(Disponível na Netflix em 4/2024.)
A idéia básica a partir de que se criou Dix Pour Cent, a série francesa que teve quatro temporadas, entre 2015 e 2020, é um absoluto brilho, uma dessas coisas sensacionais, faiscantes, geniais, para a gente aplaudir de pé como na ópera.
Vemos como é o trabalho de uma grande agência de talentos do cinema em Paris, o dia-a-dia de quatro agentes e de seus colaboradores, suas vidas pessoais, seus problemas, o relacionamento sempre difícil entre eles – e como eles se relacionam com seus clientes. Os clientes, é claro, são grandes atores – interpretados por eles mesmos! Assim, na Primeira Temporada vemos Cécile de France, Nathalie Baye, Laura Smet, Line Renaud, Françoise Fabian, todos fazendo o papel de si mesmos. Gilles Lellouche aparece rapidissimamente, na festa de entrega dos Césars, o Oscar francês.
Nas três temporadas seguintes, vão aparecer, interpretando a si mesmos, Juliette Binoche, Isabelle Adjani, Fabrice Luchini, Christopher Lambert, Monica Bellucci, Claude Lelouch, Jean Dujardin, Isabelle Huppert, Sigourney Weaver, Jean Reno, Charlothe Gainsbourg, Sandrine Kiberlain, José Garcia, Audrey Fleurot. Julie Gayet, JoeyStarr, François Berléand, Virgine Efira, Ramzy Bedia, Michel Drucker, Guy Marchand…
Fala-se do César, do Festival de Cannes, de Brigitte Bardot, de Marion Cotillard, de Pedro Almodóvar, de Steven Spielberg, de um filme que será dirigido por Quentin Tarantino – que eles pronunciam Tarrrantinô, é claro. O cachorro de Arlette, uma das quatro agentes, se chama Jean Gabin.
Desfila na tela diante de nós o mundo do cinema do país em que o cinema começou, o país que muito provavelmente é o que mais ama o cinena.
E haja vaidade, rivalidade, embate gigantescos de egos ciclópicos. Haja poeira de estrelas saindo por todos os cantos.
Tudo com muita graça, ironia, bom humor, inteligência, belas sacadas, ótimas piadas.
Uma absoluta delícia.
Uma trama ao fundo, subtramas em cada episódio
Como acontece em algumas séries – em especial policiais –, há uma trama básica, fundamental, de fundo, que vai se desenrolando ao longo de todos os episódios e todas as temporadas, contando a vida dos protagonistas centrais, os quatro agentes dos artistas e algumas pessoas que gravitam em torno deles. E, a cada um dos seis episódios que compõem cada temporada, há uma trama envolvendo um ator, ou um grupo de atores. São, é claro, tramas fictícias – mas fincadas na realidade daquele mundo de estrelas. Essas tramas são específicas de cada episódio, resolvem-se em cada episódio.
Uma das maravilhas de Dix Pour Cent, ao menos neste Primeira Temporada (e não há por que duvidar que seja a mesma coisa nas três seguintes), é que são fascinantes as duas coisas – a trama básica, a vida daquelas pessoas da agência de talentos ASK – e as tramas específicas de cada episódio, as que tratam de um artista ou grupo de artistas.
São fascinantes as duas coisas, a grande trama básica e as subtramas específicas – e é igualmente delicioso como as duas coisas se interrelacionam, se mesclam, se entrelaçam.
O nome da agência, ASK, é chamativo, curto, rápido, ágil, e remete ao verbo inglês to ask, perguntar, pedir, convidar. Sorte, porque é uma sigla: Agence Samuel Klein. O ficcional Samuel Kerr (o papel de Alain Rimoux), o criador e dono da agência, é um veterano, muitíssimo benquisto no meio artístico francês. Consegue até mesmo ser admirado e respeitado pelos seus quatro pares, os quatro agentes que são os protagonistas da série e que são o exemplo típico da fogueira de vaidades – quatro profissionais que trabalham juntos, lado a lado, e competem ferozmente entre si.
Samuel tem fama de ser um terrível mulherengo, um conquistador nato, que teve casos com muitas das grandes estrelas que foram representadas por sua agência. Ele é uma referência fundamental na série, e é citado, mencionado insistentemente ao longo de toda a Primeira Temporada – mas aparece bem pouco na tela. O motivo disso é uma surpresa, e portanto a rigor revelá-lo seria um spoiler, embora surja já no final do primeiro episódio.
