Os Belos Dias / Les Beaux Jours

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2.5 out of 5.0 stars

Quando este Os Belos Dias terminou, fiquei um tempinho me perguntando por que, afinal, resolveram contar essa história. O que ela quis dizer – se é que quis dizer alguma coisa. Algum tempo depois, me ocorreu que a pista pode estar no nome do livro em que o filme se baseia, Une jeune fille aux cheveux blancs.

Uma jovem de cabelos brancos.

Os cabelos de Fanny Ardant – que interpreta a protagonista da história, e é a melhor coisa que o filme tem – eram negros, assim como no passado haviam sido os da sua personagem, Caroline. Caroline, na época em que se passa a ação, tem os cabelos pintados de louro. Mas isso não importa: os cabelos brancos do título do livro de Fanny Chesnel são uma figura de linguagem. Uma jovem que é velha – uma senhora passada da meia idade que vive como uma jovem.

Sim, este é o tema de Les Beaux Jours: uma jovem de cabelos brancos.

Uma aventura com um garotão transforma a protagonista em adolescente outra vez

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Caroline está com 60 anos, e, quando a narrativa começa, está nos primeiros meses da aposentadoria – havia trabalhado décadas como dentista, a mesma profissão do marido, Philippe (o papel de Patrick Chesnais). Cinco meses antes, ela havia perdido a maior amiga, e ainda estava bastante deprimida com a perda.

Uma de suas duas filhas (ambas estão aí na faixa dos 30 e poucos, são casadas, uma delas tem um casal de filhos) havia dado à mãe de presente a mensalidade de um clube voltado para a terceira idade. Um belo clube, chamado Beaux Jours, com professores das mais diversas atividades – teatro, cerâmica, pintura, informática.

A experiência do primeiro dia em que Caroline vai ao Beaux Jours não é nada boa. Ela se vê colocada pela professora de teatro, Lydia (Olivia Côte), diante de toda a turma, e a professora ordena que ela ria, gargalhe. De volta em casa, Caroline comenta com o marido que uma mulher de 30 anos a havia feito se sentir ridícula.

Mas Caroline estava com um problema com seu computador, e Philippe sugere que ela fale com o professor de informática do Beaux Jours.

O professor se chama Julien (o papel de Laurent Lafitte, um ator da Comédie Française), é um garotão de uns 30 e poucos anos, daqueles comedores inveteratos, que não deixam passar mulher alguma à sua frente sem dar uma cantada. Depois de uma aula, saem juntos, o garotão Julien e a sessentona Caroline. Daí a pouco ele está se atracando com Caroline dentro do carro dela.

Caroline resiste a este primeiro avanço de Julien – mas se entrega, feliz da vida, na oportunidade seguinte. Tornam-se amantes – e trepam muito, e bem.

E, com essa aventura, aos 60 anos Caroline vira de novo uma adolescente.

A diretora gosta do tema infidelidade – e dos filmes de Sautet e Lelouch

Não sei se é proposital, mas o fato é que a câmara da diretora Marion Vernoux é, durante boa parte da narrativa, arisca, nervosa, chegada a um exibicionismo, malabarismo, contorcionismo. Parece coisa de adolescente, ou de diretor muito jovem, estreante.

zzbeaux4No início do filme, a câmara agitada me cansou; cheguei a pensar em apertar logo a tecla stop. Mas, diacho, ali estava Fanny Ardant, essa deusa, esse monumento – e aí fui em frente.

Como não conhecia a diretora Marion Vernoux, imaginei que fosse uma jovenzinha. Não é tão garotinha assim: nascida em 1966, estava portanto com 47 anos quando lançou Les Beaux Jours, seu décimo filme como realizadora; começou na direção em 1991, com um filme para a TV, Pierre qui roule.

Marion Vernoux assina também o roteiro, ao lado de Fanny Chesnel, a autora do livro em que o filme se baseia.

Aí vão algumas informações, a maioria retirada do site AlloCiné:

* O filme fez sucesso no circuito comercial francês, com 472 espectadores;

* Fanny Ardant e Patrick Chesnais tiveram indicações ao César, o maior prêmio do cinema francês, nas categorias melhor atriz e melhor ator;

* Para criar a personagem central, a escritora Fanny Chesnel se inspirou em sua própria mãe;

* O tema da infidelidade conjugal é recorrente na obra da diretora. Dois outros de seus filmes, Love etc. (1996) e Rien à faire (1999) também abordam traição.

