Jurado Nº 2 / Juror #2

4.0 out of 5.0 stars

(Disponível na Apple TV em 12/2024.)

A pontaria de Clint Eastwood continuava absolutamente certeira quando, aos 94 anos, concluiu a realização de Jurado Nº 2, lançado em outubro de 2024. É – não tenho dúvida alguma – um dos melhores dramas de tribunal destes 130 anos de cinema.

É uma trama riquíssima, extraordinária, fascinante, envolvente, emocionante, encenada com cuidado, esmero, talento – talento em doses gigantescas, amazônicas, jupiterianas.

O filme vai fundo, bem fundo, na discussão sobre justiça – tanto o Poder Judiciário, o ordenamento legal, a instituição júri popular e seus defeitos, suas fragilidades, quanto a justiça em si, nos termos mais amplos possíveis, e a dificuldade de se definir o que é justo ou não.

O brilhantismo da trama é tão impressionante quanto a forma com que o roteiro a apresenta para o espectador. À medida em que acontece o julgamento – o réu é acusado de ter matado a namorada, após os dois terem discutido, brigado em público, em um bar à beira de estrada –, o espectador vai vendo a apresentação das versões da promotora e do advogado de defesa e, ao mesmo tempo, simultaneamente, vai vendo também as cenas do que ocorreu na noite do crime.

O roteiro dá um show fantástico ao fugir da ordem cronológica para realçar o drama, o páthos. Vemos, alternadamente – e não na ordem em que os fatos se dão no tribunal –, os argumentos de acusação e defesa. Repetidas vezes.

Um exemplo. Nas alegações finais, a promotora diz: – “O réu é culpado. Por favor, dêem o veredicto de culpado. E o advogado: – “O réu é inocente. Por favor, dêem o veredicto de inocente”.

É muito impactante.

Diferentemente de tantos dramas de tribunal, as alegações finais não são apresentadas quando o filme já se aproxima do fim. Não. Elas vêm antes de chegarmos à metade dos curtos 114 minutos de duração. A maior parte da ação se dá depois que os jurados são levados para a sala fechada em que devem dar seus votos.

Nisso (mas não apenas nisso) o filme de Clint Eastwood se aproxima de outra obra-prima do mesmo tema, dirigido por outro dos grandes cineastas norte-americanos, Sidney Lumet, 12 Homens e Uma Sentença/12 Angry Men (1957).

Há, no entanto, uma diferença abissal entre os dois filmes. O de Lumet terminava com um tom positivo, que dava uma ponta de esperança para o espectador. Aquela sensação de que, poxa, talvez nem tudo esteja perdido. Quem sabe a humanidade não seja, afinal de contas, uma invenção que de fato não deu certo.

O filme deste admirável senhor nonagenário não nos deixa com esperança, não.

Com 15 minutos, o espectador já teve uma grande surpresa

A direção de Clint Eastwood neste Jurado Nº 2 é, como em tantos grandes filmes dele, perfeita. Madura, firme, tranquila. Uma boa história bem contada, encenada com rigor, sem necessidade de criativóis, fogos de artifício. E uma direção de atores que é de babar, de aplaudir de pé como na ópera. Todo o elenco está maravilhosamente e homogeneamente bem. Desde os mais conhecidos – Toni Collette, J.K. Simmons, Kiefer Sutherland – quanto os mais novos – Nicholas Hoult, Zoey Deutch (os dois na foto acima).

“Written by Jonathan Abrams.” Não são muitos os autores que podem assinar assim. O “escrito por fulano” indica que a mesma pessoa criou o argumento, a história, e escreveu o roteiro. “Escrito e dirigido por”, isso aí então é exclusividade de Woody Allen, Ingmar Bergman, Pedro Almodóvar, e mais uns poucos.

Nunca tinha ouvido falar em Jonathan Abrams, mas, diacho, o sujeito é bom demais. Meu Deus, que trama estupenda, maravilhosa, o sujeito criou.

Transcrevo aqui a sinopse que está tanto no IMDb e no Rotten Tomatoes quanto junto ao próprio filme na Apple TV, com variações mínimas de uma palavra ou outra:

Juror #2 acompanha um homem de família, Justin Kemp (Nicholas Hoult), que, servindo como jurado em um julgamento de assassinato de grande repercussão, se encontra lutando com um sério dilema moral – que ele poderia usar para mudar o veredito do júri e potencialmente condenar, ou absolver, o acusado.”