Aí é o tal negócio: se o eventual leitor ainda não viu Dix Pour Cent e tem interesse em ver, melhor seria parar de ler por aqui e voltar depois de ter visto…
Atenção: aqui vai um pequeno spoiler!
Bem, aí vai o spoiler – não gigantesco, já que os fatos surgem logo no primeiro dos 24 episódios que compõem a série, mas, de qualquer forma, um spoiler.
Ainda no primeiro episódio, Samuel tira férias e viaja para… o Riô de Janerrrô! Aí, um alto funcionário do Consulado da França no Rio telefona para a ASK. Os quatro agentes estão em uma reunião, e ouvem o funcionário no telefone colocado no viva voz: sentimos muito informar, mas houve um acidente, e Monsieur Samuel Kerr está morto.
A versão oficial será de que o veterano agente de artistas engoliu uma vespa. A versão que vai circular no meio cinematográfico parisiense é que de o velho safado foi comer uma puta carioca e o coração pifou.
Dois homens, duas mulheres, dois veteranos, dois jovens
A morte do criador e dono da agência, evidentemente, é um terremoto para a empresa – e a ASK é apresentada como uma empresa próspera, rica, com muitos grandes nomes como clientes. Ocupa o último andar inteiro e a cobertura de um prédio chiquetérrimo numa região chiquetérrima da chiquetérrima Paris.
A vacância da cadeira do patrão vai provocar uma luta danada entre os quatro agentes que, juntamente com Samuel, tocavam os negócios. Lá pelo terceiro episódio, surgirá em cena a viúva, Hélène (Gabrielle Forest), a agora única proprietária da empresa, que tem planos de vender aquilo.
Dá para imaginar o pânico dos quatro agentes diante da possibilidade de a empresa ser vendida, de eles passarem a ter um novo patrão.
E já passou da hora de falar dos quatro protagonistas da série.
Quatro competentes agentes de astros e estrelas do cinema. Gente que fica com dez por cento de tudo o que ganham – na ficção, é claro – Cécile de France, Nathalie Baye, etc, etc, etc, etc…
Dois homens, duas mulheres. Uma veterana, uma senhorinha idosa, Arlette Azémar (o papel de Liliane Rovère), um veterano, Mathias Barneville (Thibault de Montalembert), e dois mais jovens, aí na faixa dos 30 e muitos, 40 anos, Andréa Martel (Camiler Cottin) e Gabriel Sarda (Grégory Montel, os dois na foto acima, ela também na foto abaixo).
Os dois mais jovens são bastante amigos – saem juntos para jantar, para beber. Volta e meia brigam como gato e rato, mas se gostam. O que não rola é romance: Andréa é gay. Até já teve uns casos com homens, mas foram insatisfatórios, e ela optou por deixá-los de lado como parceiros de sexo.
Ela frequenta sites de encontro – e essa informação não é uma curiosidade sem importância. Os criadores da trama tiveram uma gostosa sacada ao mostrar, como quem não quer nada, Andréa passeando por um site de encontro e descartando com uma frase como “você não é do meu tipo” uma mulher aí da mesma faixa de idade. Algum tempo depois, anuncia-se que um órgão oficial vai fazer uma vistoria nos livros de caixa da ASK, à procura de alguma inconsistência, alguma tentativa de fraudar o Imposto de Renda. A contadora do órgão oficial enviada à empresa é exatamente aquela mulher que havia sido descartada por Andréa…
A moça bem que tenta cortejar a contadora – mas, a princípio, a mulher rejeitada reage com fúria…
Não tinha como Andréa prever, não foi por culpa dela, mas o fato é que ela acaba em uma posição que pode prejudicar duramente a empresa…
Gabriel é simpático e atrapalhado. Mathias, arrogante
Tomar atitudes que acabam prejudicando a agência – embora sem qualquer intenção, é claro – parece ser uma especialidade do outro jovem, Gabriel. Embora esforçado, trabalhador, e até bastante querido pelos seus clientes, Gabriel às vezes parece o desacerto em forma de gente.
E é uma figura simpática, todo jeito de boa gente, bom caráter – mas, coitado, é atrapalhado, às vezes trapalhão. Andréa, que é amiga dele, em várias ocasiões reclama de Gabriel, do modo como ele conduz os negócios dos atores de que cuida.
Mas quem de fato implica com ele é Mathias Barneville (na foto abaixo, Thibault de Montalembert).
