Um Bom Partido / Playing for Keeps

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Nota: ★★½☆

Alguém mal-humorado poderia dizer que a contribuição deste Um Bom Partido para a cultura seja mostrar que o futebol – o futebol mesmo, o esporte bretão – parece estar finalmente chegando aos Estados Unidos.

Ou então mostrar que as esposas da classe média americana têm um insaciável apetite sexual.

Bem, de fato o filme mostra esses dois fenômenos. Mas eu não sou mal-humorado, e então me diverti um tanto com essa comedinha romântica de 2012 dirigida pelo italiano Gabriele Muccino, que parece ter se estabelecido de vez em Hollywood.

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Ainda na Itália natal, Muccino fez pelo menos dois filmes interessantes, sobre relações familiares, relação pais-filhos, infidelidade conjugal: Para Sempre na Minha Vida/Come te Nessuno Mai (1999) e No Limite das Emoções/Ricordati di Me (2003). Em 2006, lançou seu primeiro filme americano, À Procura da Felicidade/The Pursuit of Happyness (assim mesmo, com y), sobre pobreza, ascensão à custa de trabalho duro e, de novo, relação pai-filho – os protagonistas da história são interpretados por Will Smith e seu filho Jaden. Voltou a trabalhar com Will Smith em Sete Vidas/Seven Pounds (2008), um drama ambicioso que, na minha opinião, exagerou no melodrama e no sentimentalismo.

Voltou à Itália para lançar, em 2010, O Último Beijo/Baciami Ancora. Dois anos depois veio este Um Bom Partido, no original Playing for Keeps. Fala de futebol, de infidelidade conjugal – mas, sobretudo, é, como foram os filmes anteriores do realizador, sobre a relação pai-filho. E vejo no IMDb que Muccino está preparando, em maio de 2014, um novo filme sobre o mesmo tema, Fathers and Daughters. O cara é de fato useiro e vezeiro.

Tenho grande simpatia por realizadores que insistem em um tema que é importante para eles. E gosto demais do tema pais-filhos.

George torrou toda a montanha de dinheiro que ganhou, e agora está duro

O filme abre com imagens de partidas de futebol. Legendas informam: “George Dryer 1993” – e George faz um golaço. “George Dryer 1996” – e George faz outro golaço. “George Dryer 2005” – um novo golaço. Um locutor anuncia que, aos 36 anos, George Dryer, chamado pelas torcidas dos times ingleses e escoceses em que jogou de King George, se machucou.

zzkeeps5E temos então um letreiro “George Dryer hoje”. O ex-jogador, ex-ídolo das torcidas – interpretado pelo galã George Butler –, está em casa, diante de uma pequena câmara, fazendo um comentário sobre partidas de futebol. Sonha em levar uma fita demo para alguma emissora, tentar emplacar como comentarista.

Não vai muito bem, o ex-King George. Enquanto ele tenta gravar seu comentário, o telefone toca, a secretária eletrônica atende: é da empresa de cartão de crédito, ele está com 120 dias de atraso.

Mora numa pequena casinha dos fundos, atrás de uma bela casa ocupada por um indiano, Param (Iqbal Theba). Assim que o vê, Param vai atrás dele para cobrar os aluguéis atrasados.

Grandes jogadores, craques, a gente sabe muito bem, ganham fortunas. Sua vida útil é curta, mas dá perfeitamente – para quem sabe se planejar – para juntar bastante dinheiro para ter uma vida confortável depois de deixar o esporte.

Não foi o caso de George Dryer, que torrou esplendidamente sua grana enquanto ela chovia, em viagens pela Europa, Ferraris, aluguel de belas villas, essas coisas. Fez isso em companhia da mulher, Stacie (o papel de Jessica Biel), que conheceu quando ele estava no auge da fama e ela era uma jovem americana da Virginia de 23 anos em viagem à Inglaterra.

Tiveram um filhinho, Lewis. Separaram-se, ela voltou para a Virginia. Depois que ele teve que se aposentar do futebol devido à contusão, resolveu se mudar para a cidade da mulher, para poder ver o filho com freqüência. Quando a ação começa, Lewis (interpretado por Noah Lomax) está com 9 anos de idade, e faz três anos que Stacie mora com Matt (James Tupper), um cara legal.

Ele vira treinador do time de futebol da escola. Os alunos o adoram. As mães deles também

O cinema já mostrou outros grandes atletas ou desportistas em má situação depois que o auge da carreira passa. Kevin Costner, por exemplo, interpretou um ex-campeão de beisebol que vive enchendo a cara, no interessante A Outra Face da Raiva/The Upside of Anger, de Mike Binder (2004). Há ex-atletas que caem em poços profundos, em vários outros filmes.

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Mas esta aqui é uma comedinha romântica. George não vai se afundar na cachaça ou alguma outra droga, e o espectador já sabe que no fim – afinal, é um filme do cinemão comercial americano! – tudo tudo vai dar pé.

