Vida de Casado / Married Life


Nota: ★½☆☆

Anotação em 2010: Este filme de 2007, dirigido por Ira Sachs, de quem nunca tinha ouvido falar, tem ótimos atores: Chris Cooper, Patricia Clarkson, Pierce Brosnan, e ainda Rachel McAdams, uma moça que tem feito bons filmes, atriz em ascensão. Mas me pareceu fraco.

Na verdade, o filme pretende ser uma homenagem aos melodramas familiares da década de 40, conforme só fiquei sabendo depois de vê-lo. Admito, não sem uma dose de vergonha, que não entendi, enquanto via o filme, o que o diretor Ira Sachs pretendia. A sensação que tive foi de que o autor não soube se definir quanto ao tom que daria à história.

O filme começa com uma apresentação – os créditos iniciais –  deliciosa, caprichadíssima, com desenhos e colagens que mostram casais, flores, ao som de uma velha canção com Doris Day, “I can’t give you anything but love”, de Dorothy Fields e Jimmy McHugh. A beleza gráfica, o grande cuidado com que foram feitos os créditos iniciais – que fazem lembrar algumas belas criações do cinema americano nos anos 60, a época de Saul Bass –, mais a canção romântica de Doris Day, indicam um tom de comédia romântica.

A abertura do filme, a primeira seqüência, também é em tom de comédia romântica, com uma dose de irônica amargura. Vemos Chris Cooper através da janela de seu escritório em um grande prédio de uma grande cidade – deve ser Nova York, mas não se explicita -, enquanto a voz de Pierce Brosnan, que será o narrador da história, diz o seguinte, com uma pequena pausa entre cada frase curta:

– “Este é meu amigo Harry Allen. Ele é casado. Gosta da esposa. Às vezes isso acontece. Eu? Sempre achei que o casamento era uma virose passageira, como gripe ou catapora, à qual sou imune.”

E em seguida Harry, o personagem de Chris Cooper, marca um almoço com seu maior amigo, Richard (o narrador, o personagem de Pierce Brosnan), porque tem algo muito importante a dizer. E conta que quer se separar de Pat, sua mulher (o papel de Patricia Clarkson – o casal está na foto acima). Não quer magoá-la, gosta muito dela, não sabe como terá coragem de falar com ela, mas deseja se separar.

Qualquer um faria a pergunta que Richard faz em seguida:

– “Qual é o nome dela?”
Depois de meio minuto de espanto diante da pergunta óbvia, Harry entrega: o nome dela é Kay, Kay Nesbitt. E pouco depois entra no restaurante a própria, na pele de Rachel McAdams.

        Sinais positivos – e uma decepçãozinha

Neste ponto me permito duas pequenas digressões. Minhas anotações sem dúvida não primam pela objetividade.

Primeira digressãozinha: a essa altura do filme, uns oito, dez minutos de ação, eu ainda estava bem confiante em que poderia vir a partir daí uma comédia romântica interessante. O diretor e o roteirista tinham escolhido colocar a ação em 1949, o que não é algo muito comum nas comedinhas românticas, em geral passadas hoje, quer dizer, claro, no ano em que foram feitas. Um sinal positivo. Outra característica interessante é o fato de dois dos principais protagonistas serem exatamente Chris Cooper e Patricia Clarkson, ótimos atores, mais presentes em filmes independentes do que em produções do cinemão hollywoodiano – outro sinal positivo. Bom essa coisa de se fazer uma comédia romântica com pessoas da meia idade, e não com jovenzinhos, ou no máximo gente na faixa dos 30. Sinal positivo!

Estava, portanto, com ótima disposição para ver o filme.

Aí – a segunda digressãozinha – entra em cena Kay Nesbitt, na pele de Rachel McAdams, e percebi que não era a jovem atriz que eu estava esperando. Tinha confundido Rachel McAdams, nascida em 1978, e que já havia visto trabalhar bem num bom filme, Intrigas de Estado/State of Play – só que em Intrigas de Estado ele está morena, e aqui faz uma Kay Nesbitt loura platinada – com outra Adams, Amy Adams, nascida em 1974, que trabalhou em três bons filmes que vi recentemente, A Vida num Só Dia/Miss Pettygrew Lives for a Day, Dúvida/Doubt, os dois de 2008, e Julie & Julia, de 2009.    

Uma pequena decepção, porque estava esperando ver Amy Adams, e não Rachel McAdams; acho Amy mais bonita e melhor atriz que Rachel. Mas isso é só um pequeno detalhe. Vamos em frente.

         Thriller, comédia de humor negro, drama de costumes

À medida em que ia se desenvolvendo a trama, ao redor desses quatro personagens, esse quadrado – Harry, sua mulher Pat, sua amante Kay e seu amigo Richard, os dois últimos na foto –, comecei a sentir falta de alguma graça. Ué, mas não é uma comédia romântica?

Não é. Lá pelos 30 minutos, 40 minutos, o filme se transforma em algo meio drama-thriller-policial, meio comédia de humor negro.

Depois vira meio drama de costumes, com ácidas observações sobre traição, falsidade, mentira, ninguém sabe o que se passa na cabeça da pessoa que dorme ao seu lado todo dia.

Ou seja: é um filme que não encontrou um tom. Tem tons demais, o que é a mesma coisa de não ter tom algum.

         Confesso: foi falta de percepção. Mas…

Vou atrás de informações e outras opiniões.

Este é o quarto longa-metragem do diretor Ira Sachs, nascido em Memphis, em 1965. Não vi nenhum de seus filmes anteriores.

Ah, bingo: um leitor do iMDB diz que o filme é uma homenagem aos melodramas familiares feitos pelo cinema americano pós-Segunda Guerra! A besta aqui não tinha percebido isso. Sim, de fato há uma centena de filmes desse subgênero, entre os quais diversos bons e ótimos filmes – basta lembrar de O Homem do Terno Cinza, Deus Sabe Quanto Amei, O Mercador de Ilusões, Êxtase de Amor, Casei-me com um Morto, para citar apenas alguns que já estão neste site, e para não falar do grande clássico, do mais perfeito exemplo, Os Melhores Anos de Nossas Vidas, de William Wyler, de 1946. Foi falta de sensibilidade minha, de percepção, não ter entendido que este filme pretende ser uma homenagem ao subgênero.

Sim: isso explica a escolha de personagens de meia idade como protagonistas da trama. Era como se fazia no final dos anos 40, início dos anos 50 – e não se faz mais, ou se faz pouquíssimas vezes, porque o alvo principal do cinemão comercial passou a ser o público adolescente. 

Mas a verdade dos fatos é que é uma homenagem que não deixa muito claro o que pretende – e tem coisas bem fraquinhas. Tome-se, por exemplo, esta frase de Kay, que diz muito a respeito do filme:

– “A mulher precisa ser amada, e isso é verdade. Mas não é toda a verdade. Ela também precisa de alguém para amar.”

Que profundo, siô!

Michael Buening, no AllMovie, fez uma resenha 200 vezes melhor que minha mal traçada anotação:

“Com boas atuações mas frágil, Married Life parece ser uma desculpa para péssimas piadas sobre casamento. (E aqui ele entrega um spoiler, que pulo. Mas em seguida vai ao ponto certo.) A trama é tão entediante e inconvincente quanto parece. É tudo 1949 – dos Plymouths, canções de Doris Day e McAdams platinada à la Kim Novak para lembrar os film noir e os elementos de drama familiar desfiados pelo roteiro. (…) Dado o seu final, não fica claro se era para o filme ser uma piada de mau gosto ou uma piada doce.”

É exatamente isso aí. O cara sintetizou e descreveu melhor que eu.

Vida de Casado/Married Life

De Ira Sachs, EUA-Canadá, 2007

Com Pierce Brosnan (Richard Langley), Chris Cooper (Harry Allen), Rachel McAdams (Kay Nesbitt), Patricia Clarkson (Pat Allen), David Wenham (John O’Brien) 

Roteiro Ira Sachs e Oren Moverman

Baseado no livro de John Bingham 

Fotografia Peter Deming 

Música Dickon Hinchliffe

Produção Sidney Kimmel Entertainment, Anonymous Content

Cor, 91 min

*1/2

6 Comentários para “Vida de Casado / Married Life”

  1. Legal ,não vou assistir! Agora, dizer, q a Amy Adams é mais bonita do q a Rachel madams , é, vc entrou em contradição rs

  2. Olá, Dangelo!
    Obrigado por seu comentário.
    Mas não entendi quando você diz que eu entrei em contradição… Reli o texto (aliás, bem ruinzinho), e não vi contradição. Acho de fato a Amy Adams muito mais bonita que a Rachel McAdams…
    Um abraço!
    Sérgio

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *