Eis aí uma pequena pérola do cinema independente feito na América do Norte. Inteligente, simpático, gostoso, com ótimos personagens, ótimas atuações, esbanjando criatividade, Um Ano em Nova York/My Salinger Year é uma daquelas surpresas maravilhosas.
Usei “feito na América do Norte” porque o filme, de 2020, é uma co-produção Canadá-Irlanda. O diretor é um canadense de Québec, Philippe Falardeau. Mas a ação se passar em Nova York, com atores americanos – Margaret Qualley faz a jovem protagonista, e a deusa Sigourney Weaver, com mechas brancas no cabelo que fazem lembrar a escritora Susan Sontag, tem o segundo papel principal.
E o filme tem tudo a ver com o cinema independente dos EUA. Foi feito com orçamento modesto, sem grande campanha publicitária. Fala do dia-a-dia de pessoas que não são super-heróis nem criminosos, que fazem parte da imensa maioria da população que trabalha, segue as leis; mostra seu cotidiano, a forma com que tocam seus empregos, suas relações afetivas, seus amores, suas ansiedades. Ou seja, o que realmente importa na vida, o que interessa aos espectadores maduros ver no cinema.
Só não se pode dizer que, como na imensa maioria dos filmes do cinema independente americano, este My Salinger Year fala de pessoas simples, comuns, “normais”, gente como a gente. Vários dos personagens são nova-iorquinos ricos ou de classe média alta, moradores de belíssimos apartamentos na ilha de Manhattan, o centro do capitalismo mundial. Vários são da elite da elite cultural daquele que é o país mais rico do mundo. Assim, não dá pra dizer que são propriamente gente como a gente.
Joanna, a protagonista, interpretada, repito, por Margaret Qualley, diz de cara, logo na primeira sequência do filme, olhando diretamente para a câmara da diretora de fotografia Sara Mishara, ou seja, olhando nos olhos do espectador:
– “Cresci em uma pacata cidade ao norte de Nova York. Em certas ocasiões, meu pai me trazia para a cidade, e íamos comer uma sobremesa no Waldorf ou no Plaza.”
A câmara está mostrando Joanna-Margaret Qualley em plano americano – a rigor, com o quadro um pouco mais fechado que o plano americano. Nós a vemos de poucos centímetros abaixo do pescoço até, claro, o alto da cabeça; atrás dela há um vitral branco e amarelo. Joanna aparenta ter uns 20 anos, mas é um pouquinho mais velha. Não se fala explicitamente no filme, mas ela tem aí de 23 para 24. É bonita – não linda, mas bonita, com cabelos castanho-escuros presos atrás, o rosto expressivo, grandes olhos verdes bem claros. Ela prossegue:
– “Eu amava observar as pessoas. Elas pareciam ter vidas interessantes. Eu queria ser uma delas. Eu queria escrever livros, falar cinco línguas, viajar. Eu não queria ser comum. Eu queria ser extraordinária.”
Ao longo dos 101 minutos do filme que está começando, veremos que de fato Joanna teve oportunidades excepcionais na vida.
Um emprego em famosa agência literária
Joanna prossegue falando conosco, enquanto agora vemos as cenas que ela vai descrevendo.
– “Essas memórias me voltaram ao pensar sobre quando, no ano passado, vim visitar minha melhor amiga em Nova York. Eu ficaria alguns dias, e depois voltaria para Berkeley, onde meu namorado me esperava.”
Vemos Joanna caminhando numa calçada, puxando uma mala de rodinhas. Berkeley, é bom lembrar, é a cidade junto da Baia de San Francisco em que fica a Universidade da Califórnia – Berkeley, uma das mais respeitadas e requisitadas universidades públicas do país.
– “Mas algo mudou”, ela diz.
O que aconteceu desde o ano anterior, quando Joanna chegou a Nova York, até o momento em que está nos contando sua história é o que filme mostra.
Um letreiro já havia avisado que estamos em 1995.
A mudança começou quando ela resolveu ir ficando em Nova York, em vez de voltar para a faculdade no outro lado do país.
E a grande mudança veio quando Joanna – com seu currículo de boa formação em Letras, inclusive com curso em universidade de Londres –, foi admitida em uma das mais famosas, prestigiosas, importantes agências literárias dos Estados Unidos, a Harold Ober Associates, que já havia representado Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Agatha Christie e tinha, entre seus clientes… o Salinger do título original do filme
J.D. Salinger, o sujeito que escreveu Franny and Zooey, Nine Stories e, sobretudo, e bota sobretudo nisso, The Catcher in The Rye – em Portugal À Espera no Centeio ou Uma Agulha num Palheiro, no Brasil O Apanhador no Campo de Centeio.