O George que vemos no início da narrativa é apenas um sujeito um tanto imaturo, desorganizado, avoado. E sem grana, claro. Embora tenha se mudado para aquela cidade para estar perto do filho (e também, como veremos depois, para estar perto da ex-mulher), perde os horários, chega atrasado para os encontros marcados com Lewis. O menino adora o pai, mas é claro que se ressente quando ele se atrasa, ou simplesmente dá o cano.

Lewis faz parte do time de futebol da escola – e isso é que é fascinante: agora há times de futebol nas escolas americanas!

E o time é misto: há também garotas.

Ao ver os treinos, George se impacienta: o técnico é um despreparado, não dá a menor atenção aos garotos, fica o tempo todo falando ao celular.

Da primeira vez que vemos George assistir a um treino, ele fica impaciente, mas quieto. Da segunda vez, com o técnico ausente, fora do campo, falando ao telefone, ele não aguenta: entra no campo, conversa com os garotos e garotas, mostra a eles como chutar a bola.

Os pais que vêem o treino ficam fascinados. As mães, mais ainda: afinal, George é um tipão, fina estampa, e ainda por cima tem aquele sotaque escocês.

Querem que George assuma o posto de técnico.

A princípio ele não se entusiasma. Nunca tinha sido treinador, e precisa investir na futura talvez possível carreira de comentarista de TV. Mas Stacie, a ex, dá-lhe uma dura: pô, você não pode, uma vez na vida, fazer o que seu filho está pedindo?

E ele topa.

Em papéis pequenos, duas atrizes belíssimas: Uma Thurman e Catherine Zeta-Jones

Os meninos e meninas adoram o novo treinador. O pai de um dos garotos, Carl (Dennis Quaid, com os cabelos pintados para não mostrar a idade e fazendo muito mais caretas do que seria necessário), um ricaço, se entusiasma: depois de ver, na internet, que George foi um herói, um craque, no Reino Unido, o enche de lisonjas, dá ao time uma farta contribuição em dinheiro.

zzkeeps7É um personagem interessante, esse, interpretado por Dennis Quaid. É o típico sujeito rico para quem tudo, tudo, tudo na vida é dinheiro e aparência. O roteiro (de Robbie Fox, também autor do argumento) não se preocupa em dizer qual é a origem do dinheiro de Carl, mas não deve lá ser algo muito legal.

Carl é casado com um avião, um baita de um Boeing, Patti, que vem na tela no corpo infindável de Uma Thurman. Carl trai Patti constantemente, mas ao mesmo tempo tem um ciúme patológico dela.

Patti e mais duas mães de garotos do time vão partir para cima do treinador bonitão. Dessas outras duas, uma é divorciada, e profundamente insegura – Barb, interpretada por Judy Greer. A outra é casadíssima, e profundamente segura de si – Denise, interpretada por uma Catherine Zeta-Jones que parece ter feito algumas plásticas erradas.

Um filme simpático, divertido, e que acerta no fundamental

Aparentemente o filme foi um fracasso na bilheteria. Teria custado US$ 35 milhões, e nas bilheterias americanos rendeu apenas US$ 13 milhões. Isso apesar dos nomes famosos todos no elenco. O futebol está começando a chegar aos Estados Unidos, mas, pelo jeito, só começando.

Detalhinho: não conhecia a expressão “play for keeps”. Aprendo (nunca é tarde para aprender, embora no dia seguinte já seja difícil lembrar) que play for keeps é fazer as coisas com efeito permanente, ser sério nas ações. É o que o nosso George vai aprendendo ao longo do filme.

Não é, de forma alguma, um grande filme, este Playing for Keeps. Mas é simpático, divertido – e acerta no que é fundamental: pai que presta é pai que dá atenção e carinho ao filho.

Anotação em maio de 2014

Um Bom Partido/Playing for Keeps

De Gabriele Muccino, EUA-Itália, 2012

Com Gerard Butler (George), Jessica Biel (Stacie), Noah Lomax (Lewis), Dennis Quaid (Carl), Uma Thurman (Patti), Catherine Zeta-Jones (Denise), James Tupper (Matt), Judy Greer (Barb), Iqbal Theba (Param)

Argumento e roteiro Robbie Fox

Fotografia Peter Menzies Jr.

Música Andrea Guerra

Montagem Padraic McKinley

Produção Eclectic Pictures, Evil Twins, Millennium Films, Misher Films, Nu Image Films. DVD Imagem Filmes.

Cor, 105 min

**1/2

4 Comentários para “Um Bom Partido / Playing for Keeps”

  1. Como sempre no Brasil vejo comentários sobre um filme que na realidade trata se de um comentário apenas sobre um item: o roteiro. Um filme possui roteiro, fotografia, trilha sonora, interpretação, contra regra, cenários, etc. E ainda vejo falas sobre custos, futebol, outras amenidades. E a péssima condição figurativa do ator, por exemplo: dentuço, inexpressivo. Isto seria importante falar, já que temos várias atrizes expressivas no elenco. E quanto a comercialidade e happy end deveriamos dar graças a deus pelo caráter educativo. Pois 95 por cento dos filmes americanos são apelativos da mentalidade mórbida de alguns cineastas. O ritmo dos cortes está muito bom e não obedece a clássica correria e rapidez do cinema feito nos EUA.

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