The Cooler – Quebrando a Banca / The Cooler


Nota: ★★½☆

Anotação em 2005, com complemento em 2008: Este é mais um dos incontáveis filmes sobre Las Vegas – mas tem a conhecida competência de William H. Macy, um grande ator, uma trama com pontos muito interessantes e o que para mim foi uma revelação: a atriz Maria Bello.

Las Vegas poderia ser um dos que eu chamo de subgêneros do cinema americano, tantos são os filmes que se fizeram e continuam se fazendo sobre ela. Vamos ver, assim, sem nenhuma sistematização ou pesquisa, só com o que vem à cabeça, de primeira (depois posso pôr os anos e os títulos originais e/ou brasileiros. Cassino, de Martin Scorsese. The Only Game in Town, com Liz Taylor e Warren Beatty, de George Stevens. O Cavaleiro Elétrico, de Sydney Pollack, com Robert Redford e Jane Fonda. Onze Homens e um Segredo/Ocean’s Eleven – o original, com Frank Sinatra e seu Rat Pack, a refilmagem feita por Steven Soderbergh e suas continuações. O Amor Custa Caro/Intolerable Cruelty, dos irmãos Coen. Despedida em Las Vegas/Leaving Las Vegas, terrivelmente deprê, com Nicholas Cage bebendo até morrer ao lado da prostituta interpretada por Elisabeth Shue. Bugsy, com Warren Beatty como o gângster que inventou Las Vegas. A trilogia Poderoso Chefão/The Godfather, de Francis Ford Coppola. Viva Las Vegas, o musical de George Sidney com Elvis Presley e Ann-Margret. E por aí vai, ad infinitum, ad nauseam.

Náusea, aliás, é um conceito que combina com Las Vegas.

Las Vegas é uma espécie assim de metáfora óbvia dos Estados Unidos, do sonho americano, da corrida desesperada por dinheiro, da esperança de ter sorte, de a sorte mudar – além de ser também sinônimo de coisa fortuita, que dura pouco, que fenece depressa, como tantos casamentos, e da tentativa da segunda chance, o começar de novo, pois o lugar é também a capital do divórcio. E ainda tem aquela coisa de cidade que nasceu no meio do deserto, do nada, como invenção de um bandido, um gângster. E aquelas luzes todas de neon, feéricas, o kitsch do kitsch do kitsch, tudo falso que nem nota de 3, pirâmides e castelos e a imitação de tudo o que o dinheiro pode comprar. E muita, muita tristeza, desilusão, ressaca braba.

Bem. Tentando parar o viajandão e voltando a este filme, é o seguinte: William H. Macy, com aquele rosto de pessoa comum, gente como a gente, aquela marca de tristeza e desamparo, está excelente; é uma de suas melhores interpretações, assim como a do comerciante de carros em Fargo. Ele faz o papel de um sujeito azarado até os ossos, um perdedor, um fracassado, que é contratado pelo chefão de um cassino (Alec Baldwin) para esfriar – daí o título original, The Cooler – a sorte de quem está ganhando. Ele chega perto de um sujeito que está ganhando e o cara começa a perder.

Baldwin, em um papel que lhe deu indicação ao Oscar, faz um personagem de uma violência sem tamanho, absurda, que representa a velha guarda do negociante da cidade do jogo. Ele próprio está com o emprego sob ameaça, porque os caras que estão acima dele na linhagem da bandidagem querem testar outros métodos mais modernos, mais refinados. Então temos também um enviado pelos chefões para ficar de olho no chefão do cassino – e esse cara, obviamente, vê com desprezo essa coisa do esfriador; acha que isso é crendice boba, primitiva, irracional.

E é claro que a sorte do nosso esfriador muda; não se sabe por quanto tempo, mas, pela primeira vez na vida dele, muda. Parte da mudança vem na figura de uma garçonete do cassino, uma pobre mulher infeliz, solitária, marcada pela vida dura – um papel que parece cair como uma luva para Maria Bello. O azarado e a garçonete, esses dois destituídos, dois alijados do sonho americano, se encontram e por um momento parece que as coisas vão melhorar para eles.

Segue-se uma espiral de violência, antes que venha o final.

Maria Bello não é uma atriz de grande, especial beleza. Até ao contrário – tem um rosto meio comum, de vizinha da gente ou colega de trabalho. Mas tem dois diferenciais: é boa atriz – e transpira uma sensualidade absurda, uma coisa assim que poucas outras atrizes possuem. A que mais faz lembrar isso é Ellen Barkin, outra boa atriz de rosto que não chega a ser belo, mas que é uma faísca na tela. Maria Bello não é tão nova quanto outras estrelas em ascensão, como Natalie Porter ou Scarlett Johansson; nasceu em 1967, estava com 36 anos quando fez este filme, em 2003. De 2003 para cá, já fez 18 outros filmes, alguns deles bem bons.

Mary reparou que o filme – ao contrário do que aconteceu naqueles outros todos que citei sobre Las Vegas – quase não mostra a cidade. O diretor Wayne Kramer optou por fazer o filme em interiores – os cassinos, quartos de motel, garagens. A Las Vegas que ele mostra não é nada feérica, é só o lado sombrio.

The Cooler – Quebrando a Banca/The Cooler

De Wayne Kramer, EUA, 2003.

Com William H. Macy, Alec Baldwin, Maria Bello, Paul Sorvino

Argumento e roteiro Frank Hanna e Wayne Kramer

Música Mark Isham

Produção Content Film

Cor, 101 min.

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