
Que vida, meu Deus, a desse Solomon Perel; que coisa mais absolutamente incrível, fantástica, horripilante – quase uma síntese da história do século XX! E que filme extraordinário, maravilhoso, fez das memórias dele essa realizadora espetacular que é Agnieszka Holland!
Duas frases com exclamação. Os manuais do bom jornalismo não admitiriam isso de forma alguma. Danem-se eles. Europa Europa, no Brasil Filhos da Guerra, é um filme para o qual mil pontos de exclamação são poucos.
Como poucos, pouquíssimos outros filmes, Europa Europa expõe, com uma clareza mais cristalina que a de água de fonte, com uma sensibilidade rara, com o vigor de um soco no estômago, o horror sem limites dos dois regimes totalitários que causaram a morte de muitos milhões de pessoas no continente berço da civilização ocidental, o nazismo alemão e o comunismo soviético.
Adolf Hitler e Josef Stálin aparecem na tela diante de nós, em pesadelos terríveis, apavorantes, de Solomon Perel – encenados com absoluto brilho.
Escrito e dirigido por essa polonesa filha de pai judeu e mãe católica, que bem jovem trabalhou com Andrzej Wajda e o checo Milos Forman, não por acaso dois dos maiores realizadores da História do cinema, Europa Europa, de 1990, é uma co-produção França-Alemanha – dois países que, na guerra, haviam, sido invadido e invasor, depois vencedor e vencido.
No ano em que Europa Europa foi lançado, o Império Soviético ruía feito um castelo de cartas, pondo fim à Guerra Fria, e a Alemanha se reunificava após 45 anos dividida entre metade capitalista, metade comunista.
Pouco depois, em 1993, o conterrâneo de Agnieszka Holland Krzysztof Kieslowski lançava o primeiro dos filmes de sua trilogia das cores da bandeira do país do iluminismo, da Liberdade Igualdade Fraternidade. Em A Liberdade é Azul, o marido da protagonista, interpretada por Juliette Binoche, estava compondo o hino da Europa Unida quando morre em um acidente de carro. Naquele mesmo ano, a União Européia foi oficialmente criada, com a assinatura do Tratado de Maastricht.
(Não por coincidência, o autor da trilha sonora de Europa Europa seria também o autor das músicas dos três filmes da trilogia Bleu, Blanc, Rouge, esse extraordinário Zbigniew Preisner. Igualmente não por coincidência, a jovem atriz que tem um papel importante em Europa Europa, a francesa Julie Delpy, é a protagonista de A Igualdade é Branca, de 1994.)
Parecia a aurora de uma nova era, um tempo de paz, de esperança.
Ver Europa Europa pela primeira vez agora, em 2025, 35 anos após seu lançamento (por algum motivo que desconheço, não vi o filme na época), é ao mesmo tempo fascinante, pela beleza imensa, pelo grande cinema, e apavorante.
A mesma Rússia que na época à frente da União Soviética primeiro fez pacto com a Alemanha nazista, e depois a enfrentou no front Leste, enquanto Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canadá, Austrália e aliados (inclusive o Brasil) a enfrentavam nos fronts Oeste e Sul, invade, bombardeia e mata milhares, milhares, milhares de pessoas na vizinha Ucrânia.
E o país que se formou na Palestina para onde Solomon Perel foi após a guerra, por não querer mais ficar naquela Europa ensanguentada, promove – agora governado por uma coalizão de extrema direita com religiosos ultraortodoxos – a dizimação de uma população inteira, de maneira não muito diferente daquela executada pelo nazismo contra os judeus.
Um jovem bonito, inteligente, fluente em alemão e russo
Solomon Perel nasceu no dia 21 de abril de 1925, na Alemanha, filho de pais judeus que emigraram da Rússia fugindo das perseguições, os pogroms. Com a ascensão do nazismo, no início dos anos 30, a família emigrou novamente, para Lódz, na Polônia. Depois que a Alemanha nazista invadiu a Polônia, em setembro de 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial, Solomon e seu irmão mais velho Yitzhak tentaram fugir para o Leste da Polônia, então ocupada pela União Soviética sob Stálin. Solomon conseguiu – Yitzhak não, e acabaria depois indo para a Lituânia.