É bem provável que The Catcher in the Rye seja o romance mais importante, mais influente, mais lido, mais amado nos Estados Unidos, desde que foi lançado, em 1951. Dá para fazer, sem muita chance de erro, a seguinte afirmação peremptória: entre os americanos das últimas várias décadas que tiveram a chance de uma educação razoável, são bem poucos os que não leram The Catcher in the Rye.
É um fenômeno que não tem comparação com nenhum outro. No Brasil, não existe nada parecido; O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, foi o livro de cabeceira de algumas gerações, da minha inclusive, mas não chegou nem de longe a ser algo tão avassalador.
Não dá para fazer uma afirmação tão peremptória nem sobre Agatha Christie. Nem mesmo com relação a Arthur Conan Doyle, o autor – perdão, sherlockistas, sherlockeanos, eu quis dizer o homem que assina as histórias de Sherlock Holmes. (Segundo os milhares e milhares de especialistas em Sherlock Holmes, quem escreveu as histórias foi o dr. John Watson, que as entregou a um conhecido dele, Arthur Conan Doyle.)
Talvez uma afirmação assim só possa ser feita sobre as gerações mais jovens com relação a J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter.
Consta que são vendidos 1 milhão de exemplares de The Catcher in the Rye a cada ano. No total, já foram vendidos 65 milhões de cópias.
Se entre os americanos que tiveram a chance de uma educação razoável são bem poucos os que não leram The Catcher in the Rye, havia também bem poucos os que, em 1995, o ano em que se passa a história de My Salinger Years, não conheciam as histórias que se contavam a respeito do escritor.
Até as pedrinhas dos desertos do Arizona e do Novo México estravam cansadas de saber que Salinger não falava com ninguém. Tinha virado um recluso, a partir de 1953, apenas dois anos depois que as desventuras do adolescente Holden Caufield haviam chegado às livrarias. Tinha dado uma de Greta Garbo: resolvera que wanted to be alone, e absolutamente solitário, recluso, ficou, em sua propriedade em Cornish, New Hampshire.
Joanna tinha que ler as cartas dos leitores a Salinger
Pois bem: quando Margaret, a absolutamente rigorosa, séria, dura, rija diretora geral da agência literária (o papel, de Sigourney Weaver), admitiu a jovem Joanna, deu a ela, entre outras, a tarefa de cuidar da correspondência endereçada a J.D. Salinger.
Diariamente a agência recebia algumas dezenas de cartas, vindas de absolutamente todos os cantos dos Estados Unidos (e de fora também, claro), de leitores de Salinger. A imensa maioria era de adolescentes – garotos e garotas que se identificavam com Holden Caufield, e queriam contar seus problemas ao sujeito que o criou, trocar idéias com ele, pedir sua opinião, sua ajuda, sua orientação.
Lá atrás, décadas atrás, Salinger havia dado ordens expressas para que a agência não enviasse as cartas dos leitores para ele. Ele não queria saber. E então a agência havia preparado alguns modelos de respostas para as cartas. Tipo assim: se eram basicamente elogios ao autor, havia um modelo de resposta; se eram opiniões sobre as obras, outro modelo; se eram comentários sobre as atitudes de Holden Caufield, um modelo. E assim por diante.
E uma das tarefas de Joanna – uma jovem de 23 anos de idade, formada em Letras, apaixonada por livros, leitora voraz, ela mesma aspirante a escritora, alguns poemas já publicados em revistas universitárias – era ler as centenas e centenas e centenas de cartas dos leitores de J.D. Salinger, e datilografar a resposta a cada uma delas, de acordo com aqueles modelos pré-determinados.
Ah, sim, datilografar. Nada de ter a resposta básica pronta no Word, ou qualquer outro programa, e apenas acrescentar a data e o nome de cada destinatário da carta no cabeçalho, antes de imprimir. Naquela tradicionalíssima agência literária – em que tudo parecia estar intocado desde 1927, como Joana comenta com alguém a uma certa altura –, não havia computador. A entrada de computadores era proibida pela chefona Margaret, que tinha ojeriza por essas modernidades.
Uma chefe muitíssimo respeitada, reconhecida como profissional da maior excelência, e uma jovem iniciante no mercado de trabalho. Mary achou que a relação entre a Margaret de Sigourney Weaver e a Joanna de Margaret Qualley tinha a ver com aquela entre a Miranda Priestley de Meryl Streep e a Andy Sachs de Anne Hathaway de O Diabo Veste Prada (2006). Tem a ver, sim, sem dúvida. Há até mesmo duas figuras que, na agência literária aqui, fazem lembrar a de Nigel-Stanley Tucci na redação da revista feminina dirigida por Miranda-Meryl Streep.
