Anotação em 2011: Garotos Incríveis/Wonder Boys, que Curtis Hanson fez em 2000, é um daqueles filmes que a gente deveria rever de vez em quando. Talvez uma vez por ano. É uma absoluta maravilha.
É um daqueles raros filmes em que tudo funciona perfeitamente, tudo se encaixa, não há nada faltando, nada sobrando. A sensação que se tem é de que todos os envolvidos estavam no auge de sua forma, num momento mágico de encontro de talentos, de criatividade.
Talento e criatividade são alguns dos temas que o filme aborda. Talento, criatividade, vaidade, ego inflado, competição, sucesso, medo de fracasso, inveja – todas essas coisas presentes em diversas das atividades humanas, mas especialmente presentes no ambiente universitário; toda a trama se passa numa universidade de Pittsburgh e em seus arredores, ao longo de um comprido fim de semana em um gelado mês de fevereiro, quando está acontecendo uma dessas festas literárias em que todo mundo se sente na obrigação de dizer frases geniais.
O filme trata disso tudo – e também de infidelidade conjugal, mentiras, as distâncias entre a aparência e a realidade, a crise da meia-idade, os momentos em que as pessoas se vêem diante da necessidade de mudar o curso de suas vidas.
Pittsburgh, parece, é uma cidade que tem muitas pontes – e aparecem pontes em diversas seqüências do filme. Elas mesmas, ou retratos delas, fotos. Pontes – a metáfora simples, direta, para os momentos decisivos da vida. “Um monte de água sob a ponte”, diz a canção tema, “Times have changed” especialmente composta para o filme por Bob Dylan. O que por si só – uma música especialmente composta por Bob Dylan para um filme – já é um luxo absoluto.
As canções que se ouvem ao fundo, durante a ação, são importantíssimas, fundamentais, refletem os fatos, as sensações dos personagens – mas acho que é melhor falar delas mais tarde.
Um escritor diante do desafio da segunda obra
O personagem central – e narrador – de Garotos Incríveis, Wonder Boys (e wonder boys, se não me engano, é um termo usado para classificar geniozinhos muito, muito jovens, tipo assim Mark Zuckerberg, que criou o Facebook quando estava com 19 anos), é, ironicamente, um homem de 40 e muitos ou 50 e tantos anos, Grady Tripp (Michael Douglas), professor de literatura na universidade. O professor Tripp, como muita gente o chama ao longo do filme, teve seus dias de glória: sete anos antes, seu livro A Filha do Incendiário havia sido recebido com ótimas críticas.
Mas, como tantos outros escritores, ou artistas de uma maneira geral, Tripp agora enfrenta o desafio da segunda obra. Naquela sexta-feira de fevereiro específica que ele começa a narrar para o espectador, ele havia sido abandonado por sua mulher – e ela não era a primeira a abandoná-lo. Além disso, estava chegando à cidade seu amigo, o sujeito que editara seu livro, Terry Crabtree (Robert Downey Jr.), ansioso por ver a quantas andava o novo romance.
O espectador só vai ficar sabendo lá pela metade do filme a quantas anda o novo romance, ou se já existe algo sendo produzido que virá a ser o novo romance. Quando Terry chega no aeroporto e é recebido por Tripp, este a princípio diz que o livro está indo bem, faltam só uns acertos. Mas, quando Terry pergunta se pode ler, Tripp diz que ainda não, que está numa parte difícil.
Algum espectador poderá pensar que o novo livro de Tripp seja na verdade algo próximo do livro que Jack Torrence está escrevendo no gigantesco hotel deserto no auge do inverno, em O Iluminado/The Shining. Mas este aqui não é um filme de terror.
Um pequeno movimento da câmara, diálogos brilhantes
Ao ser recebido por Tripp no aeroporto de Pittsburgh, Terry está acompanhado por uma mulher altíssima, uma figura chamativa, impressionante, que ele conhecera no avião, Antonia Sloviak (Michael Cavadias). Num momento em que os dois amigos estão um pouco distantes de Antonia, dá-se o seguinte diálogo:
Tripp: – “Ela é um travesti.”
