Raízes do Céu / The Roots of Heaven

 

 

 

 

 

(Disponível no YouTube em 2/2024.)

No longínquo 1958, vários anos antes de surgir o movimento ambientalista, décadas antes de as instituições internacionais e os governos dos países reconhecerem que a humanidade está pondo em sério risco o planeta em que vivemos, o grande John Huston lançou um filme que fazia um alerta assertivo, forte, virulento, sobre os perigos da destruição da natureza.

O tema específico de Raizes do Céu/The Roots of Heaven – baseado no premiado romance Les Racines du Ciel, do escritor, diplomata e veterano aviador da Segunda Guerra Romain Gary, publicado dois anos antes, em 1956 – é a caça, a dizimação, o perigo de extinção dos elefantes. Mas os elefantes são, obviamente, uma metáfora para toda a natureza.

Não é considerado um grande filme, nem um dos melhores do diretor excepcional – mas um John Huston, qualquer que seja, é melhor que boa parte dos filmes. Tem uma imensa quantidade de belíssimas sequências filmadas nas selvas africanas, diálogos esplendorosos, marcantes, grandes astros em belas interpretações. É uma obra feita com paixão por um dos maiores cineastas do século XX – e é absolutamente irônico lembrar que ele próprio tinha prazer em caçar.

O protagonista, o herói da história, Morel (o papel do inglês Trevor Howard, na foto abaixo), é um daqueles homens gigantescos, que lutam por seu ideal sem vacilações, sem dúvidas, sem descanso – obstinadamente, loucamente, quixotescamente. Daqueles homens que, como diria Bertold Brecht, são os imprescindíveis.

– “Este homem, Morel, na verdade não está defendendo os elefantes”, diz, no meio do bar em que todos criticam a campanha de Morel para banir a caça aos elefantes, o ex-militar britânico Dick Forsythe, interpretado por Errol Flynn, um dos maiores astros do cinema americano de todos os tempos. – “Ele está nos defendendo. Estamos todos ameaçados de extinção.”

Gostaria de ter todos os filmes de John Huston no meu site, mas é claro que não vou conseguir. São muitos filmes – 47 ao todo; no site estão comentários sobre apenas uma dúzia deles, contando com este aqui. Não tinha visto ainda Raízes do Céu. Ainda bem que existe o YouTube.

Um idealista começa a campanha – e vai obtendo apoios

O veterano naturalista Peer Qvist (o papel de Friedrich von Ledebur) responde com uma beleza de declaração ao enviado do governo, Saint Denis (Paul Lukas), que o questiona por ter se unido à campanha de Morel contra a caça aos elefantes. Saint Denis diz a ele: – “Monsieur Qvist, quando lhe ofereceram hospitalidade na África Equatorial Francesa, imaginava-se que tivesse vindo para uma missão científica.” Ele não diz, mas fica claro que pretendia dizer: “Não era para vir interferir nas atividades econômicas do país”.

A resposta do velho naturalista é o cerne do que o livro de Romain Gary e o filme de John Huston querem dizer. É dela que se extrai o título tanto da obra literária quanto do filme – e dá para imaginar que no filme ela seja fiel à dita no romance, já que o romancista assina o roteiro deste Raízes do Céu, ao lado de Patrick Leigh-Fermor:

– “Eu protejo todas as espécies. Todas as raízes vivas que o céu plantou na Terra. Tenho lutado toda a minha vida por sua preservação. O homem está destruindo as florestas, envenenando os oceanos, envenenando o próprio ar que respira com radiação. Os oceanos, as florestas, os animais, a humanidade são as raízes do céu. Envenene as raízes do céu e as árvores morrerão. As estrelas se apagarão e o céu será destruído.”

O cerne, o significado da história. O herói, o quixotesco idealista Morel. Dick Forsythe, o ex-militar britânico que vive bêbado, mas enxerga melhor que a imensa maior parte das pessoas do lugar. O naturalista Peer Qvist, que, como Forsythe, adere ao exército Brancaleone de Morel. O lugar em que se passa ação, a África Equatorial Francesa. Já citei tudo isso. O que falta é um resumo da trama, uma sinopse.

Tomo como base uma boa sinopse escrita no IMDb por um leitor chamado Les Adams. As sinopses devem trazer o nome dos atores, então repito os que já foram citados.

