.
Vice, com roteiro só dele, é uma biografia de Dick Cheney, o polêmico vice de George W. Bush. Da mesma forma que A Grande Aposta, Vice foi muitíssimo bem recebido pela crítica, teve no total 35 prêmios e 139 indicações. Recebeu nada menos de oito indicações ao Oscar, inclusive na categoria principal, de melhor filme. (Diabo: eu não me lembrava disso.)
Apesar de ter levado tanta paulada, Não Olhe Para Cima teve 14 prêmios e 85 indicações – entre elas, quatro ao Oscar, nas categorias de melhor filme, melhor roteiro original, melhor montagem, melhor trilha sonora original.
Eu não conhecia Adam McKay – mas o cara teve três de seus filmes indicados a Oscars nos últimos anos. Inclusive o mais importante de todos. É muita ignorância da minha parte.
Quem inspirou que personagem
A revista Veja fez uma reportagem mostrando quem são as personalidades da vida real que inspiraram os personagens do filme. Isso parece uma delícia. Vamos lá:
Kate Dibiasky, a jovem astrônoma vivida por Jennifer Lawrence, teria muito da ativista sueca Greta Thunberg por seu jeito escancarado, sem papas na língua, de dizer as verdades.
A presidente dos Estados Unidos é evidentemente inspirada em Donald Trump. Diz o texto de Raquel Carneiro na Veja: “Ex-apresentadora de TV, envolvida em escândalos sexuais, negacionista e sedenta por poder e dinheiro, a presidente Janie Orlean, vivida por Meryl Streep, é uma alusão mais do que óbvia a Donald Trump. Grande representante dos movimentos anticiência, Trump fez diversos comentários absurdos sobre o aquecimento global e sobre a Covid-19 – ele chegou a dizer que a pandemia era uma mentira, feita para derrubá-lo da Presidência.”
O mega-empresário Peter Isherwell interpretado pelo grande Mark Rylance claro que faz lembrar Mark Zuckerberg, Steve Jobs e Elon Musk, diz a revista.
O texto lembra ainda que, exatamente como a cantora Riley Bina que ela interpreta, Ariana Grande adora falar de sua vida pessoal em público.
Sobre Leonardo DiCaprio e o seu dr. Randall Mindy, eis o que diz o texto de Raquel Carneiro: “Engajado em causas de preservação ambiental e uma das celebridades mais vocais em relação ao aquecimento global, Leonardo DiCaprio transita há tempos entre cientistas da área por causa da fundação de proteção ambiental que leva seu nome. O ator disse que seu personagem, Randall Mindy, é uma ‘sólida representação’ dos diversos cientistas que tentam há décadas alertar sobre as mudanças climáticas. Mindy, porém, em determinado ponto do filme, se rende às necessidades midiáticas e à fama, com o discurso de que está tentando passar a mensagem de maneira clara ao mundo — suas tentativas frustradas, porém, remetem ao trabalho do infectologista Anthony Fauci que, durante a pandemia, se mostrava calmo diante dos absurdos ditos pelo então presidente Donald Trump, em pronunciamentos feitos ao lado do médico.”
É isso. Um filme muitíssimo bem realizado em todos os aspectos, inteligente, engraçado, que fala de coisas seriíssimas e reduz Donald Trump, os trumpistas, os negacionistas de todos os matizes ao que eles são mesmo – poeira do cocô do cavalo do bandido…
Definitivamente, não é um filme para agradar a todo mundo.
Anotação em março de 2022
Não Olhe Para Cima/Don’t Look Up
De Adam McKay, EUA, 2021
Com Leonardo DiCaprio (professor Randall Mindy),
Jennifer Lawrence (Kate Dibiasky, candidata a PhD)
e Meryl Streep (Janie Orlean, a presidente dos Estados Unidos), Cate Blanchett (Brie Evantee, apresentadora de TV), Rob Morgan (dr. Teddy Oglethorpe, chefe do Departamento de Coordenação de Defesa Planetária da NASA), Jonah Hill (Jason Orlean, filho e assessor da presidente Orlean), Mark Rylance (Peter Isherwell, bilionário CEO de empresa de tecnologia), Tyler Perry (Jack Bremmer), Timothée Chalamet (Yule, garotão que vai namorar Kate), Ron Perlman (Benedict Drask), Ariana Grande (Riley Bina, a jovem cantora), Kid Cudi (DJ Chello, namorado de Riley Bina), Hettienne Park (dra. Calder, a presidente da NASA), Himesh Patel (Phillip, o jornalista namorado de Kate), Melanie Lynskey (June Mindy, a mulher do dr. Randall), Michael Chiklis (Dan Pawketty), Erik Parillo (xerife Conlon, o indicado para a Suprema Corte), Paul Guilfoyle (general Themes), Robert Joy (deputado Tenant), Jack Alberts (Oliver), Robert Radochia (Evan Mindy, filho do dr. Randall), Conor Sweeney (Marshall Mindy, filho do dr. Randall), Liev Schreiber (narrador no evento da BASH, a empresa de tecnologia)
Roteiro Adam McKay
História de Adam McKay & David Sirota
Fotografia Linus Sandgren
Música Nicholas Britell
Montagem Hank Corwin
Casting Francine Maisler
Direção de arte Clayton Hartley
Produção Adam McKay, Kevin J. Messick, Hyperobject Industries, Province of British Columbia Production Services, Bluegrass Films
Cor, 138 min (2h18)
****
Olá Sérgio,
Acho que sua visão sobre esse filme é semelhante a que tive, mas ao contrário de ti, eu já conhecia alguns filmes de Adam McKay, especialmente os com o Will Ferrell. Trago aqui minha resenha sobre esse filme para ilustrar o que penso sobre o mesmo.
Adam McKay é um diretor que na maioria de sua filmografia tem mostrado que possui uma faceta com um humor antenado com o que acontece no mundo. Foi assim em Quase Irmãos, uma comédia sobre dois quarentões que ainda moram com os pais, mas já tinha dado em O Âncora e na sua continuação Tudo por um furo, uma demonstração dessa maneira de contar suas histórias e mesmo em um drama mais encorpado como A Grande Aposta tinha sua assinatura peculiar, seja na direção de seu elenco ou na estruturação da trama principal. Digo isso porque assisti todos os filmes mencionados e vendo agora esse Não Olhe para cima, percebo que ele elevou o nível na questão de colocar acidez em temas espinhosos e desde a primeira tomada é isso o que vemos.
Com atuações que de tão non sense parecem caricatas, o filme vai trazendo à tona tudo o que o diretor pretendia ao contar uma história surreal sobre o fim do mundo e principalmente sobre a questão do poder e como isso influencia as vidas das pessoas, para o bem ou para o mal.
Esse é um filme para assistir e ter atenção às mensagens que ele traz, mas também para não ser levado tão a sério a ponto de não relevar algumas incongruências que a história vai trazendo no seu decorrer. Para quem levou a sério, recomendo que assista aos filmes mencionados acima para entender que a maneira de Adam McKay contar histórias é semelhante a vista nesse Não Olhe Para Cima.
Olá, Junior!
Pô, que legal seu comentário, sua resenha! Uma beleza, porque ela mostra quem é Adam McKay, como é seu jeito, seu estilo.
Complementa meu texto e adiciona uma outra visão, diferente da minha, a visão de quem conhece a obra do diretor!
Muito obrigado! Um grande abraço!
Sérgio