A mesma sinopse no IMDb, no Rotten Tomatoes, na Apple TV – uma indicação de que deve ter sido divulgada pela própria produção do filme. E é uma boa sinopse, porque apresenta os pontos centrais da trama sem, no entanto, estragar as surpresas que o espectador terá. Sem dar spoiler.

É fundamental que seja assim, porque, quando estamos com apenas 15 minutos, já fomos surpreendidos por uma informação nova, completamente inesperada, e muito, muito surpreendente.

Vou relatar o que vemos nos 12 primeiros minutos da narrativa – e aí avisar claramente que em seguida virá spoiler.

Um jovem casal que se ama – e um bebê está para nascer

A ação se passa em Savannah, na Georgia. O homem que será o jurado nº 2, Justin Kemp, nos é apresentado já na primeira sequência, juntamente com sua mulher, Allison. (Justin é o papel de Nicholas Hoult, como já foi dito. Allison, o de Zoey Deutch. Ele estava com 34 anos quando o filme foi rodado, em 2023; ela, com 29.)

Ela está grávida de oito meses e tanto – o bebê está para nascer. Ele preparou sozinho todo o quarto que será dele, e Allison está entrando no quarto pela primeira vez. Adora tudo o que vê.

O casal comenta sobre o fato de que ele foi convocado para participar do processo de escolha dos 12 jurados de um julgamento que está para começar. Brincam que ele vai tentar escapar de ser um dos escolhidos.

O espectador percebe perfeitamente, e de cara, que Justin e Allison são um jovem casal que se ama – um homem e uma mulher que demonstram afeto, carinho um pelo outro. Ao longo da narrativa, e bem aos poucos, vão surgindo mais informações. Allison já havia estado grávida, de gêmeos, mas tinha perdido os bebês – e o casal, naturalmente, sofrera demais, demais. Ela estava bastante tensa nessa segunda gravidez, e demonstrava precisar muito da companhia, da presença do marido.

Justin tinha um passado de alcoolismo; quatro anos da época em que se passa a ação, tinha arrebentado seu carro em uma árvore, bêbado – e depois disso passara a ficar sóbrio. Frequentava as reuniões dos Alcoólicos Anônimos, e tinha relação muito boa com seu coordenador, Larry Lasker (o papel de Kiefer Sutherland, em uma participação especial).

Uma sequência mostra o processo de escolha dos jurados – algo considerado muito importante, fundamental, tanto pela acusação quanto pela defesa, para evitar pessoas que demonstrem preconceito de algum tipo contra ou a favor do réu. No momento em que é interrogado, Justin explica que sua mulher tem uma gravidez de risco e está para dar à luz a qualquer momento – mas a juíza Thelma Hollub (Amy Aquino), uma senhora firme, experiente, garante que ele só terá que ficar à disposição ali no tribunal por oito horas diárias, o mesmo tempo que ele passaria em seu trabalho, do qual está dispensado naqueles dias.

Justin não consegue fugir – e será um dos admitidos tanto pela promotora pública quanto pelo advogado de defesa.

A assistente da promotoria Faith Killebrew (o papel de Toni Collette) estava naqueles dias concorrendo ao cargo de procuradora do condado – nos Estados Unidos, os district attorneys são eleitos, como tantos e tantos filmes nos mostram. Fica óbvio para o espectador que ela precisava demais de vencer o caso, condenar o réu – uma absolvição praticamente decretaria sua derrota para o competidor.

A promotora Faith tem uma boa relação com o advogado de defesa, Eric Resnick (Chris Messina). E ele me pareceu um bom advogado, dedicado, interessado pelo caso – mas mais adiante será dito que ele poderia ter feito um trabalho melhor.

Várias pessoas viram o réu brigando com a vítima

O caso em si nos é apresentado logo no início do julgamento, assim que os 12 jurados são escolhidos.

Exatamente um ano do julgamento, na noite de um 25 de outubro, dezenas de pessoas haviam visto James Michael Sythe (Gabriel Basso) e sua namorada Kendall Carter (Francesca Eastwood), no conhecido bar Rowdy Hideaway, situado junto de uma estrada, a Old Quary Road, um pouco distante da cidade.

