O Beijo Diante do Espelho / The Kiss Before the Mirror

Nota: ★★★☆

(Disponível no Cine Antiqua do YouTube em 10/2021)

Adultério. Infidelidade conjugal. Mulheres infiéis, adúlteras. Esse é tema que tanto a literatura quanto o cinema adoram – a Madame Bovary de Gustave Flaubert, por exemplo, virou filme pelo menos nove vezes, e a Anna Kariênina de Liev Tolstói, foi protagonista de 34 filmes e/ou séries, se minha rapidíssima pesquisa estiver correta.

Esse é o tema de O Beijo Diante do Espelho/The Kiss Before the Mirror, que o inglês James Whale filmou em 1933, entre um grande clássico de horror da Universal e outro. James Whale (1889-1957), é preciso lembrar, foi o realizador que fez o Frankenstein de 1931, O Homem Invisível de 1933, A Noiva de Frankenstein de 1935, todos eles clássicos do terror, uma especialidade que garantiu rios de dinheiro ao estúdio naquela década.

Aqui, James Whale mostra o horror que é a descoberta de que a pessoa que você ama está traindo você “nos braços de um outro qualquer”, como diria Lupicínio Rodrigues.

O filme tem algumas interpretações equivocadas, exageradas, algumas piadinhas no meio de coisa séria demais. Mas tem diversas qualidades, grandes momentos, diálogos memoráveis. É um bom filme.

O início é muito bem realizado – e surpreendente

A trama é uma esplêndida maravilha – a primeira metade do filme, em especial, é tão fascinante e bem realizada quanto surpreendente.

The Kiss Before the Mirror se baseia numa peça teatral de autoria do húngaro Ladislas Fodor (1898-1978), escritor, jornalista, dramaturgo e roteirista que trabalhou sucessivamente em Budapeste, Viena, Paris, Los Angeles/Hollywood, e depois de volta à Europa, quando, após a Segunda Guerra, passou a trabalhar no cinema da então Alemanha Ocidental.

De maneira tão surpreendente quanto a trama criada por Ladislas Fodor, Hollywood se mostrou extremamente ágil na transposição da peça para o cinema. Segundo o IMDb, a peça estreou em Viena, onde o autor vivia então, em setembro de 1932. Em maio de 1933 este The Kiss Before the Mirror já estreava.

Incrível.

Assim como é incrível também que a peça tenha sido refilmada apenas cinco anos depois – e pelo mesmo diretor! James Whale lançaria, em 1938, Wives Under Suspicion, que os exibidores brasileiros traduziram corretamente – algo raro na época – para Esposas sob Suspeita.

Adultério, mulheres adúlteras – em dois filmes de grande estúdio de Hollywood, na década de 30, a década em que começou a vigorar o Código Hays, o código de autocensura dos estúdios que detestava esse tema.

O Código Hays proibia terminantemente, entre outras coisas: que se falasse de relações sexuais entre pessoas não casadas entre si; que se mostrasse infidelidade conjugal; que se mostrassem ou insinuassem relações sexuais – mesmo entre pessoas casadas; não deveriam ser mostrados casais sequer sentados na mesma cama. (Repare: nos filmes americanos dos anos 30 a 60, os casais dormiam sempre em camas separadas.)

Criminosos não poderiam jamais ser mostrados sob uma angulação favorável.

Não consigo me impedir de transcrever trechos do Código Hays:

“Nenhum filme deve ser produzido de maneira a rebaixar os princípios morais daqueles que o vêem. Desta forma, a simpatia da audiência não deve nunca ser lançada para o lado do crime, do erro, do mal ou do pecado.”

“A santidade da instituição do casamento e do lar deve ser respeitada. Os filmes não deverão inferir que baixas formas de relacionamento sexuais são aceitas ou comuns.”

“O adultério, às vezes necessário como material da trama, não deve ser tratado explicitamente, ou justificado, ou apresentado atrativamente.”

O Código esteve em vigência entre 1930 e 1968; foi, no entanto, a partir de 1934 – um ano depois do lançamento deste The Kiss Before the Mirror – que ele passou a ser aplicado de forma mais rígida, mais severa.

Vou relatar fatos mostrados no início do filme – inclusive transcrevendo um diálogo entre os dois amantes que pareceria ousado até mesmo no final dos anos 60, os anos que, diziam, mudaram tudo. Faço isso porque gosto, e também porque quero registrar o diálogo aqui no site.

Mas é preciso repetir, insistir: o começo do filme é surpreendente. E a obra está disponível no YouTube, em cópia com som original e legendas, e excelente qualidade. Assim, quem não viu ainda deveria parar por aqui.

