O Cavaleiro Elétrico, de 1979, a terceira (ou seria a quarta?) reunião de Jane Fonda e Robert Redford nas telas, é um filme cheio de mensagens. É contra o consumismo, contra o poder descontrolado da publicidade, é virulentamente contra as grandes corporações. A rigor, a rigor, é contra o capitalismo.
É a favor da vida natural, da natureza, do contato do homem com a natureza, do respeito aos animais, à liberdade. Contrapõe horrores da civilização moderna, a jogatina, a artificialidade – os grandes cassinos de Las Vegas, aquela coisa do neon que paira sobre tudo – à beleza do espaço aberto, da natureza intocada do campo, das montanhas.
Muitas mensagens.
Billy Wilder dizia que se alguém quer mandar uma mensagem, deveria usar o Correio, e não um filme. Que filme com mensagem é chato.
É bem verdade – mas O Cavaleiro Elétrico, com todas as suas mensagens, não é um filme chato. Muitíssimo ao contrário. É gostoso de se ver, tem muitos momentos interessantes, divertidos, agradáveis; suas odes às coisas simples e boas às vezes chegam a roçar no pueril, no ginasiano – mas, diacho, qual é o problema de se fazer o elogio das coisas simples e boas?
Mensagens ou não, O Cavaleiro Elétrico é também, uma homenagem ao mais clássico e mais americano dos gêneros, o western. E uma bela, desconcertante e simpática história de amor.
Além de tudo, ver Jane e Redford é um prazer imenso. Dirigidos por Sydney Pollack, que os conhecia muito bem, e com quem ficavam à vontade, então, é uma maravilha.
Em 4 minutos, a história da ascensão e queda
Se houvesse, em alguma premiação, a categoria Créditos Iniciais, O Cavaleiro Elétrico ganharia disparado. Ao longo dos créditos iniciais, conta-se, maravilhosamente, uma completa história de como cresce um grande astro e como, depois de chegar ao cume, ao auge, ele vai enfrentando a decadência.
Vemos imagens de rodeios, e um rapaz se destaca, e vai se destacando cada vez mais. Sonny Steele (o papel de Robert Redford) vence o título de All Around Cowboy – o campeonato geral de rodeio. Ganha o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto de título de campeão. Num móvel de sua casa, vai juntando as medalhas de World Champion All Around Cowboy.
Junto com as medalhas, vêm os grandes tombos – e vemos um médico examinando um raio-x do ombro afetado pelas quedas brutais.
Junto com as medalhas e as operações vem a fama cada vez maior, e o caubói pentacampeão da América se apresenta no Madison Square Garden, em Nova York, aparece em capas de revista, e assina um belo contrato com uma tal Ampco Corporation para anunciar o cereal matinal de uma das divisões do conglomerado.
Com a fama, a glória, a grana, vem o começo da queda. Nos rodeios propriamente ditos, o nome de Sonny Steele vai ficando cada vez menos importante. E aí, claro, o grande campeão mergulha na booze, na cachaça.
Nos cartazes, em vez de caubói pentacampeão, o nome de Sonny Steele passa a aparecer como o caubói do Ranch Breakfast – e, logo, como The Ampco Cowboy.
Quando os créditos iniciais terminam, com o letreiro “Directed by Sydney Pollack”, o filme está com exatamente 3 minutos e 42 segundos. Em menos de 4 minutos, a longa história da ascensão e queda de um caubói já foi apresentada – e os dois grandes amigos de Sonny, Wendell e Leroy, estão tendo um trabalho do cão para enfiar as botas e arrumar o traje show business do sujeito, bêbado feito um gambá.
Leroy é interpretado por Timothy Scott. E Wendell, por ninguém menos que o lendário cantor e compositor country Willie Nelson.
Tudo o que ex-pentacampeão de rodeios tem agora que fazer é dar uma volta pelo estádio da vez, com luzinhas acessas em seu ridículo traje azul, segurando uma caixa do cereal matinal, e, lá pelas tantas, erguer a caixa de cereal e falar uma frase escrita por um publicitário.
Nessa noite de apresentação em que a ação do filme começa, após os créditos iniciais, Sonny está tão bêbado que, quando o cavalo levanta as patas dianteiras, o cavaleiro elétrico se estatela no chão.
O cowboy foge com o cavalo de US$ 12 milhões!
A tal Ampco está crescendo ainda mais, e negocia a fusão com um banco. Como ação de marketing, prepara um gigantesco evento em um dos maiores cassinos de Las Vegas, que terá a participação dos atores e esportistas contratados pelas várias áreas da corporação.
Uma repórter de TV de emissora de Nova York destacada para cobrir o evento, Hallie Martin (o papel de Jane Fonda, claro), percebe que o pessoal de relações públicas e assessoria de imprensa da Ampco gostaria que o caubói do cereal matinal passasse despercebido. Boa repórter, esperta, com faro, Hallie vai prestar a maior atenção àquela figura que a corporação tenta esconder o quanto for possível.
A Ampco havia comprado um cavalo puro-sangue, um espécime absolutamente especial, Rising Star, estrela ascendente, que usou na renovação de seu logotipo. O cavalo era uma das grandes atrações do super evento – e, numa apresentação no teatro do hotel-cassino, seria montado por Sonny Steele.
Num raro momento em que não está completamente bêbado, Sonny percebe que o animal está sendo dopado com um monte de substâncias químicas para que fique calmo diante de todo o barulho, todas as luzes de Las Vegas.
Tenta conversar com o CEO da corporação, Hunt Sears (o papel de John Saxon) – que, obviamente, não dá a menor bola para ele e, quando se afasta daquela figura, no meio do cassino, manda um de seus auxiliares demitir o caubói assim que o evento em Las Vegas terminar.
Chega a noite da grande apresentação. Sonny Steele sobe em Rising Star, entra no palco antes da hora, sai do teatro, vai cavalgando devagarinho através das salas do cassino, sai pela porta da frente, cavalga no meio do mundo de neon das avenidas de Las Vegas – e desaparece pelas terras amplas do grande Estado de Nevada.
O caubói que anunciava o Ranch Breakfast rouba o cavalo de US$ 12 milhões de dólares! Some com ele!
E a única pessoa que vai conseguir localizá-lo é a repórter esperta que se tornou amiguinha de Wendell, de Leroy e até mesmo de Charlotta, a ex-mulher de Sonny, que foi até Las Vegas para ver se conseguia que ele, finalmente, assinasse os papéis do divórcio.
Charlotta é interpretada pela bela e interessante Valerie Perrine, perfeita para o papel.
Um cowboy bêbado, um puro-sangue dopado
Um ex-caubói de primeiríssima linha, hoje em dia um traste, um bêbado, garoto-propaganda de cereal matinal. Um cavalo puro-sangue que foi dopado com um monte de química.
Sonny Steele vai se redimir na luta para tirar Rising Star daquele estado em que a corporação o enfiou. Ao desintoxicar o puro-sangue dopado, o garoto-propaganda se desintoxica e faz reaparecer o velho caubói.
Foram necessárias várias cabeças, várias mãos, para criar essa história que acaba sendo fascinante, tão cheia de significados. Nos créditos iniciais, consta que o roteiro foi escrito por Robert Garland, com base em uma “screen story”, uma história desenvolvida para o cinema, de autoria de Paul Gaer e Robert Garland.
Nos créditos finais, um letreiro especifica: “Baseado em uma história de Shelley Burton”.
Segundo o IMDb, colaboraram no roteiro – embora seus nomes não apareçam nos créditos – David Rayfiel e Alvin Sargent.
Cinco cabeças. Dez mãos.
No cinema italiano, isso é absolutamente comum – é uma tradição. No cinema americano, não é usual haver tantas pessoas envolvidas na criação da história e do roteiro final.
Todos os elementos básicos do western
Comédia, drama, romance: esses são os gêneros do filme, segundo o IMDb – mas há quem o considere também um western. Tudo bem: a rigor, a rigor, western, faroeste é aquele gênero de filmes em que a ação se passa no Velho Oeste, o Oeste Bravio, o Oeste Sem Lei. Assim, a rigor, a rigor, nem Sua Última Façanha/Lonely Are the Brave (1962) nem Os Desajustados/The Misfits (1961), nem este O Cavaleiro Elétrico poderiam ser considerados westerns, já que se passam nos dias de hoje – ou seja, os dias em que o filme foi feito, início dos anos 1960, no caso dos dois primeiros, final dos anos 1970, no caso deste aqui.
Mas em todos eles temos caubóis cavalgando em cavalos pelas imensidões da América – e, assim, como poderiam não ser considerados westerns?
Uma das mais tradicionais marcas deste que é o mais tradicional gênero do cinema americano é o do homem que luta só, ou apenas com um pequeno grupo de amigos, contra uma grande quadrilha, um grupo poderoso, um fazendeiro riquíssimo que compra um porrilhão de pistoleiros para defendê-lo e atacar quem for contra seus interesses. Matar ou Morrer/High Noon (1952) é assim. O Homem Que Matou o Facínora (1962). Onde Começa o Inferno/Rio Bravo (1959). O Homem Que Luta Só/Ride Lonesome (1959).
Pois então: existiria coisa mais homem que luta só contra um grupo poderoso do que este Sonny Steele que rouba o cavalo de US$ 12 milhões de uma corporação gigantesca para purificá-lo, desintoxicá-lo, e soltá-lo livre no descampado sem fim?
Diretor e atores, todos bem próximos
Sydney Pollack já havia dirigido Jane Fonda – e, por uma dessas coincidências de que é feita a vida, em um filme que também usa cavalo para fazer suas imagens, metáforas, paráfrases. Exatos dez anos antes deste O Cavaleiro Elétrico, Pollack e Jane fizeram A Noite dos Desesperados, um drama pesadíssimo, passado na Grande Depressão, sobre uma maratona de dança. O filme se baseia no romance tão curto quanto duro de Horace McCoy They Shoot Horses, Don’t They?, o mesmo título original do filme, e que no Brasil teve o título correto de Mas Não se Matam Cavalos?
Jane Fonda teve sua primeira indicação ao Oscar pelo desempenho extraordinário como Gloria, a jovem que acreditava que as pessoas deveriam merecer um tiro de misericórdia, da mesma maneira que os cavalos.
Já a associação de Pollack e Robert Redford é ainda maior que a do diretor com a atriz. Fizeram juntos nada menos de sete filmes. Nem me lembrava de que tinham sido tantos.
A ver: Esta Mulher é Proibida/This Property is Condemned (1966). Mais Forte Que a Vingança/Jeremiah Johnson (1972). Nosso Amor de Ontem/The Way We Were (1973). Três Dias do Condor (1975). Este O Cavaleiro Elétrico (1979). Entre Dois Amores/Out of Africa (1985). Havana (1990).
Uau! Quanto filme bom.
E a dupla Jane Fonda-Robert Redford, ah, essa tem história.
São contemporâneos, da mesma geração. Ele é de agosto de 1936, ela, de dezembro de 1937. Começaram as carreiras na mesma época, inicinho dos anos 1960. Tornaram-se dos astros mais admirados do cinema americano mundo afora. Ele tem quatro indicações ao Oscar e duas vitórias – melhor diretor por Gente Como a Gente/Ordinary People, 1980, e um honorário, em 2002, pelo conjunto da obra. Ela tem sete indicações, com duas vitórias, a primeira por Klute (1971) e a segunda por Amargo Regresso/Coming Home (1979). Ela já foi dona de produtora, ele é também produtor, diretor, criador e mentor do mais importante festival de cinema independente do mundo.
Ambos tiveram forte ativismo ligado à política; são progressistas, liberais, avançados, o que, no espectro político americano, os coloca na esquerda.
São belos, os dois, e excelentes atores.
Sempre considerei que o primeiro filme em que trabalharam juntos foi Caçada Humana/The Chase (1966), o drama pesadíssimo de Arthur Penn. Fazem ali papéis importantes, mas não os principais. Foram os protagonistas do segundo filme, uma comedinha leve, quase leviana, Descalços no Parque (1967), assim como neste O Cavaleiro Elétrico. E se reencontrariam 38 anos depois, em um belo drama dirigido por um jovenzinho indiano, Ritesh Batra, Nossas Noites/Our Souls at Night (2017).
“Me encantei a cada vez”, diz Jane sobre Redford
Isso foi o que sempre soube. Quatro filmes juntos, em um período de 51 anos.
Nunca soube que Redford trabalhava em Até os Fortes Vacilam/Tall Story (1960), uma comedinha sobre adolescentes feita por Joshua Logan. Claro, sempre soube que foi o filme de estréia de Jane Fonda – aos 22 anos, a filha do grande Henry Fonda já estreou como protagonista da história, a namoradinha do jogador de basquete interpretado por Anthony Perkins, que naquele mesmo ano de 1960 faria o Norman Bates de Psicose.
Pois só fiquei sabendo agora, ao ler a página de Trivia do IMDb sobre O Cavaleiro Elétrico, que Robert Redford faz um pequeno papel em Até os Fortes Vacilam. Mas é um papel bem pequenino, uma figuração, a rigor: ele faz um dos jogadores de basquete do time de Anthony Perkinks, e seu nome sequer é creditado.
Assim, dá para dizer que o primeiro filme em que Redford e Jane de fato trabalharam juntos foi mesmo Caçada Humana, e O Cavaleiro Elétrico foi o terceiro. “Nós fizemos três filmes juntos, e eu me encantei a cada vez”, escreveu Jane Fonda na sua maravilhosa autobiografia, Minha Vida Até Agora, lançada em 2005, antes, portanto, do quarto encontro, em Nossas Noites. Ela conta:
“De todos os astros masculinos com quem trabalhei, em meus cinquenta filmes, Bob é o único sobre quem as mulheres me perguntam: ‘Como foi beijá-lo?’ A resposta é sempre ‘fabuloso’. A realidade é um pouquinho diferente: fabuloso para mim, nem tanto para ele. Ele detesta filmar cenas românticas. Ele parece querer terminar o mais rápido possível, Droga! Felizmente, ele tem senso de humor quanto a isso, e quanto a quase tudo. Na verdade, ele é hilário. Além do atrativo masculino, eu vejo uma qualidade hepburniana em Bob: de alguma forma, você sente que ele é melhor que a maioria dos outros mortais.”
Várias coincidências interessantes cercam o filme
Há uma coincidência interessante: O Cavaleiro Elétrico foi o segundo filme consecutivo em que Jane Fonda interpretou uma jornalista de televisão. Naquele mesmo ano de 1979, ela havia interpretado uma repórter de TV bem menos experiente que esta Hallie Martin. Em Síndrome da China, de James Bridges, ela faz Kimberley Wells, que trabalhava com matérias menos importantes, mais superficiais, tipo nascimento de um novo bichinho no zoológico – e de repente se vê testemunhando um acidente numa usina nuclear.
Outra coincidência: no ano anterior, 1978, Jane havia trabalhado em outro filme com a palavra Horseman no título: Comes a Horseman, no Brasil Raízes da Ambição, dirigido por Alan J. Pakula. O mesmo Pakula que a havia dirigido em Klute, o filme de seu primeiro Oscar.