(Rowdy Hideaway. Esconderijo turbulento. Bom nome de bar de beira de estrada.)

Os dois jovens bebiam bastante, se carinhavam, mas depois começaram a discutir, e a coisa foi ficando bem feia. Sythe quebrou uma garrafa num acesso de fúria, Kendall saiu do bar, Sythe a seguiu, e os dois continuaram a discutir do lado de fora do bar, junto do estacionamento, embaixo da chuva. Vários clientes saíram do bar e ficaram acompanhando a cena; alguns chegaram a filmar a briga.

Kendall disse que estava farta, não aguentava mais, e iria embora. Sythe a incentivou – com palavrões – a ir embora a pé, na chuva. Além de tudo, conforme o espectador verá depois, Kendall estava de salto alto quando se distanciou do bar, caminhando na beira da estrada.

No dia seguinte, um andarilho, trilheiro, viu o corpo de Kendall junto de um córrego, abaixo de uma ponte daquela estrada. A polícia ouviu o trilheiro, ouviu um velho que morava por ali e disse ter visto um homem jogar uma mulher da ponte, ouviu funcionárias e fregueses do bar que haviam testemunhado a discussão.

Sythe tinha um histórico de violência, pertencia a uma gangue envolvida com drogas.

A polícia não teve dúvidas. A promotoria não teve dúvidas.

Quando estamos então entre os 12 e os 15 minutos iniciais, surge a informação nova, inesperada, surpreendente.

O filme está começando – mas revelar o que aparece ali é spoiler.

Se o eventual leitor chegou até aqui e ainda não viu o filme, deve parar de ler este comentário.

Atenção: a partir daqui há spoiler!

Justin Kemp estava lá, naquele bar Rowdy Hideaway, naquela noite de 25 de outubro!

Ele viu a briga!

A sacada do ficcionista que bolou a história é fantástica – e a forma com que, no seu roteiro, Jonathan Abrams mostra isso para o espectador é igualmente espetacular.

Vemos a promotora Faith Killebrew fazendo sua preleção inicial, apresentando para os réus e para os espectadores que lotam o salão do tribunal os fatos que a polícia havia apurado. Os dois então namorados, Sythe e Kendall, chegam ao bar – corta a sequência do tribunal, vemos o bar cheio, o casal conversando, bebendo. Volta para o tribunal, a câmara focaliza o jurado nº 2. Corta, voltamos ao bar, e lá está Justin Kemp, sentado sozinho a uma mesa, não longe do lugar em que estão Sythe e Kendall.

A promotora vai em frente em sua narrativa, conta a discussão dos dois, que continua do lado de fora do bar, várias pessoas assistindo, algumas filmando a cena.

E vamos vendo que Justin, o jurado nº 2, vai se lembrando dos fatos da noite.

Vemos que Kendall sai caminhando para longe do bar, na beirada da Old Quary Road, um tanto trôpega, em cima de saltos altos e embaixo da chuva.

Vemos que Justin pegou seu carro e saiu pela Old Quary Road, sob a chuva, com pouca visibilidade – em tomadas que são intercaladas com outras no tribunal, enquanto a promotora Faith e o advogado Eric Resnick vão apresentando suas versões do que aconteceu naquela noite um ano antes. Entre uma tomada da promotora e uma do advogado, aparece uma de Justin, a expressão que revela surpresa, choque, medo, pavor.

Vemos que o carro de Justin bate em alguma coisa. Ele sai para ver o que aconteceu, examina o pára-choque de seu carro amassado, vê que está em uma ponte, com uma mureta baixa. Olha um sinal na beira da estrada: “Travessia de cervos”.

Um ano antes do julgamento de James Michael Sythe pelo assassinato de sua namorada Kendall Carter, numa noite em que estava tomado por angústia, Justin Kemp tinha ido até um conhecido bar e pedido uma dose de uísque. Na estrada de volta para casa, seu carro batera em alguma coisa. Ele ficou convencido de que tinha atropelado um cervo.

Mais tarde veremos que, ao chegar em casa naquela noite, havia contado para Allison sobre ter atropelado um animal. Mas mentira para Allison sobre o local em que aquilo tinha acontecido. Falou o nome de outra estrada, porque, se dissesse Old Quary Road, ela teria pensado no bar.

