Nota:
É um fenômeno: a cada ano, desde 2013, o cinemão comercial de Hollywood tem lançado uma grande produção de ficção científica, cara, caprichadíssima. Todos eles são bons filmes, feitos por grandes realizadores, com ótimos atores, e foram sucesso de bilheteria e também de crítica, conquistando indicações ao Oscar e amealhando dezenas de prêmios planeta afora.
Deve haver alguma explicação para isso. Talvez alguma conjunção planetária, ou estelar. Ou simplesmente uma tendência da indústria – o filão deu certo, vamos explorá-lo mais e mais.
Claro: sempre houve filmes de ficção científica. Georges Meliès fez seu Viagem à Lua/Voyage dans la Lune em 1902. Mas há muito tempo não havia uma sequência tão constante, regular de grandes e boas superproduções do gênero.
Depois de Gravidade (2013), Interestelar (2014) e Perdido em Marte (2015), foi a vez deste A Chegada/Arrival (2016).
Aí vão algumas informações básicas que servem de comparação entre estes filmes:
Gravidade | Interestelar | Perdido em Marte | A Chegada |
Alfonso Cuarón | Christopher Nolan | Ridley Scott | Denis Villeneuve |
George Clooney, Sandra Bullock, Ed Harris | Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain | Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig | Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker |
Estréia EUA 31/8/2013 | 26/10/2014 | 27/9/2015 | 2/9/2016 |
Orçamento US$ 100 milhões / Renda US$ 723 milhões | US$ 165 milhões / US$ 675 milhões | US$ 108 milhões /
US$ 630 milhões |
US$ 47 milhões /
US$ 197 milhões |
10 indicações ao Oscar, 7 prêmios | 4 indicações ao Oscar, 1 prêmio | 7 indicações ao Oscar | 8 indicações ao Oscar, 1 prêmio |
229 prêmios no total | 42 prêmios no total | 34 prêmios no total | 43 prêmios no total |
Todos estas obras recentes devem algo a grandes filmes mais antigos
De uma maneira ou outra, estes filmes devem um tanto, ou bastante, a alguns antecessores ilustríssimos. Indo de frente para trás, Contato (1997), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968) e O Dia em que a Terra Parou (1951). Têm também algo a ver com dois outros bons filmes, embora não tidos como tão ilustres: O Planeta dos Macacos (1968) e Jogos de Guerra (1983).
A Chegada, em especial, tem muito, mas muito a ver com O Dia em que a Terra Parou. No grande clássico de Robert Wise, feito no auge da guerra fria, quando os dois lados em luta aperfeiçoavam seu arsenal de bombas nucleares capaz de destruir todo o planeta em pouquíssimo tempo, a Terra recebe a visita de uma nave alienígena. Ela havia sido enviada pela confederação de civilizações intergalácticas para dar um pito nos líderes tribais deste planetinha de quinta categoria: ou eles paravam com essas idiotas ameaças de guerra, ou a confederação seria obrigada a intervir e dar um jeito de vez, para que a Terra não continuasse sendo uma ameaça à paz universal.
Como os Estados Unidos se consideram o centro do mundo, a nave espacial que trazia o embaixador de boa vontade Klaatu (Michael Rennie) pousou bem em Washington.
Os Estados Unidos ainda se consideram o centro do mundo, é claro, mas a geopolítica mudou tanto, nestes últimos 60 e tantos anos, a economia foi globalizada, coisa e tal, e então em A Chegada são 12 naves espaciais que vêm parar em diversos pontos do planetinha de quinta categoria.
As naves – de concepção belíssima, objetos ovalados, imensos – não pousam, não aterrissam: ficam alguns poucos metros acima do solo. De 18 em 18 horas, no ponto mais baixo de cada uma delas abre-se uma fenda, para que os terráqueos cheguem lá, caso queiram.
Uma estaciona sobre Montana, na região Noroeste dos Estados Unidos. Uma chega à China. Duas ficam na Rússia, aquele país grande demais. Uma na Índia. Uma no Paquistão. Uma no Japão. Uma naquela ilhotinha pequetita mas de grande importância em todos os aspectos da História da humanidade, à esquerda do continente europeu – mas não em Londres, e sim no interior, no campo inglês.
