A história de “Dama Dourada”, “The Woman in Gold”, de Gustav Klimt, um dos quadros mais marcantes, mais famosos do século XX, “a Mona Lisa da Áustria”, é absolutamente fascinante. Tem drama, tragédia, riqueza, traição, assalto, usurpação, amor, abnegação, empenho, persistência, longas lutas nos tribunais – e até algum humor.
O filme que reconta essa história real repleta de pathos é extremamente bem realizado em todos os quesitos. Não poderia dar outra: Woman in Gold, no Brasil A Dama Dourada, produção inglesa de 2015, é um grande filme, uma maravilha.
A primeira imagem que vemos na tela é de uma folha de ouro. Gustav Klimt (1862-1918) usava folhas de ouro em seus quadros, e ao fazer o retrato de Adele Bloch-Bauer, não poupou ouro. Consta que os desenhos preliminares foram feitos em 1903; o quadro só seria completado em 1905, e é tido como o definitivo e mais representativo de sua fase dourada. Oficialmente chamado de “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”, imenso, com 1,38 por 1,38 metro, ele se tornaria conhecido como “A Dama Dourada”. (Na foto abaixo, o quadro não está inteiro!)
Adele – mulher da alta sociedade vienense, esposa do industrial Ferdinand Bloch-Bauer, ambos amigos particulares do pintor, que sempre o ajudaram – seria a única modelo a inspirar dois quadros de Gustav Klimbt: o “Retrato de Adele Bloch-Bauer II” seria terminado em 1912. Mas foi o primeiro que mais impacto causou.
E a primeira sequência do filme mostra Adele Bloch-Bauer posando, em seu vasto, maravilhoso apartamento no centro de Viena, para o pintor. Seu pescoço está inteiramente coberto por um fabuloso colar de diamantes.
Há apenas um diálogo nessa sequência de abertura. O pintor pede para Adele ficar quieta – ela não pára de se mover! Há um close-up do rosto dela, e ela diz que se preocupa muito com o futuro.
O ator que faz Gustav Klimt – e que só aparece muito rapidamente, se não me engano em uma única tomada – é Moritz Bleibtreu. Moritz Bleibtreu é um dos mais ativos atores alemães da atualidade; nascido em 1971, está chegando aos 80 títulos, e seus filmes incluem In July (O Outro Lado das Férias) (2000), Contratadas para Matar (2008), O Grupo Baader-Meinhof (2008), Soul Kitchen (2009), Jud Süss: Ascensão e Queda (2010), 360 (2011). Contar com um ator desse porte para fazer uma participação mínima é prova de que o projeto merecia grande respeito. (O outro ator alemão que mais filmes faz, Daniel Brühl, também está no elenco, no papel de Hubertus Czernin, um repórter investigativo na Viena do final dos anos 90.)
Moritz Bleibtreu não é a única participação especialíssima no filme dirigido pelo inglês Simon Curtis (de Sete Dias com Marilyn, de 2011). A maravilhosa Elizabeth McGovern, mulher do diretor na vida real, aparece em uma única sequência no papel de uma juíza da Califórnia, e o excelente inglês Jonathan Pryce também aparece em uma sequência apenas, como o juiz Rehnquist, da Suprema Corte.
Adele Bloch-Bauer é interpretada por Antje Traue, jovem atriz nascida na então Alemanha Oriental. É uma mulher de beleza forte, mas pouco convencional, e tem grande semelhança com o rosto pintado por Klimt.
O destino vai ligar a sobrinha de Adele Bloch-Bauer ao neto de Arnold Schoenberg
Essa primeira sequência é apenas um rápido intróito. Corta, e temos uma tomada aérea de Los Angeles; um letreiro informa que estamos em Los Angeles, em 1998. Maria Altmann – o papel da extraordinária Helen Mirren –, sobrinha e única herdeira de Adele Bloch-Bauer, está fazendo um rápido pronunciamento no funeral de sua irmã Louise.
– “Minha irmã, Louise – eu a amava muito. Mas a verdade é que nós sempre competimos uma com a outra. Se a vida for um corrida, você me venceu no final. Mas se a vida for uma partida de boxe, sou a última a ficar de pé.”
