Sabes o Que Quero / The Girl Can’t Help It

Nota: ★★★☆

The Girl Can’t Help It, literalmente a garota não consegue evitar, no Brasil Sabes o que Quero, pode ser hoje – e creio que é – um filme pouco conhecido, pouco falado. Mas foi bem importante na época do lançamento, 1956: foi o primeiro filme de grande estúdio a apresentar o então novato, recém-chegado rock’n’roll.

Ao longo de seus 99 minutos, desfilam pela tela os mais famosos cantores e grupos de rock daquele tempo. Estão lá, entre outros, Little Richard, Fats Domino Ray, Ray Anthony, Fats Domino, Gene Vincent.

O que me parece mais absolutamente fantástico, delicioso, é que o filme demonstra, de forma engraçadíssima, a gigantesca repulsa dos fãs dos standards – as belas, suaves, elaboradas canções, a Grande Música Americana – pelo novo estilo musical, barulhento, melodicamente pobre e, vamos e venhamos, bastante infatilóide.

Apesar disso, o filme viria a ser venerado, na época de seu lançamento, pelos jovens fãs do rock. E a se tornar em parte responsável… pela existência dos Beatles! Mas essa história fica para bem mais adiante.

Não é necessário – mas uma boa trama é sempre bem-vinda

 Não é absolutamente necessário que um musical tenha uma bela, elaborada trama. Há um monte de bons musicais com base em pouco mais que fiapinhos de história. Basta lembrar por exemplo de Desfile de Páscoa/Easter Parade (1948), com Fred Astaire e Judy Garland. Ou Núpcias Reais/Royal Wedding (1951), com Fred Astaire e Jane Powell. Ou Sangue de Artista/Babes in Arms (1939), com a dupla juvenil Judy Garland e Mickey Rourke. Com atores assim, com lindas canções, números de dança de enfeitiçar monges tibetanos, quem precisa de uma história elaborada?

Pois é. Mas o fato é que, paralelamente, diferentemente, que mal faz a um musical que tem bons atores, boas canções e números de dança, ter também uma bela trama?

The Girl Can’t Help It tem uma história be, interessante. Nada absolutamente sensacional, nada inédito, nada muito diferente, mas uma boa trama. É assim:

O protagonista, Tom Miller (o papel de Tom Ewell, o ator que um ano antes havia estrelado O Pecado Mora ao Lado com Marilyn Monroe), é um sujeito que, no passado, tinha sido um nome importante, bastante conhecido no showbusiness de Nova York, agente de muitos artistas famosos. Para se ter uma idéia, foi ele que havia descoberto (só nesta ficção, é claro) Julie London, a atriz e cantora que fazia um tremendo sucesso naqueles meados dos anos 50.

Veremos que Tom tinha tido um longo caso com a artista que havia descoberto e lançado para a fama – e continuava absolutamente apaixonado, mesmo bastante tempo depois de terem se separado. Agora, na época em que a ação se passa, Tom não representa mais nenhum artista famoso; é uma sombra do que já havia sido, um has-been (meu Deus, como esse termo é duro, pesado).

Triste, abandonado, um traste, Tom bebe demais.

E então eis que ele é procurado por um sujeito milionário que sabe do seu histórico de descoberta de grandes talentos, e está disposto a pagar uma fortuna para que ele transforme sua noiva em um sucesso nacional.

Só que há algumas questões. A primeira: o milionário, Marty Murdock, mais conhecido como Fats Murdock, o gordo Murdock (o papel de Edmond O’Brien, nem tão gordo assim, de forma alguma), é um dos maiores gângsteres do país. Já havia, no passado, sido preso, condenado, cumprira pena.

E a noiva dele, Jerri Jordan (o papel de Jayne Mansfield), não tem o menor interesse em ser transformada em artista famosa pelo dinheiro e pela influência de Fats Murdock.

Tom até que tenta (e tenta mais de uma vez) dizer que não aceita o serviço – mesmo sendo muitíssimo bem pago. A questão é que você não diz não a um gângster que já matou um grande número de pessoas – a não ser, é claro, que esteja decidido a passar desta para melhor, levando para o caixão uma quantidade de chumbo.

E aí acontece o que na vida real já é muitas vezes inevitável, mas nas comédias musicais é absolutamente obrigatório: o rapaz se apaixona pela moça. No caso específico, o agente de artistas que já foi famoso no passado se apaixona pela noiva do gângster.

