Sombrio já nos títulos, tanto o original, The Dark Corner, quanto o brasileiro, Envolto nas Sombras, e o usado em Portugal, Perdido na Sombra, este policial dirigido por Henry Hathaway em 1946, a época do ouro do noir, é daquele tipo de filme que demora bastante para revelar exatamente do que se trata, afinal.
Um homem de terno branco fica seguindo o protagonista da história, Bradford Galt (o papel de Mark Stevens), pelas ruas de Nova York. Bradford naquela noite havia convidado sua secretária, a bela Kathleen, para jantar. Jantam, e depois caminham pelas ruas, entram num lugar cheio de maquininhas de jogos, os antecessores das máquinas de pin ball, jogam uma coisinha aqui, uma coisinha ali – e o homem grande e feio de terno branco está sempre atrás dele.
A bela secretária Kathleen é o papel de Lucille Ball, cinco antes do primeiro episódio da série I Love Lucy.
Quem gosta dos filmes da fase de ouro do noir – e do cinema americano de uma maneira geral – conhece o ator que faz o White Suit, como o homem de terno branco passará a ser chamado por Bradford e sua secretária. É William Bendix (1906-1964), grande, feio e especializado em fazer tipos brutos, violentos. Sua filmografia tem 92 títulos, e creio que eu não estaria errado se dissesse que em uns 80 deles Bendix fez papel de bandido, de bad guy.
Kathleen diz para o patrão, baixinho, que há um homem seguindo o casal. Bradford, um detetive particular, evidentemente já sabia disso. Responde rapidamente para a bela loura uma frase assim: – “Sei. Tipo grande, terno branco, sapato esportivo de duas cores.”
Bradford combina com Kathleen um esquema para atrair o Terno Branco para o escritório dele, não muito longe dali. Ela deverá pegar um táxi, ficar perto do escritório e, quando o Terno Branco enfim saísse do prédio, deveria segui-lo, ver para onde ele iria, onde ele morava.
Quando o filme está com 10 minutos, Bradford tem o Terno Branco dominado, dentro de seu escritório. Segura uma arma apontada para ele, e dá as ordens. Quer saber quem o contratou para fazer aquele serviço de segui-lo, por quê, para quê.
Grandão, fortão, o Terno Branco entrega o nome: foi Tony Jardine.
Fica absolutamente claro que Bradford sabe muito bem quem é Tony Jardine.
De posse da informação que queria, Bradford deixa o Terno Branco ir embora – mas antes, num gesto intempestivo, suja de tinta de carimbo a gola do terno branco do Terno Branco. Esse detalhe – a sujeira de tinta – será importante na trama.
Da janela do seu escritório, Bradford observa (assim como o espectador) o Terno Branco caminhando na calçada, onde está parado o táxi com Kathleen.
Uma deliciosa piada para quem gosta de filmes
O espectador mais atento poderá achar que o Terno Branco –troncudo, muito maior que Bradford – não esboçou reação alguma diante do detetive; cedeu muito facilmente. E é verdade: ele cedeu mesmo, propositadamente, conforme contará depois para o homem que o contratou para o serviço.
Só que o filme demora demais para contar quem é o homem que o contratou. E demora mais ainda para mostrar por que – para mostrar por qual motivo, afinal, o contratante quis que o Terno Branco ficasse ostensivamente seguindo Bradford, tão ostensivamente a ponto de uma simples secretária perceber.
Quando o filme está com 15 minutos, Bradford está em seu escritório enchendo a cara (detetive particular tem que encher a cara, diz um dos primeiros artigos do código de criação dos private eyes de Hollywood), e a secretária Kathleen chega de volta depois de seguir o Terno Branco durante um bom tempo, até que ele conseguisse despistá-la. Afinal, ele é um bandido calejado, e ela é apenas uma secretária.
E neste momento há um diálogo absolutamente sensacional, uma delícia para quem gosta de filmes: uma piadinha sobre filmes.
Kathleen: – “Você deveria ter o William Powell como seu secretário.”
Bradford: – “William Powell? Quem é esse?”
Kathleen: – “Você nunca vai ao cinema? Ele é um detetive, em The Thin Man”.
The Thin Man, no Brasil A Ceia dos Acusados, de W.S. Van Dyke, de 1936, adaptação da novela de mesmo nome (tanto no original quanto no Brasil) de autoria do grande Dashiell Hammett, um dos criadores, ao lado de Raymond Chandler, dentro da literatura policial, do subgênero hard-boiled, dos detetives particulares durões, briguentos, que bebem demais e apanham demais – o exato oposto dos detetives criados pelos britânicos, cerebrais, da dedução, de Sherlock Holmes a Hercule Poirot. William Powell (1892-1984), grande galã nos anos 30 e 40, faz o detetive Nick Charles.
