Atriz maravilhosa, festejada, premiada, neta de grande ator, filha de grande diretor que gostava de às vezes atuar em filmes dos outros e dava shows de atuação, Anjelica Huston estreou na direção em 1996, aos 45 anos, com um filme de elenco impecável, com especial destaque para duas performances impressionantes, inesquecíveis.
O filme é um drama familiar barra pesadíssima, um dos filmes mais violentos e violentamente explícitos sobre abuso que já vi na vida. O clima denso, pesado, começa já no título original, Bastard out of Carolina (no Brasil Marcas do Silêncio), e nas frases que a narradora diz logo na abertura. Primeiro, ela cita uma frase de James Baldwin, o grande escritor que se dizia o homem mais triste do mundo por ser ao mesmo tempo preto, americano e homossexual:
– “As pessoas pagam pelo que fazem, e mais ainda pelo que elas deixam elas mesmas virarem. E pagam por isso de maneira simples; pela vida que levam.”
E depois: – “O dia em que nasci começou mal e só ficou pior. Acho que eu tive sorte de conseguir nascer.”
No original é ainda mais forte, mais belo e mais triste: “People pay for what they do, and still more for what they allow themselves to become. And they pay for it simply; by the lives they lead.” “The day I was born started off bad and only got worse. I guess I was lucky I got born at all.”
A narradora é a protagonista da história quando já adulta, situação em que o espectador nunca a vê: na tela, nós a vemos criancinha e depois, na maior parte da narrativa, ali pelos 10, 11, 12 anos. Chama-se Ruth Anne, mas todos a conhecem pelo apelido de Bone, osso. É o papel da então estreante Jena Malone, que estava com 12 anos em 1996, ano de lançamento do filme, e tem uma atuação fantástica, esplendorosa, emocionante, impressionante.
Fiquei pensando, depois de ver o filme, que a atuação da garota Jena Malone como essa pobre Bone, que sofre mais que escravo romano remando nas galés, é algo que só tem paralelo com a de Patty Duke como Helen Keller em O Milagre de Anne Sullivan (1962) ou o de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido (1999), entre alguns poucos.
A outra interpretação fora de série no filme – que se destaca em meio a todo um elenco competente e bem dirigido – é a de Jennifer Jason Leigh, essa atriz extraordinária, das melhores de toda a História do cinema americano. Jennifer faz Anney Boatwright, a mãe de Bone. Uma pobre mulher, sem qualquer força interior, sem personalidade, débil, que – como diz James Baldwin – permitiu que se transformasse numa idiota, uma imbecil que não consegue deixar de amar perdidamente o marido que abusa de sua filha.
Não percebi de quem era a bela voz que narra a história, no papel da Bone agora adulta. Besteira minha. É a voz de uma outra grande atriz, que, como Anjelica, vem de família de bons atores – Laura Dern, a filha de Bruce Dern e Diane Ladd.
E, já que dei os nomes dos pais da atriz que narra a história, poderia registrar de uma vez que o avô de Anjelica é o grande Walter Huston (1883-1950), quatro indicações ao Oscar, uma estatueta levada para casa. O pai é o grande John Huston (1906-1987), 14 indicações ao Oscar como diretor, produtor, roteirista e ator, duas estatuetas levadas para casa – o único sujeito que dirigiu tanto o pai quanto a filha em interpretações premiadas com o Oscar, o pai por O Tesouro de Sierra Madre (1948), a filha por A Honra do Poderoso Prizzi (1985).
Não se diz em hora alguma, mas é uma história real
Por falta de atenção, ou simples besteira mesmo, não reparei que era de Laura Dern a bela voz que narra a história com a voz em off. Mas me ocorreu, ao longo do filme, que o fato de a narradora ser a protagonista adulta, de o texto que ela fala ser muito trabalhado, coisa de quem gosta de escrever, e de haver cenas em que vemos a jovem Bone lendo – tudo isso me levou a imaginar que poderia se tratar de uma história verdadeira. Nos créditos iniciais havia aparecido que o roteiro se baseava em livro de uma mulher.
Sim, a história é verdadeira. Por mais apavorante, chocante, horrorosa que seja, a história é verdadeira. O romance em que Anne Meredith se baseou para escrever o roteiro do filme é de autoria de Dorothy Allison, e Dorothy, exatamente como Bone, nasceu em Greenville, na Carolina do Sul, filha de uma mãe adolescente, e foi espancada e abusada pelo padrasto. Bastard out of Carolina, seu livro lançado em 1992, é, sim, autobiográfico.