O que também é motivo para passar desta para melhor, com algumas balas de chumbo dentro do corpo.

Uma loura lindérrima que não é burra nem fatal

 É interessantíssima, fascinante, a forma com que os autores formataram a figura da protagonista feminina, essa Jerri Jordan interpretada por Jayne Mansfield, a mulher dos mais avantajados seios da História do cinema, então com 23 aninhos em flor.

Os autores do roteiro são o próprio diretor Frank Tashlin e Herbert Baker. Os créditos do filme não contam isso, mas os dois se basearam em um livro de Garson Kanin, Do Re Mi. Tanto Frank Tashlin quanto Garson Kanin são bambas; falo dele mais adiante.

Jerri Jordan é, naturalmente, bela, muito bela. Mais ainda: é vistosa, gostosa – é o tipo da mulher que, se você cruzar com ela na rua, você vai parar, girar 180 graus e ficar olhando o monumento se distanciar de você.

Obrigado pelo mafioso que o contratou a transformá-la em estrela, Tom Miller decide usar os talentos mais óbvios de Jerri. Leva a moça esplendorosa para os nightclubs e a treina a ir ao toalete (powder room, a sala de pó, no eufemismo americano da época, uma deliciosa maneira de afastar o banheiro das necessidades mais básicas e menos glamourosas) e voltar à mesa, sempre passando perto do local em que está o gerente ou proprietário.

Não dá outra: depois de ver passar diante de seus olhos aquele avião todo, o gerente ou proprietário logo se aproxima do agente que já teve grande fama, pergunta como ele vai – e como está o Boeing. O aviãozão, tendo sido ensinado direitinho, responde apenas: – “Pergunte ao meu agente”.

E o gerente ou proprietário fica logo querendo contratá-la.

Tom Miller, mesmo bêbado feito um gambá, é um profissa experiente, esperto.

Mas e a moça Jerri? Seria mais uma das dezenas e dezenas e dezenas de mulheres tão belas quanto burras de tantos e tantos filmes?

Aí é que está, creio eu, uma das duas maiores qualidades deste filme do qual eu jamais tinha ouvido falar, eu, que sou um absoluto apaixonado por filmes americanos dos anos 50.

A moça estrondosamente bela não é burra!

Só para lembrar um clássico da série loura-burra: em Nascida Ontem (1950), de George Cukor, baseado em peça do mesmo Garson Kanin, um milionário meio (ou inteiramente) bandido, interpretado por Broderick Crawford, contrata um jornalista safo, inteligente, culto (o papel de William Holden), para dar um trato na amante, a loura-burra interpretada pela loura brilhante Judy Holliday.

Marilyn Monroe também interpretou algumas louras-burras gostosérrimas.

Mulher, namorada, caso de gângster, de mafioso em geral é dame, broad – não miss. É dançarina, ou abertamente puta – não uma imaculada senhorita.

Pois Jerri não é dançarina, nem nada que possa parecer uma puta. É uma figura bem diferente do modelo de namorada de gângster, muito distante do tipo comum em tantos outros filmes. É filha de um bandido – que no passado trabalhou com Fat Murdock – com uma mulher que, ela sim, não era lá uma fina flor, e traía o marido com frequência. A própria Jerri, no entanto, é quase uma vestal. Parece até a virgem do tipo que Doris Day interpretaria dali a alguns anos, em comedinhas românticas como Confidências à Meia-Noite (1959). É teúda e manteúda do mafioso – mas não mantém relações íntimas com ele. Até o chama, respeitosamente, de Mr. Murdock, e não de benzinho ou coisa parecida. Não mora com ele, e sim num belo apartamento – pago por ele, claro.

O arranjo agrada a Fats Murdock. O bandidão quer que a noiva adquira sucesso e vida própria – só depois disso é que eles enfim se casariam.

Jerri não quer sucesso, não quer brilho, não quer virar estrela – e parece até que não quer se casar com o mafioso milionário.

Muito ao contrário: é uma moça tranquila, gente boa. Parece até que a beleza a incomoda. Gosta de coisas simples: gosta de ficar em casa, de cozinhar. Fica mais à vontade em casa, com roupas surradas e avental, do que usando vestidos carésimos.

