Corpos Ardentes/Body Heat é um dos melhores filmes dos anos 1980, um dos melhores filmes americanos feitos nas últimas muitas décadas, um dos melhores thrillers que já foram feitos em todos os tempos.
Tive de novo certeza disso ao revê-lo agora, mais de 30 anos depois que ele foi feito – o filme, a estréia de Lawrence Kasdan na direção, é de 1981.
Mas a sensação que tive, ao rever seus 113 eletrizantes minutos durante umas três horas, de tanto que voltava atrás para rever um pequenino detalhe, conferir uma frase, checar as palavras exatas, observar de novo um travelling, foi de que este é o melhor filme noir que já foi feito.
Essa última frase – que usa propositadamente a palavra sensação – é opinião pessoal pura, intransferível como dor de dente ou de véspera de enfarte. É apenas opinião.
Que é um grande filme, um filmaço, dos melhores que há, isso, creio, é ponto pacífico.
Mas de fato a sensação que tive foi de que é o melhor noir de todos os tempos.
Ou, para deixar ainda mais claro que é coisa pessoal, este é o filme noir de que mais gosto na vida.
William Hurt e Kathleen Turner têm química pura; o filme é quase explícito sem ser pornô
Corpos Ardentes é daquela espécie rara de filmes absolutamente perfeitos, em que tudo funciona, tudo dá certo, não sobra coisa alguma que não deveria ter entrado na montagem final.
Grandes atores, em grandes desempenhos. Os dois principais, William Hurt e Kathleen Turner, no auge da beleza jovem, e com uma química como poucos casais já mostraram na tela.
Grandes coadjuvantes, em papéis interessantes, fascinantes.
Trilha sonora, do inglês John Barry, belíssima, perfeita.
Fotografia esplendorosa, direção de arte idem – passa-se na Flórida, no verão insuportavelmente quente, há sempre ventiladores ligados e as pessoas estão sempre suando muito, o que aumenta a tensão, e a sensualidade.
É, muito provavelmente, um dos filmes mais sensuais da história.
Nos anos 80 e 90, como que para se vingar de décadas de autocensura rigorosa, puritana, enquanto no resto do mundo tudo era muito mais livre, o cinema americano resolveu ousar. Chegaram ao extremo oposto, aos filmes que chamo de QuasePornô, os Joe Eszterhas da vida, os Instinto Selvagem, os Ligadas pelo Desejo.
Corpos Ardentes é um filme que expõe diversas situações sensuais, mostra trepadas, corpos nus – sem resvalar em um único momento para a pornografia.
É explícito na dosagem exata – nem para menos, nem para demais.
As falas são absolutamente explícitas – mas têm todo o sentido, não são gratuitas, de forma alguma.
Uma trama extraordinária, de se aplaudir de pé como na ópera
Elenco sensacional, trilha sonora maravilhosa, fotografia e direção de arte esplendorosas.
Tudo perfeito.
Mas o mais importante é o mais importante: a história, a trama.
A história, a trama de Body Heat é absolutamente extraordinária, de se aplaudir de pé como na ópera.
É uma criação exclusiva de Lawrence Kasdan.
É melhor ainda (é a minha opinião, tá? não é verdade dos fatos, é só a minha opinião) que as tramas de James M. Cain.
Se o eventual leitor ainda não viu o filme, pelamordedeus, pare de ler este texto
Uma das muitas coisas absolutamente fascinantes de Corpos Ardentes é que ele é inteiramente diferente quando o vemos pela primeira vez e quando o vemos pela segunda vez (e terceira, e quarta, e quinta…).
Nisso, ele se parece com filmes que têm reviravoltas sensacionais, como O Sexto Sentido, Os Suspeitos, Os Outros.
Ver pela primeira vez é fascinante, maravilhoso. Surpreendente, fantástico.
Ver pela segunda (e terceira, e quarta, e quinta…) só confirma como tudo foi perfeitamente bem feito para que funcionasse como surpresa, e como não tem qualquer tipo de furo.
Então vale o alerta de spoiler que foi aí no intertítulo.