(Por que Montana, e não nos vizinhos Idaho, Wyoming, Dakota do Norte? Sabe-se lá. Mas há uma pista. Foi em Montana que se deu o primeiro contato entre humanos e aliens na mitologia de Star Trek, como mostrado em Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato, de 1996.)
Aparentemente, os alienígenas tomaram muito cuidado na escolha dos locais em que ficariam. Evitaram as grandes cidades, para não atrapalhar demais a vida dos terráqueos.
Mas a humanidade não tem jeito. A chegada das 12 naves alienígenas provoca o caos ao redor do mundo. Não por culpa das naves, que não fazem absolutamente nada contra coisa alguma da Terra, mas porque a humanidade é assim mesmo – ela possui uma imensa tendência para tratar mal a si mesma e ao planeta que habita.
E então há saques mundo afora, distúrbios, violência, ondas de crimes, de fanatismo religioso, suicídios coletivos, revoltas generalizadas contra os governos, o escambau.
Uma mistura do micro com o macro. O foco é uma pessoa, mas se mostra o planeta
Todas essas reações das multidões à chegada dos extraterrestres são mostradas rapidamente, em geral em noticiários de TV. Têm sua importância na trama, é claro, mas são pano de fundo. O contexto geral, o movimento planetário fica lá atrás, pano de fundo. A história mesmo, a trama básica do filme se concentra em uma personagem, uma mulher, Louise Banks, uma bambambã, uma absoluta sumidade em Linguística.
Louise é interpretada por Amy Adams, essa atriz de talento e beleza imensos. Amy Adams é de 1974, estava portanto com 42 anos quando A Chegada foi lançado – mas ela aparenta muito menos, como acontece hoje em dia com as mulheres. Parece estar aí com uns 32 anos, e então às vezes, enquanto via o filme, eu me perguntava se não teria sido um erro de casting a escolha de Amy Adams para o papel dessa especialista que é tão absolutamente experiente, tão absolutamente sumidade, com conhecimento profundo de persa, sânscrito, mandarim, que dá aula sobre as origens do português na Galícia.
Mas A Chegada é um filme que trata sobre o tempo, as diferentes forma de se compreender o tempo, e então está certo – aceitemos que aquela figura que aparenta ser tão jovem seja uma doutora tão experiente, sabida.
A Chegada é um filme que mistura o micro com o macro, o retrato de uma personagem específica com um painel gigantesco sobre o que está acontecendo com a humanidade inteira. Vai fundo na alma, nos pensamentos, nas lembranças de Louise Banks, ao mesmo tempo em que está descrevendo os acontecimentos ao redor da Terra logo após a chegada das naves extraterrestres.
Um físico e uma linguista são destacados para tentar contato com os aliens
Sim, é um filme ambicioso, pretensioso. E não é pouco, não. É muito ambicioso, muito pretensioso.
Não é uma história escrita diretamente para o cinema. A origem do filme é um conto, “The Story of Me”, publicado em 1998. Seu autor é Ted Chiang, um sino-americano nascido em 1967 que é um geniozinho. Formou-se em ciência da computação e depois se graduou em curso de criatividade literária; trabalha como técnico na indústria de software e de vez em quando escreve contos ou noveletas. Foram apenas 15, até agora, e nunca escreveu um romance de muitas páginas, mas já ganhou todos os prêmios literários possíveis e imagináveis na área de ficção científica. A lista inclui o Nebula, o John W. Campbell, o Theodore Sturgeon, o Sidewise, mais um Nebula, o Locus e o Hugo, mais um Nebula e mais um Hugo, um da Associação Britânica de Ficção Científica…
O responsável pela transformação do conto na história do filme do canadense Denis Villeneuve foi o roteirista Eric Heisserer, outro jovenzinho, nascido em 1970. Como o escritor Ted Chiang, Heisserer é especialista na área de ficção & fantasia; assina os roteiros de A Hora do Pesadelo (2010), Premonição 5 (2011), A Coisa (também 2011), Contagem Regressiva (2013).
Consta que ele e Denis Villeneuve, que trabalharam em estreita colaboração, recorreram ao aconselhamento de cientistas para criar o roteiro e toda a ambientação do filme.
Construíram uma admirável obra de ficção científica que de fato abraça o micro e o macro, e fala com propriedade e seriedade sobre o tempo e sobre a questão da comunicação com uma outra raça, com uma cultura diferente. Não é à toa, de forma alguma, que a personagem central seja uma linguista, e o segundo personagem mais importante, o de Ian Donnelly (o personagem de Jeremy Renner), seja um físico.
