Tess – Uma Lição de Vida / Tess

4.0 out of 5.0 stars

(Disponível em DVD.)

Algumas das qualidades de Tess (1979), que tornam o décimo longa-metragem de Roman Polanski um grande filme, um filmaço, são o realismo, os cuidados, o perfeccionismo na reconstituição das condições de vida no meio rural da Inglaterra da segunda metade do século XIX.

Essas características do filme foram reconhecidas pela Academia de Hollywood, que deu a Tess os Oscars de melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor figurino.

Uma brilhante, maravilhosa reconstituição da vida no meio rural inglês cerca de 140 anos atrás. Isso é uma grande ironia, porque todo o longo filme foi rodado na França.

É uma co-produção Inglaterra-França. A rigor, as filmagens poderiam ter sido feitas nos campos de Dorset, onde se passa ação do aclamado romance de Thomas Hardy lançado em 1891. A questão é Polanski havia sido condenado à prisão nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual de uma garota de 13 anos, e os acordos de extradição entre a Grã-Bretanha e sua antiga colônia do outro lado do Atlântico são amplos. Caso pisasse em solo inglês, o realizador poderia ser preso e deportado.

Até hoje Polanski não pode ir aos Estados Unidos. Não foi lá, por exemplo, para receber os três Oscars dados a O Pianista (2002), inclusive o de melhor direção.

Há uma outra ironia em Tess: a atriz que faz a protagonista, o papel título, e que se tornou estrela internacional a partir deste filme, tinha 17 anos durante as filmagens. Nastassja Kinski era menor de idade – e, é claro, houve rumores, boatos, de que teria havido um caso entre o diretor, então com 42 anos, e a jovem de beleza deslumbrante, acachapante.

Um dos itens da página de Trivia do IMBd sobre o filme diz, por exemplo, que, no final dos anos 70, “ela começou uma relação controvertida com o diretor Roman Polanski, que deu a ela o papel principal deste filme, lançando sua carreira como estrela internacional”.

Em outro item da página de informações sobre o filme e sua produção, no entanto, o IMDb afirma: “Houve rumores de que Roman Polanski e Nastassja Kinski estavam em uma relação romântica antes das filmagens. Kinski (..) tem afirmado em entrevistas desde aquela época que ela gostava dele e o admirava, mas que eles nunca tiveram uma relação.”

Mas é a tal coisa: faça a fama e deite-se na cama. Uma vez tendo sido acusado de abuso sexual, é impossível a pessoa se livrar de novas acusações. Roman Polanski, casado há 32 anos com a atriz Emmanuelle Seigner, e Woody Allen, casado há 24 anos com Soon-Yi Previn, entre tantos outros, que o digam.

Uma jovem que é vítima de sua beleza

Não falei da beleza estonteante e da juventude de Nastassja Kinski à toa. Os dois atributos, a beleza extraordinária e juventude, são fundamentais na história. Tess of d’Urbervilles, a personagem do clássico de Thomas Hardy, foi – como muito bem definiu uma frase de um poster do marketing do filme na época do seu lançamento – vítima de sua beleza.

Não fosse ela tão esplendorosamente bela, não teria tido a vida que teve, não teria sofrido tanto. E, meu Deus do céu e da Terra, como sofre essa moça!

Tinha visto o filme duas vezes no cinema, em 1991, e uma no DVD, em 2005: nem me lembrava de já ter visto três vezes. Ao rever agora, mais uma vez, ficou muito claro para mim que a tragédia da vida de Tess se deve à conjugação de três fatores. O primeiro é sua beleza. O segundo é a loucura em que se envolvem seu pai e sua mãe com a informação de que Jack Durbeyfield, aquele humilde camponês, seria na verdade descendente da muito nobre família dos d’Urbervilles, de Sir Pagan d’Urbervile, “aquele renomado cavaleiro que veio da Normandia com William, o Conquistador”. E, at last but not at least, os preconceitos da sociedade inglesa daquele tempo, a época vitoriana.