Naturalmente, não vou revelar as reviravoltas e o final do filme – que, aliás, é um dos mais brilhantes de todos os thrillers que já foram feitos.
Mas o que vem a partir daqui nesta anotação não deveria ser lido por quem ainda não viu o filme.
Como os noir originais, o filme veio após uma tragédia, um imenso desencanto
Lembrando: dois dos maiores, mais augustos filmes noir da História, Pacto de Sangue/Double Indemnity (1944) e O Destino Bate à sua Porta/The Postman Always Rings Twice (1946) baseiam-se em histórias de James M. Cain.
Não li o livro em que se baseou o filme de 1946. Li o que deu origem a Pacto de Sangue. É uma bela trama – mas acho o filme melhor que o livro.
Lawrence Kasdan, em sua história original, criada diretamente para o cinema, foi muito além dos dois grandes clássicos baseados em James M. Cain.
A trama parte das mesmas premissas básicas das duas histórias que deram origem aos clássicos citados aí. Mas é extremamente mais complexa, mais surpreendente – e ainda mais amarga.
Pacto de Sangue e O Destino Bate à sua Porta são histórias e filmes amargos. Refletiam, como todo o noir, o desapontamento, o desalento, o desencanto diante daquele mundo perverso dos anos 1940, a década em que, em nome de uma ideologia absurda (para esconder outros interesses ainda mais absurdos), Alemanha, Itália e Japão moveram uma guerra contra o resto do planeta.
Corpos Ardentes veio nove anos depois de Watergate, o grande escândalo que mostrou que a Casa Branca podia abrigar bandidos de fazer Al Capone parecer um trombadinha.
Às vezes parece que os criminosos do passado eram iniciantes, meros batedores de carteira. Não quero me desviar do assunto, mas o que hoje são os Malufs, os Collors, se não pequenos batedores de carteira, comparados com isso que está aí?
A femme fatale de Corpos Ardentes deixa as dos anos 40 parecendo virginais donzelas
Matty Walker, a personagem interpretada por Kathleen Turner, transforma a Phyllis Dietrichson feita por Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue e a Cora Smith de Lana Turner de O Destino Bate à sua Porta em quase inocentes, virginais donzelas.
A rigor, a rigor, são, todas as três, o horror dos horrores.
Mas Matty Walker é muito pior.
Tanto Phyllis-Barbara Stanwyck quanto Cora-Lana Turner tinham sido mulheres mais pobres, que, por serem belas, ascenderam um tanto ao se casarem com homens mais bem de vida. São ambiciosas, querem ter mais do que tinham quando eram pobres, e mais do que passaram a ter por terem casado com homens que tinham mais posses.
São femmes fatales, as duas, Phyllis e Cora. Porque têm um belo rabo, fazem os homens que se aproximam delas perderem a cabeça – e essa é a definição básica das femmes fatales, mesmo que as mulheres liberadas de hoje chamem isso de coisa machista, porco-chauvinista.
A Matty Walker de Body Heat é 200 milhões de vezes mais perigosa do que as anti-heroínas daqueles grandes filmes dos anos 1940.
Phyllis e Cora não chegam a ser propriamente assim muito inteligentes. Conseguem raciocionar 1 + 1, bê e bá: meu marido é velho e feio e não gosto dele; se ele morrer, fico com a grana dele, e ainda curto o assassino do meu marido, sujeito melhorzinho.
Matty Walker é a verdadeira grande femme fatale.
Tem uma beleza fantástica, acachapante, como suas precursoras dos anos 40. Mas tem também uma inteligência fenomenal.
A cada femme fatale corresponde um pato, um sucker, um bobão, um trouxa disposto a perder a cabeça – e outras coisas mais.
O pato escolhido pela femme fatale é um advogado bonitão e mulherengo
O pato, o sucker, o trouxa de Corpos Ardentes é um advogado bonitão e mulherengo de uma cidadezinha pequena, acanhada da Flórida, chamado Ned Racine. Quando o filme começa, Ned acabou de comer uma de suas namoradinhas ocasionais, provavelmente uma garçonete das lanchonetes que ele frequenta. A moça está saindo do banho e reclamando do calor que já a faz suar de novo. Ned, só de cueca, observa pela janela de seu apartamento um incêndio em um prédio da cidade, ao longe.