A mãe de Dorothy se chamava Ruth, e tinha apenas 15 anos quando deu à luz sua filha. Gravidez na adolescência – essa coisa que só acontece em famílias pobres, de pouca instrução. Exatamente como a Anney do filme interpretada por Jennifer Jason Leigh, a Ruth da vida real trabalhou como garçonete, e eventualmente veio a se casar com um homem que viria a espancar e abusar sexualmente da garotinha.
Ao contrário do que acontece em tantos e tantos filmes, não há, em momento algum neste Bastard out of Carolina, algum letreiro que expresse isso. Nem nos cartazes. Acho isso especialmente interessante, porque o “baseado em uma história real” é uma marca que vende, que atrai a atenção do público. Os realizadores preferiram não usar essa qualidade do filme.
Brancos pobres de área rural no Sul
Brancos pobres de região rural de Estado do Sul – o Sul menos desenvolvido economicamente, mais atrasado em todos os sentidos, de passado escravocrata, que entrou em guerra contra a União depois que Abraham Lincoln acabou com a escravidão no país, em 1865. Esse é o meio em que nasceram a Dorothy da vida real e a Bone criada à sua imagem e semelhança no livro e transposta para o filme.
Brancos pobres do Sul. Não propriamente miseráveis, White trash, como são chamados os pobres demais. De forma alguma miseráveis – mas pobres. Sem muita educação, sem cultura. Famílias grandes, com muitos filhos. Assim é a família de Anney-Jennifer Jason Leigh.
São tantos irmãos e irmãs que não consegui entender exatamente quem é de fato irmão, quem é cunhado de Anney. O fato é que são muitos irmãos e cunhados, todos, portanto, tios da pequena Bone. Há Ruth (Glenne Headly), Wade (Lyle Lovett), Earle (Michael Rooker), Raylene (Diana Scarwid), Alma (Susan Traylor).
A avó da garotinha Bone, mãe de Anney, de Earle, de Ruth, é interpretada por Grace Zabriskie,
Desses atores todos – que trabalham muito bem, repito –, eu só conhecia Michael Rooker, mais de 130 títulos no currículo, entre eles Muito Mais Que um Crime/Music Box (1989) e O Efeito Dominó/The Trigger Effect (1996), e Lyle Lovett, o ótimo cantor de música country que é feio que nem a fome e foi casado com Julia Roberts entre 1993 e 1995.
Há ainda no elenco dois atores bastante conhecidos que fazem papéis bem pequenos. Christina Ricci faz Dee Dee, uma prima adolescente de Bone, que aparece em apenas uma sequência. Me parece óbvio que escalar Christina Ricci para um papel tão pequeno, a rigor uma participação especial, foi uma decisão de Anjelica Huston, que, cinco anos antes, em 1991, havia trabalhado com ela em A Família Addams.
O outro ator conhecido em papel pequeno é Dermot Mulroney, que interpreta Lyle Parsons, o primeiro padrasto de Bone. O casamento de Anney com Lyle é gostoso, amoroso, feliz; o rapaz de fato demonstra afeto pela filha da sua mulher. Na vida de Anney e Bone, no entanto, o que é bom dura pouco demais – e logo Lyle morre em um acidente de carro, deixando a mulher grávida pela segunda vez.
Em uma das sequências mais tristes do filme, Bone, ali com 10, 11 anos, segura uma foto esmaecida em que Lyle brinca com ela. E aí Glen Waddell (o papel de Ron Eldard), o novo padrasto, chega para ela, pergunta o que é aquilo que ela tem na mão, toma dela a foto, diz que aquele não é o pai dela, que o pai dela é ele – e em seguida rasga a foto, o objeto que fazia a criaturinha se lembrar de um breve momento em que havia sido feliz.
É doloroso demais ver na tela o sofrimento da menina
Bastard, a palavra forte do título original, não é de forma alguma gratuita, colocada de maneira leviana, forçação de barra. Na Carolina do Sul – o filme mostra isso até com alguma insistência –, a ausência do nome de um pai no registro civil da criança levava, naquela época, a que o documento tivesse um grande carimbo com a palavra “ilegítimo”. Bone tinha o carimbo de “illegitimate”, em letras graúdas, em sua certidão – e isso deixava Anney morta de vergonha.
É Earle, o irmão que gosta demais de Anney, que apresenta Glen para ela. Os dois homens eram colegas de trabalho, Anney estava sozinha, solteira, e Earle achou que era o caso de ver se os dois se dariam bem.