Ele não havia tomado um gole, uma gota sequer. Tinha pedido a dose para ver se conseguiria resistir, continuar limpo. E tinha conseguido, tinha vencido a tentação imensa.

Convocado para fazer parte de júri popular, pela primeira vez pensou que na verdade não havia atropelado um cervo.

O espectador passa a sofrer junto com o protagonista

Meu Deus, que trama!

Apenas 15 minutos de filme, e o espectador fica sabendo que o jovem simpático, que cuidava bem da mulher grávida, que preparara o quarto do bebê que o casal afinal iria ter, iria a partir daí passar pela experiência infernal de participar do julgamento do sujeito erradamente acusado de matar a namorada.

Sempre me ocorre que há basicamente duas maneiras de se encontrar histórias que envolvem casos policiais, mistério, suspense. Uma delas é manter o leitor/espectador no escuro o tempo todo, ou o maior tempo possível, para apenas no final revelar o que só o autor sabia. É o jeito do que no inglês chamam de whodunit – o quem-foi-que-fez, quem-foi-que-matou. Agatha Christie é mestra nisso.

Outro inglês tão talentoso e tão doidinho como ela, Alfred Hitchcock, é mestre na outra maneira de contar a história. Que é dividir algumas informações importantes com o leitor/espectador, para que ele acompanhe toda a história sabendo de fatos que muitas vezes nem os policiais, os investigadores, os promotores sabem. Hitch sempre dizia e repetia que desse jeito o espectador fica mais envolvido no suspense, na ansiedade de saber o que afinal irá acontecer.

Evidentemente, essa segunda maneira foi a escolhida por Jonathan Abrams. E ele se mostra um expert em usar essa forma de narrativa. O filme faz o espectador simpatizar com Justin – e então passar a sofrer, a se angustiar junto com ele.

O autor e roteirista e o diretor Clint Eastwood optaram também por não explicitar alguns detalhes. Por deixar em aberto para que cada espectador entenda como quiser aquele determinado ponto da história.

Não se explicita hora alguma exatamente como o corpo de Kendall poderia ter ido parar lá embaixo da ponte, junto ao córrego. Ele não poderia de forma alguma ter sido lançado por sobre a mureta da ponte ao ser atingido pelo carro de Justin – ele não estava em alta velocidade. Não poderia estar, sob a chuva forte, com pouca visibilidade na estrada.

Também fica em aberto qual teria sido, afinal, a participação de Justin nas discussões finais e no veredito que afinal é apresentado pela porta-voz do júri, em um momento em que ele, Justin, não está presente, porque sua mulher Allison estava dando à luz seu filho.

Mais ainda: o final, a última tomada, deixa inteiramente em aberto que vai acontecer daí para a frente. Mas falar mais do que isso seria um spoiler absurdo demais.

O fantástico, a sacada dramática brilhante é fazer Justin Kemp sentir a obrigação moral de defender, diante de seus pares na sala fechada de deliberações do júri, que não há provas suficientes para condenar aquele sujeito que ele agora sabe com toda certeza ser inocente. Que não há certeza absoluta, acima de qualquer dúvida razoável, de que o réu é culpado.

E, ao fazer isso, abrir, ao menos teoricamente, a possibilidade de que se tente descobrir então quem foi que provocou a morte da moça.

As sequências dos 12 jurados reunidos na sala fechada – não tem jeito – fazem lembrar o clássico de Sidney Lumet de 1957.

Exatamente como em 12 Homens e uma Sentença, aqui há jurados que querem acabar depressa com tudo, chegar ao veredito unânime o mais rápido possível e cascar fora daquela chatice. A vida de um homem está em discussão? Ah, diacho, dane-se…

No clássico de Lumet, o único dos 12 jurados que defendia não haver provas suficientes de que o réu era culpado do assassinato, o homem calmo, educado, interpretado por Henry Fonda agia em nome de princípios humanistas. Não se pode condenar alguém sem provas contundentes, irrefutáveis; se houver dúvida, que o réu não seja condenado. In dubio, pro reu, dizia o Direito romano, uns 2 mil anos atrás.

Neste maravilhoso filme de Clint Eastwood, o jurado nº 2 não quer votar de imediato “culpado” porque é uma pessoa honesta, de bom caráter, de bons princípios. Sim, é verdade. Mas também porque sente culpa, arrependimento – por estar agora compreendendo que cometeu um crime, mesmo sem perceber, mesmo sem qualquer intenção.