Haverá dois outros incêndios na história.
Na seqüência seguinte, Ned está em ação no tribunal do meritíssimo juiz Costanze (Larry Marko). Na verdade, está levando uma dura do meritíssimo. Ele e o assistente do promotor, Peter Lowenstein (Ted Danson) foram chamados para perto da bancada do juiz, e este dá uma dura em Ned. Oferece ao cliente dele – o comerciante que entregou material de péssima qualidade para a prefeitura – uma saída honrosa, desde que ele se comprometa a jamais tentar voltar a vender coisa alguma para aquela cidade. E sentencia: “Sr. Racine, da próxima vez que pisar no meu tribunal, traga uma defesa mais bem preparada – ou um cliente melhor”.
(Não estou muito ruim de memória. A frase exata, segundo vejo agora no IMDb, é: “Sr. Racine, da próxima vez que o senhor vier ao meu tribunal, espero que tenha ou uma melhor defesa ou um melhor tipo de cliente.”)
O advogado, o promotor e o policial são grandes amigos – e cada um faz seu trabalho
Depois do tribunal, a advogado Ned Racine e o assistente do promotor Peter Lowenstein estão juntos na lanchonete que frequentam sempre. Vê-se que são bastante amigos, os dois: atuam cada um de um lado no tribunal, um na acusação, o outro na defesa, mas são amigos – e não há qualquer problema nisso. Mais tarde, veremos que o advogado de defesa de acusados, o assistente da promotoria e mais um dedicado detetive da polícia da cidade, Oscar Grace (J.A. Preston), formam um trio de bons amigos – sem que a amizade impeça que cada um exerça seu papel.
Lowenstein comenta que Ned usou propositadamente sua fama de advogado não muito bem preparado, um tanto desleixado, para obter uma decisão do juiz que acabou sendo favorável a seu cliente.
A frase exata é: “Acho que eu subestimei você, Ned. Não sei por que demorei tanto. Você começou a usar sua incompetência como uma arma.”
É um diálogo que aparentemente não tem importância – mas tem, e muita.
Pelo que entendi, não fica absolutamente claro se Ned Racine é de fato um advogado não muito bem preparado, um tanto desleixado, ou se ele é na verdade um advogado espertíssimo, que sabe perfeitamente usar a fama que criou para si mesmo para obter vitórias nos seus casos.
E esse não deixar absolutamente claro é algo intencional, proposital. O roteirista brilhante que é Lawrence Kasdan quer que o espectador fique com essa dúvida.
Só a voz de Kathleen Turner basta para fazer o papel de uma caixa de Viagra
À noite – e, naquele verão da Flórida, assim como às vezes no de São Paulo, o calor não cede sequer um grau quando a noite chega –, Ned está andando pela cidade. Ela é pequena, mas tem uma concha acústica, e naquela noite uma pequena orquestra de jazz está se apresentando ali.
Ned está de pé, atrás das arquibancadas da concha acústica, olhando a cena. A orquestra está tocando “That Old Feeling”, de Lew Brown e Sammy Fain – aquela cuja letra diz “I seem to get that old yearning, Then I knew the spark of love was still burning”.
E então uma mulher se levanta, como se já tivesse ouvido o suficiente, e vem caminhando para longe da orquestra. Caminha mais ou menos na direção de Ned, passa por ele, e vai ficar parada junto a uma amurada diante do mar.
Está num vestido branquinho, branquinho, com uma bela abertura que, enquanto ela caminha, permite que se veja o início das coxas. Tem cabelos longos.
De propósito, Lawrence Kasdan demora um tantinho para finalmente dar um close-up no rosto da mulher.
Meu Deus do céu e também da terra, como era esplendorosamente bela Kathleen Turner em 1981, aos parcos 27 aninhos de idade.
O cinema já mostrou trocentas belíssimas mulheres. Há belezas para todos os tipos de gosto. Para mim, a jovem Kathleen Turner foi uma das mulheres mais belas que já estiveram na frente de uma câmara.