É o começo do filme – mas, a rigor, é spoiler

Após os créditos iniciais – rápidos, como era o padrão na época –. um grande letreiro avisa que o que virá a seguir se passa em Viena. E. nas primeiras sequências do filme, vemos a mulher adúltera chegar à casa do amante, que a esperava preparando seu quarto, apagando as luzes, acendendo as grandes velas em belos castiçais, colocando um disco no gramofone, checando a garrafa de champagne num balde de gelo, o arranjo de flores.

A mulher infiel, uma bela loura toda vestida de negro, havia já entrado na casa, sentado ao piano e começado a tocar.

O amante sai do quarto e se encaminha para a sala dançando, rodopiando. Chega devagarinho por trás dela, põe as mãos sobre seus ombros.

Ele: – “Querida! Por que essa chegada tão discreta?”

Ela: – “Eu queria surpreender você.”

Ele: – “Alguém viu você?”

Os infiéis têm medo de serem descobertos – sempre.

Ela: – “Não.”

Ele (sentando-se ao lado dela, os rostos próximos um do outro): – “Será que ele suspeita de alguma coisa?”

Ela: – “Não! (A câmara mostra pela primeira vez o belo rosto dela em um quase close-up.) Suas flores estão lindas esta noite.”

Ele (a câmara o mostra em close-up pela primeira vez): – “As flores são muito vaidosas. Sua beleza as supera. (Breve pausa.) Estou tão feliz que você veio.”

Ela: – “Desta vez não foi fácil. Ele queria que eu ficasse com ele esta noite.”

A câmara agora está de novo em plano americano, e mostra a mulher sentada ainda diante do piano e o homem se levantando. Ela abre um magnífico sorriso: “Querido, você está com ciúmes do meu marido?”

Ele: – “Por que eu não deveria estar? Ele tem você.”

Ela (o rosto de novo em close-up): – “Você também”.

Ele: – “Sim, mas eu sei que ele existe. Em vez disso, ele ignora a minha existência.”

Ela: – “Devo contar a ele sobre você?”

Ele: – “Meu Deus, claro que não!”

Ela: – “Então me beije.”

Ele a beija, senta-se ao lado dela – que olha para o alto, para o infinito, e diz: – “Eu te amo tanto!”. E, após uma breve pausa: – “Às vezes eu me pergunto se ele suspeita que eu tenho um amante.”

Ele: – “Minha empregada viu você no jardim?”

Ela: – “Não. Apenas alguns sapos. Eles vão falar sobre mim a noite toda, e ninguém vai entender. Apenas um gato preto olhou fixamente para mim.”

Ele: – “Um gato preto? Você tem certeza de que seu marido não suspeita de nada?”

Os infiéis têm medo de serem descobertos – sempre.

Mas as infiéis parecem saborear com prazer o gostinho do proibido, do pecado – é o que todo o tom da bela sequência demonstra.

E ela pede de novo: – “Me beije, querido.” Levanta-se finalmente do banquinho do piano, e os dois se beijam apaixonadamente. Depois encaminham-se para o quarto – mas ele começa a se afastar dela. Ela pergunta se ficará abandonada, sozinha, no quarto dele, e ele responde, demonstrando receio mas também elegância romântica: – “Espere um momento só. Quero me certificar de que minha empregada já foi embora, monitorar os sapos e caçar o gato preto.”

Ela entra no quarto dele.

Estamos então com seis minutos de filme. Dois minutos depois, vemos o marido dela do lado de fora do quarto, e, lá dentro, ela começando a tirar a roupa.

Ele dá um tiro e logo em seguida, mirando para baixo, para o chão, mais dois. E em seguida, antes mesmo de o amante chegar ao quarto para ver a mulher morta, o marido liga para a polícia, confessa o crime e dá o endereço da casa.

O protagonista é o advogado do marido assassino

O amante não voltará a aparecer. Ele é interpretado por Walter Pidgeon (1897-1984), que havia começado a carreira com papéis bem pequenos em 1926, e naquele ano de 1933 ainda não era um astro. Estaria no auge do auge da carreira alguns anos mais tarde, quando fez os principais papéis masculinos de dois grandes clássicos, Como Era Verde o Meu Vale (1941), do mestre John Ford, e Rosa de Esperança/Mrs. Miniver (1942), de William Wyler, em que fazia o Mr. Miniver (ela era interpretada por Greer Garson).