Mathias, bem ao contrário de Gabriel, não é uma pessoa simpática – muito antes ao contrário. Homem aí de uns 50 e tantos anos, fina estampa, elegante, sempre muitíssimo bem vestido em ternos caros, emproado, cheio de si, jeito de quem tem o rei na barriga, Mathias se julga o herdeiro natural de Samuel no comando da agência – e trata os colegas com arrogância, prepotência.
A mais veterana dos quatro, Arlette Azémar, parece o oposto de Mathias. É calma, tranquila, suave. Não tem que provar nada para ninguém – tem uma longa e boa carreira, uma folha de bons serviços prestados. Não importuna ninguém.
Além desses quatro agentes – pessoas tão díspares entre si, figuras interessantes, personagens bem construídos –, há na agência de talentos nesta Primeira Temporada dois outros personagens bastante importantes, duas jovens mulheres, Camille Valentini (o papel de Fanny Sidney) e Sofia Leprince (Stéfi Celma, na foto abaixo).
Sofia é uma bela mulata, que usa um imenso cabelão afro, e é a secretária-recepcionista-telefonista da ASK. As pessoas da agência – e também os espectadores – demoram um pouco para ficar sabendo, mas a moça é também uma aspirante a atriz. Sofia revela seu até então segredo para Gabriel, e, uma noite, ele vai até o pequeno teatro em que ela está atuando numa peça de vanguarda. Rola no terceiro dos seis episódios, e é uma sequência bem interessante. A peça é uma chatice, e Gabriel adormece na cadeira. Lá pelas tantas, no entanto, acorda em um momento em que Sofia está sozinha no palco, cantando uma bela, suave canção (que eu não conhecia), acompanhando-se ao violão.
O agente de vários grandes atores fica impressionado com o que vê; depois que a peça termina, diz a Sofia que gostou muito de ver a atuação dela, muito acima do nível dos demais atores do grupo, e anuncia que aceita tê-la como uma cliente.
Mais adiante, ali pelo quinto episódio desta Primeira Temporada, os realizadores vão aproveitar a personagem da bela Sofia Leprince para falar do tema sério, duro, pesado:da dificuldade de se acharem bons papéis para uma atriz mulata, mestiça. Dix Pour Cent é uma comédia, uma série leve, gostosa, suave – mas não perde a oportunidade de expor a chaga do racismo.
A importância de Sofia na trama vai crescendo pouco a pouco.
A garotinha Camille vai tentar a vida em Paris
E, finalmente, at last but not at least, entre os personagens centrais da série, há Camille Valentini.
Camille é uma garota de pouco mais de 20 anos (Fanny Sidney, na foto abaixo, a atriz simpática, bonitinha que a interpreta, é de 1987, e portanto estava com 28 anos quando a série foi lançada – mas ela de fato parece mais nova que isso). Quando a ação começa, ela está acabando de chegar da casa da mãe, na Côte d’Azur, a Paris, à procura de um emprego, uma chance na vida, um lugarzinho ao sol, como tantos e tantos e tantos jovens que se mudam do interior, da província, para a metrópole. (Euzinho cheguei a São Paulo com 18 anos recém-completados, vagos sonhos e nenhuma idéia clara sobre o que iria fazer…)
A garota aparece na sede da ASK, e se apresenta diante da bela Sofia na recepção dizendo que gostaria de falar com Mathias. O espectador vê que o cara com o rei na barriga conhece a garota – mas a recebe sem qualquer entusiasmo, na verdade com imensa frieza. Pergunta o que ela está fazendo em Paris – como se a aparição dela ali fosse um incômodo, um estorvo.
Naquela mesma ocasião, Andréa estava demitindo a sua assistente, que havia cometido um erro. E Camille se oferece para ocupar o lugar da demitida.
O quê? Parece coisa de ficção? Bem, é ficção – mas, diacho, coisas assim vivem acontecendo na vida real…
Bem rapidamente, fica claro para o pessoal da agência que a recém-chegada Camille conhece o emproado Mathias. A suspeita imediata, claro, é de que o cara havia tido um caso com a garotinha. O espectador ficará sabendo a verdade dos fatos a respeito de Mathias e Camille logo no segundo episódio – mas as pessoas da agência e a mulher de Mathias, Cathertine (Philippine Leroy-Beaulieu) vão demorar bem mais para conhecer a história.
Surge na vida de Camille um rapaz jovem, simpático, bonitão, Hippolyte (François Civil) – um ator em início de carreira, agenciado pela ASK. Hippolyte paquera a moça, eles vão para um bar, bebem bastante, vão para a casa dele – e logo depois Camille fica sabendo que ele é filho de Mathias.
A história envolvendo a garota recém chegada a Paris Camille e Mathias, sua mulher Catherine e seu filho Hippolyte não chega a ser assim propriamente algo original, inédito, inovador – mas é apresentada de forma muito gostosa, interessante, agradável.
E depois, diacho, há poucas coisas originais, inéditas, inovadoras nas histórias das pessoas. Como dizia e repetia Claude Lelouch: “Só existem duas ou três histórias na vida. Mas as variações são infinitas”.
No primeiro episódio, Cécile de France vai filmar com Tarantino
É claro, é mais que óbvio que a maravilhosa definição do sujeito que criou dezenas e dezenas de histórias em que um homem e uma mulher ficam se conhecendo tem que ser compreendida com atenção, cuidado, carinho. É muito mais ampla e profunda do que pode parece à primeira vista.
E o fato é que os autores das muitas histórias contadas em Dix Pour Cent souberam criar belos personagens, uma gostosa trama básica, central, e capricharam ao recheá-la com as tramas específicas de cada episódio, envolvendo os artistas que interpretam a si próprios.
Cada uma das subtramas sobre os artistas representados pelos agentes da ASK é, em si, uma delícia.
No primeiro episódio, por exemplo, a gracinha da Cécile de France (na foto abaixo) está treinando equitação – e ela não tem nenhum jeito para a coisa – para representar a personagem central do filme que Tarrantinô está para dirigir. Lá pelas tantas, a agência é informada de que Tarrantinô mudou de idéia e não quer mais ter Cécile de France no papel, porque ela está velha demais.
A Primeira Temporada foi lançada, repito, em 2015; a atriz estava então com 40 anos, e essa idade é citada várias vezes.
Dizer que Cécile de France aos 40 anos está velha demais é algo tão absurdo quanto o que aconteceu em uma das edições dessa coisa nojenta, lamentável, que é o BBB, em que foi dito que a modelo Yasmin Brunet não estava mais em plena forma, ou coisa parecida.
Caberia a Gabriel, o agente que tem a conta da atriz, a tarefa de conversar com ela sobre a decisão do diretor norte-americano, tentar dourar um pouquinho a pílula, para que ela não ficasse mortalmente ofendida. E Gabriel até que tenta. Acontece, no entanto, um vazamento da informação nua e crua de que os americanos não a queriam porque ela parecia velha demais – e, magoada, Cécile ameaça abandonar a agência, procurar outra.
Mathias atropela Gabriel e tenta fazer com que os produtores do filme de Tarrantinô mudem de idéia. A produtora do americano só piora as coisas quando sugere a Cécile de France que ela faça uma plástica…
Duas atrizes rivais, duas atrizes que fazem mãe e filha
No segundo episódio, os agentes da ASK fazem trapalhadas com duas de suas clientes, duas atrizes veteranas, Line Renaud e Françoise Fabian. Rivais desde sempre, elas se vêem disputando o papel central do novo filme de um cineasta daqueles moderninhos, adorado pela crítica, o fictício Gabor Rajevski (o papel de Arben Bajraktaraj).
No terceiro episódio, outra cineasta moderninha – e fictícia –, Solveig Ackerfeld (o papel de Simona Maicanescu), está para iniciar as filmagens de um drama psicológico denso e profundo sobre mãe e filha. Um novo Sonata de Outono, talvez… Os agentes da ASK tentam emplacar nos papéis duas atrizes, mãe e filha, que são clientes deles – Nathalie Baye e Laura Smet.
Vai aqui, claro, uma pequena, digamos assim, licença poética, já que na vida real não há qualquer parentesco entre a atriz que François Truffaut lançou em A Noite Americana (1973) como sua script-girl e assistente principal, e a jovem atriz de A Dama de Honra (2004) e Fauda (2022).
Na ficção de Dix Pour Cent, mamãe Nathalie Baye e filha Laura Smet se gostam, se dão bem – mas, diabo, não querem de jeito nenhum ficar juntas por várias semanas, em especial em locações isoladas, como pretende a genial diretora do filme… E então cada uma tenta, à sua maneira, parecer uma atriz absolutamente horrorosa nas entrevistas com a candidata a nova Ingmar Bergman.
Uma delícia.
Uma elegia a uma canção clássica, elegias ao cinema
Série francesa até não poder mais, Dix Pour Cent tem encantadores, emocionantes momentos de elegia à cultura francesa. A sequência, no segundo episódio, em que as atrizes Line Renaud e Françoise Fabian expõem sua rivalidade e disputam as atenções das pessoas em uma festa cantando a clássica das clássicas “Que reste-t-il de nos amours?”, de Charles Trenet e Léo Chauliac, é uma absoluta maravilha.
É interessante pensar que Line, de 1928, carreira iniciada em 1946, tinha 14 anos quando Lucienne Boyer lançou a primeira gravação da canção, em 1942, a França ocupada pelos nazistas. Françoise, um pouco mais jovem, de 1933, tinha 9.
Série sobre o mundo do cinema, Dix Pour Cent, em um momento sério, triste, do episódio 3, faz uma clara citação da sequência final de Os Boas Vidas/I Vitelloni (1953), a maravilha de Federico Fellini. No filme italiano, Moraldo (Franco Interlenghi) finalmente consegue transformar a intenção em gesto, e embarca à noite em um trem na estação de sua cidadezinha rumo ao futuro em uma metrópole. E aí a câmara faz travellings passando por cima das camas em que dormem os amigos que Moraldo está deixando – como se a câmara fosse os olhos do personagem, e ele estivesse vendo, da janela do trem em movimento, cada um dos amigos que ficavam para trás.
No episódio 3 de Dix Pour Cent, Mathias está em seu carro, à noite, rodando pelas ruas de Paris e remoendo na cabeça a informação de que a viúva de Samuel Kerr iria vender a agência – e vamos vendo travellings com cada um dos seus colegas da agência, Andréa, Gabriel, Arlette, e também a garota Camille. Seus companheiros de trabalho, os amigos que estão na iminência de perder seus empregos.
Uma beleza de sequência.
Amor ao cinema: no sexto e último da temporada, há uma maravilhosa homenagem ao cinema. Os personagens centrais caminham pelas ruas de Paris à noite, e um deles faz o convite: que tal ir ver um filme?
E, em uma citação da frase famosérria de Casablanca – “Nós sempre teremos Paris” –, Arlette diz: – “Nós sempre teremos o cinema”. (Na foto abaixo, Liliane Rovère.)
A jovem criadora da série pegou o bonde andando
A série leva a assinatura, como criadora, de Fanny Herrero – e, meu Deus do céu e também da Terra, ela é jovem demais! Nascida em 1974, em Toulon, estava portanto com apenas 41 anos no lançamento desta Primeira Temporada.
Parece ser do tipo geninho. Cursou o Institut d’études Politiques de Paris, depois a London School of Economics, ao mesmo tempo em que jogava vôlei – chegou a participar da seleção francesa. Escreveu peças de teatro entre 2000 e 2006, antes de se dedicar a roteiros para a TV. Em 2007, foi uma das fundadoras da SAS, um coletivo de roteiristas que criou as séries Un Village Français, Kaboul Kitchen e Fais pas ci, fais pas ça.
Na verdade, a “história de vida” da série, como gosto de chamar, é rica, complexa. Na verdade, Fanny Herrero pegou o bonde andando…
A idéia original da trama – como informa o AlloCiné, o site que tem tudo sobre os filmes e séries franceses – é de Dominique Besnehard e Michel Feller, que são… agentes de artistas! Os dois trabalhavam na agência Artmedia, instalada na chiquetérrima Avenue George V, entre o Sena e a Champs Elysées – e o primeiro título pensado para a série foi 10, Avenue George V. Besnehard e Feller chamaram o roteirista Nicolas Mercier para começar a escrever com base nas suas idéias. No entanto, o Canal+, para quem o projeto seria tocado, resolveu cair fora.
Algum executivo esperto da France Télévisions ouviu falar do projeto, e a empresa o encampou. O roteirista Nicolas Mercier saiu do barco para trabalhar em um longa-metragem; na época Fanny Herrero e Quoc ang Tran trabalhavam escrevendo o que seria o episódio 3. Foi oferecido aos dois a oportunidade de assumir a tarefa de roteirizar todos os episódios; Quoc Dang Tran decidiu partir para um outro projeto, e então a bola sobrou todinha, lisinha, para Fanny Herrero chutar.
A moça não desperdiçou a chance. E fez um golaço.
Nos créditos iniciais de cada capítulo, é dito que a série foi criada por Fanny Herrero, “de uma idéia original de Dominique Besnehard, Michel Vereecken e Julien Messemackers”.
Cerca de 30 atores recusaram convite para esta temporada
Segundo o AlloCiné, não foi fácil para os realizadores conseguirem grandes atores para participar da Primeira Temporada da série fazendo o papel deles próprios. Mesmo com os apelos de Dominique Besnehard, agente conhecidíssimo no mundo do cinema francês, e a grife do realizador Cedric Klapisch, autor daquela deliciosa trilogia iniciada com Albergue Espanhol,[ como produtor associado e diretor artístico, cerca de 30 artistas recusaram o convite.
Com o sucesso da Primeira Temporada, as coisas mudaram completamente de figura para as temporadas seguintes…
A série teve 14 indicações a prêmios, inclusive ao Bafta TV. Em 2021, levou o Emmy Internacional e em 2022, o prêmio da Sociedade Americana de Casting.
No IMDb, tem a nota 8,3 em 10, média da opinião de mais de 17 mil leitores.
No AlloCiné, tem a nota 3,9 em 5 entre os críticos, e 4,3 entre os leitores.
Vou querer ver todas as três temporadas que vieram depois desta…
Anotação em abril de 2024
Dix Pour Cent – A Primeira Temporada / Dix Pour Cent
De Fanny Herrero, criadora, França, 2015
Direção Cédric Klapisch, Antoine Garceau, Lola Doillon
Com Camille Cottin (Andréa Martel), Thibault de Montalembert (Mathias Barneville), Grégory Montel (Gabriel Sarda), Liliane Rovère (Arlette Azémar), Fanny Sidney (Camille Valentini), Stéfi Celma (Sofia Leprince, a recepcionista-telefonista),
Nicolas Maury (Hervé André-Jezak, o assistente de Gabriel), Laure Calamy (Noémie Leclerc, a assistente de Mathias), Alain Rimoux (Samuel Kerr, o dono da agência), Gabrielle Forest (Hélène Kerr, a mulher de Samuel), Isabelle Candelier (Annick Valentini, a mãe de Camille), François Civil (Hippolyte Rivière, o filho de Mathias), Philippine Leroy-Beaulieu (Catherine Barneville, a mulher de Mathias), Ophélia Kolb (Colette Brancillon, a auditora da Receita), Arben Bajraktaraj (Gabor Rajevski, o cineasta do episódio 2), Simona Maicanescu (Solveig Ackerfeld, a cineasta do episódio 3), Lee Delong (Miranda Jones, a assistente de Quentin Tarantino)
E, em participações especiais, como eles mesmos, Cécile de France (no primeiro episódio), Line Renaud (no segundo episódio), Françoise Fabian (no segundo episódio), Nathalie Baye (no terceiro episódio), Laura Smet(no terceiro episódio), Zinedine Soualem (no terceiro episódio), Gilles Lellouche (no terceiro episódio), Audrey Fleurot (no quarto episódio), Julie Gayet (no quinto episódio), Joey Star (no quinto episódio)
Roteiro Fanny Herrero, criadora, Nicolas Mercier, Camille Chamoux
Baseado em idéia original de Dominique Besnehard & Michel Vereecken & Julien Messemackers
Fotografia Yves Cape
Música Loïc Dury, Christophe Minck
Montagem Catherine Schwartz, Sophie Brunet
Casting Constance Demontoy
Direção de produção Emmanuelle Duplay
Figurinos Anne Schotte
Produção Dominique Besnehard, Michel Feller, Aurélien Larger, Harold Valentin, Mon Voisin Productions, Mother Production, Ce Qui Me Meut, France Télévisions.
Cor, cerca de 300 min (5h)
***1/2
Título no Reino Unido e nos EUA: “Call My Agent!”
Oi Sérgio. Assisti 2 vezes de tão boa que é! Principalmente, admirei a coragem de mostrar toda a “loucura” especial que é esse meio. Atriz mulata temnq fazer primeiro filme com cenas de sexo e nua p conseguir continuar. O nome do cachorro Jean Gabin é genial. Claro que na França , todos sabem o ator extraordinário que ele foi. Eu ria sempre que era mencionado. Os comportamentos sem lógica baseados apenas nos egos infantis, até mesmo na atriz principiante, são ridículos mas reais e suportados como coisas normais. Ninguém critica dentro da agência. Agora surgiu “A agência ” também com o mesmo tema em outro streaming. Muito bem feito, bem dirigido, diálogos ótimos.