Há risos no cemitério. Mas logo Maria Altmann pára de sorrir e joga a primeira pá de terra sobre o caixão, onde se vê uma grande estrela de David.
O filme não especifica naquele momento a idade de Maria, mas ela nasceu em 1917, dez anos depois que Gustav Klimt terminou o retrato de sua tia Adele. Em 1998, portanto, estava com 81 anos. Helen Mirren estava com 70 quando o filme foi lançado. A ação principal do filme se passa a partir daí, de 1998 até os quatro ou cinco anos seguintes, mas há vários flashbacks para a época em que Maria e Louise eram bem garotinhas, aí com uns dez anos, e para a época da juventude delas, na segunda metade dos anos 1930, os anos que precederam a invasão da Áustria pelos nazistas. A Maria Altmann jovem é interpretada por Tatiana Maslany e a criança, por Nellie Schilling.
Depois do enterro de Louise, enquanto caminham até os carros que as trouxeram, Maria conversa com Barbara Schoenberg (Frances Fisher, uma das muitas ex-sra. Clint Eastwood, mãe da filha dele Francesca Eastwood), sua amiga desde sempre, desde quando as duas eram jovens, na Áustria do período entre guerras. Pergunta sobre o filho dela, Randy, jovem advogado. Barbara conta que Randy havia decidido sair do grande escritório de advocacia em que trabalhava para se aventurar por conta própria em Pasadena. Dera com os burros n’água, e agora estava de volta a Los Angeles procurando emprego.
Maria pede à amiga que diga ao filho para ligar para ela.
No momento em que recebe o telefonema da mãe, Randy (interpretado por Ryan Reynolds, de A Proposta/The Proposal, Um Segredo Entre Nós/Fireflies in the Garden) estava a caminho de um grande escritório de advocacia para uma entrevista. O principal advogado do escritório havia lido o currículo do rapaz, e sabia que o pai dele era um juiz de boa fama, e que o avó era ninguém menos que o compositor Arnold Schoenberg (1874-1951), o criador do dodecafonismo. Simpático, o chefão do gigantesco escritório sugere que se faça uma tentativa para ver como Randy Schoenberg se dará ali.
Randy Shoenberg será o protagonista da história, ao lado de Maria Altmann.
Ele serviu como consultor para a produção do filme que mostra como foi seu relacionamento com a amiga de infância de sua mãe, e a luta dos dois, tanto na Áustria quanto nos Estados Unidos, para reaver a posse dos quadros de Gustav Klimt que pertenciam aos Bloch-Bauer.
Uma foto tirada entre as guerras em Viena toma vida, e conhecemos toda a família
O roteiro de Woman in Gold é uma beleza.
É assinado por Alexi Kaye Campbell, ator de origem grega que estudou nos Estados Unidos e depois se radicou em Londres. Se não estou enganado, não há menção, nos créditos finais, ao trabalho de Anne-Marie O’Connor, que pesquisou longamente toda a história do quadro e escreveu o livro The Lady in Gold: The Extraordinary Tale of Gustav Klimt’s Masterpiece, Portrait of Adele Bloch-Bauer, publicado em 2012.
Alexi Kaye Campbell só escreveu, até hoje, um único roteiro, o deste filme. Deveria escrever mais, porque o trabalho que fez é excelente.
Para mostrar o primeiro encontro de Maria Altmann e Randy Schoenberg, Campbell teve uma belíssima sacada. O rapaz vai visitar aquela senhora idosa a pedido da mãe; está começando naquele momento a trabalhar num grande escritório, precisa se concentrar no novo trabalho; sua jovem mulher, Pam (interpretada por Katie Holmes), está cuidando do filhinho bebê do casal. Ele está ali cumprindo uma obrigação, e quer ficar o menor tempo possível.