A mulher infiel, Lucy, que, como já ficou claro, só aparece nos oito minutos iniciais do filme, foi interpretada por Gloria Stuart. Conhecida pelas gerações mais novas apenas por ter interpretado a Rose velhinha em Titanic (1997), Gloria Stuart viveu gloriosos 100 anos, de 1910 a 2010, colecionou 81 títulos numa carreira que se expandiu por quase oito décadas, entre 1932 e 2004, que lhe deram oito prêmios e mais outras seis indicações, inclusive uma ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, por Titanic. Era uma belíssima mulher e uma ótima atriz.

Nos créditos iniciais, os três nomes que aparecem primeiro são, pela ordem, Nancy Carroll, Frank Morgan e Paul Lukas. Paul Lukas (na foto acima) interpreta Walter Bernsdorf, o assassino da esposa, um homem que era um médico famoso, rico, respeitado. Frank Morgan (à esquerda na foto abaixo) faz Paul Held, um grande advogado, o maior amigo de Walter – que se dispõe de imediato a defender o amigo. E Nancy Carroll (nas fotos mais abaixo), que aparece em primeiro lugar, o tal do top billing, algo pelo qual todo ator de Hollywood lutava, faz Maria, a mulher do advogado Paul.

A ordem dos nomes nos créditos iniciais – e nos cartazes dos filmes, e nas marquises dos cinemas – era algo fundamental em Hollywood. Quase tão fundamental quanto o salário. Quanto mais astro/estrela, mais garantido era que o nome do ator/atriz viesse no alto – e vice-versa. Se o nome estava no alto, se tinha o top billing, então era um/uma grande astro/estrela.

Sou um adorador dos filmes de Hollywood dos anos 30 a 60, mas nunca tinha ouvido falar em Nancy Carroll – ou, se ouvi, não me lembrava, o que dá no mesmo.

Nancy Carroll, 1903-1965. Pelo tamanho das biografias no IMDb, e pelo tom delas, é uma atriz que tem fãs apaixonados até hoje. Bailarina talentosa, trabalhou em muitos musicais na Broadway. Estreou no cinema exatamente em 1927, o ano em que os filmes estavam aprendendo a falar. Teve uma indicação ao Oscar de melhor atriz por Noivado de Ambição/The Devil’s Holiday (1930).

A indicação ao Oscar seguramente explica por que o nome dela vem em primeiro lugar.

Frank Morgan (1890-1949) tem 100 filmes no currículo e recebeu duas indicações ao Oscar, mas não tem jeito: é sempre lembrado por seus vários papéis em O Mágico de Oz (1939) – inclusive o personagem título.

Apesar de ter seu nome em segundo lugar, depois do de Nancy Carroll, Frank Morgan é o ator principal do filme, já que o advogado Paul Held é o personagem central da trama.

E este fato, o de o personagem central da trama ser o advogado do assassino, que só aparece em cena quando o filme está ali chegando aos 10 minutos de seus curtíssimos 69, é mais uma prova da engenhosidade da trama criada pelo húngaro Ladislas Fodor.

“Ela fazia o que há de mais importante para uma mulher”

Quando o advogado Paul Held vai à prisão conversar com seu maior amigo, ele, o grande médico Walter Bernsdorf, está um farrapo, um traste, corroído pela culpa por ter assassinado a mulher, por ter destruído sua carreira e se condenado à prisão e quase seguramente à pena de morte – e ainda, é bem provável, pela saudade da mulher que amava, e a vergonha e a tristeza de ter sido traído por ela.

Paul quer ouvir o relato do amigo sobre as circunstâncias em que se deu o crime, para poder elaborar sua defesa – mas Walter, afundado no desespero, dá mostras de que não consegue tentar se ajudar, nem é capaz de reconstituir os momentos que antecederam os três tiros que disparou na mulher.
Depois de algum tempo, no entanto, consegue contar para o amigo sobre o dia em que, inesperadamente, voltou para casa mais cedo do que o previsto, e encontrou Lucy diante do espelho triplo de sua penteadeira, se maquiando.

– “O que ela estava fazendo?” – pergunta o advogado para o amigo.

– “A coisa mais importante para uma mulher. Estava admirando a si mesma. Estava prestes a se vestir. Desenhou uma linha fina em suas sobrancelhas. Passou batom. Tudo para ficar ainda mais bonita. Ela se fez perfeita. Tudo isso tinha que ter uma razão. Ela sorriu, o que a tornou ainda mais bela.”