Terry: – “Você está chapado.”
(E Tripp de fato está chapado; havia fumado um baseadão assim que terminou a aula – mostrada na primeira seqüência do filme – e entrou no carro para ir receber Terry no aeroporto.)
Tripp: – “Mas ainda assim ela é um travesti.”
Aí caminham os três pelo salão do aeroporto, Antonia um palmo mais alto que Tripp, e Curtis Hanson põe sua câmara no alto, em contreplongée, avançando pelo salão lotado em travelling – e a sutil colocação da câmara multiplica a diferença de altura entre Antonia e Tripp, deixando o nosso herói mais baixinho do que ele realmente é.
Do aeroporto, os três – o professor-escritor, o seu editor e a mulher altíssima, ou travecão, sabe-se lá – vão diretamente para a casa do casal Gaskell, onde há uma festa para a abertura do fim de semana de tertúlia literária. A voz em off de Michael Douglas-professor Tripp nos explica a situação: Sara Gaskell (Frances McDormand) é a reitora da universidade, e Walter Gaskell (Richard Thomas), marido dela, é o chefe do departamento de Inglês – o que significa que Sara é a chefe de todo mundo, e Walter é a chefe dele, Tripp.
Enquanto caminham para a casa da chefe de todo mundo e do chefe de Tripp, Antonia, o mulherão – ou travecão – repara na bela estufa, belo viveiro de plantas que há no terreno.
Antonia: – “É uma bela estufa.”
Tripp: – “É da senhora Gaskell. Seu hobby.”
Terry: – “Eu achava que você era o hobby da senhora Gaskell, Tripp.”
Tripp: – “Não enche, Crabs. Perdi uma esposa hoje.
Terry: – “Ah, estou certo de você vai encontrar outra. Jovem e bonita, como sempre.”
Num único dia, a mulher o abandona, a amante conta que está grávida
E então o trio é recebido pela própria dona da casa, a reitora Sara. Rapidamente se dá um jeito para que Sara e Tripp subam até um dos quartos, com a desculpa de deixar ali os casacos. Abraçam-se, deitam-se abraçados; é um abraço mais terno, amigo, companheiro, que propriamente de tesão:
Sara: – “Você primeiro.”
Tripp: – “Esta manhã…”
Sara, interrompendo: – “Estou grávida. É certeza.”
Tripp, depois de algum tempo: – “Isso é… muito supreendente. (Pausa longa.) Walter está sabendo?…
Sara, interrompendo: – “Walter iria ficar mais do que surpreso.”
Uma garota linda e inteligente, um garoto perdido “em seu sombrio Gulag”
Um pouco mais tarde, na festa na casa dos Gaskell, Tripp e o espectador vão rever James Leer (Tobey Maguire). James havia sido apresentado ao espectador na primeira seqüência do filme, na sala de aula, um curso avançado de literatura que Tripp dá para um pequeno grupo de alunos, todos já autores de seus textos. Os dois alunos mais brilhantes da turma são Hannah Green (Katie Holmes), garota lindíssima, inteligente, sensível, bom texto e, além disso, com botas vermelhas de cowboy o tempo todo, conforme nos narra a voz em off de Michael Douglas-professor Tripp, e James Leer, um tipo soturno, triste, “único habitante de seu sombrio Gulag”, na definição de Tripp.
Tripp admira o que James escreve. E tem por um ele um misto de inveja – James, sim, é um garoto incrível, wonder boy, e está escrevendo, e bem –, simpatia e pena, comiseração. Pena, dó, porque James parece ser a pessoa mais infeliz do mundo, e solitário, e pobre, muito pobre.
Parece, só parece. Veremos mais tarde que não é nada disso.