A Jerri da bombshell peitudérrima Jayne Mansfield é a loura menos fatal, mais gente fina que pode haver.

Nos últimos minutos do filme, vai surpreender terrivelmente os espectadores. Claro que não vou dar o spoiler – mas é uma belíssima surpresa.

Já na abertura, uma gozação ao rock’n’roll

 A outra maravilhosa qualidade de The Girl Can’t Help It é, na minha opinião, a forma com que o filme mostra a distância entre a Grande Canção Americana e o rock bebê daqueles primeiros anos.

Nunca tinha visto isso dessa forma tão absolutamente acachapante.

A crítica, a gozação ao rock’n’roll começa bem no comecinho, na deliciosa introdução – e prossegue ao longo de todo o filme.

Tom Ewell aparece lá atrás, num estúdio, vestido num impecável smoking, e vem se encaminhando em direção à câmara. Há instrumentos musicais no ar, seguramente amarrados a fios que não se vêem. A imagem é em preto-e-branco e tela do tamanho que era o padrão até poucos anos antes, quase quadrada. Dirige-se aos espectadores:

– “Senhores e senhores, o filme que estão para ver é uma história de música. Eu faço o papel de Tom Miller, um agente, um pequeno agente teatral que havia sido um… Bem, os senhores vão ver. Este filme foi fotografado na grandiosidade do CinemaScope e…

Ele olha para seu lado direito, e faz um gesto com a mão – a tela se amplia à nossa esquerda. Vira-se, anda um pouquinho para seu lado esquerdo, faz o mesmo gesto – e a tela se amplia à nossa direita, passando a ter então o formato do CinemaScope, aquela invenção então bem recente, criada apenas 3 anos anos, em 1953 – a tela retangular, largona, que hoje chamamos de widescreen.

Vira-se novamente para nós:

– “Como eu ia dizendo, este filme foi fotografado na grandiosidade do CinemaScope e em deslumbrantes cores da DeLuxe.”

Tom Ewell olha para seu braço, sua mão, verifica que ainda está tudo em preto-e-branco. Diz, em tom de voz mais alto:

– “Em deslumbrantes cores da DeLuxe.”

O filme passa a ser em cores. Ele olha ao redor e comenta: – “Às vezes a gente se pergunta quem está tomando conta do lugar…”

E continua: – “Ah, sim. Nossa história é sobre música. Não a música de muito tempo atrás, mas a música que expressa a cultura, o refinamento, a graça e a educação dos dias atuais.”

Nesse momento, a voz dele some – ele continua falando, mas a gente não ouve mais a voz – e entram as guitarras e a bateria de uma canção de rock, “The Girl Can’t Help It” – exatamente o mesmo título do filme. E rolam os créditos iniciais.

“The Girl Can’t Help It”, a música, de autoria de Bobby Troup, foi lançada em 1956, o mesmo ano do filme, por Little Richard, um dos pioneiros do rock’n’roll (na foto abaixo).

Pode ser até gostosa de se dançar, de mexer braços e pernas. Mas é o oposto de algo que expressa cultura, refinamento, graça, educação.

Uma sequência antológica com Julie London

A diferença abissal entre aqueles primeiros roquinhos e a grande canção fica evidente em diversas ocasiões ao longo do filme – mas talvez o momento chave seja a sequência que, para mim, é a melhor, a mais extraordinária do filme: a que mostra Tom Miller, o protagonista, assombrado pela lembrança de seu grande amor, Julie London (na foto abaixo).

É uma sequência histórica, antológica. Tom Miller-Tom Ewell havia saído com Jerri Jordan-Jayne Mansfield, ido a um daqueles elegantes nightclubs em que ela desfilava e fazia o proprietário babar. Ele a deixa na porta do prédio dela e vai para casa. Está inteiramente bêbado, trôpego, mas assim que chega vai à cozinha atrás de mais bebida – e põe para tocar um disco de Julie London. Dá para o espectador ver a capa – é Julie is Her Name, o primeiro álbum dela, lançado em 1955.

E então ouvimos, junto com o pobre Tom Miller, Julie London cantando “Cry me a River”, de Arthur Hamilton. Aquela voz majestosa, suave, envolvente, sensual, a melodia maravilhosa, a letra muitíssimo bem construída.

Tom Miller começa a ver Julie London em cada canto do apartamento.

