O Clube de Leitura de Jane Austen / The Jane Austen Book Club


Nota: ★★★☆

Anotação em 2008: Simpático, suave, agradável pequeno filme independente americano sobre um grupo de pessoas comuns da região de Los Angeles que resolvem formar o clube do título – um clube para ler e discutir os livros da inglesa Jane Austen (1775-1817).

Assim, a primeira coisa a se notar é como é interessante a fascinação exercida, quase 200 anos após sua morte, por essa escritora de romances sobre amor, relações sociais, relações afetivas, na distante Inglaterra pudica, careta e classista do século XVIII. E nos Estados Unidos de hoje, um país que não se caracteriza exatamente por grande apego à leitura, muito menos de clássicos de uma literatura que aparentemente não tem nada a ver com a vida atual numa das maiores metrópoles do Império.

E o fato é que Jane Austen exerce uma tremenda fascinação sobre o cinema. Uma rapidíssima pesquisa mostra que Razão e Sensibilidade/Sense and Sensibility foi transformado em minissérie de TV em 1981 e 2008; em filme de TV em 1971; e em filme em 1995 (o com roteiro de Emma Thompson e direção de Ang Lee) e de novo em 2008. 

Orgulho e Preconceito/Pride and Prejudice foi série de TV em 1938, 1952, 1958, 1967 e 1980, e filme em 1940, 2003 e 2005 – este último, o dirigido por Joe Wright, com Keira Knightley. Mansfield Park deu série de TV em 1983 e 2007, e virou filme em 1999.

E em 2007 foi feito o filme Amor e Inocência/Becoming Jane, sobre um episódio da juventude da escritora.

E isso tudo surge em uma pesquisa rapidíssima, de cinco minutos. Teria muitíssimo mais. É realmente impressionante a fascinação que Jane Austen continua exercendo.

ajaneEntão temos que neste filme aqui um grupo de pessoas cria um clube de leitura das obras de Jane Austen. É mais um daqueles filmes, cada vez mais comuns, não só no cinema americano, mas também no inglês e no francês, que não têm um ou dois protagonistas, mas um grupo grande – Short Cuts, de Robert Altman, de 1993, foi um marco nesse tipo de história, embora não o primeiro, e a cada ano surgem mais e mais filmes assim.

Temos Jocelyn (Maria Bello), uma criadora de cães de raça, solteira aos 40 e tantos, muitos casos no passado mas nenhuma grande paixão. Quando adolescente na escola, namorou Daniel (Jimmy Smits), mas acabou empurrando-o para sua amiga Sylvia (Anne Brenneman, a atriz principal de outro filme independente, Nevada). Daniel e Sylvia se casaram, tiveram três filhos, e no momento em que se passa a ação estão se separando porque Daniel está tendo um caso com uma outra mulher, obviamente mais jovem.

Eterna casamenteira dos outros, Jocelyn, ao conhecer num bar um rapaz bem mais novo, Grigg (Hugh Dancy), pensa logo em empurrá-lo para cima de Sylvia, para consolá-la da perda do marido. Seus sinais são contraditórios, e Grigg não entende bem se Jocelyn está a fim dele ou se quer que ele namore Allegra (Maggie Grace), uma das filhas de Sylvia. Allegra, isso é certo, não quer saber de homem; é uma namoradeira, sai de um caso para outro – mas com outras garotas. No momento da ação, está se apaixonando por Corinne (Parisa Fitz-Henley).

Outra velha amiga de Jocelyn e de Sylvia é Bernadette (Kathy Baker), que já se casou seis vezes e diz que ainda quer mais um casamento. Bernadette vai conhecer uma garota bem mais nova, Prudie (Emily Blunt, essa ótima atriz inglesa), e, ao saber que ela também gosta de Jane Austen, vai imediatamente convidá-la para participar do clube. Prudie, filha de uma hippie da melhor estirpe, Sky (Lynn Redgrave), é caretíssima, séria, contida; professora de francês e intelectualizada, sente-se superior a alguns dos membros do clube, e também ao marido, um jornalista esportivo, Dean (Marc Blucas), que pensa muito mais em basquete que na mulher. A qual, por sua vez, sente uma imensa atração por um aluno, Trey (Kevin Zegers), mas, com sua moral rígida à la personagens de Jane Austen, luta consigo mesma para não dar para o garoto.

Bons personagens, pessoas comuns, gente como a gente; boas interpretações de todo o elenco. Um filme de fato suavemente agradável, gostoso.    

Foi o primeiro longa-metragem dirigido por Robin Swicord, que já havia feito um bom nome como roteirista. Não parece uma estréia. A direção é segura, madura (ela nasceu em 1952), eficiente.

O Clube de Leitura de Jane Austen/The Jane Austen Book Club

De Robin Swicord, EUA, 2007

Com Kathy Baker, Maria Bello, Marc Blucas, Emily Blunt, Amy Brenneman, Hugh Dancy, Maggie Grace, Jimmy Smits, Kevin Zegers, Lyn Redgrave

Roteiro Robin Swicord

Baseado no livro de Karen Joy Fowler

Produção Sony Pictures Classics.

Cor, 106 min.

***

9 Comentários para “O Clube de Leitura de Jane Austen / The Jane Austen Book Club”

  1. O filme tem grandes méritos. Primeiro, por mostrar a fascinação que Jane Auston exerce, como você bem diagnosticou no texto. Mas, sem dúvida, é o diretor estreante que mexe comigo. Não inventou, não seduziu-se por modismos só porque era novo. Contou a história e pronto. E isso, por sí só, já é genial. Ou seja, não tinha de provar nada a ninguem.

  2. Filminho delícia que me prendeu desde o começo com cenas cotidianas de vários personagens em “bad days” ou em situações irritantes, com as quais a gente facilmente se identifica. É mto bom assistir a um filme sem esperar e sem saber muito, e ser surpreendida positivamente.
    As pessoas são comuns, mas sem cair na chatice de outros filmes sobre pessoas tb comuns.
    Só acho que a amante do Daniel não era mto mais jovem, pelo menos não no sentido que estamos acostumados a ver. Ela tinha 45 anos, pouca coisa mais nova ou talvez da mesma idade da até então mulher dele.

  3. O filme – americano! – surpreende por colocar leitores como personagens centrais – essa classe tão desprezada pelo cinemão. Leitores são criaturas apaixonadas, sonhadoras, muitas vezes articuladas, em geral inteligentes; características quase sempre consideradas ‘menores’ para compor personagens de primeiro plano num filme, ainda mais americano…

  4. Ah, esse preconceito contra os filmes americanos…
    Existem pelo menos cinco tipos de filmes feitos nos Estados Unidos. Se procurarmos bem, uns 35. Mas o preconceito, a visão preconcebida, a simplificação, a generalização… A necessidade de categorizar, botar selo, estampa, nas coisas…
    Sérgio

  5. Depois que conheci Jane Austen, através das adaptações de seus romances para o cinema, me sinto bastante frustrado por não ter lido sequer, um de seus livros.
    Aqui no bairro onde moro – incrível – não há uma livraria e é um tiro no escuro ficar procurando por elas em outros bairros . Mas, vou tentar no centro da cidade , lá existem várias. Será que ainda encontro, Sergio?
    – – – – –
    “Orgulho e Preconceito”.
    “Razão e Sensibilidade”.
    “Persuasão” – “Northanger Abbey”
    “Mansfield Park” – “Amor e Inocência”.
    Não li um romance dela mas , assisti todos esses filmes e,ontém, assisti também “Emma”.
    É como voce diz Sergio , é um filme suave, agradável e muito gostoso de se ver.
    Pasagens do filme :
    “Nenhum homem que leu Austen deixa sua esposa porque é melhor para outra mulher.”
    “Não é geralmente incivilidade a essência maior do amor ?”
    “Ler Austen é como andar num campo minado.”
    Há uma frase da Prudie em que ela diz: ” A Jane (Austen) nunca mostra o que aconteceu depois do casamento ” , da Lizzie e Mr. Darcy em “Orgulho e Preconceito”. E isto me lembrou que eu comentei lá na página do filme que , quando eles conseguem finalmente ser felizes, o filme acaba. Tudo bem , fica entendido que eles foram muito felizes mas, poderíamos ver um pouquinho da mesma.
    E a Prudie quase sucumbiu, não foi, Sergio?
    E a Allegra era lésbica,que desperdício. . .
    Todo o elenco, todos estão ótimos .
    Nossa !! Maria Bello além de grande atriz é um verdadeiro ” A 380 ” .
    Minha sogra chamava-se Maria Rosa Bello.
    Mari Rosa, humm… isto me lembra Lupiscinio e Jamelão . . .
    As músicas são bonitas e gostei muito daquela que encerra o filme com os créditos subindo, “Getting Some Fun Out Of Life” com Madeleine Peyroux
    Jane Austen , me apaixonei por ela .
    Um abraço !!

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