Em Fort Lamy, África Equatorial Francesa (região que viria a ser a República do Congo), o idealista Morel (Trevor Howard) lança, solitariamente, uma campanha para preservar da extinção os elefantes. A princípio, ele tem o apoio apenas de Minna (o papel de Juliette Gréco), que cuida de um bar-nightclub de propriedade de um sujeito meio sem caráter, Habib (Gregoire Aslan), e um major britânico agora na reserva, Forsythe (Errol Flynn, na foto abaixo). Mais tarde, um renomado naturalista, Peer Qvist (Frederick Ledebur), também adere.

A cruzada de Morel acaba ganhando grande ímpeto quando passa pela região um jornalista da TV norte-americana, tão famoso quanto exagerado, presunçoso, teatral, Cy Sedgewick (um papel perfeito para o histrionismo de Orson Welles, em participação especial). Sedgewick fica impressionado com a luta daquele idealista, e passa a falar sempre dele em seu programa.

Morel abandona sua postura pacifista, legalista, e passa a praticar ações tipo guerrilha contra os grandes caçadores de elefantes. Nessa altura, ele tem o apoio também de Waitari (Edric Connor), um dublê de líder político revolucionário com senhor de guerra, que tem entre os seguidores um grande grupo armado.

A luta de Morel vai ganhando apoio do povo – e atraindo a oposição do governo da possessão francesa e dos grupos milionários de caçadores e contrabandistas de marfim.

 “Um livro profético”, definiu John Huston

Vários dos mais de 30 romances de Romain Gary (1914-1980), alguns assinados com seu pseudônimo de Émile Ajar, foram transformados em filmes – se minhas contas a partir da filmografia dele no IMDb estiverem certas, foram 18 filmes baseados em obras do romancista. Ele chegou a se aventurar na direção: em 1968, lançou Desejo Insaciável/Les Oiseaux Vont Mourir au Pérou, com roteiro dele, baseado em história original dele. E em 1971 lançou Kill, também com roteiro original dele. Esses dois filmes que dirigiu foram estrelados por Jean Seberg, com quem foi casado entre 1962 e 1970.

Les Racines du Ciel foi seu quinto livro, e venceu o Goncourt, o mais importante dos prêmios literários da França, em 1956. No ano seguinte, foi traduzido para o inglês – e apenas dois anos depois do lançamento, virou o filme de John Huston.

Todas as sequências de exteriores foram rodadas de fato na África, na região que na época era a África Equatorial Francesa. Vejo agora que foi exatamente em 1958, o ano de lançamento do filme, que parte do que era a África Equatorial Francesa passou a ser a República do Congo, que ganharia completa independência em 1960.

É fundamental lembrar que não era novidade para John Huston, o mais aventureiro de todos os cineastas, filmar em plena selva africana. Em 1951, ele já havia levado para a África Central os astros Humphrey Bogart e Katharine Hepburn e mais uma grande equipe de técnicos para filmar aquela deliciosa, maravilhosa obra-prima que é Uma Aventura na África/The African Queen.

Huston fala bastante de Raízes do Céu em sua fascinante, apaixonante autobiografia, An Open Book, de 1980, lançada no Brasil em 1987 pela LP&M, em tradução de Milton Persson. “Duas ou três pessoas me falaram de Raízes do Céu, de Romain Gary, que tinha recebido o prêmio Goncourt na França. Li o livro, gostei, me reuni com Gary – na época cônsul francês em Los Angeles – e conversamos sobre a idéia de transformá-lo em filme.”

Huston sintetiza a importância da obra de Gary em uma frase perfeita: “Raízes do Céu era um livro profético, antecipando as preocupações dos ecologistas modernos”. E ele diz isso em um livro lançado em 1980!

Zanuck que amava Juliette Gréco que falava mal dele

Aconteceu que o grande e poderoso produtor Darryl F. Zanuck havia comprado os direitos para a adaptação do livro – e procurou Huston para que fizessem o filme juntos. Seria a primeira colaboração dos dois, embora se conhecessem, fossem amigos. Huston conta que chegou a ficar ressabiado, por não querer ter nova experiência com “outro produtor impositivo”, depois de ter feito Adeus às Armas com o também todo-poderoso David O. Selznick. Mas aceitou a proposta – e, ao longo de todo o capítulo em que fala de Raízes do Céu, o de número 25 dos 37 de sua autobiografia, só tem elogios para Zanuck.

“Sua única exigência foi que Juliette Gréco desempenhasse o principal papel feminino. Gréco, ex-cantora de boates, era amiga de Simone de Beauvoir, Albert Camus e outros existencialistas franceses. Quase todas as letras de suas canções refletiam a filosofia desse movimento

filosófico. Eu já havia assistido a um de seus recitais e constatado o magnetismo que se irradiava dela no palco.”

Mais adiante, Huston narra que logo percebeu, durante as filmagens na África, que Zanuck estava apaixonado pela atriz e cantora – e não era correspondido. “Ela se mostrava francamente grosseira com ele, falando mal pelas costas – inclusive comigo, até que dei um basta.”

Faço um rápido parênteses para registrar que pouco depois Darryl F. Zanuck reincidiria na coisa de escalar para filmes produzidos por ele a mulher que amava – e, de novo, foi uma francesa, Irina Demick. Zanuck providenciou para ela o papel de uma lutadora da Resistência Francesa da supersuperprodução O Mais Longo dos Dias/The Longest Day (1962), que reconstitui o Dia D, o dia da invasão da Normandia pelas tropas aliadas.

Sempre soube da história de Zanuck e Irina Demick. Vejo agora na Wikipedia que, antes de escalar Juliette Gréco como Minna ele já havia tentado impulsionar a carreira da polonesa Bella Darvi – e, depois de Irina Demick, ainda fez o mesmo com uma quarta atriz européia, Geneviève Gilles, francesa de ascendência romena.

A luta entre Huston e Errol Flynn, uma história fantástica

John Huston e Errol Flynn haviam tido uma briga feia, horrorosa, anos antes – e não uma briga de argumentos, palavras, mas de braços, punhos, mãos. E havia sido em uma festa na casa do outro produtor todo-poderoso e mandão, David O. Selznick. (Que, aliás, com perdão pela interrupção, havia feito com Jennifer Jones exatamente o que Zanuck fez com as quatro atrizes citadas: tentando transformá-la em uma estrela gigantesca. Mas essa é outra história.)

Tinha sido de fato muito antes, ainda nos anos 40, durante a Segunda Guerra Mundial. Encontraram-se em um dos saguões da mansão de Selznick, cada um com um copo na mão. “Resolveu me provocar”, conta Huston, no capítulo 8 de sua autobiografia. “Não demorou muito para dizer qualquer coisa de infame a respeito de alguém – uma mulher em quem eu já havia andado interessadíssimo e a quem ainda dedicava profunda afeição. Fiquei indignado com o comentário e retruquei: – ‘É mentira! E mesmo que não fosse, só um filho da puta seria capaz de repetir uma coisa dessas!’ Errol perguntou se eu queria chegar às vias de fato, e eu respondi que sim. Saiu na minha frente e fomos para os fundos do jardim – sozinhos. Ninguém notou nossa ausência da festa.”

É necessário registrar: tanto John Huston quanto Errol Flynn haviam treinado boxe quando mais jovens.

“Não sei quanto tempo durou aquilo”, escreveu John Huston. “Eu estava em ótima forma física e Errol era um grande atleta e bom pugilista; sabia se defender e contava com uns 12 quilos de vantagem sobre mim.”

Mais adiante: “A briga, a essa altura, já durava quase uma hora. Não houve nenhum golpe sujo. Tudo se passou rigorosamente de acordo com as normas do marquês de Queensberry – por isso tiro meu chapéu para Errol Flynn.”

Bem, para não encompridar demais, lá pelas tantas – segundo o relato de Huston – as pessoas da festa saíram até o jardim, viram a luta e apartaram os dois boxeadores. “Errol baixou ao hospital naquela noite, enquanto eu pernoitava na casa dos Selznicks e ia para outro hospital na manhã seguinte.”

Passaram quase 12 anos sem se ver.

Quando estavam se preparando para filmar Raízes do Céu, Darryl F. Zanuck perguntou a Huston se ele tinha objeção a fazer sobre a escolha de Errol Flynn para o papel de Dick Forsythe. “Claro que não, pois achei que seria perfeito para o papel. Ele apareceu logo depois da nossa chegada (à África) e nós dois nos apertamos as mãos. Era nosso primeiro encontro desde aquela noite sanguinolenta séculos atrás em casa de Selznick.”

Huston detestou o roteiro, e achou que o filme não ficou bom

Que história, meu Deus!

Acabei me alongando ao reproduzir o que John Huston conta sobre o filme, mas é que o cara escreve da mesma maneira envolvente, agradável, deliciosa com que filma. Dá vontade de transcrever outras passagens do capítulo em que ele fala sobre as difíceis condições que a grande equipe teve que enfrentar durante as filmagens, no calor insuportável que chegava a 50 graus e de noite não baixava para menos de 40, as doenças que afligiram dezenas e dezenas de pessoas…

Mas vou agora me concentrar no mais importante do que o cineasta diz sobre o filme em sua autobiografia: John Huston não gostou do roteiro, e não gostou do resultado final.

