Homecoming – A Primeira Temporada

3.5 out of 5.0 stars

(Disponível na Amazon Prime Video em 10/2022.)

A primeira temporada da série Homecoming, de 2018, é extremamente interessante, por diversos motivos. Instigante, para usar um adjetivo que meu amigo Sandro Vaia proibia, por ter se desgastado pelo uso excessivo. Fisgadora.

Tem um forte, pesado tom de mistério – os autores escondem do espectador o quanto podem do que se trata, afinal de contas, a trama.

A base de tudo é uma instituição destinada a acolher jovens militares que voltam de uma das guerras em que os Estados Unidos estão envolvidos em algum lugar do mundo. A instituição tem esse nome mais que óbvio, que é também o título da série, Homecoming – literalmente algo como boas-vindas de volta ao lar. Por extenso, o nome do lugar é Homecoming Transitional Support Center – centro de ajuda na transição para a volta ao lar.

As instalações são esplêndidas, fantásticas – parece um hotel de excelente qualidade, um quatro estrelas, para não exagerar e dizer cinco. Fala-se que ficam em Tampa, na Flórida – embora alguns dos “hóspedes” coloquem isso em dúvida.

Não se detalha exatamente como são selecionados, escolhido para passar uma temporada ali, ao voltar da guerra, aqueles soldados que estão lá. Mas a primeira sensação que se tem é a de que eles tiraram a sorte grande. Pô, meu: você voltar para o país e ser recebido num lugar que parece uma beleza de hotel, com todo o conforto, e com apoio de uma equipe de atendentes para ajudar você se preparar para a volta à vida civil…

Que luxo!

A coordenadora da equipe de atendentes se chama Heidi Bergman – o papel da estrela Julia Roberts, que é também uma das produtoras-executivas desta primeira temporada.

Heidi é bela, gentil, educada, e se mostra bem preparada para tratar os militares que retornam do front – muitos deles, se não todos, com sequelas psicológicas.

Vemos que Heidi trabalha com os soldados como se fosse uma psicóloga, uma terapeuta. Ela não tem formação em psicologia, menos ainda em psiquiatria – mas o trabalho dela é como se fosse de fato o de uma psicóloga.

A série se concentra sobretudo no tratamento de um dos militares, um jovem de bela aparência, Walter Cruz (o papel de Stephan James). Vamos acompanhando suas entrevistas com Heidi na bela ampla, confortável, elegante sala de trabalho dela.

Por que uma empresa faria uma instituição daquelas?

A Homecoming, aquele lugar, aquela instituição, não é pública, não pertence ao governo. É iniciativa privada – e logo veremos que pertence a uma gigantesca corporação, a Geist.

Geist é um nome próprio, o sobrenome do CEO, do controlador daquela corporação – mas é claro que o espectador mais sabido, ou mais curioso, sabe ou ficará sabendo que, por coincidência ou não, geist é também a palavra alemã para espírito, alma, ânimo, fantasma.

Não é preciso filosofar em alemão – como sugeria Caetano Veloso – para o espectador pensar que, diacho, aí tem.

Mas é claro que aí tem! Por que raios uma empresa particular, pertencente a um grande conglomerado, investiria tanto dinheiro na construção e/ou adaptação de um imóvel tão grande, tão belo, tão caprichado, para cuidar de um grupo não muito grande de militares que retornaram ao país depois de experiências traumáticas no front?

Sim, a empresa tem ligações com o Departamento de Defesa; é uma prestadora de serviços para o Departamento de Defesa, e portanto para o governo federal, que tem dinheiro que não acaba mais.

É.. OK, pode ser que a tal Homecoming, braço da corporação Geist, esteja fazendo uma experiência, um projeto-piloto para o governo dos Estados Unidos, e tenha aceitado investir uma boa nota em troca da expectativa de grandes ganhos futuros.

É. Pode ser algo por aí, poderá pensar o espectador depois do primeiro, do segundo episódio. Deve ser algo por aí, eu fiquei pensando.

A questão é que até o episódio 5, até o 6, o espectador fica no escuro. Os autores optaram mesmo por apresentar a trama de um jeito misterioso.