Pouco depois o próprio Earle fica em dúvida se aquilo seria bom para a irmã. O espectador presencia uma cena de uma briga de Glen com um colega de trabalho – e naquele momento fica claro que o sujeito tem um temperamento violento, é um tipo que perde a cabeça, tem acessos furiosos de agressividade.
A mãe de Anney diz para ela que não gosta daquela pessoa, que não confia nele. Mas a moça queria desesperadamente um marido, Glen dava demonstrações de amor – e ela se apaixona por ele.
O espectador sente, sabe perfeitamente que vem coisa ruim, quando Anney namora Glen e está pronta para casar com ele.
Só não sabe exatamente, claro, o que vai vir,
A roteirista Anne Meredith e a diretora Anjelica Huston adiam bastante o momento em que mostram para nós o início da tragédia que representará para a pequena Bone a escolha errada da mãe. O momento ocorre quando já estamos com 37 minutos dos 98 do filme.
Confesso que, a partir daí, se tornou muito duro, muito difícil para mim continuar a ver o filme.
Cada vez menos tenho aquele “distanciamento brechtiano” diante das histórias que vejo se desenrolar diante de mim numa tela. Me envolvo emocionalmente, passionalmente nas vidas dos personagens que me tocam, que me são simpáticos. A partir do momento em que Bone passa a ser espancada pelo padrasto Glen, comecei a reclamar, discutir com o filme, exigir que a pustema da mãe reagisse a todo aquele horror – a ponto de levar uma bronca da Mary, de que não estava sendo possível ver filme comigo.
O abuso, a violência doméstica – esse é um dos piores horrores que pode haver. Nenhum de nós está distante dele – ninguém, ninguém. Cada um de nós conhece alguém que passou por isso, ou, no mínimo, no mínimo, alguém que conhece alguém que passou por isso.
Eu conheci de muito perto. Me enfureço cada vez que penso que não fiz nada contra aquilo.
Há momentos em que não dá para saber o que é pior – se o abusador ou se a mulher que suporta o abuso.
É óbvio, é ululantemente óbvio que nenhuma mulher gosta de ser abusada, ou ver seu filho/sua filha abusado/abusada. É ululantemente óbvio que na imensa maioria dos casos, para não dizer a quase totalidade, a mulher não reage por absoluta falta de meios. Não dá para culpá-las.
A extraordinária série Maid demonstrou cabalmente que a mulher não consegue se desvencilhar de uma vez. Que em geral tenta uma, duas, três, várias vezes, até conseguir finalmente se distanciar do abusador.
Este filme tristíssimo de Anjelica Huston mostra uma mãe que tinha, perfeitamente, meios de viver longe do marido abusador. Tinha parentes a quem recorrer – diversos, vários, um monte de irmãos e irmãs que poderiam abrigá-la e às suas duas filhas.
Essa Anney do filme insiste em ficar com Glen porque o ama – e o amor dela pelo cara permite que a filha continue a ser espancada e abusada.
– “Como foi que ela quebrou o cóccix?”, pergunta um médico que está examinando Bone. Ao que Anney retruca: – “O que dela?”
– “O osso do fim da coluna dela, senhora!”, reage o médico. “A bunda dela! Com o que a senhora está batendo nessa criança? Ou a senhora está jogando ela contra a parede?
Anney se apressa em pegar a pobre Bone e sai do hospital correndo – carregando a garota de volta para a casa em que o padrasto vai continuar surrando-a.
Essa sequência é apavorante, como várias outras do filme.
Um item da página de Trivia do IMDb diz que o filme suavizou bastante uma passagem climática do livro, em que Anney demonstra amor, carinho, pelo marido que espanca e abusa da filha dela.
Meu Deus! Se esse filme, em comparação com o livro, for suave… Não consigo sequer imaginar como pode ser o livro.
A salvação pelo estudo, pelo amor às artes
Quando o filme termina, Bone está aí com uns 12 anos.
A voz em off da Bone adulta – a voz de Laura Dern – nos dá a entender que aquela criatura conseguiu sobreviver a tanto horror, e se tornou uma mulher adulta capaz de tocar sua vida.
A Bone da vida real, essa Dorothy Allison que escreveu sua própria história, foi a primeira pessoa de sua família a concluir a high school, o equivalente no Brasil aos quatro últimos anos do ensino básico, o antigo ginásio. Em seguida, graças a uma bolsa de estudos, prosseguiu sua educação no Florida Presbyterian College. E fez faculdade e pós-graduação.