Mas, por enquanto, ainda na festa, na casa dos Gaskell, os dois ficarão juntos, professor e aluno. Tripp terá uma das pernas duramente atacada e mordida por Poe (note-se o nome!), o velhíssimo cão de estimação dos Gaskell. Numa reação imediata, James acabará matando Poe, com uma pistola de chumbinho, e, como se isso fosse pouco, acabará também roubando um agasalho com gola de pele que Marilyn Monroe teria usado no seu casamento com Joe DiMaggio, o lendário jogador de beisebol, pelo qual Walter Gaskell havia pago uma imensa fortuna.
Sairão da casa os dois, professor mancando com ferida feia na perna, e aluno assassino de animais e ladrão, carregando um cachorro morto e uma peça de roupa valiosíssima que não lhes pertence.
Um diretor que sabe como poucos criar um clima
Levei trocentas linhas para descrever os momentos iniciais do filme, mas esses são, de fato, apenas os momentos iniciais. O longo, louco, doidérrimo fim de semana do professor Tripp e do wonder boy James está só começando.
Me alonguei por dois motivos básicos: primeiro, e menos importante, porque não consigo deixar de me alongar ao anotar sobre um filme especialmente bom; e segundo – e isso, sim, é que importa – porque tentei transmitir um pouco do clima que o diretor Curtis Hanson consegue dar a seu filme.
Curtis Hanson conseguia criar clima como pouca gente, em seus filmes, especialmente alguns dos anos 80 e 90. É uma coisa um tanto fluida, imaterial, isso de se criar um clima – mas, mesmo assim, eu ousaria dizer que Curtis Hanson é dos melhores criadores de clima que o cinema já teve.
Em Los Angeles – Cidade Perdida/L.A. Confidential, de 1997, Hanson recriou o clima dos filmes noir dos anos 40 com um talento absolutamente impressionante. L.A. Confidential tem um clima forte, pesado, pegajoso, perturbador, de violência, corrupção, maldade, vilania, podridão, falta de lei, de ordem, de respeito. (Nossa – enumerando essas coisas assim, e se tirarmos fora a violência física, até parece uma descrição da Brasília de hoje.) Vendo o filme, dá até para sentir o cheiro de lama, de podridão.
Em A Mão Que Balança o Berço, de 1992, o diretor soube criar um clima de claustrofobia, de medo, de pavor, de terror, que poucos filmes conseguem – e não há fantasmas, vampiros, almas penadas, nada parecido com isso. Apenas a maldade de que algumas pessoas são capazes. Na minha opinião, é um dos filmes mais aterrorizantes da história, ao lado do já citado O Iluminado, de Stanley Kubrick, O Bebê de Rosemary e O Inquilino, ambos de Roman Polanski.
Aliás, me ocorre agora – não sei já tinha me ocorrido antes: Curtis Hanson deve ser um grande fã de Polanski. L.A. Confidential faz lembrar Chinatown. A Mão Que Balança o Berço faz lembrar O Bebê de Rosemary e O Inquilino – sem o sobrenatural do primeiro.
Um humor triste, irônico, sarcástico – e uma simpatia por aquelas pobres pessoas
Neste Garotos Incríveis, um drama sobre comportamento, personalidades, Curtis Hanson consegue criar um fantástico clima de humor um tanto triste, irônico, sarcástico, que se mistura a uma grande simpatia pelos personagens que estão sendo retratados, pelas suas pequenas tragédias pessoais, pela sua dificuldade em escapar das trapaças que a vida lhes prega.
Não tem nada a ver – acho – com humor negro. Nunca consegui entender bem o humor negro, não entro no clima, fico por fora. Talvez até por isso possa dizer que Garotos Incríveis não tem nada a ver com humor negro.
Não é uma graça aberta, escancarada, que faz gargalhar. E não há desprezo pelo que se está contando, que é o que acontece muitas vezes no humor negro. Muito ao contrário.
O cineasta gosta daqueles seus pobres personagens. São infiéis, um deles é um mentiroso compulsivo, outro é um drogadão (ainda que com droga leve), são vaidosíssimos, egoístas, cheios de si – mas não são maus caracteres, não são pessoas ruins. Têm problemas, dramas, falhas, defeitos – são humanos.