Assim como Nigel era um experiente colaborador de Miranda, e conhecia bem todos os meandros da revista, na agência literária Hugh (Brían F. O’Byrne) é um experiente braço de direito de Margaret, conhece tudo do trabalho – e se afeiçoa pela novata, cuida para que ela não faça nada errado, não atraia a ira da chefona.
Mas essa Margaret, embora uma chefe rígida, exigente, durona, é, na verdade, bem menos ditatorial, menos sargentona do que a Miranda Priestley de O Diabo Veste Prada.
23 aninhos apenas – e já havia vivido tanto
A questão – uma das questões – são as cartas dos leitores. Como uma jovem sensível, cheia de aspirações literárias, autora de poemas, poderia enfrentar a barra de ler todas as cartas, cuidadosamente, sabendo que elas não seriam respondidas pelo destinatário?
Joanna fica amargurada com aquilo. Morre de dó das pessoas que escreveram as cartas.
E aqui entra uma dose imensa e deliciosa da criatividade do diretor – e também autor do roteiro – Philippe Falardeau. Ele colocou na tela uns cinco ou seis atores representando leitores – e nós os vemos falando para a câmara o que estão escrevendo para Salinger.
Há um rapaz de Winston-Salem (Théodore Pellerin), que expõe para o criador de Holden Caufield o que sente em relação ao personagem, as semelhanças que crê existir entre os dois. As cartas desse rapaz mexem com Joanna. Ela fica absolutamente louca para responder às cartas dele – não com aquele modelo gelado, impessoal, frio, mas com palavras reais, que exprimissem sensações, que tranquilizassem seus temores, que o ajudassem nas suas inseguranças.
Há uma garotinha que estava ameaçada pela professora de tomar bomba na escola – a não ser que conseguisse obter uma resposta de Salinger a uma carta dela. A atriz que faz a garotinha, Romane Denis, é uma figura.
Como resistir à vontade de responder a algumas dessas cartas?
Como conviver com aquele ambiente em que volta e meia aparecem autores, escritores que ela admira, sem ter vontade de ter mais tempo para ela mesma escrever?
Questões, problemas é o que não falta na vida dessa jovem, bela, simpática Joanna. Há os problemas na vida afetiva: pinta no pedaço um rapaz interessante, Don (Dougas Booth), um anti-capitalista simpático, bonitinho – e lá se vai o namoro dela com Karl (Hamza Haq). Mas, diacho, Karl é um sujeito tão legal…
E não demora muito para que toque o telefone na mesa de Joanna e, do outro lado da linha, esteja ele mesmo, o próprio, o escritor mais famoso e mais recluso da América. Joanna já havia sido avisada diversas vezes: se ele ligasse, era para tratá-lo como Jerry – ele só aceitava esse tratamento –, e transferir o mais rapidamente possível a ligação para Margaret.
Uma aspirante a escritora que atende a um telefonema de J.D. Salinger. E depois outro, e mais outro.
É. A jovem Joanna de fato não teve uma vida comum. Estava ali com apenas 23 anos de idade, e já havia vivido experiências extraordinárias.
O filme não alardeia que esta é uma história real
Com algum tempo de filme – não sei exatamente quanto, mas não foi muito –, comentei com Mary que tinha todo jeito de aquilo ser a encenação de fatos reais, de uma história real.
Essas coisas são interessantes.
A frase “baseado em uma história real”, ou alguma de suas variações, é um grande fator para o marketing de um filme. O cinemão comercial – e não apenas o de Hollywood, mas das mais diferentes partes do mundo – usa e abusa disso. E não há qualquer problema. As pessoas gostam de ver filmes baseados em histórias reais – então por que não anunciar isso, não usar isso como argumento de venda?
My Salinger Year poderia perfeitamente nos dizer, logo no início, que é “baseado em fatos reais”. Os cartazes poderiam perfeitamente dizer “Based on a true story”. Mas não. Os cartazes dizem “Based on the book by Joanna Rakoff”. A mesma frase aparece bem no início do filme, junto com uma imagem da cidade de Nova York, antes daquela primeira sequência em que vemos a garota começando a nos contar sua história.
Os realizadores não quiseram realçar o fato de que a história que o filme conta se baseia no livro autobiográfico da protagonista!
Preferiram ser sutis!
Ah, sim, sutileza. Essa é outra das qualidades do filme, além daquelas que elenquei lá no início do texto – inteligente, simpático, gostoso, uma surpresa maravilhosa.