Através do estudo, a Bone da vida real conseguiu não apenas sobreviver como sair daquela situação de toda a sua família. Através da ralação. Da meritocracia – essa coisa odiada por quem não tem nem briga para ter mérito.
Nada disso aparece neste filme aqui, é claro – ele termina, repito, com Bone aos 12 anos de idade. Mas, pelo que diz e dá a entender a narradora, pelo fato de ter havido um livro autobiográfico, não consigo deixar de lembrar que belos filmes foram feitos sobre esse tema. Jovens que conseguem – através do estudo, da ralação, do gosto pela arte, pela cultura – se salvar de um destino absolutamente infeliz que havia sido traçado para eles. Toda Uma Vida (1974), de Claude Lelouch. Stella (2008), de Sylvie Verheyde. Lila Diz… (2004), de Ziad Doueiri. Belos filmes, belos exemplos.
Não acontece apenas nos filmes, é claro. François Truffaut é o exemplo mais que perfeito do adolescente que tinha tudo para dar errado, para cair na marginalidade, no crime – e foi salvo pelo gosto pela arte.
François Truffaut é como essa senhora Dorothy Allison – essa garota Bone, interpretada com tanto brilho por Jena Malone.
O interessante aqui é que o filme não mostra explicitamente que Bone será salva pela arte, educação, cultura. Ele apenas dá algumas indicações disso – como eu falei antes, há tomadas de Bone lendo. Tendo relação com a cultura.
O que o filme indica mesmo é que ela tem relação com a música. A pequena, sofrida Bone adora a música que toca no rádio – e a música que toca no rádio ali é a country music. Country music da melhor qualidade – mas sobre isso falo mais adiante.
O filme em si teve uma história fascinante
Não tenho muitos elementos factuais para usar, mas creio que dá para inferir que a “história de vida”, digamos assim, deste Bastard out of Carolina tenha sido de fato fascinante.
Do que dá para saber, o livro, lançado em 1992, foi recebido com boas críticas, e vendeu muito bem. Mas houve quem o condenasse pelo conteúdo excessivamente realista, por explicitar o que, mesmo nessa época mais recente, mais distante dos anos de censura e excesso de caretice, ainda não era muito bem recebido quando explicitado.
Um órgão de educação do governo do Maine proibiu que o livro fosse adotado nas high schools do Estado; houve apelo contra a decisão, mas a Suprema Corte do Maine manteve a decisão, como conta a Wikipedia. Isso em 1997, tanto tempo depois dos avanços comportamentais todos que vieram a partir dos anos 1960.
O filme foi inicialmente produzido para ser exibido pela TNT, a Turner Network Television. Ah, sim, só agora estou dizendo isso: este foi um filme feito para a TV.
Só que, quando ficou pronto, pareceu forte demais para a TNT – e então acabou sendo exibido pelo canal de TV a cabo Showtime.
Uma vez exibido, o filme teve uma extraordinária recepção da crítica. Recebeu quatro indicações ao Primetime Emmy, o grande prêmio da televisão americana, e levou o troféu de melhor elenco de minissérie ou especial. As outras indicações foram nas categorias de diretor de minissérie ou especial para Anjelica Huston, atriz coadjuvente em minissérie ou especial para Glenne Headly, e, em especial, para o melhor filme feito para a TV.
Sucesso de crítica – mas, mesmo assim, com problemas. Conta também a Wikipedia que a exibição do filme na televisão canadense chegou a ser proibida pela Canadian Maritime Film Classification Board; a decisão foi contestada, e, em seguida, a exibição foi liberada.
Não achei fontes que dissessem com todas as letras que o grande sucesso na TV fez com que o filme fosse em seguida levado para exibição nos cinemas, mas o fato é que ele foi, sim, levado para as salas. Isso até é comum hoje, mas não era usual, de forma alguma, nos anos 1990. Mas aconteceu. O IMDb tem o trailer do filme para exibição nos cinemas, e o trailer diz que ele foi “America’s most talked about film”, “critically acclaimed”, “controversial”.
É um extraordinário, sensacional caso de um trailer que anuncia que vem aí um filme que já foi o mais falado, que foi aclamado pela crítica, que se provou polêmico!
E há mais. O filme foi selecionado para exibição no Festival de Cannes, um dos três mais importantes do mundo, ao lado dos de Berlim e Veneza. Não na mostra competitiva, mas na mostra Un Certain Regard. Só participar de Un Certain Regard já é uma grande honra.
É interessante, e também estranho, ver que, apesar dessa estréia tão boa, Anjelica Huston não tenha se entusiasmado em seguir a carreira de diretora. Ela dirigiria mais dois longas, Agnes Browne, o Despertar de uma Vida, em 1999, e Rididng the Bus with My Sister, em 2003. Em 2013, assinaria um curta-metragem – e só.
A autora do livro autobiográfico tornou-se ativista gay
Lá pelo meio do filme, Mary comentou que não dava para saber a época em que se passava a história. Há poucas sequências passadas em alguma das pequenas cidades ali do interiorzão da Carolina do Sul; boa parte do filme se passa dentro das casas, ou em ao redor delas, em região rural, e então não para saber exatamente se aquilo é final dos anos 40, se é anos 50, se é começo dos 60.
Não há, no filme, qualquer referência a ano, ou a fato político que indique explicitamente uma data.
Mas dá para inferir que é final dos anos 50 e começo dos 60. Um indício – que a gente checa depois de ver o filme – é que Dorothy Allison nasceu em 1949, e portanto estava com 12 em 1961, Os outros indícios são as músicas que Anney e sua família ouvem no rádio. Há sempre um rádio ligado – seja nos carros, seja nas casas.
E as canções que os realizadores escolheram para tocar nos rádios da família são o crême de la crème da country music anterior a 1962, por aí. Há Johnny Cash cantando “I Walk the line”, sucesso extraordinário em 1956. Há Hank Williams, o cara que está para a country music mais ou menos assim como Noel Rosa está para a música popular brasileira. Há The Carter Family, Lefty Frizzell.
Incrível. A família de Anney e de Bone era pobre, pouco letrada, às vezes violenta demais – mas ouvia o melhor da country music.
Dois últimos registros: Jena Malone, essa atriz fantástica que dá um absoluto show de interpretação aos 12 anos de idade como a triste Bone, tem hoje 82 títulos na filmografia, entre eles os da série Jogos Vorazes e bons filmes como Contato (1997), Tempo de Recomeçar/Life as a House (2001), Cold Mountain (2003). Ganhou 12 prêmios e outras 22 indicações.
Dorothy Allison, a Bone da vida real, já publicou uma dezena de livros – romances, contos e poemas. Outro de seus romances, além de Bastard out of Carolina, Cavedweller, publicado em 1998, virou filme com o mesmo nome em 2004, dirigido por Lisa Cholodenko e com roteiro da mesma autora do roteiro deste Marcas do Silêncio aqui, Anne Meredith. Lisa Cholokenko é a autora de bons filmes, como Laurel Canyon: A Rua das Tentações (2002) e Minhas Mães e Meu Pai (2010)
A escritora já recebeu seis prêmios literários, e firmou-se como respeitada ativista pelos direitos das mulheres lésbicas. Vive uma união estável há mais de 18 anos com Alix Layman, com quem criou um filho, Wolf Michael.
Anotação em março de 2022
Marcas do Silêncio/Bastard out of Carolina
De Anjelica Huston, EUA, 1996
Com Jena Malone (Bone, Ruth Anne),
Jennifer Jason Leigh (Anney, a mãe de Bone)
E Ron Eldard (Glen Waddell, o padrasto de Bone), Glenne Headly (Ruth, a tia), Lyle Lovett (Wade, o tio), Dermot Mulroney (Lyle Parsons, o primeiro padrasto), Christina Ricci (Dee Dee, a prima), Michael Rooker (Earle, o tio), Diana Scarwid (Raylene, a tia), Susan Traylor (Alma, a tia), Grace Zabriskie (Granny, a mãe de Anney), Richard Todd Sullivan (Travis), Pat Hingle (Mr. Waddell, o ricaço pai de Glen), Lindley Mayer (Reese), Jamison Stewart (Grey), Timothy Stewart (Garvey), Kelsey Elizabeth Boulware (Bone aos 4 anos)
Roteiro Anne Meredith
Baseado no livro homônimo de Dorothy Allison
Fotografia Anthony B. Richmond
Música Van Dyake Parks
Montagem Éva Gárdos
Casting John Brace, Linda Lowy
Direção de arte Nelson Coates
Figurinos Van Broughton Ramsey
Produção Amanda DiGiulio, Gary Hoffman Productions.
Cor, 98 min (1h38)
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Um comentário para “Marcas do Silêncio / Bastard out of Carolina”