Foi para tentar transmitir um pouco desse clima de humor melancolicamente irônico que transcrevi os diálogos acima, e me alonguei para descrever algumas das seqüências iniciais do filme. O mulherão que parece mais traveco. O jovem estudante tristonho, solitário, que atira num cachorro de estimação. A esposa infiel que se descobre grávida do amante no dia em que o amante foi abandonado pela esposa, e nem permite que ele lhe dê a notícia.
O único tipo de fato desprezível é o escritor de grande sucesso
Muito melhor rir um pouco dos problemas em que nos metemos do que chafurdar naquela angústia sem fim de alguns personagens de um certo tipo de filmes franceses, como Trinta Anos Esta Noite, e tantos outros.
Aliás, por falar em gente chata, de toda a galeria de tipos de Garotos Incríveis, o mais bocó, o mais bobalhão, o único a rigor desprezível, é Q (uma beleza de interpretação de Rip Torn), o escritor de sucesso, o sujeito que consegue – ao contrário do pobre Tripp – escrever um livro após o outro, todos de sucesso de público e crítica. Diante da platéia lotada de adoradores de escritor, Q. se sai com esta preciosidade:
– “Eu… (longa pausa) sou um escritor. (Aplausos, aplausos.) Como escritor, você percebe que cada pessoa tem uma história. Cada barman, cada motorista de táxi tem uma história que pode resultar num grande livro. Vocês também devem ter algumas. Mas como chegar de lá (pausa) até aqui? Qual é a ponte da margem das águas da inspiração até a longínqua praia do sucesso?”
Ao ouvir essa pataquada dita como frase pretensamente brilhante, James Leer, o wonder boy que se vende como triste, sorumbático, sombrio – a quem o professor Tripp havia dado uns tapões de maconha – dá uma sonora gargalhada, que atrai a atenção de toda a distinta platéia que estava ali para babar diante da celebridade, beber de sua inesgotável fonte de saber.
Tobey Maguire, um ator de talento tão grande quanto a sorte
Tobey Maguire está absolutamente brilhante como o garoto brilhante que industrializa a imagem do sujeito mais triste do universo. É um grande ator, esse menino. Sempre admirei seu talento – e sua sorte por ter tido belos personagens para interpretar desde muito cedo. Nascido em 1975, o mesmo ano da minha filha, tinha apenas 22 anos (mas já uma filmografia razoável em filmes e séries de TV) quando, em 1997, foi o protagonista de Tempestade de Gelo, o apavorante filme de Ang Lee sobre os ricos do subúrbio e a chegada da revolução sexual, em que contracenava apenas e tão somente com Kevin Kline e Sigourney Weaver. Dois anos depois, foi o protagonista de Regras da Vida, o belíssimo filme de Lasse Hallström sobre órfãos e o direito ao aborto, ao lado de Michael Caine e Charlize Theron. Em seguida vieram mais um filme com Ang Lee, Cavalgada com o Diabo, e este Wonder Boys. Só então, depois de ter feito papéis importantes nesses vários filmes sérios para platéias adultas, foi que Tobey Maguire, já mais maduro, virou astro da série para adolescentes em Homem Aranha.
Não poderia haver melhor ator para fazer James Leer.
Assim como não poderia haver ninguém melhor para o papel de Terry Crabtree, o editor do livro de sucesso do protagonista, um sujeito que se finge de cínico sem ser, que se finge de mulherengo botando seu lado gay no armário, do que Robert Downey Jr. Robert Downey Jr. é um grande ator; mergulharia depois de Garotos Incríveis no inferno das drogas, mas conseguiria sair dele, para fazer um excelente e subestimado Sherlock Holmes, um ótimo jornalista em O Solista e também para – como Tobey Maguire – virar, chegando à maturidade, astro de filme para platéias juvenis em O Homem de Ferro.
De Frances McDormand nem é preciso falar. Atriz soberba, extraordinária.