Graças ao pacto de não agressão de agosto de 1939 entre as ditaduras de Hitler e Stálin – o filme de Agnieszka Holland realça isso bastante –, durante alguns meses não houve hostilidades naquela região do Leste da Polônia. O adolescente Solomon Perel viveu em um orfanato-escola em Grodno administrado pelos soviéticos, e conseguiu se sobressair como um perfeito jovem comunista, que sabia recitar o que era imposto à cabeça das crianças e jovens:
“Os proprietários de terras e os burgueses mantêm o povo na ignorância”, lê Solomon, interpretado por Marco Hofschneider, para os estudantes reunidos. “Eles encorajam superstições religiosas, e, com a ajuda de papas, padres e rabinos, eles sufocam todo o instinto revolucionário. Este é o motivo pelo qual nós chamamos a religião de o ópio do povo.”
Professores e colegas aplaudem. A jovem e bela instrutora, uma comunista abnegada, sorri de contentamento com a exibição de sabedoria de seu aluno prodígio.
Não tenho idéia de qual era a aparência do jovem Solomon Perel na vida real, mas o do filme de Agnieszka Holland – que vem na pele desse Marco Hofschneider, 21 anos em 1990, mas parecendo mais jovem ainda – é um moço muito bonito. E sua beleza conta. A beleza, e o fato de dominar bem tanto o alemão da terra em que nasceu e foi criado quanto o russo, a língua mãe de seus pais (interpretados por Klaus Abramowsky e Michele Gleizer).
Beleza, o domínio do alemão e do russo. Dois fatores importantes para determinar a sorte que ele teve em sobreviver – e o azar de sobreviver em meio a tanto absurdo sofrimento.
Para sobreviver, Solomon diz que é o alemão Josef Peters
Como se sabe, o regime nazista rompeu o pacto de não agressão, ao invadir a Polônia e avançar para Leste, para o território então sob domínio soviético.
Toda a região do grande orfanato-escola de formação de jovens comunistas é atacada pelas tropas alemãs. A população do lugar tenta fugir, mas boa parte dela – inclusive Solomon – é alcançada pelos soldados.
Solomon identifica-se para seus captores como Josef Peters, órfão, alemão, perfeito alemão. Conquista a simpatia de um grupo de soldados – em especial de um que acaba demonstrando ter interesse sexual no belo rapaz. Como sabe russo, é de grande utilidade para a tropa como tradutor.
Um capitão do Exército nazista, von Lereneau (Hanns Zischler), presta atenção nele, acha que é um bom garoto.
Em um campo de batalha, por uma circunstância alheia à vontade dele, Solomon acaba ajudando a tropa alemã a obter uma vitória importante sobre os russos. Vira herói. O capitão von Lereneau demonstra intenção de adotá-lo como filho – e o envia para Berlim, para ter o privilégio de estudar na principal escola formadora de membros da Juventude Hitlerista.
A maior parte da ação do filme se passa ali, com o jovem judeu sendo doutrinado na Juventude Hitlerista a odiar os judeus, a saber identificá-los, a treinar como matá-los.
O livro de memórias der Solomon Perel, em que Agnieszka Holland se baseou para escrever o roteiro do filme, com a ajuda de Paul Hengge, se chama Ich war Hitlerjunge Solomon” (Eu Era o Solomon da Juventude Hitlerista).
Solomon ouve sempre que os judeus têm que ser eliminados
Europa Europa tem diversas sequências absolutamente marcantes, fortes, emocionantes, sobre essa coisa maluca, insana, absurda de um jovem judeu estar sendo ensinado a odiar mortalmente os judeus.
Há uma sequência em que um professor chama Solomon para ficar junto dele, diante dos alunos – e começa a explicar para a classe como identificar um judeu. Os judeus têm o nariz assim, a testa assado, o tamanho da cabeça é tal e tal – ele vai dizendo, segurando instrumentos para medir cada item que cita no rosto do jovem que havia sido recebido na escola da Juventude Hitlerista como herói.
(Não dá para não lembrar do adjetivo “lombrosiano”, de Cesare Lombroso, 1835-1909, psiquiatra, criminalista, aliás judeu, que defendia – a grosso, grossíssimo modo – que determinados traços físicos dos indivíduos poderiam identificar suas tendências criminosas.)
Solomon, evidentemente – e o espectador junto com ele – fica absolutamente apavorado com a possibilidade de que o exame feito ali pelo perito nazista pudesse identificá-lo como judeu. Mas não, não, isso não acontece: o perito demonstra para a classe que as características físicas de Solomon, quer dizer, Josef, são as de um perfeito ariano.