À absurda beleza do rosto junta-se uma sensualidade que poucas outras atrizes transpiram. Kathleen Turner é a mais perfeita tradução de desejo, tesão. Não foi nada à toa que o diretor Robert Zemeckis e o produtor executivo Steven Spielberg escolheram Kathleen Turner para ser a voz de Jessica Rabbitt em Uma Cilada para Roger Rabbitt, de 1998. Jessica Rabbitt, fêmea de formas voluptuosas, é a mais sexy de todas as criaturas do universo do desenho animado, perdão, da animação.
Só a voz de Kathleen Turner basta para fazer o papel de uma caixa de Viagra.
Um diálogo que, creio, todo mundo que escreve gostaria de ter escrito
E então Ned Racine, advogado ruim (ou seria um advogado na verdade bastante esperto?) aproxima-se daquela deusa que está de pé junto da amurada que separa o calçadão da praia.
Ned: – “Você pode ficar aí a meu lado se quiser, mas vai ter que concordar em não falar sobre o calor.”
Matty: – “Sou uma mulher casada.”
Ned: – “O que isso quer dizer?”
Matty: – “Quer dizer que não estou à procura de companhia.”
Ned – “Então você deveria dizer que é uma mulher bem casada.
Matty: – “Isso é da minha conta.”
Ned: – “O quê?”
Matty: “O quanto sou feliz”.
Ned: “E quanto é?”
O diálogo é longo – mas é extraordinário. Partes dele estão no IMDb, na página dos diálogos do filme, mas partes não estão. Deu bastante trabalho, mas consegui degravar todo ele. Boto aqui não tanto para que um eventual leitor aprecie, mas para que eu possa ter neste meu site o diálogo completo de quando Matty, a femme fatale mais fatale que todas as outras, fala pela primeira vez com seu pato, o babaca que ela está cansada de saber que vai perder a cabeça por causa dela.
Matty: – “Você não é muito esperto, não é? Gosto disso num homem.”
Ned: – “Do que mais que você gosta? Preguiçoso? Feio? Tesudo? Sou tudo isso.”
Matty: – “Você não parece preguiçoso. (Pausa.) Me diga. Esse seu papo funciona com a maioria das mulheres?
Ned: – “Com algumas.”
Matty: – “Foi o que eu imaginei. Acho que estou por fora.”
Ned: – “Posso te oferecer uma bebida?”
Matty: – “Eu já disse. Tenho um marido.”
Ned: – “Ofereço uma bebida para ele também.”
Matty: – “Ele não está na cidade.”
Ned: – “Meu tipo favorito. Bebamos a ele.”
Matty: – “Ele só vem nos fins de semana.”
Ned: – “Estou gostando cada vez mais dele.”
E então Matty diz que vai aceitar uma bebida. Aponta para um vendedor ambulante, e pede um refresco de cereja.
Ned compra dois copos, entrega um a ela: – “Você não é daqui. Eu teria notado você.”
Matty: – “A cidade é tão pequena assim?”
Ned (depois de algum tempo, tentando adivinhar onde ela mora): “Pinehaven? Você está em Pinehaven. À beira-mar. Tem uma casa.”
(Fica claro que Pinehaven é um lugar de ricos.)
Matty: – “Como você sabe?”
Ned: – “Você parece ser de lá.”
Matty: – “Como assim?”
Ned: – “Gente bem cuidada.”
Matty: – “Sim, sou bem cuidada. Muito bem cuidada. E você?”
Ned: – “Eu preciso de alguém que cuide de mim, alguém para masseagear meus músculos cansados, passar meus lençóis.”
Matty: – “Case.”
Ned: – “Preciso só para esta noite.”
Como quem não quer nada, Matty revela seu nome. Ela sabe que o pato cairá na armadilha
Aí também já é demais, e Matty não consegue evitar uma gargalhada, e quando gargalha derruba a bebida com cereja sobre o imaculado vestido branco.
E aí ela diz, como se estivesse dizendo para si mesma: – “Bem feito, Matty.”
Parece uma reação absolutamente natural. Acho que todo mundo às vezes chama a si próprio pelo nome. Eu muitas vezes brinco e falo comigo e me trato pelo meu nome.
Ao ver o filme pela primeira vez, a fala parece absolutamente natural. Quem estiver revendo confirma: ela diz seu nome de propósito, porque sabe que o pato, o sucker, o otário irá atrás dela mais tarde – e facilita se ele souber seu nome.
Ned: – “Matty? Gostei. (Olha para a mancha no alto do vestido dela.) Está bem no seu coração.”
Matty: – “Está fresco. Eu estava ardendo.”
Ned: – “Pedi que você não falasse do calor.”
Matty pede que ele arranje um papel molhado para ela limpar o vestido.
Ned: – “É para já. Vou até limpar para você.”
E se distancia dela, rumo a um banheiro público. Quando ele já está um tanto longe, a deusa fatal, impiedosa, lança a flecha final:
– “Por que você não lambe?”
O mulherengo, comedor Ned Racine corre feito louco para o banheiro público, para achar um papel molhado.
Quando volta para a rua, a deusa fatal já não está mais lá.
Aos 33 minutos de filme, vem a primeira menção à morte do marido
Estamos aí com dez minutos de filme.
É óbvio que ele vai passar a procurá-la. Loucamente, insandecidamente. É óbvio que ela vai se deixar achar.
Quando estamos com 19 minutos de filme, Matty, já tendo deixado Ned furiosamente louco de desejo, está de pé diante dele, a porta da casa de gente rica dela trancada entre eles. Ela então passa a mão em cima da xoxota. Ned arrebenta a porta e eles trepam loucamente.
Ned e Matty trepam muito, alucinada, loucamente – e Lawrence Kasdan se permite diálogos que chegam perto do chulo.
Quando o filme está com 29 minutos, Ned e Matty estão na banheira da casa rica dela e do marido que está sempre fora; o calor é tão absurdo que eles jogam gelo na água da banheira. E Ned diz: – “Você está me matando. Está doendo.” Ela caçoa dele, e ele insiste: – “É sério. Não dá mais.”
A primeira menção à morte de Edmund, o marido dela (interpretado por Richard Crenna) vem aos 33 minutos de filme.
Aos 53, há um travelling, em close-up, pelo corpo de Kathleen Turner. Ela está nua, virada de lado para Ned, e a câmara a pega de costas. O travelling começa pelos pés, à esquerda da tela, e vai andando para direita. Quando a câmara está na coxa, faz, elegantemente, um movimento para cima, de forma a não pegar as nádegas todas, o buraco entre as nádegas. Elegante – sensual demais, mas não exagerada –, a câmara de Lawrence Kasdan mostra então apenas o final da coxa e a nádega esquerda de Kathleen Turner. E aí prossegue subindo pelas costas da deusa.
Kim Zimmer aparece na tela apenas por uns dois ou três minutos. Foi seu grande papel
Fiquei curioso, nesta nova revisão, para saber quem é a atriz que faz a personagem que nos é apresentada como Mary Ann – uma personagem que aparece pouquíssimo, mas é fundamental na história. Ela se parece bastante com Mattie-Kathleen Turner – tanto, que quando Ned a vê confunde a moça com Mattie, e chega logo dizendo para ela: “Hey, lady, wanna fuck?”
A atriz que faz Mary Ann chama-se Kim Zimmer. 22 títulos anotados no IMDb, nada de grandioso. Acho que dá para dizer que o melhor papel de Kim Zimmer foi a de Mary Ann neste Body Heat, em que ela aparece durante apenas uns poucos minutos.
Nunca jamais em tempo algum houve femme fatale como a Mattie de Kathleen Turner
Faltam exatos oito minutos para o final do filme, quatro para o final da trama (os últimos quatro minutos são dos créditos finais), quando a verdadeira história é revelada para o espectador.
Aquela mulher era muita areia para o caminhãozinho de Ned Racine.
Na verdade, era muita areia para o caminhão de qualquer um. Era areia demais da conta. E era areia movediça, que engole quem chegar perto.
Nunca houve uma femme fatale como a mulher interpretada por Kathleen Turner em Body Heat.
O jovem Lawrence Kasdan era um escritor tão genial que nos deixa, na ultimíssima tomada, perguntando, questionando: será que parte, pelo menos parte das mentiras daquela mulher era verdade? Teria ela, no meio de seu plano perfeito, sem perceber, sem querer, cometido o pequenino – imperdoável – erro de ter se apaixonado pelo pato?
Anotação em maio de 2013
Corpos Ardentes/Body Heat
De Lawrence Kasdan, EUA, 1981
Com William Hurt (Ned Racine), Kathleen Turner (Matty Walker)
e Richard Crenna (Edmund Walker), Ted Danson (Peter Lowenstein), J.A. Preston (Oscar Grace), Mickey Rourke (Teddy Lewis), Kim Zimmer (Mary Ann), Jane Hallaren (Stella), Lanna Saunders (Roz Kraft), Michael Ryan (Miles Hardin)
Argumento e roteiro Lawrence Kasdan
Fotografia Richard H. Kline
Música John Barry
Montagem Carol Littleton
Figurinos Renie Conley
Produção The Ladd Company. DVD Warner Bros.
Cor, 113 min.
R, ****
Excelente, é mesmo o melhor ou um dos melhores filmes do género.
Dos que vi é o meu preferido.
Foi pena a doença que afectou a Kathleen Turner e que praticamente acabou com a sua carreira.
Neste filme também surgiu Mickey Rourke num dos seus primeiros desempenhos; um actor que prometia tanto e que se ficou pelo caminho.
Belíssima crítica, Sergio. Para mim, Lana Turner, em “O Destino bate a sua porta”, e Rita Hayworth em “Gilda” foram as mais sensuais “femmes fatales” do cinema “noir” autêntico, ou seja, em preto e branco. No “noir” colorido, além de Kathleen Turner nesse estupendo filme,
há também Jessica Lange na refilmagem de “O Destino bate a sua porta”, de Bob Rafelson, com Jack Nicholson. Todas deslumbrantes.
Cara!!!!
Parabéns!!! o teu texto é ótimo!!! faz jus ao filme!!!!
tu escreveu até da música da orquestra q eu tava procurando há tempos…
e é vdd, qndo voltamos a ver o filme, parece q ele dura 4 horas de tanto voltar na cenas…. hahahahaha
eu vi ele pela primeira vez, faz uns 6, 7 anos…. eu tinha 17 anos, e fiquei maravilhada com ele!!!
realmente, a Kathleen seduz qqr um nesse filme!! e o William tá tão bonitão!!
e tem até uma ponta do Mickey Rourke, outro galã dos anos 80….
bom, parabéns mais uma vez!!
Adorei!!!
Esse é um filme que você pode ver 2, 3 vezes em poucos dias e ainda não enjoar. Eu vi ele duas vezes em dois dias, e pretendo ver a terceira com minha namorada. Quando mais penso na trama mais percebo quão genial ela é. ALém disso, como disse um usuario do imdb, esse é um filme que não te precipita aos acontecimentos futuros, como um bom vinho que deve ser apreciado no momento, ele não te deixa ansioso para o que vai acontecer. Muito boa a crítica, queria mais filmes como esse kk
Um grandioso filme noir!
Adoro a obra de Lawrence Kasdan tanto como Director como Roteirista.
Gostava de ler a sua análise a The Big Chill (O Reencontro / Os Amigos de Alex) 1983.
Abraço
Afonso
O caro Afonso consegue ver muitas das grandes lacunas deste meu + de 50 Anos de Filmes!
Sem dúvida “O Reencontro/The Big Chill” é uma dessas lacunas. Vi o filme há muitos anos e, claro, gostei demais. Mas, na época, não escrevi sobre ele. Preciso revê-lo; até tenho o DVD. É uma questão de tempo – na verdade, de falta de tempo, de tempo escasso para tanta coisa que a gente gostaria de fazer…
Um abraço, Afonso!
Sérgio
Boas! Fico feliz em ver alguém que compartilha o mesmo entusiasmo que eu por este filme. Fiquei conhecendo ele no otimo livro de filmes cults do Rubens Ewald filho. Outro que chega a ser tão bom, porém é subestimado, é o Instinto Selvagem.