E Michael Douglas brilha. O filho do velho Kirk tem aquele problema que acomete alguns atores, como, por exemplo, Gary Cooper e Cary Grant: sua personalidade é tão forte que vira sua persona. Como seus ilustríssimos antecessores, e também como o grande Jack Nicholson, Michael Douglas não consegue interpretar ninguém que não seja Michael Douglas.
A questão, ou melhor, a solução, é que o professor Grady Tripp é Michael Douglas de cabo a rabo. Grady Tripp é bonito, talentoso, se dá muito bem com as mulheres, tem um ego gigantesco, é vaidosérrimo – exatamente como Michael Douglas. Não é um mau caráter, de forma alguma. Só tem esses defeitos aí citados. Exatamente como Michel Douglas. Resultado: Michael Douglas está excelente como ele mesmo, quer dizer, como o professor Grady Tripp.
A canção de Dylan ganhou o Oscar, Michael Douglas vibrou; e ele não estava nem aí
Algumas imagens, sabe-se lá por que, ficam na memória da gente. Me lembro perfeitamente da cerimônia de entrega do Oscar de 2001 (filmes exibidos em 2000), da vibração de Michael Douglas na platéia quando foi anunciado o prêmio de melhor canção para “Times have changed”.
Garotos Incríveis teve três indicações ao Oscar: roteiro adaptado, de Steve Kloves, com base no romance de Michael Chabon, montagem para Dede Allen, e canção para “Times have changed”, de Dylan. Levou o prêmio de melhor canção.
(No total, o filme teve 16 prêmios, e 33 outras indicações. A canção de Dylan ganhou também o Globo de Ouro.)
Dylan não estava no Shrine Auditorium, naquela tarde e noite de 25 de março de 2001. Estava no meio da sua Never Ending Tour; no momento em que as indicadas a melhor canção foram anunciadas, estava cantando do exato outro lado do mundo, na Austrália, acho que em Sidney. O telão no Shrine Auditorium mostrou Dylan cantando sua música no outro lado do mundo. Não dava a menor pelota para a vetusta Academia. Para falar bem a verdade, um Oscar era a coisa de que menos Dylan precisava na vida. Troféu maior para 101% dos artistas ou técnicos, Oscar é menor que Dylan – da mesma maneira como George Harrison considerava coisa menor ser capa da Rolling Stone, troféu maior para 101% dos artistas.
Canções que traduzem as sensações, as emoções do protagonista – e de uma geração
Aparecem como músicas incidentais em Garotos Incríveis – músicas que tocam ao fundo, enquanto se desenrola a ação – canções de Bob Dylan, Neil Young, Van Morrison, John Lennon e Rodgers & Hart.
Digamos que é um time seleto.
Curtis Hanson conta como foi a escolha das canções incidentais, num dos filmetes para divulgação de Garotos Incríveis, incluído no DVD lançado no Brasil pela Warner. Ele e sua supervisora musical, Carol Fenelon, imaginaram que deveriam usar músicas dos grandes singers/songwriters (os italianos diriam cantautores) dos anos 60 e 70, gente da estirpe de Bob Dylan, Leonard Cohen, Tom Rush, autores que o professor Tripp teria ouvido, respeitado, amado, quando jovem. Até porque, diz Hanson, esses autores escreviam letras com a poesia dos grandes poetas. A idéia era pegar canções importantes que traduzissem as sensações, as emoções do protagonista. “Queríamos juntar um grupo de canções que dão ênfase ao gosto doçamargo do sucesso e do que vem depois dele, e também aos anseio por propósitos, renovação e amor”, diz Hanson.
O diretor Curtis Hanson e sua supervisora musical conseguiram tudo o que queriam – e muito mais. As canções que puseram no filme não traduzem apenas as emoções do professor Tripp, mas também as de toda a sua geração. As minhas, sem dúvida alguma.