A história é contada em duas épocas diferentes – e quanto a isso não há mistério algum, muito antes ao contrário. Ficamos sabendo que as sequências ali nas belas instalações da Homecoming, em que Heidi coordena os trabalhos de atendimento aos militares recém-chegados do front, aconteceram em 2018.

Uma outra parte da história se passa quatro anos mais tarde, em 2022. Heidi não trabalha mais na Homecoming. Voltou para a casa da mãe – e a senhora Bergman é interpretada pela grande Sissy Spacek, que há muito tempo eu não via –, numa cidade litorânea cujo nome não é mencionado. Dá para inferir que é na Flórida, mas pode ser em algum outro Estado da Costa Leste, tipo Geórgia, onde, aliás, Julia Roberts nasceu, em 1967.

Naquele ano de 2022 – um ano do futuro, em relação à própria primeira temporada da série, cujos dez episódios de meia hora cada foram lançados, repito, em 2018 –, Heidi, que havia tido o cargo importante de coordenadora da equipe de recepção e tratamento dos militares na Homecoming, estava trabalhando como garçonete numa lanchonete simples, nada sofisticada, à beira-mar.

Um jeito claro de mostrar as diferentes épocas

Como tem sido bastante comum nos últimos muitos anos, o roteiro alterna sequências passadas mais atrás, no caso em 2018, com outras passadas mais adiante, em 2022. O roteiro vai e volta, vai e volta, feito bolinha de pingue-pongue, feito bola de tênis – mas o espectador não fica zonzo.

Os realizadores bolaram uma forma extremamente clara, límpida, óbvia, para diferenciar as sequências do passado com as de mais recentemente – ou, no caso de quem viu a série na época do lançamento, as do futuro. Os eventos de 2018 são mostrados no tamanho usual da tela da maioria dos aparelhos de TV de hoje – o formato mais retangular, base bem maior que a altura. O que chamamos hoje de Widescreen, e no passado era CinemaScope, Panavision, VistaVision.

Já os eventos de 2022 são mostrados numa tela quadrada, como eram as telas dos aparelhos de TV do passado.

Em termos técnicos, é um ratio, ou proporção, de 16:9 para as sequências de 2018, e com ratio 1:1 para as de 2022.

Achei muito interessante isso. Os realizadores poderiam ter feito como em tantos outros filmes em que a narrativa vai e volta no tempo, e ter colocado a data no início das diferentes sequências – abandonando depois as datas, já que depois de certa altura os espectadores já estariam familiarizados com a coisa. Muitos filmes e/ou séries fazem isso.

Fiquei pensando que os criadores da série devem ter optado por essa forma mais límpida, mais óbvia de identificar o que é 2018 e o que é 2022 por terem plena consciência de que já estavam exigindo bastante dos espectadores, ao apresentarem aqueles fatos todos sem esclarecer nada do que estava de fato acontecendo.

Afinal de contas, os espectadores passam todos os seis primeiros dos dez episódios dessa primeira temporada sem saber o que exatamente a empresa Homecoming está fazendo com aqueles militares que voltaram dos combates com a cabeça cheia de memórias de cenas terríveis que vivenciaram no front. Sem saber o que a Homecoming está fazendo, como, por que, para quê.

Então – fiquei imaginando – um deles, um dos três criadores da série, Micah Bloomberg, Eli Horowitz, Sam Esmail, deve ter vindo com a idéia: olha aqui, gentinha boa, a narrativa já está bastante misteriosa – que tal se a gente facilitasse a vida do coitado do espectador e mostrasse de um jeito bem óbvio, bem visual, bem gráfico, o que acontece em 2018, o que acontece em 2022?

Tomadas do alto, como se o chão fosse um tabuleiro

De fato, achei muito interessante essa coisa de diferenciar visualmente as épocas da ação. Foi uma boa sacada – e até inteligente, e brincalhona, ao inverter o que seria mais normal. Ora, o mais normal seria mostrar as cenas do passado em tela quadrada, porque tela quadrada é coisa do passado.

Eles facilitaram, sim, a vida do espectador – mas com a pegadinha de inverter as coisas. O passado aparece em tela grande, ampla, wide, widescreen, e o presente (ou, no caso, o futuro), em tela quadrada. Uma boa brincadeira.

Micah Bloomberg, Eli Horowitz e Sam Esmail gostam de bossas formais. Um elemento que está sempre presente, ao longo dos dez episódios desta primeira temporada, é o extremo plongée, o plongée total, absoluto, em que a câmara fica bem no alto, em posição horizontal, voltada para baixo. Deve ter um nome específico esse tipo de tomada, mas desconheço.

Esse tipo de tomada, que mostra o que está acontecendo como se o espectador estivesse deitado de barriga para baixo voando perto do teto e vendo as coisas lá embaixo, já existia há muito tempo, é claro – não se inventa a roda novamente. Desde sempre existiam as gruas, os guindastes que elevavam as câmaras até a altura que o diretor determinava. Mas essas tomadas da câmara bem no alto voltadas diretamente para baixo, em que vemos o chão como se fosse uma espécie de tabuleiro de jogo, têm ficado mais comuns agora, com o uso dos drones.

Não é algo que tenha muita lógica, porque, segundo os estudiosos da linguagem cinematográfica, a câmara é como se fossem os olhos do espectador. O que a câmara vê é – ou deveria ser – o que os olhos vêem. A rigor, o plongée – a tomada em que a câmara está acima do objeto que ela focaliza – deveria ser usado apenas quando um personagem está mais alto do que o outro. Num lance de escada acima, no andar de cima. Claro, tem-se que admitir a visão subjetiva, e então um plongée, uma tomada em que o personagem está lá embaixo, pode demonstrar que ele ficou moralmente pequeno.

Se um sujeito está no terceiro andar de um prédio e vê alguém andando na rua, o plongée tem todo o sentido, obviamente. Assim como o inverso – se a câmara faz as vezes da pessoa que está na rua, olhando para cima para ver o outro personagem na janela ou na sacada, o contre-plongée é a coisa mais lógica do mundo.

Agora, o que não faz absolutamente sentido, o que não tem lógica alguma, diziam os estudiosos, são tomadas, por exemplo, em que vemos os personagens do outro lado das brasas e chamas de uma lareira, ou vemos um trem passando por cima da câmara. Ora, ninguém fica dentro de uma lareira observando o que está acontecendo na sala, assim como ninguém se deita entre os trilhos e fica olhando o trem passar.

Ivor Montagu, um teórico e prático que teve o privilégio de trabalhar tanto com Alfred Hitchcock quanto com Sergei Mikhailovich Eisenstein, insistia muito nessas coisas em seu Film World – A Guide to Cinema, lançado em 1964, que fez a cabeça do jovem cinéfilo Sérgio Vaz em Belo Horizonte.

Uau! Dei uma bela viajada!

Mas a verdade é que as tomadas em plongée total feitas hoje em dia de drones, apesar de não terem a lógica que os velhos estudiosos da linguagem cinematográfica exigiam, podem ser de grande beleza plástica.

E são de fato tremendamente belas as diversas tomadas dos aposentos da Homecoming feitas bem do alto. Tem até um sentido digamos, gramatical: servem como uma perfeita metáfora de um jogo de xadrez visto do alto.

Julia Roberts faz duas mulheres diferentes – com brilho

Há ainda um elemento visual importante, interessante, forte, para diferenciar as sequências acontecidas em 2018 das passadas em 2022. E isso é algo bem mais complexo do que modificar o ratio, a proporção da imagem do retangular para o quadrado.

É algo que exige muita arte, e não apenas artesanato.

A Heidi Bergman que coordenava o atendimento aos militares recém-chegados do exterior na Homecoming, em 2018, era uma mulher em geral sorridente, firme, segura de si, e linda.

A Heidi Bergman que, depois de ter um cargo importante numa empresa pertencente a um grande conglomerado, trabalha como garçonete num bar simplesinho à beira-mar em um local nada charmoso não é sorridente, não parece nada segura de si – e está feia.

Me pareceu um trabalho espetacular de Julia Roberts. Ela me pareceu extremamente talentosa ao fazer essas duas Heidi Bergmans tão diferentes uma da outra. Não é nada fácil interpretar uma pessoa que tem duas caras, duas existências tão diferentes. Não é nada fácil fazer uma mulher bela e uma mulher feia.

E a moça faz – com brilho.

Há quem odeie Julia Roberts; há quem fale muito mal dela – que seria uma pessoa extremamente metida a besta, soberba, estrela. Não tenho especial simpatia (nem antipatia) pela moça, mas me pareceu que, nesta primeira temporada da série em que foi também produtora executiva, ela está maravilhosa. Um show.

Heidi é sem dúvida alguma a personagem central da trama nesta primeira temporada. Ainda não vimos a segunda, que foi lançada dois anos após a primeira, em 2020 – e nem sei se vamos ver. Mas já sei que Heidi não volta a aparecer: ela some, desaparece. Quem vai aparecer, pela primeira vez, será Leonard Geist, o empresarião, o bilionário que é o dono da gigantesca corporação que leva seu nome – ele será interpretado pelo sempre ótimo Chris Cooper.

O segundo personagem mais importante desta primeira temporada, me parece, é Walter Cruz, o militar com quem Heidi estabelece um vínculo, uma proximidade – e que vai muito rapidamente progredindo de forma fantástica no tratamento de ficar pronto para a vida novamente, livre dos traumas deixados pelos meses em que esteve na linha de frente no Afeganistão.

Não conhecia esse rapaz Stephan James (na foto abaixo), que interpreta Walter. É canadense de Toronto, onde nasceu em 1993; tinha, em outubro de 2022, quando vimos Homecoming, 36 títulos na filmografia, inclusive Selma: Uma Luta pela Igualdade (2014). O cara é belo como Sidney Poitier, Harry Belafonte, Denzel Washington. A beleza dele é realçada pela caprichada fotografia da série, que, em várias ocasiões, mostra o interrogador – como Heidi – de costas para a janela do aposento, e portanto com o rosto um tanto na sombra, e o interrogado – como Walter – de frente para a fonte de luz, com a claridade batendo forte em seu rosto.

Esta é uma série cheia de caprichos visuais. Lá pertinho do fim da primeira temporada, não me lembro agora se no episódio nove ou dez, vemos o momento em que Heidi está sendo entrevistada pelo sujeito que dirige todo o projeto Homecoming, Colin Belfast (o papel de Bobby Cannavale). É um flashback, mostrando como a moça impressionou o alto funcionário da corporação Geist e conseguiu o emprego. E ali se repete o jogo de luzes que havíamos vistos nas várias vezes em que Heidi está entrevistando Walter Cruz: entrevistador com o rosto no escuro, o/a entrevistado/a com a luz batendo no rosto.

O herói da série é um humilde funcionário público

Colin Belfast é o terceiro personagem central da série. Nós o vemos em diversas, diversas sequências ao longo de todos os episódios, conversando por telefone com Heidi, dando instruções a ela, dirigindo seus trabalhos. Colin não fica no belo prédio da Homecoming – trabalha, pelo que dá para entender, na sede da corporação. Dirige o que se passa na Homecoming remotamente, pelo telefone. Está sempre a par de tudo o que passa lá, mas fisicamente está longe.

Fiquei meio sem saber ao certo o que pensar sobre a atuação de Bobby Cannavale como esse executivo de grande corporação absolutamente dedicado ao trabalho – e absolutamente imoral, um terrível mau caráter, desprovido de qualquer tipo de sensibilidade, de empatia para com as pessoas. Houve momentos em que achei que o ator estava perfeito, ao demonstrar no rosto, na voz, até na expressão corporal esse mau-caratismo. Em outros, achei que ele estava exagerado, over-acting, canastrão. Sei lá.

Em um elenco que está todo muito bem, com direção de atores muito firme, achei que se sobressai esse Shea Whigham (na foto abaixo), que interpreta Thomas Carrasco, o personagem que, me parece, é o quarto mais importante da trama.