A página de Trivia do IMDb sobre O Cavaleiro Elétrico conta que o pessoal da produção passou seis meses em busca de um cavalo belíssimo, perfeito, para ser Rising Star. Redford cavalgou o maravilhoso corcel ele mesmo, dispensando dublês – e acabou comprando o bicho, que viveu na fazenda do ator em Utah durante 18 anos, até morrer de velho.
Foi a primeira vez que o lendário Willie Nelson trabalhou como ator – mas os realizadores não eram bobos nem nada, e então souberam aproveitar o grande talento dele. Gravou cinco músicas para a trilha sonora, inclusive a deliciosa “Mamas Don’t Let Your Babies Grow Up to Be Cowboys”, de Ed Bruce.
Willie Nelson voltaria a trabalhar como ator em Minha Estrada, Minha Vida/Honeysuckle Rose (1980) e Songwriter (1984). Não por coincidência, Sydney Pollack foi produtor executivo de um deles e produtor de outro.
“Embora cheio de mensagens, não é um filme de mensagem”
Leonard Maltin não gostou do filme. Deu apenas 2.5 estrelas em 4, e fez a seguinte avaliação: “Inócua tentativa de cópia de Lonely Are the Brave tenta pintar Redford como um quase bandido que rouba um puro-sangue de US$ 12 milhões de um hotel de Vegas e vai para o campo. Agradável, é claro, mas, considerando as pessoas envolvidas, uma decepção.”
Roger Ebert dá 3 estrelas em 4. Meu Deus, como são gostosos os textos de Roger Ebert. Ele começa assim:
“The Electric Horseman é o tipo do filme que eles costumavam fazer. É uma história de amor bizarra sobre um cara e uma garota e um cavalo puro-sangue, e tem uma cena de caçada e uns amassos e um final feliz. Poderia ter sido estrelado por Tracy e Hepburn, ou Gable e Colbert, mas não precisava, porque desta vez é com Robert Redford e Jane Fonda. O filme parece que quer intencionalmente parecer antiquado. Tem os sujeitos malvados de uma grande corporação, e grandes beijos vistos com as silhuetas ao pôr-do-sol, e funciona por causa de toda a qualidade de astros que Fonda e Redford têm. Mas O Cavaleiro Elétrico não tenta ser completamente inocente. Ele tem um bando de temas e causas atuais que encobrem um pouco a situação básica – que é, vamos admitir, Moça encontra Moço (e Cavalo). E embora em nenhum momento a gente fique em dúvida a respeito de haver um final feliz, há um certo suspense básico enquanto Redford e Fonda caminham pelos campos e a corporação malvada os segue de helicóptero.”
Aaaaahn… Eu contesto a coisa do final feliz; para mim, não, não há final feliz. Mas…
Lá pelas tantas, Roger Ebert puxa Aconteceu Naquela Noite, o classicão de Frank Capra de 1934. Que maravilha ler textos de quem sabe que o cinema começou faz tempo!
“Se você costuma dar uma olhada nos filmes antigos na TV, parte do material aqui não parece muito original. O truque da fuga com um jornalista na caçada, por exemplo, parece ter saído diretamente de It Happened One Night – e quando Fonda liga para o seu escritório de um remoto telefone público, nós nos lembramos de Clark Gable na mesmíssima situação. A coisa dos últimos caubóis indo para as montanhas e sendo perseguidos por helicópteros também é familiar; foi tirada de Lonely Are the Brave, com Kirk Douglas, e algunas das tomadas parecem assombrosamente familiares.
“A relação entre Fonda e Redford é também material bem básico, em que o áspero homem do ar livre e a perfeita dama passam a respeitar o outro enquanto partilham os rigores da vida em fuga. Bogart e Hepburn transformaram essa relação em um clássico em The African Queen, mas Redford e Fonda têm bastante da mesma química. Lembra da cena no barco em que Hepburn põe o queixo na mão e faz uma rápida inspecção de Bogard? Fonda faz o mesmo com Redford, e é tão erótico quanto seis da média de suas cenas de amor.”