Maria vai até a cozinha, pegar um strudel que havia preparado especialmente para o rapaz. Enquanto espera pela velhinha, ele olha para uma foto emoldurada em cima de um móvel. Está olhando para a foto quando Maria chega trazendo o strudel. A câmara mostra a foto, em preto e branco – e a foto ganha vida. Os personagens passam a ser em carne e osso, e em cores. Estão posando para o fotógrafo, algumas décadas atrás. E então Maria explica para Randy – e para os espectadores – quem é quem na sua história.
Na foto estão, garotinhas, aí em torno dos 9, 10 anos de idade, Maria e sua irmã Louise, junto com dois casais. À direita estão Gustav e Therese Bloch-Bauer, os pais das garotas (interpretados por Allan Corduner e Nina Kunzendorf). À esquerda estão Ferdinand e Adele Bloch-Bauer (Henry Goodman e a já citada Antje Traue).
Maria conta que, como Ferdinand, irmão de seu pai, e Adele não tiveram filhos, os dois casais dividiam o imenso, infindável apartamento em região absolutamente nobre de Viena. “Era como se tivéssemos dois pais e duas mães”, ela conta.
De vez em quando Randy olha no relógio. Não vê a hora de poder ir embora.
Maria o leva para um quarto atulhado de caixas de papelão, com os pertences pessoais de Louise. Ela brinca: – “Minha irmã finalmente veio morar comigo. O problema é que ela finalmente decidiu se mudar quando já está morta.”
Ela pega um cartão postal com a reprodução do quadro “A Dama Dourada”, mostra para ele, e diz que a) andou lendo umas cartas trocadas entre sua irmã Louise e um antigo advogado da família, na Áustria, que falavam da dificuldade de se encontrar o testamento da tia Adele, e b) por notícias do New York Times, tinha ficado sabendo que as coisas na Áustria estavam mudando, e o governo tinha aberto um Comitê de Restituição de Obras de Arte.
Então era isso: ela queria reaver os bens da família que haviam sido roubados pelos nazistas, inclusive o retrato de sua tia Adele pintado por Klimt – que, após o fim da Segunda Guerra, ficou em exposição no Palácio Belvedere, a sede da Galeria Estatal de Viena, e, ao longo dos anos, tinha adquirido a reputação de a Mona Lisa austríaca, o quadro mais valioso de todo o acervo pertencente ao governo.
Helen Mirren dá um show em mais esta interpretação de personagem real
Ver Helen Mirren na tela é um prazer especial.
Comentei com Mary que essa atriz fabulosa tem, nos últimos anos, representado várias personagens históricas, reais. Não há como esquecer a interpretação dela como a rainha Elizabeth II em A Rainha (2006), de Stephen Frears. Pouco depois, em 2009, fez o papel de Sofja Andreevna, a condessa Tolstói, em A Última Estação, de Michael Hoffmann, sobre os últimos dias do genial escritor russo. Em 2012, interpretou Alma Reville, a mulher e a maior colaboradora de Alfred Hitchcock, no filme Hitchcock, de Sasha Gervasi. Três belos filmes, três mulheres admiráveis, fortes, marcantes, cada uma à sua maneira, é claro. E três magníficas interpretações dessa atriz soberba.
E agora ela vem como Maria Altmann.
Providenciou um maravilhoso, sensacional sotaque alemão. É um sotaque sutil, pequeno, nada gritante, de forma alguma: mulher de muita educação, Maria estava radicada nos Estados Unidos há mais de quatro décadas, e falava muitíssimo bem o inglês, é claro. Mas um leve, sutil, pequeno sotaque da língua materna não se perde nunca, e então a atriz inglesérrima fala em inglês americano que trai aqui e ali, quase imperceptivelmente, a origem alemã.
Parece ter sido uma figura sensacional, essa Maria Altmann (na foto abaixo, ela junto do retrato da tia). Aos 81 anos, na época focalizada pelo filme, tinha uma pequena loja de roupas femininas em Los Angeles, e trabalhava ali, e dali tirava seu sustento. Tinha uma casa confortável – e só isso. Nenhuma grande poupança nos bancos, nenhum outro imóvel, nada. Toda a vasta fortuna da família havia sido pilhada pelos nazistas, e ela havia chegado aos Estados Unidos sem dinheiro algum – há uma sequência dela e o marido, Fritz Altmann (Max Irons), na Ellis Island, a ilha não muito distante da Estátua da Liberdade, na entrada do porto de Nova York, por onde passavam todos os imigrantes vindos da Europa.