Paul faz perguntas, Walter confirma que a essa altura Lucy não havia percebido que ele havia chegado e estava ali olhando para ela. E Walter prossegue: – “Uma necessidade irreprimível me dominou. Essa bela mulher pertencia a mim. Eu me aproximei dela para beijar seu pescoço,”

E aí, nesse exato momento, aconteceu: – “Ela me empurrou com raiva, dizendo que eu tinha arruinado seu penteado.”

Estamos aqui com exatamente 18 minutos do filme que só tem, como já foi dito, parcos, rápidos 69.

Quando estamos com 25 minutos dos 69 do filme, Maria, a mulher de Paul, está diante de sua penteadeira, se maquiando para, segundo ela, sair para encontrar sua grande amiga fulana de tal.

Os dois estão conversando. Paul havia contado sobre sua visita a Walter na prisão. Lucy, a morta, era grande amiga de Maria.

Quando chegamos a 28 minutos, Paul se levanta, aproxima-se da esposa e dá um beijo nela por trás.

Maria reage como uma fera ferida: – “Me larga! Você está louco? Você arruinou o meu cabelo! Agora vou ter que fazer tudo de novo!”

Uau! Que brilho, meu Deus do céu e também da Terra!

Xiitas poderão enxergar misoginia no filme

É muitíssimo provável que, se uma feminista xiita dos dias de hoje visse este filme, ficasse ainda mais furiosa do que Maria Held ficou quando o marido se aproximou dela para dar um beijo no pescoço e, louco, arruinou o seu penteado. Certamente a feminista xiita amaldiçoaria tanto o autor Ladislas Fodor quanto o roteirista William Anthony McGuire, o diretor James Whale, os atores Frank Morgan e Paul Lukas e todos os demais homens que participaram de alguma maneira da produção – todos uns grandes sexistas, machistas, porco-chauvinistas filhos da puta.

Nem é preciso ir tão longe. Eu mesmo, que sempre fui um profundo admirador das mulheres, do feminino, que sempre fui tido pelas mulheres da minha vida como um sujeito de alma aberta ao feminino, fiquei, em alguns momentos, temeroso de que o filme resvalasse para algo próximo da misoginia.

Até porque, como se sabe, James Whale não era um homem chegado a mulheres. Bem ao contrário. Teve a coragem grande de ser um dos primeiros grandes nomes de Hollywood a assumir abertamente a homossexualidade e o relacionamento estável e duradouro com um homem, David Lewis. Isso foi mostrado no belo filme sobre ele e em homenagem a ele, Deuses e Monstros (1998), de Bill Condon, com o grande Ian McKellen no papel do realizador.

Misoginia? Bobagem. O filme não tem nada de misógino, de anti-feminino, anti-mulheres.

Apenas fala de infidelidade, adultério, de um ponto de vista masculino. Isso não é crime.

Há, entre os personagens secundários, uma que me pareceu especialmente interessante. É uma advogada, assistente de Paul Held, chamada Hilda Frey (o papel de Jean Dixon). Uma profissional, naquele ano de 1933, quando ainda não eram muito comuns as personagens femininas que tinham profissão e a exerciam com sucesso. Uma profissional – e não uma dondoca mulher de marido rico, como eram Lucy, a que traía o marido Walter, e Maria, a que traía o marido Paul.

Lá pelas tantas, Maria, a dondoca adúltera, diz para Hilda: – “Você é uma criatura engraçada. O que você é – uma advogada, ou uma nova espécie de mulher?”

E Hilda: – “Durante o dia sou advogada. À noite… Bem, você poderia ficar surpresa.”

Maria: – “Por que você não se casa?”

E Hilda: – “Ser solteira ter algumas vantagens… Pelo menos ninguém vai me assassinar.”

Evidentemente Hilda é uma homossexual, naquele tempo em que os filmes de Hollywood não podiam, de jeito nenhum, falar de homossexuais.

Bem mais adiante, quando a narrativa já está bem perto do fim, o advogado Paul Held pergunta para sua assistente Hilda o que ela achou do seu discurso final diante do júri, pedindo que seu amigo Walter fosse considerado inocente após ter assassinado com três tiros a sua mulher.

A resposta de Hilda é uma maravilha. Vai sem aspas porque não é ipsis litteris (não anotei na hora): – Como advogada, fiquei impressionada pela sua fala final. Você deverá vencer. Como mulher, não pude acreditar em uma palavra do que você disse.

Falta fazer dois registros para justificar afirmações que fiz lá em cima.

A interpretação de Paul Lukas como o médico que assassina a mulher me pareceu exageradíssima, over demais da conta. Ele está sempre chorando, ou com a cabeça jogada sobre a mesa, com uma expressão absolutamente alterada.