O espectador fica perdidinho da silva
Logo depois da ótima piada com a própria ficção, o próprio cinema, o detetive hard-boiled, o filme noir, Kathleen-Lucille Ball aproxima-se da mesa diante da qual seu patrão está sentado, e pergunta, com o rosto muito sério, quem era aquele homem. – “Um capanga contratado por alguém”, responde Bradford. – “Contratado por quem?”, pergunta a bela loura. – “Esqueça. É o melhor que você faz.”
Os diálogos de The Dark Corner são excelentes – aquele tipo de maravilhosos diálogos que os roteiristas de Hollywood sabiam criar nos anos 30, 40, 50.
A bela Kathleen insiste: – “Vamos lá, abra esse cofre. Me conte. Quem são essas pessoas? Eu quero saber e quero ajudar você.”
– “Eu não posso, baby”, diz o detetive. – “Mas gostei do que você disse”. E então o detetive particular Bradford se levanta da cadeira em que estava sentado, agarra a loura linda que estava diante dele e os dois se beijam.
Depois do beijo, Bradford insiste:
– “Ouça. Se você não quiser perder esse brilho de poeira de estrelas nesses seus olhos, vá embora. Saia daqui. A porta está aberta.”
E acrescenta que se ela ficar vai se envolver com muita coisa ruim, capangas, violência.
A câmara nesse momento está colocada atrás da cabeça de Bradford, que voltou a se sentar. Vemos de frente, em plano americano, a bela figura de Kathleen-Lucille Ball, enquanto ela diz: – “Vou correr o risco. Vou ficar.”
A sequência é bem encenada, os dois atores são belos e jovens, as falas são muitíssimo bem escritas, vemos que aquele é o começo de um belo romance – mas, exatamente como Kathleen, o espectador não tem a menor idéia sobre o que está acontecendo. Não tem a menor idéia de quem seja o sujeito que o Terno Branco mencionou, o tal Tony Jardine.
Até então, só sabemos que Bradford Galt está há pouco tempo em Nova York. Ele veio do outro lado do país, da Califórnia, onde teve problemas sérios, graves – mas não sabemos quais são. Bem no início da narrativa, nos primeiros minutos, chega ao escritório dele um sujeito que se apresenta para a secretária Kathleen como o tenente de Polícia Frank Reeves (Reed Hadley). Ele tem uma conversa com Bradford, pela qual ficamos sabendo que ele é amigo, e quer cuidar para que Bradford não saia da linha, não faça nada errado.
E aí, já que o espectador está perdidinho da silva, a coisa se complica mais um pouco.
Depois de um terço de filme, o espectador está no escuro
Depois dessa sequência do primeiro beijo do mocinho e da mocinha, corta – e estamos em um outro mundo, completamente diferente. Estamos numa galeria de arte chiquetérrima, na Quinta Avenida, coisa de gente estupidamente ricos. Ficaremos então conhecendo o tal do Tony Jardine (Kurt Kreuger), um sujeito com uma cara bonitinha como o de uma boneca Barbie, que parece ser um grande amigo de Hardy Cathcart, o milionário dono da milionária Cathcart Galleries, que tem obras dos mais consagrados artistas do mundo. Tem até um Rafael, pode?
Esse Cathcart é um sujeito idoso, parece ter aí uns 70 anos – e é absolutamente pomposo, metido, nariz arrebitado, emproado. Ele se parece demais, mas demais da conta, com Waldo Lydecker, um dos personagens mais pomposos, metidos, nariz arrebitado, emproados da História do cinema. Esse Waldo Lydecker, um jornalista, crítico de sei lá o quê, o público havia visto em outro policial sombrio, lançado dois anos antes – Laura, a obra-prima de Otto Preminger.
A semelhança de Lydecker com esse Hardy Cathcart fica ainda mais evidente porque os dois são interpretados pelo mesmo ator, Clifton Webb – um sujeito que parece ter o physique du rôle do ricaço metido a intelectual e a besta do mesmo modo que William Bendiz tem o physique du rõle perfeito para fazer o capanga de um gângster, um bandido, um sujeito violento.
Cathcart é casado com uma moça uns 30 anos mais jovem que ele, e danada de bela. Um monumento, uma coisa de deixar Boticelli espantado. Chama-se Mari, e é interpretada por Cathy Downs (na foto abaixo, com Clifton Webb).