Sai de um cômodo, fecha a porta, vai para outro – e lá está aquela Julie London toda cantando para ele, dizendo que ah, agora ele está arrependido.

Sai do apartamento – e lá está aquela Julie London toda cantando para ele, pedindo que ele chore um rio por ela.

É uma sequência absolutamente sensacional – e a diferença entre uma bela canção e aqueles roquinhos rasteiros se mostra do tamanho de um Grand Canyon, uma Floresta Amazônica.

Tom Ewell teve a sorte de trabalhar com Marilyn e Jayne

Foi por causa dessa sequência que fui atrás do filme do qual, repito, jamais tinha ouvido falar. Estava uma noite ouvindo Julie London no YouTube, procurando canções com ela ao vivo – e surgiu essa sequência.

Imaginei que poderia ser um clipe – e que as imagens poderiam ter a ver com O Pecado Mora ao Lado/The Seven Year Itch, o grande clássico que Billy Wilder lançou em 1955. No filme, Tom Ewell interpreta Richard Sherman, um editor de livros que fica sozinho em seu apartamento em Nova York quando a mulher e o filho vão passar as férias de verão fora, e uma jovem de beleza descomunal surge no apartamento em cima do dele – um mulherão extraordinário, o papel de Marilyn Monroe. Há várias sequências em que Richard Sherman sonha acordado com o pecado que mora ao lado.

Uma rápida busca na internet mostrou que a sequência é de um filme de Frank Tashlin. Mais um minuto e constatei que o filme está disponível na rede…

Há, evidentemente, elementos que aproximam os dois filmes, o de Billy Wilder e este aqui. Sem dúvida a Fox botou Tom Ewell no principal papel aqui exatamente porque um ano antes ele havia estrelado o filme com Marilyn que foi um gigantesco sucesso. Nos dois, Tom Ewell se vê diante de um mulherão de fechar o comércio. E Jayne Mansfield era tida como uma tentativa de Hollywood de criar uma nova Marilyn.

Não me lembrava de que Jayne Mansfield – exatamente como Marilyn – viveu tão pouco tempo. Morreu em um acidente de carro, numa rodovia do Mississipi, em 1967, com apenas 34 anos de idade. (Marilyn tinha 36 quando morreu, em 1962.)

Fez 35 filmes, entre 1954 e 1966. Este aqui foi o primeiro em que teve o principal papel feminino.

Garson Kanin (1912-1999), o autor do livro em que se baseou o roteiro, foi ator, diretor e autor de romances, peças de teatro e roteiros de cinema. Durante mais de 40 anos, foi casado com a atriz e roteirista Ruth Gordon – trabalharam juntos nos roteiros de vários filmes de humor fino, inteligente. Foi o autor da história e/ou do roteiro de 37 filmes, entre os quais os ótimos A Costela de Adão (1949), Nascida Ontem (1950), A Mulher Absoluta (1952).

Frank Tashlin (1913-1972), co-autor do roteiro e diretor do filme, era um bamba tanto no musical quanto na comédia. Foi o cara que ensinou tudo no ofício a Jerry Lewis; dirigiu o comediante em diversos de seus filmes, desde os tempos em que ainda fazia dupla com Dean Martin (Artistas e Modelos, 1955, Ou Vai ou Racha, 1956), até os primeiros êxitos de Lewis sem o antigo parceiro (Bancando o Ama-Seca, 1958, Cinderelo Sem Sapatos, 1960, Detetive Mixuruca, 1962).

Diz dele o mestre Jean Tulard no seu Dicionário de Cinema – Os Diretores: “Foi um excelente animador dos desenhos da Warner (Pernalonga) e um notável gagman para comediantes como Bob Hope e Red Skelton. Sua obra traz a marca dessas duas experiências. Tashlin criou um estilo moderno, muito admirado por Godard, e redobrou as gags mais extravagantes e mais ousadas (as tampas de garrafas de leite saltam diante da passagem de Jayne Mansfield). E por que razão sua obra parece um tanto decepcionante atualmente? Pode-se salvar seus dois filmes – excelentes – com Jayne Mansfield (Sabes o que Quero e Em Busca de um Homem), dois ou três com Jerry Lewis (…) e isso é tudo.”

As tampas das garrafas de leite saltam fora!

