2.5 out of 5.0 stars
Anotação em 2009: Uma comédia escrachada sobre gente que gosta de filmes, sobre filmes, locadora de vídeo, o VHS e o DVD, dirigido por Michel Gondry, o autor do excelente Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças/Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Garantia de ótimos serviços prestados, certo? É, mas…
Mas a verdade é que o filme demora muito para engrenar – ou então Mary e eu demoramos muito para entrar na lógica da total falta de lógica, o non-sense puro da história – o argumento e o roteiro são do próprio Michel Gondry. O começo, a primeira meia hora, 40 minutos, nos pareceram bobos demais, bocós, muito daquele tipo Loucademia de Polícia I, II, III, XL, e até meio sem graça. Até porque agüentar Jack Black eternamente fazendo as caretas de Jack Black é dose para elefante.
É assim: Jerry (Jack Black – haja saco) é um sujeito muito doidão, piradérrimo, daquele tipo que vê teoria conspiratória da história em todo canto, e quer lutar contra o sistema, o FBI, o governo, porque acha que “eles” estão querendo nos transformar em máquina; daí então que ele planeja um ato terrorista – vai a uma estação de energia elétrica para destruí-la, deixar sem luz a cidade em que vive. Leva um choque de uns 10 mil volts, fica absolutamente elétrico, magnetizado, e, ao entrar na locadora de vídeo do venerável Sr. Fletcher (Danny Glover), apaga todos os filmes – as fitas VHS ficam em branco.
A locadora do Sr. Fletcher chama-se Be Kind Rewind, ou Rebobine, Por Favor, em um prédio centenário da cidade de Passaic, em Nova Jersey. É uma relíquia, uma peça histórica, um anacronismo. Fletcher não aluga DVDs, só fitas em VHS; bem velhinho, é um homem apegado ao passado; garante que ali, naquele mesmo prédio hoje caindo aos pedaços numa esquina de Passaic, nasceu Fats Weller (1904-1943), um dos maiores pianistas da história do jazz.
Com uns dez minutos de filme, arruma-se um pretexto para Fletcher sair da cidade por uns dias; ele deixa a loja sob os cuidados de seu assistente Mike (Mos Def), com a instrução de manter Jerry, o doidão amigo de Mike, fora da loja. Mike não segue a ordem, e dá no que dá: o magnetizado Jerry desmagnetiza todo o acervo da locadora.
É aí que vem a idéia de Mike e Jerry: vão, eles mesmos, com a ajuda de uma câmara de filmar (pré-digital, obviamente), fazer os filmes para botar dentro das caixinhas. O primeiro que fazem – a pedido de uma cliente fiel, a Srta. Falewicz (Mia Farrow) – é Ghost Busters – Os Caça-Fantasmas.
A partir daqui o filme começa a engrenar.
Mike, Jerry, e depois também Alma (Melonie Diaz), uma moça da vizinhança, danam a fazer filminhos que tentam seguir a trama básica de diversos filmes de sucesso – Robocob (foto ao lado), Conduzindo Miss Daisy, O Rei Leão, A Hora do Rush 2, Quando Éramos Reis/When We Were Kings e muitos, muitos outros. É a sátira da sátira da sátira – depois de tantos filmes tipo Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu, ou Spaceballs – SOS Tem um Louco Solto no Espaço, que gozam os grandes sucessos do cinemão americano, agora temos três neguinhos recriando os filmes de forma caseira, louquíssima.
E é claro que dá certo, a notícia se espalha, a audiência cresce, surgem filas imensas de consumidores interessados nos filmes “suecados” por aqueles doidões.
Então temos, lá pela metade do filme, várias seqüências hilariantes, bem boladas, bem sacadas, mostradas, aí sim, com a criatividade que Michel Gondry havia demonstrado em Brilho Eterno… Mas demora para chegar lá.
Esse Mos Def é um famosíssimo nome do novo hip-hop. Como eu não conheço nada de hip-hop, nem do velho, nem do novo, e sequer sabia que existe um novo hip-hop, não conhecia o rapaz – embora o iMDB contabilize mais de 30 filmes e/ou episódios de TV com ele. Me pareceu que ele faz assim uma imitação daqueles negros do Sul dos velhos filmes de John Ford, tipo O Juiz Priest – um sujeito bom, de grande coração, mas meio bronco, meio até imbecil, embora, paralelamente, capaz de ter grandes sacadas. Acaba sendo até interessante ver um tipo assim, comum no cinema dos anos 30, mas inteiramente deslocado, anacrônico (como a loja de vida do Sr. Fletcher) nestes novos tempos do politicamente correto. É bem provável que umas 37 organizações de afro-americanos tenham feito campanha contra o filme por retratar de forma não respeitosa um membro da categoria.
Uma das melhores coisas do filme – além das tais seqüências em que os protagonistas recriam os títulos famosos – é o surgimento, em participação especial, aos 35 minutos do segundo tempo, da deusa Sigourney Weaver, ela mesma a estrela de Ghost Busters, o primeiro filme que os doidões refazem, ou “suecam”, como eles dizem. Ela aparece pouco tempo – mas aí a tela brilha.
É interessante que Michael Gondry tenha partido de idéias tão malucas, tão non-sense, para, no fundo, no fundo, querer contar uma história sobre solidariedade, amizade, cooperação no meio de uma comunidade pobre, em que todos acabam se juntando na tentativa de preservar seus valores. Fica assim um troço esquisito, um filme que começa com um tom de Mel Brooks e vai terminar à la Frank Capra.
Rebobine, por Favor/Be Kind Rewing
De Michel Gondry, EUA, 2008
Com Jack Black, Mos Def, Danny Glover, Mia Farrow, Melonie Diaz e, em participação especial, Sigourney Weaver
Argumento e roteiro Michel Gondry
Produção . Estreou em SP 12/12/2008, nos EUA 22/2/2008
Cor, 102 min.
**1/2
Título em Portugal: Por Favor Rebobine
Senti exatamente a mesma coisa. Nos primeiros 40 minutos fiquei em dúvida se continuava ou não assistindo. De repente, o filme tornou-se magnífico. Como disse a própria personagem de Farrow, “um filme simples e sensível”.
Adorei o filme. O começo não pega mesmo, mas as seqüências de filmes sao hilariantes. Rachei de rir. Realmente torna-se magnifico. Vale muito ver. Merecia mais estrelas!!! rs