Os produtores não acreditavam no potencial do filme

Não dá para acreditar, mas este foi o primeiro roteiro escrito por Jonathan A. Abrams. O sujeito é jovem, pelo que se vê nas fotos disponíveis – deve estar com no máximo uns 50 anos. E ainda é tão pouco conhecido que, em dezembro de 2024, o IMDb ainda não tinha nenhuma informação sobre sua biografia, e o verbete sobre ele na Wikipedia em inglês se resumia a ridículos dois parágrafos, sem conter sequer a data e o local de nascimento:

“Jonathan A. Abrams é um escritor de textos para a televisão e o teatro, conhecido pela autoria do musical The Heart of Rock and Roll. Escreveu o roteiro original para o thriller Juror No. 2 para a Warner Bros. Pictures, que foi diri9gido por Clint Eastwood e lançado em 27 de outubro de 2024. O filme teve sua première na noite de encerramento do Festival do American Film Institute (AFI) em Los Angeles.

“Abrams foi criado em San Francisco e se graduou na USC School of Cinematic Arts.”

Algumas informações em torno de Juror #2 (a Wikipedia grafou erradamente), a maioria tirada da página de Trivia do lMDb sobre o filme, com pitacos meus:

* Este foi o 41º longa-metragem dirigido por Clint Eastwood (se eu não tiver errado as contas), ao longo de 53 anos. Ele estreou na direção em 1971, aos 41 anos de idade, com Perversa Paixão/Play Misty for Me, um thriller sobre um disc-jockey (interpretado por ele) cuja vida muda completamente depois que conhece uma fã obcecada.

* Na imprensa dos Estados Unidos, falou-se muito que seria seu último filme, seu canto do cisne.

* Francesca Eastwood foi escolhida para o papel de Kendall Carter, a jovem que é morta depois de sair do bar em que brigou com o namorado. O diretor teve oito filhos, com diversas mulheres. Francesca, nascida em 1993, foi a sexta dos oito filhos, e já havia aparecido, em papéis pequenos, em dois filmes do pai, Crime Verdadeiro (1999) e Jersey Boys: Em Busca da Música (2014).

* Kiefer Sutherland escreveu para Clint Eastwood dizendo que era um grande fã, e gostaria muito de trabalhar com ele antes que o diretor se aposentasse. Ganhou um papel pequeno mas importante em Jurado Nº 2, o de Larry Lasker, o coordenador do grupo dos AA de Justin Kemp, que o rapaz procura como advogado para se informar sobre o que poderia acontecer se fosse revelado que ele talvez tivesse atropelado Kendall Carter. Clint trabalhou ao lado do pai de Kiefer, Donald Sutherland, em Os Guerreiros Pilantras (1970) e Cowboys do Espaço (2000) – este último também dirigido pelo grande realizador.

* Nicholas Hoult, que faz o papel principal do filme, é inglês de Berkshire, onde nasceu em 1989. É um desses casos de ator mirim que consegue fazer muito bem a transição para a maturidade. Estreou aos 7 anos de idade, em 1996, em Intimate Relations, aparentemente não lançado no Brasil, e estava com 13 quando foi escolhido para fazer o papel título de About a Boy, no Brasil Um Grande Garoto. Naquela comédia romântica, ele interpretava o filho da personagem feita por Toni Colette – que, aqui neste Jurado Nº 2, interpreta a promotora.

* Há indicações de que as produtoras – Dichotomy, Gotham Group e a empresa de Clint Eastwood, a Malpaso – e a empresa distribuidora, a Warner Bros., que lançou quase todos os filmes dirigidos pelo realizador, não souberam avaliar o potencial de Jurado Nº 2. Subestimaram a recepção que ele poderia ter. O IMDb registra que, originalmente, o projeto era colocar o filme diretamente em canal de streaming. O primeiro trailer, no entanto, já teve uma recepção muito mais positiva do que a esperada. Na última hora, decidiu-se que ele seria lançado em salas de cinema – mas em circuito pequeno, apenas 50, um número absurdamente pequeno para o maior mercado consumidor de filmes do mundo. Ainda segundo o IMDb, em diversos países o filme foi tendo bons lançamentos em salas de cinema.