Assim que as naves espaciais chegam à Terra, o oficial destacado para tentar fazer contato com os alienígenas no meio do campo em Montana, o coronel Weber (Forest Whitaker), procura o físico Ian Donnelly e a linguista Louise Banks. Os dois é que na prática serão os encarregados de tentar se comunicar com os visitantes. A narrativa do filme se dá em torno do trabalho dos dois especialistas.
Uma outra forma de enxergar, compreender, vivenciar a passagem do tempo
A comunicação. O tempo.
O tempo. Depois que o filme terminou, e até agora (comecei esta anotação um dia inteiro depois de ver A Chegada), ficaram rolando na minha cabeça versos de duas canções da MPB: “João, o tempo andou mexendo com a gente, sim”, dizia Belchior, dirigindo-a a John Lennon, em “Comentário a respeito de John” (dele e José Luiz Penna, o Peninha). E os de Gonzaguinha em “De volta ao começo”: “E é como se então de repente eu chegasse / Ao fundo do fim / De volta ao começo / Ao fundo do fim / De volta ao começo”.
Os poetas têm um jeito belo de falar de coisas que só professores de Física com muito doutorado saberiam explicar.
Em Interestelar, o diretor Christopher Nolan e seu irmão e co-roteirista Jonathan Nolan usaram noções da Teoria da Relatividade de Einstein para falar do tempo. Como acontecia também em outro belo filme do gênero, O Planeta dos Macacos (1968), mostra-se em Interestelar que o tempo da Terra é completamente diferente do tempo de quem viaja pelo espaço em velocidades supersônicas – há um esticamento-compressão da passagem do tempo com relação às distâncias de anos-luz percorridas por viajantes espaciais.
O que se mostra em A Chegada é ainda mais complexo: fala-se aqui de uma forma completamente diferente de se perceber a passagem do tempo daquela que nós conhecemos desde que nossa espécie desceu das árvores e começou a andar sobre os dois membros inferiores.
Para nós, os primatas terráqueos, especialmente os 99,99% que não têm doutorado em Física, o tempo obedece a uma estrutura linear. É uma linha reta que vai sendo traçada como as palavras que escrevemos da esquerda para a direita, nós, ocidentais. À esquerda da linha fica o passado, “el tiempo, el implacable, el que pasó”. O presente é onde a caneta que traça a linha está, e o futuro está para ser desenhado, à direita da ponta da caneta.
(Para árabes e japoneses, por exemplo, que escrevem da direita para a esquerda, valeria a mesma lógica, no sentido inverso, como num espelho, é claro. Mas a mesma lógica.)
Os heptapods – como serão chamados os visitantes mais para o final do filme, pelo fato de terem sete membros, algo como um polvo com um braço a menos –, diferentemente, enxergam o tempo como um círculo, uma bola, um moto-contínuo.
Como um palíndromo – uma palavra ou frase que tanto pode ser lida de frente para trás como de trás para frente. Uma palavra ou frase que é redonda, circular – como Hannah, o nome da filhinha da linguista Louise Banks.
O tempo não como uma reta, como algo linear, mas como um círculo, uma bola, um palíndromo – algo que pode ser visto, vivido e entendido tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda.
“Já não estou mais tão certa se acredito em começos e fins”
Quando o filme começa, ouvimos a voz em off de Amy Adams-Louise Banks. Ela está se dirigindo a Hannah, sua filha. Enquanto vemos Louise e um bebezinho, ela diz, muito pausadamente:
– “Eu pensava que este era o começo da sua história. A memória é uma coisa estranha. Não funciona como eu imaginava. Estamos tão presos ao tempo, à sua ordem…”
E aí vemos Louise brincando com Hannah garotinha de uns seis anos, no jardim da casa dela, uma casa estupenda, junto de uma paisagem extasiante, um grande lago à frente. Hannah está vestida de mocinha de faroeste, e Louise brinca que vai pegá-la com os dedinhos de fazer cócegas, e Hannah ri aquele risinho doce de criança que ouço duas ou três vezes por semana, sempre que vejo Marina, e é o som mais maravilhoso do mundo.
– “Eu me lembro de momentos no meio.”
E então vemos Hannah sendo examinada por uma médica, e depois no hospital, e depois morta, ainda adolescente.
– “E isto foi o fim. (Pausa.) Mas agora já não estou mais tão certa se acredito em começos e fins. Há dias que definem sua história além de sua vida. Como o dia em que eles chegaram.”
E então vemos Louise chegando a uma faculdade, carregando livros. As pessoas todas estão atentas à televisão, mas Louise parece não perceber o mundo à sua volta. Entra na sala de aula – um grande anfiteatro – e pergunta onde está todo mundo. O anfiteatro, com lugar para, digamos, 200 alunos, tem aí uns 15 gatos pingados, e todos olhando para as telas de seus celulares.
Louise, como se fosse um autômato, um robô, começa a dar sua aula, falando sobre a origem da língua portuguesa, na Galícia. Fala durante um minuto e pouco, até que uma aluna não se contém e pede para a professora ligar a TV. Ela liga – e ela, os alunos e os espectadores vêm no noticiário que uma nave espacial chegou a Montana.
A grande aventura do filme: como falar com seres de outro planeta?
Quando o filme está aí com uns 10 minutos, surge o coronel Weber. (Achei Forest Whitaker muito envelhecido; está bem mais magro, talvez seja isso.) Vemos que ele já havia usado os serviços da dra. Banks para fazer uma tradução do persa, numa das crises entre Estados Unidos e Irã.
Mais uns 5 minutos, e o coronel Weber, a dra. Banks e o dr. em Física Ian Donnelly estão chegando de helicóptero ao local em Montana em que a gigantesca nave espacial está lá paradona, a uns 5 metros do solo.
E vai começar a grande aventura, a viagem através do segundo tema central do filme, depois da questão do tempo: como se comunicar com uma raça de outro planeta?
Me permito uma brincadeirinha: se fosse num filme americano antigo, seria fácil – os extraterrestres saberiam falar inglês, uai! Nos filmes americanos antigos, todo mundo falava inglês: os romanos, os palestinos do tempo de Cristo, os gregos do tempo de Homero, os fascistas italianos, os nazistas alemães, até mesmo os japoneses, os chineses.
Bons tempos aqueles, diria Donald Trump.
Falando sério: como os portugueses fizeram para se comunicar com os índios, quando chegaram a Pindorama? Como os espanhóis fizeram para falar com os índios na América Central? Os ingleses com os índios da América do Norte? Os ingleses na Austrália?
Louise Banks contará uma história para o coronel Weber e o físico Ian compreenderem as dificuldades da comunicação: quando os exploradores James Cook e Joseph Banks, o primeiro um tenente, o segundo um Sir, fizeram contato com uma tribo aborígene na Austrália, no século XVIII, estavam espantados por terem visto um animal inteiramente desconhecido até então, um bicho bípede com uma bolsa na barriga. Os exploradores ingleses teriam então perguntando o que era aquilo, e os aborígenes responderam: “kanguru”. Esse então passou a ser o nome daquele bicho que só existe na Austrália. Só que “kanguru” não era na verdade o nome daquele bicho. Na língua daqueles aborígenes, a palavra quer dizer “Eu não compreendo”. À pergunta dos ingleses de o que é aquilo, eles responderam que não compreendiam o que os invasores tinham dito.
O físico Ian ri da história, acha divertida. Mas, depois que o coronel Weber deixa o recinto em que estão, Louise conta para ele que aquela história não aconteceu de verdade – é só uma parábola, uma metáfora.
(Na verdade, a história que Louise conta é um mito histórico que veio sendo contada através das décadas, desde a primeira expedição do tenente James Cook e Sir Joseph Banks ao interior da Austrália.)
Claro: portugueses, espanhóis, ingleses, índios de todos os continentes, é tudo a mesma e única raça – e a comunicação já foi, seguramente, evidentemente, dificílima. Imagine-se com seres de outro planeta, outra civilização, outra forma de raciocinar, de compreender o tempo, de compreender tudo.
Há mais dificuldade de comunicação do que poderia sonhar a trilogia de Antonioni
Quando o filme já está para lá da metade, Ian, o físico, diz: – “Como a nave deles ou seu corpo, sua linguagem escrita não tem direção para frente ou para trás. Os linguistas chamam isso de ‘ortografia não-linear’ – o que levanta a questão: é assim que eles raciocinam?”
