007 – Os Diamantes São Eternos / Diamonds Are Forever

2.5 out of 5.0 stars

007 – Os Diamantes São Eternos, de 1971, é o sétimo filme de James Bond, o sexto e penúltimo com Sean Connery no papel do agente secreto britânico com permissão para matar, o segundo dos quatro dirigidos por Guy Hamilton.

Sétimo em termos. Sétimo da série oficial, produzida pela dupla que havia comprado os direitos de filmagem dos romances de Ian Fleming, o criador da figura de James Bond. Oitavo, a rigor, se contarmos Cassino Royale, de 1967, um James Bond não oficial, um tanto fora da lei, uma comédia com muitos diretores e muitas estrelas, de Orson Welles a Woody Allen, de Deborah Kerr e Ursula Andress.

O sexto com o ator que botou James Bond no imaginário de gerações de fãs de cinema, o escocês Sean Connery. Vendo o filme agora, com a vantagem da passagem do tempo, com a perspectiva de quem pode ver a linha toda, dá para notar que o grande ator já demonstrava cansaço por repetir de novo o personagem que, mais que gente, ser humano, essa coisa feita de carne, osso e muitas dúvidas, inquietações, medos, temores, é tanto ou mais super-homem que o Super-homem, o Capitão Marvel, o Homem Aranha.

No filme anterior a este aqui, 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade/On Her Majesty’s Secret Service (1969), Sean Connery já havia escapado do personagem, que tinha ficado a cargo de um tal George Lazenby. Não deu certo, de jeito algum, e então conseguiram convencer Connery a interpretar Bond, James Bond pela sexta vez.

Os seis seguintes da série, desde Live and Let Die (1973) até Octopussy (1983), seriam estrelados por Roger Moore, um bom James Bond, muito bom mesmo.

O fato é que os produtores conseguiram convencer Sean Connery a encarnar o personagem ainda uma vez, em 007 – Nunca Mais Outra Vez/Never Say Never Again (1983). Nunca mais outra vez, nunca diga nunca de novo – o título já era uma gozação com Sean Connery, que havia dito e repetido que nunca mais iria interpretar o agente todo-poderoso, super-herói.

Para mim, este é o filme em que a Bond girl é Jill St. John – e pronto

Isso posto, o filme tendo sido colocado no seu contexto, posso dizer que, para mim, Diamonds Are Forever é o filme em que a Bond girl é Jill St. John.

Não me lembrava que Jill St. John tinha sido uma Bond girl. E nunca tinha visto Diamonds Are Forever até agora. Mas outro dia, remexendo em suportes físicos em sebos de Pinheiros, não resisti a uma caixa de 5 DVDs lançada pela Fox Video muito tempo atrás, chamada 007 James Bond Ultimate Collection Volume 1. Primeiro vimos Goldfinger, o terceiro da série oficial, o primeiro dirigido por Guy Hamilton, o mesmo diretor deste Diamonds Are Forever, que vimos em seguida.

Posso garantir de pé junto que ninguém no Brasil, ou na América Latina, com menos de 40 anos, por mais cinéfilo que seja, seja fã de Jill St. John. Mas eu me lembro bem dela desde que a vi em um ou dois ou três filmes no início dos anos 60. Sempre como coadjuvante – mas um nome marcante, assim como a figura, uma atriz bela, magra mais para falsa magra, e ruiva, esplendorosamente ruiva, como Maureen O’Hara.

Lembro dela de Suave é a Noite, o filme de Henry King de 1962 baseado no romance de F. Scott Fitzgerald que tinha no elenco Jennifer Jones, Jason Robards, Joan Fontaine, Tom Ewell, Paul Lukas. Jill St. John fazia um papel pouco importante, mas ficou na minha cabeça para sempre.

T. Case, a personagem de Jill St. John, surge com pouquíssima roupa

Jill St. John surge quando estamos com 18 minutos de Diamonds Are Forever. Ela é T. Case, a mulher que está de posse de uma grande quantidade de diamantes que deve entregar ao famoso contrabandista internacional Peter Franks (Joe Robinson), quando ele chegar a Amsterdã. Mas quem chega ao prédio de apartamentos de Amsterdã em que mora T. Case identificando-se como Peter Franks é Bond, James Bond.

Comunicam-se pelo porteiro eletrônico. Ele diz que é Peter Franks, ela abre a porta do prédio e diz que é o terceiro andar. No terceiro andar, a porta do apartamento dela está aberta.

– “Fique à vontade. Estarei com você em um minuto” – ela diz, e James Bond e o espectador vêem uma mulher de longos cabelos louros e pouquíssima roupa saindo de um cômodo para outro no espaçoso apartamento.

Aquele Sean Connery já um tanto de saco cheio de interpretar James Bond caminha pela vasta sala, depois de ter tido aquela rapidíssima visão de uma loura seminua. T. Case berra lá do outro aposento: – “Pegue uma bebida!” O agente com permissão para matar tem também permissão para beber em serviço, e então serve-se de um uísque, perguntando, casualmente, se o Mr. Case está em casa. – “Não há um Mr. Case”, responde ela. E acrescenta: – “O T. é de Tiffany.” E acrescenta mais ainda: – “Eu nasci lá, no primeiro andar, enquanto minha mãe procurava um anel de noivado”.

Uma jovem e bela mulher metida no contrabando de diamantes que se chama Tiffany e nasceu na Tiffany’s da Quinta Avenida! O bom humor dos filmes de James Bond é uma absoluta maravilha.

Aí Tiffany Case aparece na sala – apenas de calcinha e sutiã, e com o cabelo marrom escuro. Há um diálogo a respeito da cor de cabelo, e Tiffany pega o copo que James Bond estava usando e sai da sala rumo a seu quarto, pretextando que vai colocar mais gelo.

No quarto, fotografa a digital de James Bond, e a compara com a digital do contrabandista Peter Franks. As digitais batem. Veremos depois de Q. (Desmond Llewelyn), o especialista em produzir gadgets e disfarces do M16, o serviço secreto britânico, havia produzido para James Bond uma fina película que recobre seu polegar, e que tem a digital do verdadeiro contrabandista Peter Franks, que ele estava fingindo ser.

A melhor coisa do filme é uma rápida visão da bundinha de Jill St. John

Mais tarde, Tiffany Case-Jill St. John participa, ao lado de James Bond-Sean Connery, de uma longa perseguição de carros em Las Vegas. Todos os carros da polícia de Las Vegas estão perseguindo o carro em que viajam James Bond e Tiffany Case.

Jamais vou compreender que raio de tara é essa das audiências americanas por perseguição de carros, mas o fato é que não há um único filme de ação que não tenha ao menos uma sequência de perseguição de carros.

Mais tarde ainda, já quando estamos chegando no clímax final da história, quando o muito big super hiper bandidão Blofeld (Charles Gray), está ameaçando os governos das grandes potências, operando a partir de uma plataforma de exploração de petróleo no Pacífico a algumas milhas da Baja California, James Bond reencontra Tiffany Case expondo a pele bem branquinha ao sol inclemente, de biquíni – um modelito que, diante do que as cariocas passaram a usar alguns anos depois, mais parece um hábito de freira.

Vai aí um momento interessante: James Bond supõe que Tiffany se bandeou para o lado do bandido – quando o espectador sabe que, na verdade, a pobre moçoila foi sequestrada pelo big bandidão.

Faz parte da trama uma fita cassete. Tem importância na trama, no esquema usado pelo bandidaço Blofeld para dominar o mundo (embora, a rigor, não faça sentido algum). Mas a fita cassete é colocada por James Bond no biquíni de Tiffany Case, junto da bundinha redondinha da falsa magra Jill St. John. E então o mundo inteiro viu, ainda que por poucos segundos, a bundinha redondinha de Jill St. John.

Na minha opinião, é sem dúvida alguma a melhor coisa do filme.

Os filmes de James Bond têm um machismo assustador – e delicioso

Há um machismo assustador nos filmes de James Bond, especialmente os dos anos 60 e 70, aqueles felizes tempos em que o politicamente correto ainda não havia se instalado.

Goldfinger tem diálogos de um machismo atroz. Este Diamonds Are Forever não fica atrás.

Há uma cena em que James Bond está na cama com Tiffany Case. Os dois estão vestidos, porque era ainda 1971, não havia chegado ainda o tempo do quasepornô de filmes tipo Instinto Selvagem (1992) ou Corpo em Evidência (1993), mas estão deitados juntos numa grande cama de hotel chiquetérrimo. Tiffany pede a Bond que faça alguma, que cuide deles – e Bond, que naquele momento está com a moça debaixo de seu corpo, responde: – “I’m on top of the situation”. Tô por cima da situação, mano!

Há uma sequência num cassino de Las Vegas que é ainda pior. James Bond está disposto a jogar, e demonstra que tem muito dinheiro. Surge então uma moça que o espectador vê que está a fim de ficar junto de quem tiver muito dinheiro. A moça tem peitos de tamanho avassalador, e usa uma blusa que demonstra quão avassaladores são seus peitos. Ela se apresenta para James Bond: – “Meu nome é Plenty.”

Plenty! Como substantivo, fartura, abundância, profusão.

Como adjetivo, farto, abundante. (Bem, não existe em português uma palavra para dizer peitante.)

Consta que Jill St. John foi inicialmente procurada para o papel de Miss Plenty – embora essa bela atriz não tenha nada a ver com a abundância de uma Jayne Mansfield ou uma Anita Ekberg. Alguém na produção percebeu que aquela bela mulher merecia não o papel pequeno de Miss Plenty, e sim o principal papel feminino, o da Bond girl fundamental da história.

Uma sábia decisão.

A vida é cheia de coincidências, de surpresas, de ligações inesperadas, e quis o destino, ou Deus, que Miss Plenty fosse interpretada por Lana Wood, atriz de grande beleza e sensualidade, que nunca teve grande sucesso, mas continua ativa ainda agora, 2016. Lana é a irmã mais nova de Natalie Wood, que foi casada por duas vezes, entre 1957 e 1962 e depois de novo entre 1972 e 1981, ano de sua morte, com Robert Wagner.

Jill St. John começou a namorar Robert Wagner em fevereiro de 1982, apenas dois meses e pouco após a morte de Natalie Wood num acidente num iate jamais inteiramente explicado. Fizeram sete filmes juntos, casaram-se em 1990 e estão juntos até hoje.

Foi o repouso da guerreira, que antes de Robert Wagner comeu, entre outros, o músico Bill Hudson, o diretor Roman Polanski, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, os atores George Montgomery, Peter Lawford, Barry Coe, George Lazenby, Jack Nicholson, Michael Caine e Sean Connery, o jogador de beisebol Sandy Koufax, o brasileiro Baby Pignatari, o conde Giovanni Volpi, o apresentador de TV David Frost, o político texano Benjamin Barnes, o joalheiro italiano Gianni Bulgari e Frank Sinatra.

Ebert definiu perfeitamente: a trama, nos filmes de 007, é o que menos importa

Shirley Bassey, a galesa de voz ampla, forte, tonitroante, canta a canção “Diamonds Are Forever”, de John Barry e Don Black, durante os sempre bem feitos, elaboradíssimos créditos iniciais. Shirley Bassey é a cantora que mais vezes teve a honra de cantar nos créditos iniciais de um filme de James Bond: cantou também em Goldfinger (1964) e 007 Contra o Foguete da Morte (1979)

O filme foi um sucesso de público, com uma renda de US$ 43,8 milhões.

Leonard Maltin deu 3.5 estrelas em 4: “Depois do hiato de um filme, Connery voltou como James Bond nesta aventura colorida que parece história em quadrinhos, passada em Las Vegas, mais perto do espírito dos seriados da Republic do que de Ian Fleming, mas muito gostosa.”

O grande Roger Ebert deu 3 estrelas em 4, e fez uma consideração formidável:

“A trama de Diamonds Are Forever é tão complicada quanto é possível. Disseram que a trama é complicada demais para alguém descrever, mas acho que eu poderia, se tivesse vontade. Mas não consigo imaginar por que alguém gostaria de descrever a trama. O sentido de uma aventura de Bond é o momento, a superfície, o que está acontecendo agora. Quanto menos tempo se perde com a trama, melhor.”

É bem isso. É perfeito.

Eu não consigo entender as tramas dos filmes de James Bond. De fato não consigo. Não conseguiria fazer uma sinopse do filme, de jeito nenhum. Mas é exatamente o que diz Roger Ebert: o que vale não é a trama, é o momento, a superfície, o que está acontecendo agora. Os peitos de Lana Wood, e ela dizendo para para James Bond: – “Oi, meu nome é Plenty”. E ele replicando, com aquela voz inimitável dele, diante daquele plenty de peitos: – “Of course you are!”.

Ou ele dizendo para Jill St. John, na primeira sequência em que a vemos, seminua: – “Isso que você está quase usando é um pequeno nada muito agradável”.

Depois, quando ela se retira dizendo que vai terminar de se vestir, ele replica: “Oh, por favor, por mim não precisa…”

Isso é James Bond. Trama? Ora, pra que trama?

Anotação em julho de 2017

007 – Os Diamantes São Eternos/Diamonds are Forever

De Guy Hamilton, Inglaterra-EUA, 1971

Com Sean Connery (James Bond)

e Jill St. John (Tiffany Case), Charles Gray (Blofeld), Putter Smith (Mr. Kidd), Bruce Glover (Mr. Wint), Lana Wood (Plenty O’Toole), Jimmy Dean (Willard Whyte), Bruce Cabot (Saxby), Norman Burton (Leiter), Joseph Fürst (Dr Metz), Bernard Lee (‘M’), Desmond Llewelyn (‘Q’), Leonard Barr (Shady Tree), Lois Maxwell (Moneypenny), Margaret Lacey (Mrs. Whistler), Joe Robinson (Peter Franks)

Roteiro Richard Maibaum e Tom Mankiewicz

Baseado no livro de Ian Fleming

Fotografia Ted Moore

Música John Barry

Canção “Diamonds Are Forever” de John Barry e Don Black, cantada por Shirley Bassey

Montagem Bert Bates e John W. Holmes

Casting Weston Drury Jr.

Produção Albert R. Broccoli e Harry Saltzman, Eon Productions. DVD Fox Video.

Cor, 119 min (1h59)

**1/2

4 Comentários para “007 – Os Diamantes São Eternos / Diamonds Are Forever”

  1. Se o Sean Connery, ganhando dinheiro, já estava de saco cheio do James Bond, imagine eu que tô pagando!!! rsrsrsrsrsrsrsrs
    (Só o Timothy Dalton salva, hehehe)

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