Poucos prêmios. Mas aprovação altíssima

Provavelmente por causa dessa avaliação errada do potencial do filme, Jurado Nº  2 não foi trabalhado pelos produtores para participar de festivais mundo afora. Só isso pode explicar o fato de que teve apenas três indicações a prêmios.

A National Board of Review o colocou entre os 10 melhores filmes do ano; a sociedade de críticos de San Diego premiou Nicholas Hoult e o Sindicato de Críticos de Michigan indicou J.K. Simmons – que de fato dá show como um jurado que havia trabalhado décadas como investigador de polícia.

No IMDb, o filme estava em dezembro de 2024 com nota 7,1 em 10, média da avaliação de 28 mil leitores do site enciclopédico.

No site agregador de opiniões Rotten Tomatoes, o filme tem 94% de aprovação entre os críticos e 91% entre os leitores.

O RogerEbert.com, o site que preserva a memória do grande crítico, deu ao filme 3 estrelas em 4. Christy Lemire escreveu:

“Este é o tipo de filme convencional, de orçamento médio, que nós costumávamos ver muito nos anos 1980 e 1990, mas tem ficado cada vez mais raro num panorama cinematográfico que consiste em sua maior parte de sequências sem alma e produções independentes ousadas. Ele fica mais ou menos no meio: um filme para adultos com valores de produção classudos, fortes atuações de um elenco estrelado, e temas importantes para espectadores que querem entretenimento mas talvez também pensar um pouco.”

Depois de relatar os principais fatos da trama, ela diz:

“Parece com um livro perdido de John Grisham que finalmente foi levado para a tela grande? Definitivamente há prazeres antigos a serem encontrados no roteiro sinuoso de Jonathan Abrams.”

E conclui assim:

Juror #2 pode parecer um processo modesto na maior parte do tempo que dura. Mesmo assim, o final é de deixar tonto, e você vai querer conversar sobre ele depois – de preferência com outros adultos que ainda gostam desse tipo de entretenimento carnudo, robusto.”

Gostei da avaliação da moça – mas acho que ela foi menos elogiosa, menos deslumbrada do que o filme merece.

Este que talvez seja a última obra do grande Clint Eastwood é um filmaço. Para ver, rever, e aplaudir muitas vezes.

Anotação em dezembro de 2024

Jurado Nº 2/Juror #2

De Clint Eastwood, EUA, 2024

Com Nicholas Hoult (Justin Kemp, o jurado nº 2),

Toni Collette (Faith Killebrew, a promotora),

Zoey Deutch (Allison Crewson, a mulher de Justin), Chris Messina (Eric Resnick, o advogado de defesa), Amy Aquino (a juíza Thelma Hollub), Gabriel Basso (James Michael Sythe, o réu), Kiefer Sutherland (Larry Lasker, líder do AA e advogado de Justin), Bria Brimmer (Wood, a oficial de justiça), Francesca Eastwood (Kendall Carter, a vítima), KateLynn E. Newberry (garçonete do bar Rowdy Hideaway), Megan Mieduch (amiga de Allison)

(e, no júri), J.K. Simmons (Harold, o jurado que é policial aposentado),

Leslie Bibb (Denice Aldworth, a jurada que se oferece para ser a líder do grupo), Cedric Yarbrough (Marcus King, jurado), Adrienne C. Moore (Yolanda, jurada), Zele Avradopoulos (Irene, a jurada nº 13), Phil Biedron (Vince, jurado), Jason Coviello (Luke, jurado), Chikako Fukuyama (Keiko, a jurada estudante de medicina), Rebecca Koon (Nellie, jurada), Hedy Nasser (Courtney, jurada), Drew Scheid (Brody, jurado), Onix Serrano (Eli, jurado) 

Argumento e roteiro Jonathan Abrams

Fotografia Yves Bélanger

Música Mark Mancina

Montagem Joel Cox et David S. Cox

Direção de arte Gregory G. Sandoval

Casting Geoffrey Miclat

Produção Clint Eastwood, Adam Goodman, Jessica Meier, Tim Moore, Peter Oberth. Matt Skiena, Dichotomy, Gotham Group, Malpaso Productions. Distribuição Warner Bros.

Cor, 114 min (1h54)

****

 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *