No Limite das Emoções / Ricordati di Me


Nota: ★★★☆

Anotação em 2006, com complemento em 2008: Na primeira seqüência deste No Limite das Emoções/Ricordati di Me, uma voz em off informa que o tema do filme é o casal Ristuccia e seus dois filhos, uma família de classe média alta infeliz.

Famílias da classe média para cima infelizes são uma tradição no cinema italiano do pós-guerra: os aristocratas e os burgueses de Visconti, os burgueses de Antonioni, os ricos de uma maneira geral do jovem Bertolucci, os ricos e corruptos de Scola em Nós Que Nos Amávamos Tanto, os ricos de alguns dos De Sica, os poderosos de Elio Petri. A lista não terminaria nunca.

Parecia que, para aquela geração de cineastas que veio depois do fascismo, estar acima do limite da pobreza trazia o inferno para dentro de casa. Petri chegou a fazer um filme – A Classe Operária Vai ao Paraíso – para afirmar que até mesmo os operários, quando seu salário ultrapassa o nível das necessidades de subsistência, perdem seu valor e seus valores.

Gabriele Muccino nasceu em 1967, quando sobrava pouco do sonho socialista na Itália como em toda a Europa, e era apenas um adolescente quando caíram o muro de Berlim e o império soviético, mas ele mantém a tradição. Os seus Ristuccia não têm dificuldades financeiras – e talvez exatamente por isso sejam retratados assim, como uma família profundamente infeliz.

E põe infelicidade nisso.

Carlo (Fabrizio Bentivoglio) e Giulia (Laura Morante) abriram mão de seus sonhos e aspirações da juventude para poder ter uma vida confortável. Seu filho Paolo (Silvio Muccino, o irmão mais novo do diretor), de 19 anos, é problemático, tem dificuldades de encontrar sua identidade, saber o que quer da vida. A  filha do casal, Valentina (Nicoletta Romanoff) é absolutamente fútil, uma aborrescente desprezível, com a idéia fixa de fazer sucesso na televisão – e não tem qualquer grilo em dar para quem possa ajudá-la a chegar lá. 

Giulia acredita que pode ter alguma alegria voltando a perseguir o antigo sonho de ser atriz, e se engaja na montagem amadora de uma peça de teatro; acredita também que poderá ter um caso com o homem que está dirigindo a peça. Vai dar com os burros n’água.

Carlo encontra a possibilidade de ser feliz quando revê, numa festa, uma antiga colega, Alessia, uma mulher de beleza absolutamente extraordinária (Monica Bellucci) que também vive um casamento insatisfatório.

 A infidelidade dele lançará a família que já era infeliz no pior do pior dos infernos. Quando, finalmente, Carlo for tentar abandonar o inferno para tentar viver a paixão com Alessia, será fulminado com o castigo violento dos deuses – ou dos roteiristas, que não suportam a idéia de algum tipo de felicidade para quem tem dinheiro para satisfazer as necessidades básicas.

No Limite das Emoções/Ricordati di Me

De Gabriele Muccino, Itália-França-Inglaterra, 2003.

Com Fabrizio Bentivoglio, Laura Morante, Monica Bellucci, Silvio Muccino, Nicoletta Romanoff

Argumento Gabriele Muccino

Roteiro Gabriele Muccino e Heidrun Schleff

Cor, 120 min

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