Encomendou o roteiro a um querido amigo seu, Patrick Leigh Fermor, “escritor e homem absolutamente excepcional”. Quando recebeu o roteiro, não gostou nada. “O livro de Gary apresenta uma proposição filosófica bastante incisiva, mas o argumento que eu tinha agora nas mãos destinava-se a um filme de ação – bem fraco, por sinal. Os escritores de talento pouco familiarizados com a linguagem cinematográfica tendem a popularizar o material que lhes dão para adaptar para a tela. Não querem parecer literários e por isso vão se inclinando para trás, cada vez mais, e acabam levando um tombo. Foi o que aconteceu nesse caso. O que me entregaram era uma sucessão de cenas de ação sem a mínima coerência ideológica.”

Há aí um detalhe. Os créditos dão que o roteiro é de Romain Gary e Patrick Leigh Fermor, mas Huston não cita Gary como tendo participado da redação do screenplay.

Huston argumenta que chegou a pensar em adiar o início das filmagens, para talvez conseguir um roteiro melhor – mas o produtor Zanuck já estava com tudo preparado para o início das filmagens nas selvas africanas. “Seria inconcebível optar por essa alternativa (adiar a produção), mas hoje, pensando bem, acho que era o que deveríamos ter feito. Tem horas em que o inconcebível é a única solução.”

Um grande elenco. Howard, Flynn e Juliette estão excelentes

Os críticos, de maneira geral, parecem concordar com o próprio autor: para eles, Raízes do Céu não é um bom filme.

Antes de transcrever algumas opiniões, no entanto, gostaria de registrar alguns pontos sobre os atores e o que lá eles chamam de “billing”, a ordem com que os nomes dos atores aparecem nos créditos e nos cartazes. Gosto sempre de lembrar e enfatizar que essa ordem de colocação dos nomes – que ainda tem peso hoje em dia – era importantíssima na era dos estúdios. Tinha grande valor para o ego dos artistas, que disputavam a ferro e fogo o “top billing”, o primeiro lugar, antes do título – mas também para o marketing dos filmes. Muitas vezes, a ordem dos atores nos créditos iniciais e nos cartazes não condizia, de forma alguma, com a importância de seu personagem no filme. É exatamente o caso aqui.

A ordem nos créditos é cartazes é Errol Flynn, Juliette Gréco (sem o acento, já que no Inglês isso não existe), Trevor Howard, Eddie Albert – e Orson Welles.

Na realidade, o monstro Orson Welles aparece na tela durante uns 4, no máximo 5 minutos dos 126 que dura o filme. É, de fato, uma participação especial, um “cameo role”, como eles chamam.

O personagem interpretado por Eddie Albert – Abe Fields, um repórter fotográfico aplicadíssimo a seu ofício, que põe o dever de fotografar acima de tudo – só aparece aos 86 minutos dos 126 de duração. Mas Eddie Albert era um ator bastante popular na época do lançamento.

Toda a história se desenvolve em torno de Morel, o idealista, o Don Quixote que começa sozinho uma cruzada para banir a caça aos elefantes na África Equatorial Francesa – mas, para as platéias americanas, o inglês nada galã Trevor Howard – grande ator, excelente no papel central da história –  não era assim propriamente um atrativo, alguém que levasse as pessoas às bilheterias. E daí seu nome aparece em terceiro lugar.

Para o primeiro lugar, no alto, o top billing, foi Errol Flynn, o gigantesco astro, o australiano de belíssima faccia que havia conquistado o coração de milhões de americanas desde que interpretou o Capitão Blood no sucesso arrasador de 1934, passando depois por outros imensos sucessos como A Carga da Brigada Ligeira (1936), As Aventuras de Robin Hood (1938), As Aventuras de Don Juan (1948), A Glória de Amar (1949).

Por uma grande e triste ironia, em 1958, com apenas 49 anos, alcoólatra, cheio de problemas financeiros, Errol Flynn parecia muito mais velho, e sua faccia já não era tão bela. Coube a ele, astro decadente, sempre enfiado na bebida, o papel de um militar decadente, sempre enfiado na bebida – papel que, na minha opinião, executou com maestria. Como era o maior astro do elenco, então ganhou o “top billing”.

Ele morreria no ano seguinte ao lançamento de Raízes do Céu, de ataque cardíaco. Tinha apenas 50 anos de idade.

Para o segundo lugar nos créditos e nos cartazes, o todo-poderoso produtor David O. Selznick, então dono de sua própria empresa, antes de virar o chefão da 20th Century Fox, botou Juliette Gréco. Creio que porque era bom ter uma mulher, um “female interest”, para atrair público às bilheterias. E, mesmo que não fosse lá bem conhecida do público americano, era uma francesa, o que tem lá um certo apelo.

Eu conheço bem pouco destes dois grandes, importantes artistas, o astro de Capitão Blood e As Aventuras de Robin Hood e a cantatriz que passou para a História como “a musa do existencialismo” – mas ver Raízes do Céu me deu imensa curiosidade, vontade de ler sobre eles, saber, nem que seja um pouquinho, fatos sobre eles.

E é fascinante como os dois estão bem em seus papéis – o ex-militar bêbado que enfim vê uma chance de redenção na defesa dos elefantes, e portanto da vida no planeta, e a mulher experiente, amarga, vivida, que havia sido abusada pelos nazistas durante a Segunda Guerra, passara por prostíbulos na França e, desterrada no meio da África, sabia muito bem o que significa sofrer.

O filme não foi bem recebido pela crítica

Leonard Maltin deu apenas 2.5 estrelas em 4 para o filme: “Túrgido melodrama passado na África, com elenco conglomerate filosofando sobre a santidade dos elefantes; livremente baseado em romance de Romain Gary”.

Turgid! O que raios é mesmo túrgido? Ah… Dilatado, inflado, intumescido, inchado. Mas o que será que Maltin quis dizer com conglomerate cast? Cheio de atores estrangeiros, não-americanos? Deve ser. Sei lá.

Jean Tulard não gostou nada, e também fala do elenco grande e multinacional: “Apesar do elenco brilhante, o filme sofre com um roteiro de Romain Gary (é o que ele escreve em seu Guide des Films, o que eu posso fazer?), cheio de um falso humanismo e de um peso simbólico insuportáveis. Falação demais.”

Trop bavardages. Tá, concordo. De fato, o filme tem palavras demais – e também belíssimas imagens. Mas por que o mestre da crítica francesa achou que o humanismo do filme é falso, isso a gente nunca vai saber. O filme destila humanismo, sim – um maravilhoso, bem-vindo humanismo. Frank Capra, o mais humanista de todos os realizadores, aplaudiria.

Cada cabeça uma sentença. O Petit Larousse des Films diz: “Aventureiros de todos os cantos encontram-se na África para esquecer seu passado. Um deles tenta parar a hecatombe sobre os elefantes e encontra um jornalista que alerta a opinião pública. Bela adaptação rodada nos próprios locais da ação.”

Um filme “menor”, “mais fraco” de John Huston é melhor que a imensa maioria dos filmes lançados a cada ano.

Anotação em fevereiro de 2024

Raízes do Céu /The Roots of Heaven

De John Huston, EUA, 1958

Com Trevor Howard (Morel),

Juliette Gréco (Minna),

Errol Flynn (major Dick Forsythe),

Eddie Albert (Abe Fields, o fotógrafo americano), Paul Lukas (Saint Denis), Herbert Lom (Orsini, o milionário caçador), Gregoire Aslan (Habib, o dono do bar nightclub), Andre Luguet (o governador), Frederick Ledebur (Peer Qvist, o naturalista), Edric Connor (Waitari, o líder revolucionário), Olivier Hussenot (o barão). Pierre Dudan (major Scholscher), Marc Doelnitz (De Vries), Dan Jackson (Madjumba), Maurice Cannon (Haas), Jacques Marin (Cerisot), Habib Benglia (Korotoro), Bachir Toure (Yussef), Roscoe Stallworth (N’Dolo), Assane Fall (Inguele), Francis de Wolff (padre Fargue)

e, em participação especial, Orson Welles (Cy Sedgewick, o jornalista famoso)

Roteiro Romain Gary, Patrick Leigh-Fermor

Baseado no romance homônimo de Romain Gary

Fotografia Oswald Morris

Música Malcolm Arnold, Henri Patterson

Montagem Russell Lloyd

Direção de arte Stephen Grimes, Raymond Gabutti

Figurinos Rosine Delamare

Produção Darryl F. Zanuck, Darryl F. Zanuck Productions, distribuição 20th Century Fox

Cor, 131 min

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