Mas o pobre espectador continua sem saber o que afinal está acontecendo. Sem ter a menor idéia de qual pode ser a ligação entre o mundo daquele milionário dono de uma galeria de arte da Quinta Avenida casado com uma moça muitíssimo mais jovem e esse detetive particular que teve algum problema na Costa Oeste sobre o qual não se sabe nada.
Quando o filme está com 33 minutos, finalmente Bradford começa a dar algumas informações para a pobre Kathleen e para o pobre espectador.
Um carro dirigido pelo Terno Branco tinha passado bem perto dele, como se estivesse tentando atropelá-lo. Kathleen o socorreu, levou-o para tomar um café. Ficaram um tempo ali sentados, um diante do outro, ela fazendo perguntas com o olhar – mas só com o olhar. E aí Bradford diz:
– “Um sujeito chamado Jardine tem medo de mim. Ele mandou me seguir a partir daquela noite. Acho que ele tentou me matar hoje.”
Ainda é muito pouco. Nem Kathleen nem o espectador sabem direito o que isso significa – e o filme já está com 34 de seus curtos 99.
Um terço do filme já foi – e a mocinha e o espectador ainda estão no escuro.
Todos dizem que é um filme noir. Eu digo “Truco!”
No escuro.
A imagem é perfeitamente apropriada. The Dark Corner. Envolto nas Sombras. Perdido na Sombra. Envuelto en la Sombra – o título na Espanha. Envuelto en la Noche – o título no México.
Quando já estamos bem depois da metade dos 99 minutos, e agora já estamos sabendo de todos os fatos básicos que haviam demorado a nos ser entregues, Bradford Galt diz a frase que dá o título do filme, em qualquer língua:
– “Lá se vai minha pista. Me sinto todo morto por dentro. Estou cercado em um canto escuro, e não sei quem está batendo em mim.”
Claro que no original é mais sonoro. “There goes my last lead. I feel all dead inside. I’m backed up in a dark corner, and I don’t know who’s hitting me.”
Isso tudo que relatei até aqui leva a duas questões, dois temas de que gosto, que considero importantes. O problema das sinopses que revelam coisas que os filmes demoram para revelar, e o problema de se definir o que, afinal de contas, é um filme noir.
Se os realizadores construíram a narrativa de tal forma que o espectador (assim como a protagonista feminina) só fica sabendo dos fatos básicos da trama depois que já se passou uma boa parte do filme, qual é o sentido de uma sinopse revelar tudo de cara?
Qual é o sentido de uma sinopse fazer spoiler?
A sinopse do filme no IMDb, esse fantástico, maravilhoso, enciclopédico site que tem tudo, absolutamente tudo sobre os filmes tem uma única frase. São ridículos 64 toques – e a frase revela o que o filme só mostra para o espectador lá pela metade de seus 99 minutos. “Uma secretária tenta ajudar seu patrão que ?&*#++*&.”
A sinopse/avaliação de Leonard Maltin, o autor dos guias de filmes mais vendidos do mundo no tempo em que se vendiam guias de filme, tem duas frases, de 130 caracteres – e no final a primeira frase revela o que os realizadores quiserem manter em segredo até a metade do filme!
Bom, aproveito pra já informar o que diz o Maltin – sem o spoiler, é claro. Ele dá 3 estrelas em 4 e diz o seguinte: “Beleza de mistério com a secretária Ball ajudando o patrão Stevens a escapar de ?&*#++*&. Um filme noir com boas atuações.”
Spoiler, meu! Spoiler! Um absurdo!
“Um filme noir com boas atuações.”
Boas atuações, sem dúvida. Isso não se discute.
Mas… Seria este filme tão cheio de referências a sombras um filme noir?
Sombras, clima sombrio, efeitos de iluminação na fotografia em preto-e-branco. Tudo isso é básico para o filme noir, este herdeiro do visual do expressionismo alemão, misturado com o clima do hard-boiled, da dureza, da desesperança dos anos da guerra e do imediato pós-guerra. Visual chiaroscuro misturado com corrupção, traição, mentira, podridão, desesperança.
O IMDb classifica The Dark Corner como “crime, drama, film noir”. O livro O Outro Lado da Noite: Filme Noir, do estudioso carioca A.C. Gomes de Mattos, inclui Envolto nas Sombras – embora, por razões que desconheço, não faça uma apreciação dele, ao contrário do que faz com todos os outros, e traga apenas uma cuidadosa, completa ficha técnica.
Bem, então tá: The Dark Corner é um filme noir.
Eu diria “truco!”
