Anotação em 2007, com complemento em 2008: Claudia Cardinale está no auge da beleza estupenda, estonteante; Jacques Perrin, jovem e belo, tem talento de sobra. Mas, ao fim e ao cabo, se você pensar um minuto ou duas horas ou dois dias, a verdade dos fatos é que os dois atores centrais e a fotografia em glorioso preto-e-branco são as únicas qualidades deste filme de 1961, a época de ouro do cinema autoral italiano.
O filme de Valerio Zurlini (1926-1982) virou cult, e tornou-se moda, recentemente, incensar o diretor, que, naquela época em que estavam em ação Visconti, Fellini, Antonioni, De Sica, Monicelli, Risi, Rosi, Bellocchio, Comencini, não teria tido sua importância totalmente reconhecida.
Preciso (re)ver Verão Violento/Estate Violenta, com Jean-Louis Trintignant, Eleonora Rossi-Drago e Jacqueline Sassard, também já lançado em DVD, e ver se já saiu Dois Destinos/Cronaca Familiare, com Marcello Mastroianni e Jacques Perin, de 1962. São dois filmes muito cultuados. Mas rever este A Moça com a Valise, que eu tinha visto garoto, nos anos 60, ainda em Belo Horizonte, foi uma grande decepção.
A história não se sustenta, não se amarra, não fica de pé – se esquecermos por um segundo a beleza dos dois atores centrais, o filme desmorona como castelo de cartas.
Quem é, afinal, essa Aída (o papel de Claudia), que cai feito um patinho no conto do jovem conquistador que promete a ela um contrato como cantora e a abandona com sua mala no primeiro lugar em que isso se torna possível? Como ela consegue ser ao mesmo tempo tão inocente, ingênua, boba, e ao mesmo tempo tão escolada nas malandragens do namorado e do produtor?
Tudo bem: dá perfeitamente para entender a fascinação de Lorenzo (Jacques Perrin), o adolescente burguês boa gente, simplório e simpático, criado pela tia numa mansão muito maior que seria necessário ou racional, por essa mulher que aparece na vida dele do nada, depois de ter sido abandonada na estrada exatamente pelo irmão mais velho dele, garotão irresponsável, conquistador barato. Dá para compreender por que e como ele perde inteiramente a cabeça por Aída – quem, neste insensato mundo, não perderia a cabeça por uma personagem que chega na pele e na carne de Claudia Cardinale no esplendor dos seus 33 anos?
Mas, com exceção de Lorenzo, todos os personagens não são bem desenhados – muitíssimo ao contrário. São improváveis, inverossímeis, não explicados.
A verdade dos fatos é que muitas e muitas vezes a crítica transformou em cult filmes que são apenas realizações ruins. É o caso deste filme de Valerio Zurlini, na minha modestíssima opinião.
A Moça com a Valise/La Ragazza con La Valigia
De Valerio Zurlini, Itália-França, 1961.
Com Claudia Cardinale, Jacques Perrin, Romolo Valli, Gian Maria Volontè
Argumento e roteiro Leonardo Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Giuseppe Patroni Griffi e Valerio Zurlini
Produção S.G.C.
P&B, 111 min.
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