Trabalho Sujo / Sunshine Cleaning

Nota: ★★½☆

Este Trabalho Sujo/Sunshine Cleaning me pareceu um filme extremamente irregular. Tem coisas boas – e outras péssimas. A sensação que ele deu é de que a diretora – cujo nome não reconheci nos créditos inicias – é jovem, tem talento, poderá fazer filmes muito bons no futuro, mas ainda é imatura, fresca, jovem, verde, foca.

Essa minha impressão, no entanto, estava errada: Christine Jeffs, a diretora, não é uma jovenzinha iniciante. Nasceu em 1963, em Wellington, Nova Zelândia. Este aqui foi seu terceiro longa-metragem como diretora – e, conforme conferi depois, eu já havia visto os dois filmes anteriores dela, Rain e Sylvia – Paixão Além das Palavras.

Rain, no Brasil Chuva de Verão, produção neo-zelandesa de 2001, é um drama familiar denso, pesado, sério. Quando anotei sobre ele, dois anos atrás, em 2009, disse que “todos os atores estão muito bem – a diretora Christine Jeffs, que vinha do cinema publicitário e estreou com este longa-metragem, tem grande talento para a direção de atores”.

Não fiz anotação sobre Sylvia, feito na Inglaterra, em 2003, sobre a poeta americana Sylvia Plath (interpretada por Gwyneth Paltrow); me pareceu, se bem me lembro, um filme correto, sobre uma personagem pouco interessante.

Amy Adams e Emily Blunt, estranhamente, não estão bem no filme

Trabalho Sujo é de 2008. Em 2008, Amy Adams e Emily Blunt já eram jovens estrelas em rápida ascensão, com passe caro; o veterano Alan Arkin, grande figura, grande ator, imensa e bela filmografia, não cobraria muito para trabalhar num filme independente, mas as garotas devem ter topado a empreitada mais pela oportunidade de fazer algo sério do que propriamente pelo dinheiro.

Amy Adams teve uma excelente interpretação em Dúvida/Doubt. Emily Blunt já teve belas interpretações em vários filmes: A Jovem Rainha Vitória, Meu Amor de Verão, O Clube de Leitura de Jane Austen. No entanto, as duas me pareceram pessimamente dirigidas neste Trabalho Sujo. Amy Adams faz 30 caretas ao mesmo tempo, balança as mãos, balança o corpo todo, a cada momento – típico de uma atriz que não sabe o que fazer, que está sendo mal dirigida. E no entanto Chuva de Verão/Rain me deu a certeza de que Christine Jeffs tem grande talento para a direção de atores. Ou eu estava errado então, ou errei agora.

Gente simples, humilde, deserdada do Sonho Americano

Trabalho Sujo é um filme sobre pessoas comuns, gente como a gente – e isso já é positivo. É um filme independente, feito fora dos grandes estúdios – e isso é muito positivo. A ação se passa em Albuquerque, Novo México, e não nas maravilhosas, chiques, ricas, elegantes Nova York, Los Angeles, Chicago, San Francisco – e isso é muito bom.

Os personagens do filme não são milionários, não vivem em casas estupendas, não tomam vinhos em restaurantes chiquetérrimos – e isso é maravilhoso.

Na verdade, os personagens são pessoas até pobres, bem pobres. São deserdados do Grande Sonho Americano – e isso é sensacional.

Rose (a personagem interpretada por Amy Adams) era uma adolescente linda, simpática; foi a chefe da torcida do time de futebol da escola, e namorava Mac (Steve Zahn), o astro do time, o quarterback, o que no nosso futebol seria o centroavante. O filme não explica por que – às vezes há coisas que a vida também não explica –, mas o fato é que Mac, na vida adulta um policial, casou-se com outra moça, e para Rose sobrou o papel da amante – com o agravante de que tem um filho sem pai assumido, Oscar (Jason Spevack), e levemente problemático.

Não tendo habilidades ou estudos maiores, Rose trabalha em serviços mais humildes: é faxineira.

Sua irmã mais jovem, Norah (o papel de Emily Blunt), não tem destino melhor. Trabalha como garçonete, mas é demitida logo; vive ainda com o pai, Joe Lorkowski (o papel do grande Alan Arkin). Joe, por sua vez, persiste no sonho de que um dia dará certo como empreendedor, dono de seu destino, seu patrão – o Sonho Americano, de novo. Só que falha, coitado, em cada uma de suas tentativas.

Mac, o amante policial, dá a dica para Rose: fazer faxina na cena do crime – os lugares onde as pessoas foram assassinadas, ou se mataram, os lugares onde o sangue se espalhou – dá um bom dinheiro.

Rose precisa de dinheiro. Bem, quem não precisa? Mas Rose precisa muito, porque seu filho sem pai está com problemas, e precisa ir para uma escola particular. E então ela entra no trabalho sujo, carregando como auxiliar a irmã um tanto, ou bastante, perdida.

Apesar dos problemas, o filme passa honestidade, seriedade

A diretora Christine Jeffs parece indecisa sobre a forma como vai contar essa história dura sobre os dropouts, os misfits, os excluídos do Sonho Americano: como um drama? uma farsa? uma comédia de humor negro?

Na dúvida, ela não escolhe nenhum dos caminhos – pega um pouco disso, um pouco daquilo, um pouco daquilo outro. Seu filme não se define.

E, no entanto, no meio de tudo isso – a indefinição de um estilo, o não estar sabendo como dirigir aqueles atores –, ela consegue passar honestidade, seriedade. Há momentos tocantes no filme – como, por exemplo, a sequência em que, por acaso, a mulher de Mac se encontra numa loja de conveniência com Rose, a amante do marido, e joga na cara dela a pior ofensa que pode haver na sociedade capitalista: “Você é um nada!”

A forma como o filme vai revelando as informações sobre a mãe das duas garotas, Rose e Norah, é inteligente, bem feita.

No fim, como em boa parte dos filmes dos grandes estúdios americanos, neste filme independdente aqui as coisas se resolvem de maneira rápida e simples demais.

O que, afinal de contas, o filme quis passar?

Tudo bem: na minha opinião, quis passar que nem tudo é cor de rosa no Sonho Americano, que para muitos o que existe é pesadelo bravo – e é uma maravilha que se repita sempre isso.

Não fica muito claro, no entanto, se Rose compreendeu que o grande prejuízo que recai sobre seus ombros adveio da estúpida, idiota opção dela mesma por aparecer bonitinha na festa da ex-colega de escola. Não fica claro, a rigor, se Rose compreendeu alguma das muitas coisas que a vida tentou ensinar para ela. Aliás, não fica muito claro se Rose, afinal de contas, é capaz de compreender qualquer coisa na vida. A rigor, a rigor, não fica claro se Rose – bate-se na testa dela, dizendo alô, alô, tem alguém aí? responda, por favor – tem alguma coisa entre as duas orelhas.

Mas talvez até seja proposital – talvez a idéia seja mesmo mostrar que quem poderá, eventualmente, aprender alguma coisa seja Norah, a irmã mais jovem.

Apesar de ter errado na minha impressão de que a diretora parecia uma estreante, aindo penso que Christine Jeffs tem talento, sim. Em dois de seus três filmes – Chuva de Verão e este aqui – optou por contar histórias de gente comum, seus conflitos familiares, o que indica que é uma realizadora sensível, inteligente. Acho que ela poderá, sim, fazer bons filmes no futuro – embora este filme aqui seja tão irregular.

Anotação em setembro de 2011

Trabalho Sujo/Sunshine Cleaning

De Christine Jeffs, EUA, 2008

Com Amy Adams (Rose Lorkowski), Emily Blunt (Norah Lorkowski), Alan Arkin (Joe Lorkowski), Jason Spevack (Oscar Lorkowski), Steve Zahn (Mac), Clifton Collins Jr. (Winston)

Argumento e roteiro Megan Holley

Fotografia John Toon

Música Michael Penn

Produção Overture Films, Big Beach, Back Lot Pictures,

Clean Sweep Productions. DVD Paramount

Cor, 91 min

**1/2

6 Comentários para “Trabalho Sujo / Sunshine Cleaning”

  1. Sergii, gostei fo filme. Mas peca pela atuação de Amy Adams, penso eu. Ela faz as mesmas caras que fez em Encantada, mesmo com o filme tendo uma pegada totalmente diferente. Uma pena. Mesmo com filmes tão bons (como Julie & Julia, O Vencedor, Dùvida e Jogos de Poder), faz cada filminho (Uma Noite no Museu 2, Vira Lata, A Última Noite de Solteiro e Casa Comigo?). Trabalho Sujo não é filminho… mas ela atrapalha.

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