* O filme foi rodado nos locais em que se passa a ação, a região Nord-Pas-de-Calais, no extremo Norte do hexágono que é o mapa da França, já junto da fronteira com a Bélgica – as filmagens foram em Dunquerque, Calais e Cap Blanc-Nez. Em entrevista, a diretora disse: “Vou sempre àquela região, que é muito bela de ser filmada. E eu não queria aprisionar os personagens numa cidade burguesa ou muito identificável. Queria que o espectador sentisse que aquilo poderia se qualquer lugar da Europa. Além do vinho francês, que tem muito espaço no filme, há um pequeno lado de no man’s land. Desde a preparação de um filme, são os lugares que me inspiram. Aqueles planos gerais do Mar do Norte, eu não consegui deixar de filmá-los…”

* Marion Vernoux diz que, para fazer Le Beaux Jours, pensou bastante no filmes de Claude Sautet e Claude Lelouch. Este último já havia dirigido tanto Patrick Chesnais (Il y a des jours… et de lunes) quanto Fanny Ardant (Crimes de Autor/Roman de Gare).

zzbeaux5* Numa sequência em que estão no carro, e o rádio toca “Les mots bleus”, de e com Christophe, Julien canta junto, entusiasmado, e pergunta a Caroline se ela não gosta de Christophe, se ela prefere narrativas como as de Jacques Brel. Faz sentido: apesar de Christophe não ser propriamente jovem (é de 1945), seu som é mais próximo do rock, mais “moderno” do que o dos grandes compositores da chanson française como Georges Bressens ou Jacques Brel – algo que talvez fosse mais do agrado daquela senhora sessentona. Mas Caroline nega paixão por Brel. “Pas du tout”, diz ela.

* Vinte anos mais jovem que o cantor e compositor, Marion Vernoux parece gostar especialmente de Christophe. A mesma canção “Les mots bleus” é ouvida em Rien à faire, o filme que a diretora lançou em 1999. “É quase uma piada entre Christophe e eu. Ele sabe que cada vez que eu faço um filme vou usar uma de suas canções. Nós nos chamamos um ao outro de meu fã.”

Não é um filme ruim, não. Vale pelo imenso prazer de ver Fanny Ardant  

Sim, mas e então? Qual é, afinal, minha opinião sobre este Les Beaux Jours?

Não é um filme ruim. De forma alguma. É bom ver uma história escrita por uma mulher, roteirizada por duas mulheres, dirigida por uma mulher, sobre uma mulher de 60 anos. A câmara tão adolescente quanto fica adolescente uma mulher que vive um caso de amor com muito sexo incomoda um pouco, mas paciência.

Mas também não me parece um grande filme – nem sequer um filme muito bom. Vale por Fanny Ardant. O prazer de ver Fanny Ardant é imenso.

Anotação em junho de 2014

Os Belos Dias/Les Beaux Jours

De Marion Vernoux, França, 2013

Com Fanny Ardant (Caroline), Laurent Lafitte (Julien),

Patrick Chesnais (Philippe)

e Jean-François Stévenin (Roger), Fanny Cottençon (Chantal), Catherine Lachens (Sylviane), Alain Cauchi (Jacky), Marie Rivière (Jocelyne), Marc Chapiteau (Hugues), Féodor Atkine (Paul), Olivia Côte (Lydia, a professora de teatro), Emilie Caen (a recepcionista do Beaux Jours)

Roteiro Marion Vernoux e Fanny Chesnel, com a colaboração de

Marc Syrigas

Baseado no livro Une jeune fille aux cheveux blancs, de Fanny Chesnel

Fotografia Nicolas Gaurin

Música Quentin Sirjacq

Montagem Benoît Quinon

Produção Les Films du Kiosque, 27.11 Production, Direct Cinéma, Canal+, com apoio da Région Nord-Pas-de-Calais. DVD Imovision.

Cor, 94 min

**1/2

5 Comentários para “Os Belos Dias / Les Beaux Jours”

  1. Adorei o filme. Ele é leve e foge dos esteriótipos da visão masculina, porque a grande maioria dos filmes são feitos por homens e foge, principalmente, daquela produção hollywoodiana, nos remetendo à possibilidades reais de dia a dia. A atriz realmente é maravilhosa, uma diva!

  2. Oi,

    Eu gostei muito desse filme. Na minha opinião este filme quis mostrar que não importa a idade, você pode ser amada, desejada e sair transando por ai se isto faz você feliz. No entanto, o que vale mesmo a pena é no final você ficar com a pessoa que ama você, que conhece suas qualidades e defeitos. Comecei a assistir filmes franceses há pouco tempo e não tenho vasto conhecimento, mas eu tenho percebido que os homens encaram a traição não como um mal supremo, mas que a mulher precisa passar por este aprendizado. Gostei muito desse filme e me diverti muito com as escapadelas desta dentista aposentada.
    Beijos

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