Há um diálogo atordoante entre o capitão von Lereneau e ele sobre quem é o inimigo da Alemanha. A rigor, é um monólogo, uma aula do capitão para o garoto em que o oficial nazista está investindo. Ele faz a pergunta, e Solomon vai tentando achar o inimigo da Alemanha – os russos? os franceses, ingleses?
Não, diz o capitão von Lereneau. O inimigo são os judeus. Os judeus têm que ser derrotados, massacrados, eliminados.
Os judeus têm que ser derrotados, massacrados, eliminados, É nisso que acredita piamente a garota Leni, a mais bela das moças que trabalham como auxiliares na escola da Juventude Hitlerista – o papel de uma muito jovem e deslumbrante Julie Delpy, 21 anos de idade na época do lançamento do filme, exatamente como Marco Hofschneider, e exatamente como ele parecendo ainda mais jovem, com todo o jeito de uma adolescente de uns 17.
Todos os judeus têm que ser derrotados, massacrados, eliminados, dizem os nazistas para o jovem judeu Solomon que se passa por alemão, ariano.
O horror, o horror.
E aqui não tem jeito, não dá para evitar: neste ano em que finalmente vi Europa Europa, 35 anos depois de seu lançamento, muitos judeus dizem que os palestinos têm que ser derrotados, massacrados, eliminados.
https://oglobo.globo.com/opiniao/dorrit-harazim/coluna/2025/06/israel-deixa-de-acreditar-na-capacidade-de-se-consertar.ghtml
Como lembrou Dorrit Harazim em um de seus maravilhosos artigos – no domingo, 22/6, poucos dias antes de eu ver Europa Europa –,
o radialista israelense Elad Barashi postou o seguinte nas redes sociais:
“Gaza merece morrer. Merecem a morte. Homens, mulheres e crianças, de todas as formas possíveis. Devemos simplesmente executar um Holocausto neles. Sim, podem ler de novo, H-O-L-O-C-A-U-S-T-O. Se depender de mim, câmaras de gás. Trens da morte. E quaisquer outras formas de morte cruel. Sem medo nem hesitação. Sem problemas de consciência nem misericórdia.”
Meu Deus do céu e também da Terra!
A garota nazista acrescenta à vida de Solomon a dor física
Tem importância imensa no filme essa Leni, a jovem alemã fanatizada pela doutrinação nazista – tão fanatizada que sua própria mãe fica em pânico, sem compreender tanto apreço a uma ideologia, tanto ódio instigado pelo Partido Nacional-Socialista.
Leni. Cheguei a pensar que Leni fosse uma personagem fictícia, criada por Agnieszka Holland numa espécie de licença poética, de recurso dramático, e que o nome fosse uma referência a Leni Riefenstahl (1902-2003), a cineasta do regime nazista, a autora dos filmes que glorificavam o nazismo, como o célebre Triunfo da Vontade/Triumph des Willens (1935).
(Breve digressão: 12 de cada 10 cinéfilos de esquerda me odiariam por fazer tal comparação, mas Leni Riefenstahl foi para o nazismo assim como o grande, extraordinário, genial, Sergei Mikhailovich Eisenstein foi para o comunismo dos anos iniciais, os de Lênin, os pré-Stálin. (Stálin foi demais para o comunista-humanista Eisenstein…)
Mas existiu, sim, de fato, uma Leni na vida de Solomon-Josef. Leni Latsch, membro da Liga das Moças Alemãs (BDM), a versão feminina da Juventude Hitlerista, como informa a Wikipedia.
No filme, Leni-Julie Delpy acrescenta à toda dor moral do jovem Solomon-Josef a tortura da dor física.
(Diacho. Me lembrei da frase atribuída a Oscar Wilde: “Ó Deus, livrai-me da dor física, que da moral eu me ocupo…”)
Em sua identidade Josef, Solomon apaixona-se profundamente por Leni. E a moça se apaixona por ele – e demonstra que quer fazer sexo com ele. Aí vem a coisa maluca da circuncisão. Se houvesse sexo entre eles, Leni o identificaria como judeu. E então o pobre rapaz começa a tentar forçar para que seu membro não demonstre que foi circuncisado.