My Salinger Year é um filme que gosta da sutileza – e, meu Deus do céu e da Terra, como a sutileza é sempre inteligente, interessante, e a explicitude em geral é burra, rasteira, rasa!
É uma delícia a forma com que o filme vai nos mostrando J.D. Salinger – feito por Tim Post, um ator de quem creio que jamais tinha ouvido falar (ou tinha me esquecido, o que dá na mesma).
De Salinger-Tim Post, ouvimos a voz, vemos a silhueta bem distante, e a parte de trás da cabeça. Nunca vemos seu rosto. Afinal, o sujeito era recluso – ou pelo menos marqueteou-se que era…
Jerome David Salinger nasceu em 1919. Estava portanto com 32 anos quando lançou The Catcher in the Rye em forma de livro (antes, entre 1945 e 1946, a história havia sido publicada em forma de série, como os antigos folhetins). Com 34 anos parou de dar entrevistas, de atender telefonemas, de responder a cartas.
Em 1995, quando ligava para sua agente literária e quem atendia ao telefone era Joanna Rakoff, Salinger estava com 76 anos.
Morreria em janeiro de 2010, aos 91.
Acho interessante transcrever este trecho aqui do verbete da Wikipedia em Português sobre ele. O texto faz referência a vários elementos que estão no filme:
“Os livros que se seguem ao Centeio são: Nine Stories, de 1953, um apanhado de nove contos publicados na revista The New Yorker entre 1948 e 1953; Franny and Zooey, de 1961, que consiste de duas novelas curtas, Franny e Zooey; e Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour: An Introduction, de 1963, que também reúne duas novelas de Salinger. Estes três livros têm histórias em que são personagens principais a Família Glass, constituída por Buddy (espécie de alter ego do escritor), Seymour, Boo Boo, Walt, Waker, Franny e Zooey Glass, todos irmãos. Seu último trabalho publicado, uma novela intitulada Hapworth 16, 1924, apareceu em The New Yorker em 19 de junho de 1965. (…)
“Em 1996, um pequeno editor americano anunciou um acordo com Salinger para a publicação de Hapworth 16, 1924 em forma de livro, mas alguns problemas adiaram o lançamento da obra indefinidamente. Hapsworth foi escrita como uma carta de Seymour Glass, então com 7 anos, para sua família. Seria o desfecho da saga da Família Glass, também presente nos livros anteriores de Salinger.”
A Joanna real passa bem. E Margaret Qualley vai longe
Como gosto de fazer comparações, de juntar coisa com coisa, gostaria de registrar que este belo My Salinger Year vem se juntar a um grupo muito seleto de filmes sobre livros, sobre o ambiente literário, sobre editores e agentes literários. Pertencem a essa cepa especialmente saborosa Nunca te Vi, Sempre te Amei/84 Charing Cross Road (1987), de David Jones, sobre a longa relação epistológica de uma escritora americana com um livreiro de Londres, e O Mestre dos Gênios/Genius (2016), de Michael Grandage, sobre William Maxwell Evarts Perkins, o sujeito que foi editor de livros na Charles Scribner’s Sons, de Nova York, descobriu F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway e editou os livros deles.
Fantástico: três belos filmes que contam histórias reais, histórias de gente que amava os livros – e fez os livros.
E, finalmente, at last, but not at least, Margaret Qualley.
O nome de Margaret Qualley aparece à frente e/ou acima do de Sigourney Weaver tanto nos créditos finais do filme quanto nos cartazes.
Isso é ao mesmo tempo corretíssimo – e incrível.
Corretíssimo: a protagonista da história é Joanna, a personagem interpretada pela atriz bem jovem; Margaret, a chefona da agência literária, é importante – mas é a segunda personagem que mais aparece na tela. Assim, então está tudo mais que certo no fato de o nome da deusa Sigourney Weaver aparecer em segundo lugar.
Mas é incrível.
Qualquer um dos chefões dos estúdios de Hollywood nos anos 30 e 40 – Darryl F. Zanuck, David O. Selznick, Louis B. Mayer, Harry Cohn – ficaria chocado ao ver o nome de uma garotinha aparecer acima daquele de uma grande estrela, indicada para três Oscars, vencedora de 32 prêmios, a mulher que fez a sargento Ripley dos três filmes Alien, a dra. Grace de Avatar, a Dana Barrett de Os Caça-Fantasmas – para citar só uns pouquíssimos de seus quase 100 filmes, em que foi dirigida por alguns dos grandes realizadores das últimas décadas, de Woody Allen, que a descobriu (em Annie Hall, de 1977) a Roman Polanski, passando por Peter Weir, Mike Nichols, Ridley Scott, James Cameron, Ang Lee…
Margaret Qualley.