Filme noir tem que ter femme fatale de um lado e o pato, o sucker, de outro – a mulher malvada, egoísta, vaidosa, ambiciosa, que enfeitiça o cara, que, apaixonadão, fica bobo, pato, sucker.
The Dark Corner não tem nem femme fatale nem pato.
Kathleen é loura como 99% das femmes fatales, mas não é fatal – é gente boa, gente fina. Tudo que ela quer é ajudar o sujeito para quem trabalha, e por quem acaba se apaixonando.
E Bradford não é um bobão, um pasqualão, um pato. É um sujeito meio perdidão, que felizmente encontrou (como euzinho aqui) mulher forte, poderosa, porreta, para ajudá-lo.
Casal que se gosta, se respeita, se ajuda. Não há nada menos noir do que isso.
The Dark Corner tem momentos de bom humor, momentos engraçados. Aquela piada sobre William Powell. Depois, há um momento engraçadíssimo, quando o casal Bradford e Kathleen estão diante da bilheteria de um cinema, e conversam sobre a coisa de Kathleen ir para a casa dele – algo inimaginável em 1946 –, o que faz a moça da bilheteria arregalar os olhos como se estivesse diante de um festim romano ou de um filme pornô hard.
Em filme noir não cabem momento refresco, bom humor, piadinha. Sont de choses que ne vont três bien ensemble. De jeito nenhum.
Ah, e ainda tem mais esta: The Dark Corner tem happy ending. Filme noir não pode jamais ter happy ending. Nele, assim como tantas vezes na vida real, o mocinho se ferra, o bandido se dá bem. Se não for assim, se tiver final feliz, então não é noir.
Mas isso tudo é meio bobagem da grossa. Discutir se tal filme é noir ou não é algo tão pouco importante quanto discutir o sexo dos anjos.
Por falar nisso: qual é mesmo o sexo dos anjos?
Lucille Ball já era estrela na época do filme
Nos créditos iniciais e nos cartazes do filme, os nomes dos atores aparecem assim: Lucille Ball, Clifton Webb, William Bendix, Mark Stevens.
É um daqueles exemplos perfeitos de que, na Hollywood dos grandes estúdios, a ordem dos nomes dos atores era definida pela fama deles, pela capacidade de eles atraírem público para as bilheterias dos cinemas. Aparece primeiro o nome de que é mais astro/estrela.
Ora, o personagem central, o protagonista da história é o detetive Bradford Galt, o papel de Mark Stevens. O segundo personagem mais importante sem dúvida é a Kathleen de Lucille Ball. Depois viria, sim, William Bendix, o homem do terno branco. E Clifton Webb, que faz o milionário dono da galeria de arte, esse seguramente teria que vir em quarto lugar. Mas era o segundo nome mais conhecido do público; Laura havia feito grande sucesso apenas dois anos antes – e então ele foi colocado logo depois de Lucille Ball, que já era, naquele ano de 1946, uma estrela.
De todos os atores, Lucille Ball é hoje, se não a mais famosa, ao menos a que ainda pode ser lembrada por um bom número de cinéfilos, ou de veteranos. Principalmente por I Love Lucy.
“A mulher que sempre será lembrada como a louca, adorável, sempre propensa a acidentes Lucy Ricardo”, diz dela o IMDb.
I Love Lucy foi uma criação dela e do marido, Desi Arnaz. Juntos, formaram a produtora Desilu, e com ela fizeram o show que viria a ser um dos maiores sucessos da televisão nos anos 50. Foram 194 episódios, exibidos pela rede CBS de 15 de outubro de 1951 a 6 de maio de 1957; a partir daí, o programa ainda continuou no ar por mais três temporadas no formato de especiais de uma hora cada, exibidos de 1957 a 1960. Durante quatro das suas seis temporadas, foi o programa mais assistido da televisão americana.
O sucesso foi tamanho que o casal Lucille Ball & Desi Arnaz comprou a RKO! Eu não sabia disso. O belo livro The International Dictionary of Films and Filmakers – Actors & Actresses, de James Vinson, fala disso no começo do verbete sobre a estrela:
“Seu tremendo sucesso popular nos anos iniciais da televisão permitiu que ela comprasse a RKO, um dos estúdios em que nos anos 1940 ela não tinha conseguido desenvolver direito os seus talentos. Ball teve sua vingança sobre o Sistema de Hollywood, porque, no então novo meio (ao qual, em alguns pontos importantes, a velha indústria foi se subordinando), ela se tornou, inquestionavelmente, a mais vista e mais apreciada artista de seu tempo.”