Thomas Carrasco é um funcionário não graduado, sem importância especial alguma, do gigantesco, mastodôntico Ministério de Defesa do país mais rico e mais bem armado que já houve no planeta.

Ele aparece ainda no começo do primeiro episódio da série. A primeira sequência se passa na Homecoming, na bela sala ocupada por Heidi. Na segunda sequência, já com a tela cortada para o formato quadrado, Heidi está trabalhando na lanchonete, e Thomas Carrasco está sentado lá, como se fosse um cliente. Quando ela se aproxima e pergunta se ele já escolheu o que vai pedir, Carrasco diz que não está ali para comer, e se identifica como um funcionário “do gabinete do inspetor-geral do Departamento de Defesa”. Pergunta se ela é Heidi Bergman, se ela trabalhou no Homecoming Transitional Support Center. Heidi diz que sim, alguns anos atrás, e – inquieta, incomodada, pergunta por quê, o que está acontecendo. – “Recebemos uma reclamação sobre aquele programa, e você está listada como administradora, e então…”

Thomas Carrasco é o herói da história.

A pessoa que luta sozinha contra a Grande Corporação

É uma maravilhosa tradição do cinema americano a denúncia do poder excessivo que têm as grandes empresas, as gigantescas corporações, a engrenagem da monstruosa máquina governamental. E faz parte dessa tradição o elogio, a ode, o hino aos homens que lutam contra as engrenagens mamutianas.

Nos westerns, esse gênero tão tipicamente americano, que nasceu junto com o cinema, o mocinho está sempre em luta contra uma grande quadrilha, em especial uma grande quadrilha contratada por um fazendeiro riquíssimo, um latifundiário. Há exemplos às dezenas, às centenas, mas basta lembrar de Onde Começa o Inferno/Rio Bravo (1949), do mestre Howard Hawks, em que um xerife e seus três únicos auxiliares – entre os quais um bêbado e um velhinho – enfrentam uma gigantesca quadrilha.

Em O Veredito/The Verdict (1982), de Sidney Lumet, um advogado em fim de carreira, alcoólatra, enfrenta no tribunal um dos maiores escritórios de advocacia no país em um caso de negligência médica. Ele defende uma moça que ficou em estado vegetativo por um erro cometido em hospital pertencenge à Diocese de Boston – um advogado bêbado contra o poder nada mais nada menos que a Santa Madre Igreja.

Não faltam exemplos – mas é obrigatório citar pelo menos outros três, todos em que os heróis que lutam contra grandes corporações e seus crimes são mulheres: Silkwood, Retrato de uma Coragem/Silkwood (1983), de Mike Nichols, com Meryl Streep, Terra Fria/North Country (2005), de Niki Caro, com Charlize Theron, e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento/Erin Brockovich (2000), de Steven Soderbergh, com Julia Roberts.

Neste Homecoming, a Heidi Bergman interpretada por Julia Roberts é uma pessoa comum, esforçada, que quer trabalhar direito, corretamente – e demora muito a perceber que está sendo usada em um esquema gigantesco a serviço apenas do lucro alto de uma corporação sem qualquer princípio de humanidade.

Colin Belfast é o representante do Mal em Si. E Thomas Carrasco é o grande herói, o homem que luta só para descobrir a verdade.

Homecoming é virulentamente antimilitarista – outra nobre tradição do cinema americano, que já nos deu pérolas como Glória Feita de Sangue/Paths of Glory (1957), Nascido para Matar/Full Metal Jacket (1987) e Johnny Vai à Guerra/Johnny Got His Gun (1971), para mencionar apenas umas poucas obras-primas.

A trilha é uma colcha de retalhos de vários filmes

Este texto já está grande demais, até para os meus padrões, mas gostaria ainda de fazer uns poucos registros.

* O diretor Sam Esmail tomou uma decisão surpreendente, incrível, talvez inteiramente inédita: foram, como trilha sonora, músicas compostas para outras obras – para os mais variados filmes!

E funcionou perfeitamente!

É incrível mesmo. Por exemplo: o episódio 1 começa com uma música linda, suave, melodiosa. Imediatamente Mary e eu percebemos que conhecíamos – mas confesso que não me caiu a ficha na hora. É um trecho da trilha sonora que o italiano Pino Donaggio compôs para Vestida para Matar (1980), de Brian De Palma.

Na página de Trivia sobre o filme, o IMDb traz toda a relação dos filmes dos quais Homecoming tomou emprestadas as trilhas sonoras. É sensacional – tem de tudo: Todos os Homens do Presidente (1976), Maratona da Morte (1976), Um Corpo que Cai (1958), Klute, O Passado Condena (1971), Carruagens de Fogo (1981), O Dia em que a Terra Parou (1951)…

Nunca ouvi falar de qualquer outro filme ou série que tenha feito a mesma coisa.

* Para o importante papel de Gloria Morisseau, a mãe de Walter Cruz, os realizadores escolheram a londrina Marianne Jean-Baptiste, que estrelou o maravilhoso Segredos e Mentiras (1996), de Mike Leigh, ao lado de Brenda Blethyn. Marianne está excelente no papel.

* Eu não conhecia a atriz que faz Lydia Belfast, a mulher do mau caráter Colin. Ela aparece em algumas poucas sequências – uma bela morena. É Sydney Tamiia Poitier, filha do grande Sidney Poitier e da atriz canadense de origem lituana Joanna Shimkus.

* Homecoming se baseia em uma série divulgada em forma de podcast em 2016. Os autores da história eram Micah Bloomberg e Eli Hortowitz, e a direção, deste último. Uma série em podcast, pelo que eu entendo, é algo como uma novela de rádio, certo? Bem, eu sabia de filmes baseados em livros, peças de teatro, libretos de ópera, histórias reais – mas série baseada em podcast, disso eu jamais tinha ouvido falar.

Bem. O fato é que esta primeira temporada de Homecoming é uma beleza.

Anotação em outubro de 2022

Homecoming; De Volta à Pátria/Homecoming – A Primeira Temporada

De Micah Bloomberg, Eli Horowitz, Sam Esmail, criadores, EUA, 2018

Direção Sam Esmail

Com Julia Roberts (Heidi Bergman)

e Stephan James (Walter Cruz), Bobby Cannavale (Colin Belfast), Shea Whigham (Thomas Carrasco, o funcionário do Departamento de Defesa), Sissy Spacek (Ellen Bergman, a mãe de Heidi), Marianne Jean-Baptiste (Gloria Morisseau, a mãe de Walter Cruz), Jeremy Allen White (Joseph Shrier, o amigo de Walter Cruz), Hong Chau (Audrey Temple, a moça da Geist), Alex Karpovsky (Craig, funcionário da Homecoming), Dermot Mulroney (Anthony, o namorado de Heidi), Sydney Tamiia Poitier (Lydia Belfast, a mulher de Colin)

e Ayden Mayeri (Reina), Brooke Bloom (Pam), Billy Stevenson (Abe), Alden Ray (Maurice), Sam Marra (Javen), Frankie Shaw (Dara), Gwen Van Dam (Mrs. Trotter), Henri Esteve (Abel), Marcus Henderson (Engel), Jason Rogel (Cory), Fran Kranz (Ron), Rafi Gavron (Rainey), Kristof Konrad (Mr. Heidl)

Roteiro Micah Bloomberg, Eli Horowitzm, criadores, e Cami Delavigne, Shannon Houston, Eric Simonson, David Wiener,

Argumento Micah Bloomberg, Eli Horowitz, Sam Esmail, criadores. Baseado em série de podcast escrita por Micah Bloomberg & Eli Horowitz

Fotografia Tod Campbell

Música Emile Mosseri

Montagem Rosanne Tan, Justin Krohn, Franklin Peterson, Zachary Dehm, Chris Guiral

Casting Susie Farris

Desenho de produção Anastasia White

Figurinos Catherine Marie Thomas

Produção Amazon Studios, Anonymous Content, Esmail Corp, Gimlet Media, Red Om Films, Universal Cable Productions.

Cor, cerca de 300 min (5h)

***1/2

Um comentário para “Homecoming – A Primeira Temporada”

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