A dor moral daquele ser humano causa no espectador uma dor profunda. Mas, diabo, a dor física do jovem Solomon, exibida com franqueza pelo filme magistral de Agnieszka Holland, provoca na gente uma dor física.
Assim como Solomon, o pai da cineasta escondia ser judeu
Nascido em 1925, como já foi dito, Solomon Perel estava com 65 anos em 1990, quando o filme sobre sua vida foi lançado. Não creio que seja spoiler – ao contrário, acho que é obrigatório registrar que Agnieszka Holland o colocou na última sequência de seu filme.
Acho também obrigatório fazer um pequeno registro sobre a família dessa diretora extraordinária. Como já foi dito bem en passant, a realizadora é filha de pai judeu e mãe católica, Henryk Holland e
Irena Rybczynska-Holland. Assim como Salomon Perel, Henryk Holland, jornalista, apoiador do regime comunista, escondia sua identidade judaica. E Agnieszka foi educada no catolicismo e frequentou escolas católicas. Como se sabe, a imensa maior parte dos poloneses é católica – a Wikipedia registra que cerca de 86% da população seguem a religião do cardeal Karol Wojtyla, arcebispo da Cracóvia, mais tarde papa João Paulo II.
Europa Europa foi o filme de estréia do berlinense Marco Hofschneider, que interpreta Solomon Perel – e ele ganhou o papel por uma circunstância do acaso, segundo registra o IMDb. O ator escolhido para o papel era o irmão mais velho de Marco, René Hofschneider, mas o início das filmagens atrasou, por dificuldades dos produtores para encontrar financiamento. Quando finalmente as filmagens estavam para começar, em março de 1989, os realizadores entenderam que René já estava muito velho para interpretar Solomon; ele ficou com o papel de Yitzhak, Isaac, o irmão de Solomon. E Marco ganhou papel principal.
Continuou firme na carreira a partir daí. Sua filmografia tem 60 títulos, que incluem diversas séries para a TV alemã.
Entre muitos prêmios e elogios, há uma crítica feroz
Europa Europa recebeu críticas positivas em diversos países. Teve uma indicação ao Oscar de 1992 na categoria de roteiro adaptado, e tanto ao Globo de Ouro de 1992 quanto ao Bafta de 1993 na categoria de melhor filme de língua não inglesa. Levou o Globo de Ouro, além de outros oito prêmios.
Eis o início do texto sobre o filme na edição brasileira do livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer, editado por Steven Jay Schneider:
“Salomon Perel, interpretado por Marco Hofschneider, muda de uniforme, idioma e identidade numa tentativa de sobreviver ao Holocausto. A conhecida diretora polonesa Agnieszka Holland abstém-se de julgar seu protagonista camaleônico enquanto apresenta monstruosas torturas psicológicas e fugas milagrosas mantendo uma distância impassível, sem se deter em sofrimentos e banhos de sangue. É isso o que torna esta história inacreditável tão chocantemente real, separando-a dos outros filmes sobre o Holocausto.”
Em seguida, o verbete faz uma detalhada sinopse da trama, que não acho necessário transcrever.
Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4 para o filme: “Adolescente alemão-judeu foge dos nazistas e esconde sua identidade – para se descobrir depois chamado para o exército de Hitler! Um drama revelador sobre o Holocausto, baseado em fatos reais, da autobiografia de Solomon Perel, o filme é ao mesmo tempo angustiante e humorístico; combina habilmente imagens horríveis com humor negro para retratar as dores do crescimento de um menino que se torna um homem no meio de um mundo em caos. A autora-diretora polonesa Holland fez um filme fascinante e comovente. Em alemão e russo.”
Bem, eu não vi nada, absolutamente nada engraçado, nenhum toque de humor, mas o problema deve ser meu.
A crítica Janet Maslin escreveu no New York Times que Europa, Europa “consegue o que todo filme sobre o Holocausto procura alcançar: traz uma nova imediatez à indignação ao localizar detalhes específicos e dolorosos que transcendem o clichê”. (Detalhinho mínimo, que anoto porque gosto de detalhes: nos EUA, o título ganhou uma vírgula que não existe no original. Ficou assim como transcrevi da Wikipedia: Europa, Europa.)
No Rotten Tomatoes, ele tem 95% de aprovação dos críticos e 90% entre os leitores do site agregador de opiniões.