Lucille Ball e Desi Arnaz são os personagens de Apresentando os Ricardos/Being the Ricardos, filme de 2021; ela é interpretada por Nicole Kidman e ele – um cubano – pelo espanhol Javier Bardem.
Não dá para falar de Lucille Ball e I Love Lucy sem registrar que a TV brasileira copiou o modelo do show: em 1953, apenas dois anos, portanto, depois da estréia do programa sobre o casal Ricky e Lucy Ricardo, a TV Tupi de São Paulo lançou o Alô, Doçura, sobre o dia a dia de um jovem e belo casal, interpretado por Eva Wilma e John Herbert. Alô, Doçura ficou no ar entre 1953 e 1964, e foi relançada nos anos 1990.
“Um Quem é Quem da TV americana nos anos 50”
Há dois itens muito interessantes na página de Trivia sobre o filme no IMDb. O primeiro é assim:
“Este filme com muitos atores aclamados poderia ser considerado um Quem é Quem da TV dos anos 1950. Estão no elenco Lucille Ball (I Love Lucy, 1951), William Bendix (The Life of Riley, 1953), Reed Hadley (Racket Squad, 1950, e Public Defender, 1954), Mark Stevens (Big Town, 1950) e Cathy Downs (Ann Howe de The Joe Palooka Story, 1954).”
Claro que esses seriados não querem dizer coisa alguma para os brasileiros – com a exceção de I Love Lucy, que foi exibida pela Rede Tupi entre 1958 e 1979. Mas é fascinante saber que tantos atores de um filme de 1946 hoje bem pouco conhecido viriam a fazer sucesso na TV.
O outro item interessantíssimo da página de Trivia do IMDb diz o seguinte: “Embora sem o crédito, (o filme) foi essencialmente refeito como Confidentially Yours, o último filme de Truffaurt”. Faço questão de registrar o texto original, que tem até mesmo um erro de grafia: “Uncredited but essentially remade as Confidentally (sic) Yours, Truffaut’s final film.”
Não é verdade! Absolutamente não é verdade.
Vivement Dimanche!, nos Estados Unidos Confidentially Yours, no Brasil De Repente, num Domingo, se baseia, sim, num romance policial americano – Truffaut fez cinco policiais em sua carreira de 21 longa-metragens, e todos eles são baseados em romances policiais americanos. O livro que deu origem ao último filme do grande realizador se chama The Long Saturday Night, de Charles Williams.
Sim, há pontos de semelhança entre as duas histórias. Em ambas, o protagonista é acusado de crime que não cometeu, e, em ambas, ele é ajudado por uma secretária eficiente, inteligente, ágil – e extremamente fiel ao patrão. Mas é só isso. Não dá para dizer que este The Dark Corner foi essencialmente refeito como Confidentially Yours/Vivement Dimanche!
É isso aí. Viva o cinema americano dos anos 30 a 60! Viva Lucille Ball! E, já que ele apareceu por aqui, embora numa afirmação falsa, viva François Truffaut!
Anotação em 7/2021
Envolto nas Sombras/The Dark Corner
De Henry Hathaway, EUA, 1946.
Com Mark Stevens (Bradford Galt), Lucille Ball (Kathleen Stewart), Clifton Webb (Hardy Cathcart), William Bendix (Stauffer, ou Fred Foss, o Terno Branco), Kurt Kreuger (Tony Jardine), Cathy Downs (Mari Cathcart), Reed Hadley (tenente Frank Reeves), Constance Collier (Mrs. Kingsley), Molly Lamont (Lucy Wilding), Forbes Murray (Mr. Bryson), Regina Wallace (Mrs. Bryson), John Goldsworthy (o mordomo de Cathcart), Charles Wagenheim (o verdadeiro Foss), Minerva Urecal (a mãe da garotinha), Colleen Alpaugh (a garotinha do assobio), Eddie Heywood and His Orchestra (eles próprios)
Roteiro Jay Dratler e Bernard C. Schoenfeld
Baseado em conto de Leo Rosten
Colaboraram no roteiro (sem crédito) Harry Kleiner e Fred Kohlmar.
Fotografia Joseph MacDonald
Música Cyril J. Mockridge
Montagem J. Watson Webb
Direção de arte James Basevi, Leland Fuller
Figurinos Kay Nelson
Produção Fred Kohlmar, 20th Century Fox.
P&B, 99 min (1h39)
Disponível no Cine Antiqua, no YouTube, em agosto de 2021.
**1/2
Título na França: L’Impasse Tragique. Em Portugal: Perdido na Sombra.
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