Ali trata-se especificamente dos preconceitos da sociedade inglesa da época vitoriana – mas os preconceitos não são exclusividade daquela sociedade nem daqueles tempos. Muitíssimo ao contrário. Difícil é saber que sociedade, em que época da História, deixou de ter o preconceito tacanho, absurdo, grotesco e machista sobre o que é entendido como “a pureza das moças”.

Foi por ter sido empurrada por seu pai e sua mãe para procurar sua teoricamente parente Senhora d’Urberville (Sylvia Coleridge) que Tess caiu na rede do filho dela, Alec d’Urberville (o papel de Leigh Lawson, na foto acima) – e ali então ter perdido sua “pureza”.

Não sabia disso (ou não me lembrava, o que dá na mesma), mas Thomas Hardy acrescentou um subtítulo a seu romance. O nome inteiro da obra é Tess of the d’Urbervilles – A Pure Woman.

E é exatamente o que Tess é, e o grande filme de Polanski mostra claramente. Uma mulher pura.

Thomas Hardy escreveu uma “nota explicatória à primeira edição” de seu livro, lançada quando ele estava com 51 anos – em 1891, como já foi dito. Depois escreveu um prefácio para a quinta edição, de 1892, ao qual fez adendos nas edições de janeiro de 1895 e março de 1912.

Ele inicia o prefácio para a quinta edição dizendo que “a grande campanha da heroína começa após um evento em sua experiência que tem sido em geral tratado como fatal para seu papel de protagonista, ou pelo menos como o virtual fim de seus empreendimentos e esperanças”. Que maravilhosa forma de dizer que, ao perder a virgindade, “a pureza”, segundo os padrões da sociedade, uma moça perde o direito de ser protagonista de um romance!

A triste história de Tess foi filmada 11 vezes

Thomas Hardy escreveu 13 romances entre 1874, o ano de Far From the Madding Crowd, no Brasil Longe Deste Insensato Mundo, até 1896, o ano daquela que é tida como sua obra-prima, Jude, The Obscure. Enfrentou duras críticas pelo retrato duro, cru, da pobreza, quase miséria, dos trabalhadores da área rural da região em que nasceu e passou a maior parte da vida, Dorset, no Sul da Inglaterra, junto ao Canal da Mancha. Foi acusado de fazer uma literatura cheia de “pessimismo” e “imoralidade” – o que o levou a abandonar completamente a prosa. Depois de Judas, O Obscuro, ou seja, depois dos seus 56 anos de idade, Hardy dedicou-se à poesia. O que o levaria a ser, como dizem hoje alguns críticos, um dos poucos escritores a terem tido uma obra reconhecida e aplaudida tanto na prosa quanto na poesia.

Morreria em 1928, aos 88 anos – quando já haviam sido feitos dois filmes baseados em Tess of the d’Urbervilles – A Pure Woman. Os dois primeiros de uma relação de 11 diferentes adaptações para o cinema, se a conta do IMDb estiver correta.

11 adaptações para o cinema!

Esta aqui, tida por muita gente como a melhor de todas, foi a de número nove.

A primeira versão foi em 1913, nos Estados Unidos. Tess era interpretada por uma atriz de quem jamais tinha ouvido falar, Minnie Maddern Fiske. A segunda versão foi ainda na época do cinema mudo, em 1924, também feita nos Estados Unidos; a atriz, outra desconhecida por mim, era Blanche Sweet.

Em 1944 houve uma versão indiana, falada em hindi, com o título de Man Ki Jeet. Em 1952 e 1959 houve versões feitas para a TV – uma inglesa, com Barbara Jefford no papel título, outra belga, com Martine Audry.

Depois deste filme aqui, dirigido por Roman Polanski, com Nastassja Kinski, outros realizadores não deveriam ousar filmar de novo a história – mas parece que ousadia é o que não falta. E então há um Tess of the D’Urbervilles de 1998 e um Tess of the D’Urbervilles de 2008, ambas feitas para a TV, ambas inglesas. A de 1998 tem Justine Weddell no papel central. A de 2008, uma minissérie de quatro episódios, parece caprichadíssima: tem a bela e competente Gemma Arterton como Tess e Eddie Redmayne como Angel Clare, o grande amor da vida da jovem camponesa de vida tristíssima. (No filme de Polanski, Angel Clare é interpretado por Peter Firth.)

O IMDb, o site enciclopédico que tem tudo e nota tudo, repara que apenas duas das 11 diferentes versões do romance tiveram o título de apenas Tess: esta aqui de Roman Polanski e a de 1960. Todas as demais produções feitas nos países de língua inglês tiveram o nome e o sobrenome, Tess of the d’Urbervilles.

Eu, que noto e reparo quase tudo o que diz respeito aos títulos, sou forçado a acrescentar que os exibidores brasileiros do grande filme de Polanski inventar de acrescentar ao nome Tess o acréscimo ridículo de Uma Lição de Vida. Ridículo, grotesco, sem qualquer sentido, sem qualquer lógica.

Disseram que Tess era um papel perfeito para Sharon Tate

Foi através de Sharon Tate que Polanski chegou a Tess of the d’Urbervilles. “Alguém deu o livro e disse que era um papel para ela”, contou o realizador, que guardou o livro e só foi lê-lo depois da morte da atriz. “Percebi que era realmente um ótimo papel para ela”.

Sharon Tate era uma moça lindíssima, maravilhosamente bela. Quando ficou conhecendo Polanski, indicada a ele pelo produtor Martin Ransohoff para o papel de Sarah Shagal em A Dança dos Vampiros (1967), estava com 23 anos.

Dá uma coisa ruim ao pensar em tudo o que Sharon Tate poderia ter feito na vida – inclusive o papel de Tess no filme do marido. Tinha apenas 26 anos quando, grávida de oito meses, foi assassinada em casa, juntamente com quatro amigos que a visitavam, por três fanáticos seguidores do guru louco Charles Manson.

Roman Polanski dedicou Tess, seu sexto longa-metragem após a morte da jovem mulher, a Sharon. “To Sharon” aparece na tela assim que terminam os créditos iniciais do filme.

Em um excelente, fantástico grupo de três documentários sobre o filme, realizados em 2004 pelo expert em making ofs Laurent Bouzereau, From the Book to the Screen, Filming Tess e Tess: The Experience, Polanski lembra que Tess veio logo após O Inquilino, que, segundo ele, foi um tremendo fracasso, tanto de crítica quanto de público.

O Inquilino, de 1976, é uma absoluta obra-prima. É um dos filmes de terror mais apavorantes que já foram feitos nestes mais de 120 anos de cinema – um terror em que não há nada parecido com seres não-humanos, poltergeists, fenômenos extra-sensoriais, mas apenas os medos que tomam conta da nossa cabeça. Mas tudo bem, isso aí é a minha opinião. Segundo Polanski, foi um tremendo fracasso de público e crítica…

… e então, naquela época, 1976, 1977 – diz ele para a câmara do diretor Laurent Bouzereau –, “Eu estava no fundo do poço. Queria fazer algo que evocasse muitas emoções”.

Não fica explícito nos documentários, mas dá para imaginar, a partir do que eles mostram, que Nastassja Kinski pareceu a Polanski a mais perfeita Tess que poderia haver mesmo antes de ele de fato se dedicar a trabalhar no roteiro, antes mesmo de pré-produção começar. Nastassja conta que, quando tinha 15 anos, fez um filme que foi um grande sucesso, “e Roman viu o filme, e ficamos amigos”.

O filme a que ela se refere é Uma Filha para o Diabo/To the Devil a Daughter, de 1976, uma produção da Hammer Films, o estúdio inglês especializado em filmes de terror – e ele parece de fato ter tudo a ver com o Roman Polanski daquela época. O título, a sinopse, tudo faz lembrar O Bebê de Rosemary, de 1968: “Um romancista e ocultista americano luta para salvar a alma de uma jovem de um grupo de satanistas liderados por um padre excomungado, que planeja usá-la como representante do Diabo na Terra.”

“Ele sabia da minha idade”, diz Nastassja para a câmara de Bouzereau em 2004, linda, tranquila, “mas me tratava como uma adulta em termos intelectuais. Ele me deu vários livros e, em especial, Tess. E disse: ‘Leia com atenção e depois vamos discutir sobre ele’.”

Não se faz menção Klaus Kinski (1926-1991), o pai da moça, àquela época já um ator absolutamente consagrado, respeitado. É absolutamente natural supor que Polanski, naquela segunda metade dos nos 70 já radicado em Paris, tivesse conhecido Klaus Kinski, tido contato com ele, o que explicaria mais facilmente a aproximação do realizador com a garota filha do ator – mas o pai de Nastassja, repito, não é mencionado nos making ofs.

As filmagens foram em vários locais da França

Os créditos iniciais de Tess, frios e objetivos como devem ser os créditos iniciais, diz que o produtor do filme é Claude Berri, e que Timothy Burrill é o co-produtor. Pelo que vemos nos documentários de Bouzereau, os dois se complementaram da maneira mais perfeita possível, o britânico de Gales impecavelmente penteado e vestido para falar diante da câmara do making of e o francês de cabelos e roupas desalinhadas. Sempre ouvi o nome de Claude Berri – ele é um produtor tão importante para o cinema francês quanto Carlo Ponti para o italiano. Não conhecia esse senhor Timothy Burrill, mas virei fã. Foi ele que teve que enfrentar, para começo de conversa, a má-vontade, a objeção dos poderosos sindicatos ingleses ao fato de o filme ter como intérprete da camponesa de Dorset uma garotinha alemã.

Na França, uma das tarefas de Claude Berri era escolher as equipes que descobririam os lugares da França que fariam o papel dos cenários dos campos do Sul da Inglaterra na segunda metade do século XIX.

Acabariam escolhendo a Normandia para as cenas de verão, a Bretanha para as sequências em que aparecem vilarejos e as passadas no final de outono, e uma região ao Norte de Paris para as cenas de inverno. Foi também ao Norte de Paris que reconstituíram o cenário mágico-histórico de Stonehenge – o local da última sequência do filme.

Uma hora lá nos documentários, Polanski exibe para a câmara de Buzereau um grande mapa rodoviário da Bretanha – um mapa dobrável, parecido com aqueles que acompanhavam os Guias 4 Rodas –, e aponta os cinco diferentes locais daquela região da França em que houve filmagens de Tess. Ele comenta que a Bretanha é grande demais, que as distâncias entre um local de filmagem e outro eram grandes, e que o grupo parecia uma trupe de circo, mudando sempre de um lugar para outro…

Foi o próprio Polanski que escreveu o roteiro, ao lado de seu parceiro de diversos filmes anteriores Gérard Brach. O realizador chega mesmo a brincar que Brach e ele não tiveram daquela vez o trabalho de construir uma história – tiveram apenas que cortar fora coisas do livro, de forma a que a história coubesse num filme de duas horas, depois, eventualmente de três horas.

O filho de judeus poloneses nascido em Paris mas criado a partir dos três anos na Polônia Polanski e o francês Gérard Brach trabalharam em francês. Quando a pré-produção foi evoluindo, tornou-se necessário alguém que passasse tudo não apenas para o inglês, mas para o inglês específico de Dorset. (È sempre bom lembrar a lição do professor Higgins de My Fair Lady: cada pedaço da Inglaterra, cada bairro de Londres tem seu próprio jeito de falar…)

Aí Timothy Burrill sugeriu John Brownjohn, que não apenas era britânico como especificamente inglês de Dorset. Brownjohn, pelo que se pode perceber, foi o sujeito que escreveu os diálogos que os atores de fato pronunciam.

Nos documentários, ele explica que teve mesmo que criar diálogos que Thomas Hardy não escreveu. E dá o exemplo perfeito, do momento chave, fundamental, em que – bem no meio da enormidade de 170 minutos de filme – Angel (Peter Firth) confessa para sua jovem esposa seu pecadilho do passado, e Tess então diz que vai também confessar o dela. No livro, lembra Broswnjohn, Hardy diz apenas o seguinte: “E então ela contou sua história”.

Para o filme, Broswnjohn teve que botar na boca de Tess algumas frases que fossem mais explicativas para o espectador.

Faço aqui uma interrupção, uma parada no relato do que mostram os documentários.

Fiquei muito impressionado ao verificar como o filme reproduz tão precisamente, quase letra por letra, o diálogo – que surge bem no início do livro, e bem no início do filme – entre Jack Durbeyfield (John Collin), o pai de Tess, e o pastor auxiliar Tringham (Tony Church).

É impressionante – e é uma comprovação cabal do quanto Roman Polanski pretendia ser fiel ao romance de Thomas Hardy.

– “Boa noite, Sir John’, disse o pastor.

– “Senhor, peço desculpas; nós nos encontramos outro dia nesta estrada, mais ou menos a esta hora, e eu disse ‘Boa noite’, e sua resposta foi ‘Boa noite, Sir John’, como agora.

– “Sim’, disse o pastor.

– “E outra vez antes dessa – cerca de um mês atrás.

– “É possível, sim.”

– “Então o que o senhor quereria dizer ao me chamar de ‘Sir John’ nestas três vezes, quando eu sou simplesmente Jack Durbeyfield, o camponês?”

E então, neste momento – na segunda página do livro, e ali quando o filme ainda não chegou a 5 de seus 170 minutos –, o pastor conta para Jack Durvbeyfield, o pai de Tess, que andou fazendo pesquisas, e chegou à certeza de que ele é descendente dos nobres d’Urberville.

A tragédia de Tess está então anunciada.

A trilha sonora de Philippe Sarde é magnífica

“Era um bom grupo de atores ingleses, bem treinados, profissionais, fáceis de lidar”, diz no documentário de 2004 um Roman Polanski obviamente mais velho, mais maduro do que aquele de 42 anos que entre julho de 1978 e março de 1979 filmou, pela nona vez, o romance cartapácio de Thomas Hardy. “Nunca tive problema com eles. Você tem problema com estrelas. Não havia estrelas no set.”

“Não havia estrelas no set”, diz o cineasta que dirigiu em seus filmes Catherine Deneuve, Jack Nicholson, Faye Dunaway, Isabelle Adjani, Harrison Ford, Jodie Foster, Kate Winslet, Sigourney Weaver, entre tantos e tantos e tantos outros…

Os documentários sobre as filmagens de Tess demonstram a importância do diretor de arte francês Pierre Guffroy, que se deu perfeitamente bem com o inglês Jack Stephens, o técnico dos cenários, e também do autor dos figurinos, Anthony Powell. Roman Polanski faz elogios superlativos a todos eles.

Além de todos os outros mencionados anteriormente, há ainda um outro elemento fundamental que faz de Tess um grande filme. É a estupenda, extraordinária trilha sonora composta por Philippe Sarde.

Philippe Sarde, ouso dizer, é um dos maiores compositores de trilhas sonoras da Europa – um gigante da estatura de Nino Rota, Ennio Moricone, Georges Delerue. Compôs as trilhas de diversos filmes do grande Claude Sautet, como As Coisas da Vida, César e Rosalie, Vincent, François, Paul et les Autres, Minha Secretária, Um Coração no Inverno. Para Polanski, já havia feito a trilha de O Inquilino.

É verdade que conheço praticamente de cor e salteado as melodias que Philippe Sarde compôs para o filme, porque elas estão no que eu chamo de Rádio Sérgio Vaz – as músicas do meu iTunes, que ouço em casa e nas caminhadas. Mas não é só porque eu as conheço bem. As melodias são lindíssimas, maravilhosas. Daquelas que a gente não é capaz de esquecer.

As melodias de Philippe Sarde estão presentes no filme desde a extraordinária abertura, em que vemos quatro músicos executando canções alegres, para que um grande grupo de moças – todas vestidas de branco – dancem sobre a grama, ao ar livre.

É um momento de rara beleza – e um momento de mais rara ainda alegria para Tess, uma daquelas moças, a mais bela de todas. Daí para a frente será quase só sofrimento, com apenas alguns rápidos instantes de felicidade.

“Uma canção de amor com um final trágico”

Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4: “Bela, evocativa adaptação de Tess of the D’Urbervilles de Thomas Hardy, com Kinski em sua atuação criadora-de-estrela como a garota de vontade de ferro de uma família cujo destino é abalado quando ela é impingida à sociedade fina. Longo mas cativante. Venceu os Oscars de fotografia, figurinos e direção de arte. Em Panavision.”

Aproveito para registrar: além desses três Oscars, o filme foi também indicado a outras três – melhor filme, melhor direção e melhor trilha sonora.

O grande Roger Ebert deu a cotação máxima de 4 estrelas, e começou assim seu texto: “Tess de Roman Polanski é um canção de amor com um final trágico – do melhor tipo de canção de amor que há, só que longo porque não é sobre nós mesmos. O filme conta a história de uma bela jovem, inocente e inteligente, e a forma com que ela é gradualmente destruída pelo exercício do ego masculino.”

Diz o Petit Larousse des Films: “Havia muito tempo que Polanski sonhava em levar para a tela a obra-prima de Thomas Hardy. Seu perfeccionismo legendário é aqui colocado a serviço de uma reconstituição minuciosa, cuja filmagem durou oito meses! O conjunto se beneficia de uma magnífica fotografia e da interpretação de Nastassja Kinski, que aqui ganhou seu galardão de estrela.”

É isso. Um grande filme, um filmaço.

Anotação em outubro de 2021

Tess – Uma Lição de Vida/Tess

De Roman Polasnki, Inglaterra-França, 1979

Com Nastassja Kinski (Tess Durbeyfield)

e Leigh Lawson (Alec d’Urberville), Peter Firth (Angel Clare), John Collin (John Durbeyfield, o pai de Tess), Rosemary Martin (Mrs. Durbeyfield), David Markham (reverendo Mr. Clare, o pai de Angel), Richard Pearson (vigário de Marlott, o vilarejo de Tess), Carolyn Pickles (Marian), Pascale de Boysson (Mrs. Clare, a mãe de Angel), Tony Church (pastor Tringham), John Bett (Felix Clare, irmão de Angel), Tom Chadbon (Cuthbert Clare, irmão de Angel), Sylvia Coleridge (Mrs. d’Urberville, a mãe de Alec), Caroline Embling (Retty), Arielle Dombasle (Mercy Chant, a amiga de Angel), Brigid Erin Bates (moça na dança), Jeanne Biras (moça na dança), Josine Comellas (Mrs. Crick, o da granja de leite), Patsy Smart (criada), Graham Weston (policial)

Roteiro Roman Polanski, Gérard Brach, John Brownjohn

Baseado no romance “Tess of the d’Urbervilles – A Pure Woman”, de Thomas Hardy

Fotografia Geoffrey Unsworth, Ghislain Cloquet

Música Philippe Sarde

Montagem Alastair McIntyre, Tom Priestley

Direção de arte Pierre Guffroy

Coreografia Sue Lefton

Figurinos Anthony Powell

Produção Claude Berri, Timothy Burrill, Renn Productions, Timothy Burrill Productions, Société Française de Production (SFP)

Cor, 170 min (2h50)

R, ****

3 Comentários para “Tess – Uma Lição de Vida / Tess”

  1. Nastassja Kinski, tão linda e talentosa, anda tão sumida, faz falta. O filme é uma pequena pérola.

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