E a insistência nas piadinhas nas sequências do tribunal, como as falas e o jeito da mulher grande e gorda que insiste em ficar de pé e é contestada pelo sujeito atrás dela, é inconveniente, sem graça – e completamente sem propósito.

Mas são defeitos pequeninos. Este – repito – é um bom filme.

Algumas considerações importantes

Ouso aproveitar o que este belo e pouquíssimo conhecido filme traz à tona para fazer algumas considerações.

Muita gente boa, bem intencionada, vem se perdendo, perdendo a razão, ao entrar de corpo e alma nas batalhas identitárias dessas guerras mulheres x homens, pretos x brancos, brancos x todos os outros, gays e assemelhados do alfabeto inteiro x héteros, “esquerdistas” x “direitistas” (esses aí entre aspas porque os conceitos são tão fluidos, tão mutáveis que não dá para dizer que eles signifiquem de fato alguma coisa).

As pessoas não se dividem entre mulheres de um lado e homens de outro, pretos de um lado e brancos de outro, brancos de um lado contra todos os outros de outro, gays e trans e tal e tal e tal e tal e tal e tal e tal contra os caretas dos héteros. E muito menos as pessoas se dividem entre “esquerdistas” e “direitistas”, porque esses conceitos criados na disposição de assentos no Parlamento francês pós Revolução de 1796 simplesmente não valem absolutamente nada em 2021 e tempo afora, / Até onde essa estrada do tempo vai dar / Do tempo vai dar / Do tempo vai dar, menina / Do tempo vai.

Tanta gente boa, bem intencionada, vem perdendo tempo e razão, vem se perdendo nas batalhas bobas dessas guerras inúteis, quando é tão simples perceber que a coisa não é nada por aí. Que as pessoas se dividem, isso sim, pura e simplesmente entre pessoas boas e pessoas ruins.

E aqui, já que fiz essas considerações, me permito outras.

Às vezes recebo comentários de gente que fica profundamente incomodada com afirmações que faço sobre política. Tipo assim: você fala de cinema – não tem sentido você falar de política. Isso aí é um site sobre filmes, você não pode falar de política.

Já recebi comentários assim de lulo-petistas e de bolsonaristas. O que, a rigor, mostra que minhas opiniões políticas são respeitáveis.

O fato é o seguinte:

* Cada pessoa pode perfeitamente falar o que bem entender, desde que não incite à violência. e

* Falar sobre filmes, sobre cinema, é necessariamente falar sobre política, já que política é tudo. Cada frase que cada pessoa fala é política.

A produção aproveitou sets de Frankenstein

Leonard Maltin deu ao filme 2.5 estrelas em 4: “Enquanto defende Lukas por ter assassinado sua esposa adúltera, o advogado Morgan começa a ver toda a cadeia de eventos ocorrendo de novo em sua própria casa! Estranho melodrama romântico se torna ainda mais estranho por ter sido filmado em sets usados em Frankenstein; boas atuações e o estilismo típico de Whale mantêm o interesse do espectador. Refeito pelo diretor como Wives Under Suspicion.”

“Sets usados em Frankenstein”. Essa informação está também no IMDb. Isso deve provavelmente se referir à prisão em que o médico Walter é confinado, onde ele recebe a visita do advogado Paul. De fato, aquela prisão parece mais uma coisa medieval do que algo da então moderna, culta, rica Viena. Mas isso é só um detalhinho que não tira nada da qualidade do filme.

Anotação em outubro de 2021

O Beijo Diante do Espelho/The Kiss Before the Mirror

De James Whale, EUA, 1933

Com Frank Morgan (Paul Held, o advogado), Nancy Carroll (Maria Held, a mulher de Paul), Paul Lukas (Walter Bernsdorf, o médico, o assassino)

e Gloria Stuart (Lucy Bernsdorf, a vítima), Jean Dixon (Hilda Frey, a advogada assistente de Paul), Charley Grapewin (Schultz, o assistente de Paul), Walter Pidgeon (o amante de Lucy), Donald Cook (o amante de Maria), Wallis Clark (o promotor público), May Boley (a mulher grande no tribunal), Reginald Mason (o juiz)

Roteiro William Anthony McGuire  

Baseado na peça teatral de Ladislas Fodor

Fotografia Karl Freund

Música W. Franke Harling

Montagem Ted J. Kent

Direção de arte Charles D. Hall

Produção Carl Laemmle, Jr, Universal Pictures.

P&B, 69 min (1h09)

Disponível no YouTube em outubro de 2021.

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Título na França: Le Baiser devant le miroir

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