É difícil haver unanimidade (e, quando há, ela é burra, dizia Nelson Rodrigues). Houve uma grande controvérsia na época do lançamento do filme pelo fato de a Alemanha não ter indicado o filme como representante do país na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Eis o relato da Wikipedia sobre isso:
“Europa Europa foi fortemente considerado um candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na 64ª cerimônia do Oscar. No entanto, a União Alemã de Exportação de Filmes, que supervisionava o comitê de seleção do Oscar para filmes alemães, recusou-se a enviar o filme para uma indicação. O comitê argumentou que o filme não atendia a certos critérios de elegibilidade, como não se qualificar como um filme alemão. No entanto, o filme foi uma co-produção entre Alemanha, Polônia e França; além disso, grande parte do filme é falada em alemão, enquanto o produtor do filme e grande parte do elenco e da equipe são alemães. Membros do comitê de exportação teriam chamado o filme de ‘lixo’ e ‘uma vergonha’. O uso não convencional da comédia negra no filme, em oposição à tragédia completa, em um filme sobre o Holocausto, foi especulado como a principal causa da omissão do comitê. A omissão levou os principais cineastas alemães a escreverem uma carta pública de apoio ao filme e à sua diretora, Agnieszka Holland. Os signatários da carta incluíam Werner Herzog, Wolfgang Petersen e Wim Wenders.”
Ninguém é obrigado a gostar de um filme. Claro, óbvio. Mas confesso que fiquei espantado com a virulência da crítica ao filme no Guide des Films de Jean Tulard, assinada por Claude Bouniq-Mercier. É assim:
“A narrativa seria real, mas o filme é de uma implausibilidade total, acentuando com prazer os golpes teatrais e as voltas e reviravoltas. A realizadora coloca a questão da identidade sem a resolver, preferindo muitas vezes piruetas de estilo muitas vezes ridículas. As ideologias comunista e nazista são apresentadas lado a lado na mesma representação grotesca. Deste naufrágio, salva-se a última cena em que aparece o Sally Perel real, um homem idoso que se afasta em uma estrada em Israel.”
Não é nada difícil identificar a causa da ferocidade do crítico. Ele ficou profundamente irritado pelo fato de que Agnieszka Holland trata igualmente os dois ditadores, Hitler e Stálin, e as duas ditaduras, a nazista e a comunista. Para quem tem opção preferencial por um tipo de ditador e ditadura, mostrar que todos e todos são parecidos não pode – é crime hediondo, inafiançável.
Anotação em julho de 2025
Filhos da Guerra/Europa Europa
De Agnieszka Holland, França-Alemanha, 1990.
Com Marco Hofschneider (Solomon Perel)
e Julie Delpy (Leni),
Andre Wilms (Kellerman), Aschley Wanninger (Eric), Rene Hofschneider (Isaac Perel, o irmão de Solomon mais próximo dele), Piotr Kozlowski (David Perel, irmão mais velho de Solomon), Klaus Abramowsky (o pai de Solomon), Michele Gleizer (a mãe de Solomon), Marta Sandrowicz (Berta, a irmã de Solomon), Natalie Schmidt (Basia), Delphine Forest (Inna Moisievna), Andrzej Mastalerz (Zenek), Wlodzimierz Press (o filho de Stálin), Klaus Kowatsch (soldado Schultz), Holger Hunkel (Kramer), Bernhard Howe (Feldwebel), Hanns Zischler (capitão von Lereneau), Jorg Schnass (Pfeiffer), Norbert Schwarz (Schwabe), Eric Schwarz (Goethke), Ashley Wanninger (Gerd), Halina Labornarska (a mãe de Leni), Wolfgang Bathke (policial), Aleksy Awdiejew (major soviético),
e, em participação especial, Solomon Perel (como ele mesmo)
Roteiro Agnieszka Holland, Paul Hengge
Baseado no livro de memórias de Solomon Perel, “Ich war Hitlerjunge Salomon”, eu sou o Solomon da Juventude Hitlerista.
Fotografia Jacek Petrycki
Música Zbigniew Preisner
Montagem Ewa Smal, Isabelle Lorente
Desenho de produção Allan Starski
Figurinos Wiesa Starska
Produção Margaret Menegoz,. Artur Brauner, Bayerischer Rundfunk, Filmförderungsanstalt.
Cor, 115 min (1h55)
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