Para Sempre na Minha Vida / Come te Nessuno Mai


Nota: ★★½☆

Anotação em 2008: Um filme sobre adolescência, relações familiares, política e sexo na Roma do finalzinho do século XX. Me pareceu, enquanto via o filme, que o diretor Gabriele Muccino não se decidiu direito que tom deveria dar ao seu filme – e ele oscila entre um estilo leve de comédia de costumes e uma denúncia sobre as mazelas e falta de sentido da vida da pequeno-burguesia.

Em parte, pelo menos, este é mais um filme que confirma a minha tese de que, para o cinema italiano, só os pobres, só os trabalhadores humildes são bons, ajustados e felizes; estar acima do limite da pobreza significa trazer o inferno, ou no mínimo o purgatório, para dentro de casa. Não é possível ser de pequeno-burguês para cima sem ser infeliz, angustiado, descontente, problemático – ou, no mínimo, fútil, frívolo, pouco sério.

Foi assim em todo o período pós-Segunda Guerra, a partir do neo-realismo dos anos 40 e 50 e a época de ouro dos anos 60 e 70, em que o cinema italiano era um dos melhores, se não o melhor do mundo. Era também a época em que o Partido Comunista Italiano era o maior do mundo capitalista; a Itália, mais talvez do que qualquer outro país europeu, era a terra do sonho socialista.

zznessuno2Mas é impressionante como mesmo os filmes italianos pós-queda do Muro, pós-queda do império soviético, continuam com esse ranço. O próprio diretor Gabriele Muccino, nascido em 1967, quando sobrava pouco do sonho socialista na Itália como em toda a Europa, abriria o seu filme No Limite das Emoções/Ricordati di Me, de 2003, com uma voz em off informando que o tema da história é o casal Ristuccia e seus dois filhos, uma família de classe média alta infeliz.

O personagem principal deste Para Sempre em Minha Vida é Silvio, um garoto de 16 anos da classe média – interpretado por Silvio Muccino, o irmão mais novo do diretor Gabriele e um dos co-roteiristas. Sua família não chega a ser propriamente um inferno, mas está longe de feliz. Os pais, da geração que lutou para mudar o mundo em 1968, têm problemas entre eles, quase se separaram; a comunicação entre eles e seus três filhos é quase zero, e as brigas são quase diárias.

Silvio estuda numa escola pública, dominada por estudantes de esquerda, que a todo ano promovem uma ocupação do prédio como forma de protesto – nem eles mesmos sabem muito bem contra quem, ou contra o quê. Dizem vagamente que é contra a massificação, a perda da individualidade. Querem fazer algo como os pais fizeram em 1968 – embora critiquem os pais sempre. Os pais de Silvio, por sua vez, agora acham uma grande bobagem essa coisa de ocupação de escola, acham que os filhos têm que estudar para ter boa formação e assegurar seu futuro.

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Silvio, na verdade, não está preocupado com política, ocupação de escola; quer fumar seus baseados e, sobretudo, quer transar pela primeira vez. Ele tem uma grande atração por Valentina (Giulia Carmignani), a única menina da turma, pelo que se sabe, que já dá para o namorado, Martino (Simone Pagani), amigo de Silvio. No dia da ocupação da escola, chega a dar um amasso em Valentina, conta logo para o melhor amigo Ponzi (Giuseppe Santafelici), que se encarrega de espalhar a notícia entre a turma toda – o que causa profunda tristeza em Claudia (Giulia Steigerwalt), uma garotinha que há seis meses tem uma paixonite por Silvio.

Lá pela segunda metade do filme, todos esses elementos postos, é que o diretor Muccino vai se concentrar mais na vida afetiva de Silvio, e aí o tom do filme se define pela leveza. Mas ainda haverá cenas de enfrentamento familiar e enfrentamento estudantes-polícia, num tom de mas o que afinal querem esses pequenos-burgueses que têm tudo? E tudo isso com muita câmara de mão – aliás, usada com competência.

Os atores juvenis, todos, são ótimos, e estão muito bem dirigidos.

Essa garotinha Giulia Steigerwalt, que faz Claudia, uma gracinha, teria uma pontinha no filme seguinte do diretor Muccino, O Último Beijo/L’Ultimo Baccio, de 2001, que foi um grande sucesso na Itália.

Gabriele Muccino iria depois para Hollywood, como tantos outros diretores de cinema de todos os lugares do mundo. Em 2006, fez À Procura da Felicidade/The Pursuit of Happyness (grafado assim mesmo, com y em vez de i, não sei por quê), que me pareceu um hino ao capitalismo e à América-a-Terra-das-Oportunidades, e em 2008 fez, de novo com o astro Will Smith, Seven Pounds.

Para Sempre na Minha Vida/Come te Nessuno Mai

De Gabriele Muccino, Itália, 1999

Com Silvio Muccino, Giuseppe Santafelice, Giulia Steigerwalt, Giulia Carmignani, Luca De Filippo, Anna Galiena

Roteiro Gabriele Muccino, Silvio Muccino e Adele Tulli

Música Paolo Buonvino

Produção Fandango

Cor, 88 min.

**1/2

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