A essa altura, Louise e Ian já estão conseguindo se comunicar – ainda que com imensa dificuldade – com os dois heptapods da nave de Montana, e os especialistas dos demais países também estão obtendo algum progresso.
Cria-se então o entendimento de que os alienígenas fizeram uso de uma expressão que corresponderia à palavra “arma”.
Os chineses, os russos e também os americanos da CIA e do Pentágono entendem imediatamente que eles estão anunciando guerra – e já se preparam para reagir militarmente.
Louise pede calma – e se os visitantes estiverem usando o conceito “arma” como o de “ferramenta”, “utensílio”?
Há muito mais dificuldade de comunicação do que poderia sonhar a trilogia de Michelangelo Antonioni.
Mas é evidente que os terráqueos que dominam as armas na China, na Rússia, nos Estados Unidos querem logo começar uma guerra.
Na tentativa de convencer os militares e o agente da CIA sempre presente no acampamento construído junto da nave, em Montana, a abandonar a saída belicosa – seja diante de russos e chineses, seja diante dos alienígenas –, Louise e Ian usarão o conceito do “jogo da soma não-zero” – “non-zero sum game”.
É um conceito bem parecido com o usado ao final de Jogos de Guerra/WarGames (1983), um filme com jeito de infanto-juvenil que na verdade é bem mais que isso. No jogo da velha, assim como na guerra atômica – o supercomputador do filme conclui –, não há vencedores: sempre dá empate.
“Este filme deixou todo mundo no cinema sem entender nada e com tédio mortal”
É de fato um belíssimo filme, este que Denis Villeneuve fez, afastando-se cada vez mais das obras independentes, tão distantes do cinemão comercial quanto o diabo da cruz, como Redemoinho/Maelström (2000) e Incêndios/Incendies (2010).
Perdem o cinema independente, o circuito “de arte”, ganha o cinemão comercial.
Além de ter tido 8 indicações ao Oscar, inclusive melhor filme e melhor direção (e 1 prêmio, para montagem de som), 43 prêmios no total, fora 216 outras indicações, e ter obtido uma renda de US$ 197 milhões, ante US$ 47 milhões de custo, A Chegada parece ter agradado imensamente ao público. Estava em março de 2016 com nota 8 na avaliação média dos leitores do IMDb – nota altíssima, conseguida por poucos filmes.
Mas, como bem dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra, e então me diverti muito ao ver o IMDb os comentários de um leitor muito, mas muito irado com o filme. Assina-se como lruella, da Itália, e esbraveja assim: “Este filme deixou todo mundo no cinema sem entender nada e com tédio mortal. Tantas coisas no filme fazem sentido ZERO.” Assim, em maiúsculas, usando o conceito zero talvez porque ele tenha sido citado no próprio filme.
O raivoso leitor do IMDb enumera diversas coisas que considera sem sentido na história, e conclui: “Pessoas dizendo que este é o melhor filme de todos provavelmente ou nunca viram nenhum outro filme na vida ou então sofreram uma concussão. Prova disso é que, enquanto estamos ainda falando sobre 2001 – A Space Odyssey – após 40 anos, em 3 meses ninguém vai se lembrar deste lixo sem sentido, entendiante, mal escrito.”
Cada um tem todo o direito de ter a opinião que quiser.
Creio que A Chegada é um filme envolvente, eletrizante até, muito bem escrito, e que será lembrando por muito tempo.
Tempo.
O tempo andou mexendo com a gente, e é como se então de repente eu chegasse ao fundo do fim, de volta ao começo, como um palíndromo, como num moto-contínuo.
Anotação em março de 2017
A Chegada/Arrival
De Denis Villeneuve, EUA, 2016
Com Amy Adams (Louise Banks)
e Jeremy Renner (Ian Donnelly), Forest Whitaker (coronel Weber), Michael Stuhlbarg (agente Halpern, da CIA), Mark O’Brien (capitão Marks), Tzi Ma (general Shang), Jadyn Malone (Hannah aos 6 anos), Abigail Pniowsky (Hannah aos 8 anos), Julia Scarlett Dan (Hannah aos 12 anos), Frank Schorpion (dr. Kettler)
Roteiro Eric Heisserer
Baseado no conto Story of Your Life, de Ted Chiang
Fotografia Bradford Young
Músaica Jóhann Jóhannsson
Montagem Joe Walker
Casting Feancine Maisler
Produção 21 Laps Entertainment, FilmNation Entertainment, Lava Bear Films.
Cor, 116 min
***
Vi esse filme em dezembro do ano passado, no cinema. Fazia séculos que eu não ia ao cinema, mas eis que eu estava em Florianópolis, e naquela cidade só chove. Daí que em 5 dias fui ao cinema em 3, pois programa ao ar livre não estava rolando. Isso posto, confesso que vi “A Chegada” meio de má vontade, pois eu queria mesmo era ver ” Doctor Strange”, mas o amigo que estava comigo preferia a versão em 3D, e no cinema não tinha. Levando-se em conta que eu não gosto de ficção (exceção honrosa para “Contato”), minha má vontade só aumentou. Enfim, é um filme pretensioso mesmo, e eu não vi nada de mais, nem o porquê de tanto hype. Meu amigo adorou, a coisa da dificuldade na comunicação acho que o tocou, pois ele viveu isso no último relacionamento (quem nunca?), e ainda estava digerindo a coisa, mesmo já tendo se passado mais de um ano. Ah, os homens, sempre tão maduros!
Acabei vendo “Doctor Strange” um ou dois dias depois, e gostei muito mais, mesmo não curtindo histórias de super-heróis, e mesmo sendo um filme absolutamente comercial, o oposto do que geralmente me atrai. Como fui ver sem esperar muita coisa, movida pela indicação de uma amiga que tinha dito que ele falava sobre espiritualidade, e muito também por ter o maravilhoso Ben Cumberbatch no papel principal (a quem eu quero enganar falando que foi por outra coisa, não é mesmo?), acabei curtindo, pois a essência do filme fala de vida além da matéria, espiritualização, domínio do ego, da desimportância de títulos e de como o apego a eles é inútil, e também sobre o tempo, veja você. E com boas doses de humor. Lógico que tem zilhares de efeitos especiais (e eu torci pra ele levar o Oscar nesse quesito). Antes que apareçam os chatos de plantão, quero dizer que essas foram minhas impressões pessoais (na real, Strange lida com magia, mas eu vejo de outra forma, a interpretação é livre, e eu nunca li os quadrinhos. Whatsoever).
Voltando à vaca fria, uma coisa que me irrita em ficção que fala de extraterrestres, é o fato de colocarem os ETs como seres gosmentos, feios, estranhos, muitas vezes repugnantes. Como se o homem fosse a inteligência suprema do universo, o mais bonito e cheio de luz. Se os caras têm naves espaciais e especiais que conseguem vir à Terra, por que não seriam mais inteligentes que os terráqueos? Ahhh, o ego…
Muito pretensioso e ambicioso sim, nisso você tem razão SerVaz. E filmes assim são um porre. Eu ri do comentário do italiano, acho que me identifiquei com o que ele sentiu.
Mas não desgostei de todo; talvez eu dê uma segunda chance à coisa, e assista sem espírito de prevenção. Se isso ocorrer, volto aqui para comentar.
PS: Não sabia que a música citada é de Gonzaguinha; só a conhecia na voz do Roupa Nova. Vira e mexe eu cantarolo o refrão, sempre que tenho que re-re-re-recomeçar alguma coisa.
Acho que oque iluminou “A Chegada” foi Amy Adams.Ela está muito bem, estética e artisticamente falando, mas esse filme é monótono, e mal costurada a história com a presença de Adams. Gostaria de ter oque elogiar, mas por si só o filme é irrelevante, na minha opinião, respeito a de todos. Só Amy Adams, repito, dá uma luz de satisfação nessa produção
Um dos aspectos mais importantes de cada produção é o seu elenco, pois deles despende que a história seja caracterizada corretamente. Acho que em assistir A Chegada dublado fizeram uma eleição excelente ao eleger os atores. Gostei muito desta história, acho que é perfeita para todo o público. Adorei a trilha sonora, uma parte fundamental do filme.
O filme A CHegada pode ser algo com que daremos de cara algum dia desses, esperem e veremos. Então, o governo americano dirá que o mundo é do Presidente dos Estados Unidos da América do Norte, quando sabemos que não é assim. Portanto, preparem-se, avisem os Extraterrenos, de alguma maneira, nem os americanos, muito menos a Globo mandam na Terra. Existem nós!!!!