Sim! Muito bem lembrado: as tampas das garrafas de leite saltam diante da passagem de Jayne Mansfield! A sequência é deliciosa. Jerri Jordan-Jayne Mansfield, uma garota que acorda super cedo, vai de manhãzinha ao apartamento de Tom Miller, o agente que ficou de ensinar a ela como ser uma boa cantora. Os leiteiros estão entregando as garrafas de leite nas portas das casas, dos prédios. Ao ver passar a loura de cinturinha finíssima e aquele fantástico peitanzil, as tampas das garrafas explodem!

Isso em 1956. Seis anos depois, em 1962, em seu episódio no filme Boccaccio ’70, Federico Fellini botaria a também bastantosa Anita Ekberg em outdoors em anúncios de leite, ao som de uma canção de Nino Rota que incentiva o consumo do produto: “Bevete più latte / Il latte fa bene / Il latte conviene / A tutte le età”…

Uma coincidência: a linda Anita, que já havia trabalhado com Fellini também em La Dolce Vita (1960), atuou também sob a direção de Frank Tashlin, nos já citados Artistas e Modelo e Ou Vai ou Racha.

Segundo o IMDb, Frank Tashlin uma vez disse, numa entrevista: “Para mim, não há nada mais engraçado no mundo do que peitos grandes”.

Um detalhinho saboroso: o vestido vermelho usado pela ótima  Abbey Lincoln, quando ela canta o gospel “Spread the Word” em um dos nightclubs a que o agente Tom Miller leva Jerri Jordan para expor sua beleza… é o mesmo que havia sido usado por Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Louras (1953).

Abbey Lincoln (na foto abaixo) canta uma das pouquíssimas canções do filme que não são rock’n’roll. Outras são a já citada “Cry me a River”, com Julie London, e “You’ll Never Know”, com o conjunto The Platters.

O filme e o primeiro encontro de Lennon e McCartney

Falei, na abertura deste texto, que The Girl Can’t Help It é um filme hoje pouco conhecido, pouco falado – e creio que tenho razão. Mas o filme de fato fez grande sucesso na época, em especial entre os jovens que curtiam o recém-chegado rock’n’roll. Entre os garotos que adoraram ver os primeiros astros do rock estavam alguns de Liverpool, onde o filme estreou em 1957.

Está na Wikipedia: “As atuações de estrelas do início do rock’n’roll como Little Richard, Eddie Cochran e Gene Vincent and His Blue Caps fascinaram um John Lennon de 16 anos de idade ao mostrar para ele, pela primeira vez, seus ‘adorados’ ídolos do rock’n’roll americanos e assim o inspirando mais ainda a perseguir seu próprio sonho rock’n’roll. No dia 6 de julho de 1957, Paul McCartney, com 15 anos de idade, foi apresentado a Lennon depois que este tinha cantado e tocado numa festa junto de uma igreja com seu grupo The Quarrymen. McCartney demonstrou suas proezas musicais apresentando ‘Twenty Flight Rock’ igual ele tinha visto Eddie Cochran cantar em The Girl Can’t Help It. Isso fez com que Lennon convidasse McCartney para participar do grupo. McCartney fala sobre o filme na série de documentários The Beatles Anthology.”

Meu Deus do céu e também da Terra! Nunca soube disso!

E tem mais! A Wikipedia continua: “No dia 18 de setembro de 1968, os Beatles interromperam a gravação de “Birthday” nos estúdios Abbey Road para ir para a casa de Paul McCartney assistir à primeira apresentação do filme na TV britânica.”

Não foram apenas os garotos Lennon e McCartney que ficaram fascinados com o filme. Segundo o IMDb, Jimmy Page e Jeff Beck também citaram o filme como tendo tido uma grande influência sobre eles. Jeff Beck chegou a defini-lo como “o melhor Filme Rock & Roll que já foi feito”.

E ainda tem mais. O verbete da Wikipedia em inglês sobre o filme prossegue:

“Alguns fanáticos por filmes já notaram que a famosa apresentação de Elvis Presley da canção ‘Jailhouse Rock’ no filme da MGM de mesmo nome (muitas vezes tido como o primeiro vídeo musical), lançado um ano depois de The Girl Can’t Help It, tem uma semelhança impressionante com o tema e a forma com que é apresentada uma canção chamada ‘Rock Around the Rockpile’ do filme anterior. Naquela performance, Edmond O’Brien interpreta um personagem que procura escapar de uma tentativa de assassinato entrando num palco e cantando a letra que diz ‘rock, rock, rock around the rockpile’, tendo ao fundo a Ray Anthony Band usando uniformes de listras de presos.”

E ainda tem mais:

Os produtores de The Girl Can’t Help It tentaram ter Elvis no filme. É preciso lembrar que o primeiro álbum dele, Elvis Presley, da RCA, saiu exatamente em 1956, o ano de lançamento do filme; antes, ele só havia gravado alguns compactos ainda na Sun Records, em Memphis. Mas o Coronel Tom Parker, que já era o agente do rapaz, pediu muito dinheiro, e então ele ficou de fora.

Mais uma última, e aí chega de informações sobre rock’n’roll, justamente o gênero que o filme goza abertamente: dois compositores que trabalharam na trilha sonora de The Girl Can’t Help It, Hugo Friedhofer e Lionel Newman, sem que seus nomes aparecessem nos créditos iniciais, também comporiam músicas para Love Me Tender, o primeiro dos vários filmes estrelados por Elvis.

Little Richard canta três músicas no filme

Leonard Maltin deu apenas 2.5 estrelas ao filme e seu comentário sobre ele é bem depreciativo. “Filme de uma piada só sobre agente Ewell tentando levar ao estrelato a namorada (Mansfield) de um gângster. Algumas boas gags visuais de Tashlin; clássicas apresentações de Fats Domino (‘Blue Monday’), The Platters (‘You’ll Never Know’), Gene Vincent and His Blue Caps (‘BeBop a Lula’), Little Richard (‘She’s Got It’, ‘Ready Teddy’ e ‘The Girl Can’t Help It’.”

Discordo totalmente da afirmação de que é um filme de uma piada só. Não é, não, de jeito algum.

Jean Tulard dá 3 estrelas a La Blonde et Moi, que foi como o filme se chamou na França: “Humor e rock’n’roll! Humor: sobre um fundo sonoro de Little Richard, Jayne passeia pela rua. Uma garrafa de leite transborda, uma criança assobia, os óculos se embaçam. Estamos em pleno cartoon! Rock’n’roll: Gene canta ‘BeBop a Lula’, Eddie Cochran ‘Twenty Flight Rock’. Que mais dizer?”

Fascinante filme…

Anotação em maio de 2020

Sabes o que Quero/The Girl Can’t Help It

De Frank Tashlin, EUA, 1956

Com Tom Ewell (Tom Miller), Jayne Mansfield (Jerri Jordan), Edmond O’Brien (Marty Murdock, conhecido como Fats Murdock)

e Henry Jones (Mousie, o assistente de Murdock), John Emery (Wheeler, o rival de Murdock), Barry Gordon (Barry, o garoto jornaleiro), Juanita Moore (Hilda)

e, interpretando a si mesmos, Julie London, Little Richard and His Band, Ray Anthony, Fats Domino, The Platters, Gene Vincent and His Blue Caps, The Treniers, Eddie Fontaine, The Chuckles, Abbey Lincoln, Johnny Olenn, Nino Tempo, Eddie Cochran

Roteiro Frank Tashlin e Herbert Baker

Baseado no livro Do Re Mi, de Garson Kanin

Fotografia Leon Shamroy

Música Leigh Harline e Lionel Newman

Montagem James B. Clark

Casting Owen McLean

Produção Frank Tashlin, 20th Century Fox.

Cor, 99 min (1h39)

***

Título na França: La Blonde et Moi. Em Portugal: Uma Rapariga com Sorte.

5 Comentários para “Sabes o Que Quero / The Girl Can’t Help It”

  1. Vi este filme no cinema uma única vez e só me lembro da música.
    Aliás fui vê-lo por causa da música e gostei.
    Li há instantes que faleceu hoje, quer dizer, sábado dia 9 de Maio, Little Richard.

  2. Vem a propósito citar Ricardo Araújo Pereira sobre o acordo ortográfico:
    “Para mim, arquitetas são tetas superlativas. Não são profissionais da projecção de edifícios”.
    Era o caso da Jayne Mansfield.

  3. No filme posterior, Em busca de um homem, ou como foi chamado na tv por aqui, O grande sucesso de Rock Hunter, as gags cartunescas foram muito mais bem aplicadas. No filme de 1956, elas de fato parecem servir a uma única piada, mas ainda assim são geniais.

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