3.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2007, com complemento em 2008: O que mais me impressionou, ao rever o filme, foi a imaginação fervilhante do pedaço escritor de Pedro Almodóvar.
Quanta história, quanto personagem, cada uma e cada um mais interessante que o outro – e tudo embaralhado e entrelaçado com brilho. Parece os melhores momentos de Paul McCartney ou Cat Stevens, quando sobram melodias dentro da mesma canção.
Eu tinha visto o filme em 1994, ano do lançamento, e na época não anotei nada. Gostei ainda mais na revisão.
Tem tudo o que é padrão de Almodóvar, o rei do over, do exagero, do berrante – o excesso de cores, o excesso de situações estranhas relacionadas a sexo, o excesso de loucura. Uma maravilha.
Kika (Veronica Forqué) é uma maquiladora madrilenha pela vida de quem passam vários tipos e situações bizarros – também, sendo uma personagem de Almodóvar, ela queria o quê? Um conhecido dela é Nicholas (Peter Coyote), um escritor americano sem um tostão, que espera a herança da mulher recém-morta – embora haja suspeitas de que ele estaria envolvido na morte dela.
Quando Kika conhece o enteado de Nicholas, o filho da morta, Ramón (Alexa Casanovas), é para maquilá-lo para o enterro. Mas Ramón não estava morto, ao contrário do que todos supunham, e volta para o lado de cá da existência no momento mesmo em que Kika está terminando seu trabalho. O ex-morto e a maquiladora apaixonam-se, e passam a morar juntos.
A empregada do casal, Juana (a fantástica Rossy De Palma, a do nariz descomunal, presente em vários filmes de Almodóvar), é irmã de Pablo (Santiago Lajusticia), um estuprador meio débil mental, que acaba de fugir da prisão. Numa visita à irmã, estupra Kika – uma cena que é filmada da janela de um prédio em frente, e vai aparecer num programa de televisão, desses de exploração da violência, que fazem das misérias humanas o show da vida, tipo os Datenas e assemelhados, apresentado por Andrea Scarface (Victoria Abril, numa maquilagem fantástica, louquíssima). Kika ficará depois sabendo que a fita do estupro foi feita pelo próprio Ramon, e passada por ele a Andrea, que havia sido sua amante no passado.
E por aí vai, e ainda vai ter muito mais – um festival de loucuras, sandices, taras, exageros, tudo muito, mas muito colorido e apresentado com o brilho desse artista único.
Kika/Kika
De Pedro Almodóvar, Espanha, 1993.
Com Veronica Forqué, Peter Coyote, Victoria Abril, Alex Casanovas, Rossy de Palma
Argumento e roteiro Pedro Almodóvar
Cor, 115 min
R, ***1/2
Afinal encontrei um comentário a um filme de Almodóvar.
Este não vi mas vi outros muitos mais antigos, mais ou menos a partir de “Maus Hábitos” (Br) ou “Negros Hábitos” (Pt).
O último que vi dele foi “Fale dom Ela” e gostei muito.
Caríssimo José Luís,
De fato, há muito pouco Almodóvar no 50 Anos de Filmes. Uma das muitíssimas falhas minhas… Além de Kika, só anotei sobre “Abraços Partidos”, no https://50anosdefilmes.com.br/2010/abracos-partidos-los-abrazos-rotos/.
Bem que eu poderia colocar como uma das resoluções de ano novo escrever mais sobre Almodóvar…
Um grande abraço.
Sérgio