Meu Deus, jamais tinha ouvido o nome dessa moça (ou não me lembrava de ter ouvido falar, o que dá no mesmo).
Depois de ter visto este My Salinger Year, tiro meu chapéu pra menina. E sei que será difícil esquecer seu nome.
A menina está com tudo e não está prosa. Nascida em 1994, quando minha filha já fazia o primeiro ano de Direito na PUC, começou a carreira em 1993, antes de completar 10 anos. Em 2019, teve a oportunidade de interpretar a dançarina e atriz Ann Reinking na minissérie Fosse/Verdon, que reconstituiu a história de amor do genial Bob Fosse com sua mulher e musa Gwen Verdon – e ganhou uma indicação para o Emmy de melhor atriz coadjuvante.
Depois de brilhar neste My Salinger Year de 2020, a menina foi escolhida para o papel central de uma minissérie da Netflix, Maid, produção de 2021. Pelo que dá para ver no trailer, ela arrasa como uma mãe solteira muito pobre, que precisa desesperadamente de um emprego.
Margaret Qualley é filha de Andie MacDowell, aquela maravilha, aquela coisa linda. Fico imaginando que talvez ela pudesse ter escolhido o nome de Margaret MacDowell. Teria chamado a atenção das pessoas. Demonstrou que não precisava disso. Tinha confiança em si mesma.
E, nisso aí, bem que se parece com a Joanna que interpretou neste filme fascinante.
Para Margaret Qualley, o céu é o limite.
Mas faltou uma palavrinha sobre Joanna Rakoff.
Joanna Kakoff (na foto) está viva e passa bem, nos informa a Wikipedia: “Joanna Rakoff (born May 8, 1972) is an American freelance journalist, poet, critic and novelis”t.
Seu livro autobiográfico My Salinger Year foi lançado em 2014. Seu primeiro romance, A Fortunate Age, saiu em 2009, e venceu o prêmio Goldberg para Ficção Judia por Escritores Emergentes.
E aqui vejo ainda mais uma qualidade no filme: não se toca, em momento algum, no fato de que Joanna é judia. Que maravilha, isso. Porque o que interessa que ela seja judia? E daí que ela é judia? Que raio de importância tem isso? É um ser da raça humana, diabo.
E é preciso admitir: não é uma pessoa comum. É extraordinária.
Anotação em outubro de 2021
Um Ano em Nova York/My Salinger Year
De Philippe Falardeau, Canadá-Irlanda, 2020
Com Margaret Qualley (Joanna)
e Sigourney Weaver (Margaret, a chefe da agência literária),
Douglas Booth (Don, o novo namorado de Joanna), Seána Kerslake (Jenny, a grande amiga de Joanna), Brían F. O’Byrne (Hugh, o veterano da agência), Colm Feore (Daniel, o amante de Margaret), Théodore Pellerin (o adolescente de Winston-Salem), Yanic Truesdale (Max, o outro veterano da agência), Hamza Haq (Karl, o namorado de Joanna), Leni Parker (Pam), Ellen David (a funcionária da agência de emprego), Romane Denis (a garota que precisa da nota mais alta), Tim Post (J.D. Salinger), Gavin Drea (Mark), Matt Holland (Clifford Bradbury, o editor), Xiao Sun (Lisa), Christine Lan (a garoto vietnamita), Andres Romo Salido (o trabalhador mexicano), Hayley Kezber (Rachel Cusk, escritora), Lise Roy (Helen), Gillian Doria (Judy Blume, escritora), Mariya Monakhova (mulher polonesa), Catherine Kidd (poeta), Alexandre Dubois (rapaz da revista New Yorker), Raphael Grosz-Harvey (rapaz da revista New Yorker), Jonathan Dubsky (o namorado de Jenny), Guillaume Martineau (o pianista em Washington). Sylvia Stewart (a recepcionista da New Yorker)
Roteiro Philippe Falardeau
Baseado no livro autobiográfico “My Salinger Year”, de Joanna Rakoff
Fotografia Sara Mishara
Música Martin Léon
Montagem Frédérique Broos, Mary Finlay
Casting Rosina Bucci, Billy Hopkins, Ashley Ingram
Direção de arte Elise de Blois
Produção Luc Déry, Kim McCraw, micro_scope, Parallel Film Productions
Cor, 101 min (1h41)
Disponível na Netflix em outubro de 2021
***1/2
Comecei e não terminei. Vou ver de novo. Ah, essa Margaret Qualley está no filme Era Uma Vez em Hollywood, do Quentin Tarantino.