Ouvem-se, ao longo de Garotos Incríveis, além da original, da escrita para o filme, três canções de Dylan (a então bem recente “Not Dark Yet”, mais “Buckets of Rain” e “A Shooting Star”), mais “Watching the Wheels”, de e com John Lennon, “Old Man”, de e com Neil Young, “Philosopher’s Stone”, de e com Van Morrison – e, de quebra, talvez para lembrar que as gerações vêm depois de outras gerações, que as canções não nasceram no ano em que nascemos, há ainda um clássico da geração de nossos pais, “Glad to be unhappy”, de Rodgers & Hart.
Aí, no meio das filmagens…
Faço aqui umas contas. Curtis Hanson é de 1945, o ano do meu irmão Geraldo. Sou cinco anos mais novo, o que não é nada. Somos da mesma geração. Dylan é de 1941, apenas quatro anos mais novo que o cineasta. Curtis Hanson tinha 18 anos quando Dylan estourou, ali por 1963.
Como eu, como milhões de pessoas, Curtis Hanson cresceu tendo Dylan como ídolo.
O depoimento de Hanson:
“Na época das filmagens, em Pittsburgh, soube que Bob poderia se interessar em fazer uma canção original para o filme. Isso era um sonho que eu tinha desde a colaboração musical de Dylan com Sam Peckinpah em Pat Garrett & Billy the Kid, 27 anos antes. Quando voltei de Pittsburgh (para Los Angeles, deve ser), Bob apareceu na sala de montagem para ver algumas tomadas. Contei a história para ele, falei dos personagens. Falamos de Grady Tripp e do momento em que ele estava na vida dele, e onde ele estava, criativamente, emocionalmente. Logo depois, Bob saiu em turnê (a Never Ending Tour de Dylan, como diz o nome, nunca termina). Semanas depois, chegou um CD. Pusemos para tocar, e lá estava Bob Dylan, cantando sobre muita água que passou sob a ponte, e estar apaixonado por uma mulher que não lhe era especialmente atraente. As imagens de Dylan captam as angústias de Grady Tripp, e, através delas, a alma dos garotos incríveis. Naturalmente, a música tem também vida própria, como um cáustico comentário de Dylan, na meia idade, a respeito da vida neste limiar do novo século.”
E finaliza, quase com um suspiro:
“Sorte nossa que tivemos a música.”
Cacete! Depois disso, dizer mais o quê?
Sorte nossa termos Curtis Hanson, Tobey Maguire, Frances McDormand, Michael Douglas.
Sorte grande, mega-sena nossa termos Bob Dylan.
Garotos Incríveis/Wonder Boys
De Curtis Hanson, EUA-Inglaterra-Alemanha-Japão, 2000
Com Michael Douglas (Professor Grady Tripp), Tobey Maguire (James Leer), Frances McDormand (reitora Sara Gaskell), Robert Downey Jr. (Terry Crabtree), Katie Holmes (Hannah Green), Rip Torn (Quentin ‘Q’ Morewood), Richard Knox (Vernon Hardapple), Jane Adams (Oola), Michael Cavadias (Antonia/Tony)
Roteiro Steve Kloves
Baseado no livro de Michael Chabon
Fotografia Dante Spinotti
Música Christopher Young
Com canções de Bob Dylan, Neil Young, Van Morrison, John Lennon
Produção BBC, Curtis Hanson Productions, Mutual Film Company, Paramount Pictures, Scott Rudin Productions. DVD Warner.
Cor, 107 min
R, ****
É sério que vc acha a Katie Holmes lindíssima? Eu acho ela tão sem graça, uma mulher beeem comum, que diga-se de passagem, só alcançou alguma fama por causa do marido-estrela e das gastanças alucinadas com roupas de grife para a filha. Protagonizou uma série de sucesso entre os adolescentes, mas meio que parou por aí.
Fiquei com vontade de ver o filme, mas ter que engolir o canastrão Michael Douglas é dose.
Jussara, a moça é bonita, sim. E neste filme aqui está especialmente bonita. Veja o filme, apesar de não gostar do Michael Douglas. Vale a pena!
Um abraço.
Sérgio