Tem mais:
“Tanto Redford quanto Fonda se identificam com vários dos temas deste filme. Que são – eu tenho a lista aqui – o mal dos conglomerados, a preservação de nossas terras selvagens, o respeito pelos animais, a tolice do comercialismo, os maus instintos do jornalismo da TV e os cafés da manhã nutritivos. Mas, embora este seja um filme cheio de mensagens, não é um filme de mensagem. Os personagens e a trama parecem sapatear em cima dos assuntos sérios para se concentrar nas relações humanas.”
40 anos depois, a mesma apreciação
“Um filme cheio de mensagens.”
Lá atrás, na época do lançamento do filme, Roger Ebert escreveu esse texto, do qual transcrevi algumas partes.
Na época do lançamento, 1979, eu trabalhava tanto, fazia tanto frila além das muitas, muitas horas de trabalho no fechamento do Jornal da Tarde, que sequer anotei no meu caderno de cinema que vi O Cavaleiro Elétrico. E vi, é claro, e me apaixonei, porque é um belo filme, porque eu concordava com todos os valores que ele defendia e era contra tudo aquilo que ele ataca, e porque Jane e Redford eram dos mais atores favoritos de todos os tempos. Fui agora atrás das velhas anotações para ver quantas vezes vi O Cavaleiro Elétrico na época do lançamento, e só pude constatar que sequer anotei ter visto o filme, naqueles tempos de tanto trabalho e tensão.
A primeira vez que o filme aparece nas minhas velhas anotações é em 1993: anotei apenas que revi, no vídeo, com Mary, mas não comentei nada.
Uma outra vez em que O Cavaleiro Elétrico aparece nas minhas anotações é quando vi de novo o tão falado aí acima Lonely Are the Brave, no Brasil Sua Última Façanha. Sobre esse filme, anotei: “Um faroeste seis décadas depois do fim do Oeste como era no tempo do faroeste. Kirk Douglas faz o cowboy que insiste em ser cowboy na época das grandes estradas e dos caminhões, e enfrenta a polícia montada em helicóptero. É um daqueles quadros em que a América perdida se procura na América que não reconhece mais, tipo Cavaleiro Elétrico e, em certa medida, também Pistoleiros do Entardecer.”
Agora, finalmente, no finalzinho de fevereiro de 2019, exatos 40 anos depois do lançamento, revi O Cavaleiro Elétrico e comecei minha anotação sobre ele dizendo que “é um filme cheio de mensagens”.
Fica parecendo que copiei Roger Ebert.
Bem, não copiei. E confesso que fiquei muito feliz quando, ao chegar ao final desta minha anotação, ao ler e transcrever o que diz o grande crítico, vi que ele anotou exatamente o que eu senti. Se estou sintonizado com Roger Ebert, estou bem.
Anotação em fevereiro de 2019
O Cavaleiro Elétrico/The Electric Horseman
De Sydney Pollack, EUA, 1979
Com Robert Redford (Sonny Steele), Jane Fonda (Hallie Martin)
e Valerie Perrine (Charlotta), Willie Nelson (Wendell), John Saxon (Hunt Sears), Nicolas Coster (Fitzgerald), Allan Arbus (Danny), Wilford Brimley (fazendeiro), Will Hare (Gus), Basil Hoffman (Toland), Timothy Scott (Leroy), James B. Sikking (Dietrich), James Kline (Tommy), Frank Speiser (Bernie), Quinn Redeker (Bud Broderick), Lois Areno (Joanna Camden), Sarah Harris (Lucinda), Tasha Zemrus (Louise), James Novak (Dennis) Fotografia Owen Roizman
Música Dave Grusin
Montagem Sheldon Kahn
Figurinos Bernie Pollack
Produção Roy Stark, Columbia Pictures, Universal Pictures.
Cor, 121 min (2h01)
R, ***1/2
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