Assim como sua tia Adele, não teve filhos.
Ao final do filme, naqueles letreiros comuns nos filmes baseados em fatos reais que relatam o que aconteceu com as pessoas ali retratadas, conta-se que Maria Altmann continuou trabalhando em sua loja até morrer, aos 94 anos, em 2011.
O roteiro e Helen Mirren mostram Maria Altmann como uma personalidade complexa. Ela mesma se descreve como tendo sido uma menina séria, mal humorada, em contraposição à irmã Louise, sempre sorridente. No entanto, ela demonstra, em diversos momentos, um excelente humor – às vezes uma coisa um tanto amarga, temperada por ironia, sarcasmo, como mostra aquela primeira fala dela no enterro de Louise.
É uma acurada observadora das características e do comportamento das pessoas em seu redor. Acaba de conhecer uma pessoa e já faz observações sobre ela – em geral acertadíssimas.
Tem imenso orgulho da riqueza de sua família, do fato de que sua casa estava sempre cheia de grandes artistas, escritores – “até o próprio doutor Freud”. Diz que meia Viena foi à cerimônia de seu casamento. Mas é uma trabalhadora, uma batalhadora.
Tem um profundo ódio da Áustria e dos austríacos, pelo que foi feito à sua família, a seus pais. Tinha jurado para si mesma que não voltaria a seu país – e que sequer voltaria a falar alemão, a língua dos nazistas. Mas é capaz de mudar de idéia. Muda de postura algumas vezes, depois de refletir muito, diante dos novos dados da realidade.
Um momento especialmente emocionante cita Bergman, e Maria volta ao passado
Assim como teve aquela bela sacada de usar a foto da família para mostrar quem era quem na família Bloch-Bauer, o roteiro é cheio de bons momentos, de ótimos, engenhosos achados.
Numa cena especialmente emocionante, a Maria Altmann octagenária volta aos amplos salões do apartamento em que viveu como Maria Bloch-Bauer, e caminha entre os pais, os tios, as pessoas que foram ao seu casamento.
É uma homenagem a Ingmar Bergman. Bergman foi o primeiro cineasta a criar isso – o personagem velho convivendo no mesmo ambiente com as pessoas de seu passado. Usou isso com absoluta maestria na obra-prima Morangos Silvestres (1957). Woody Allen, discípulo e admirador do mestre sueco, de vez em quando usou esse recurso também.
O roteiro de Alexi Kaye Campbell e a direção segura de Simon Curtis criaram uma sequência belíssima, emocionante, dessas que ficam para sempre na memória da gente.
A fascinante história do quadro de Gustav Klimt já havia sido contada, antes deste Woman in Gold, em três documentários. Em 2008, foi lançado Adele’s Wish, o desejo de Adele, do diretor Terrence Turner, que foi casado com uma sobrinha-neta de Maria Altmann; trazia entrevistas com ela e com o advogado Randy Shoenberg. Em 2007 chegou às telas o documentário Stealing Klimt, roubando Klimt, também com entrevistas com Maria e Randy e outras pessoas envolvidas na história.
E o caso apareceu também no documentário The Rape of Europe, de 2006, dirigido por Richard Berge, Boni Cohen e Nicole Newham, que trata de forma ampla da pilhagem de obras de arte perpetrada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Esse foi exatamente o tema de outro filme bem recente, Caçadores de Obras-Primas/The Monuments Men, de 2014, dirigido e estrelado por George Clooney, que reconstitui a história real de um grupo de experts reunido pelo governo americano para tentar resgatar as obras de arte roubadas pelos nazistas.
Nunca houve tamanha pilhagem, tamanho roubo, em toda a História
O Holocausto, o genocídio de judeus e também ciganos e portadores de deficiência, foi uma das maiores atrocidades já cometidas na História, sem dúvida alguma. Muito provavelmente a maior. E Woman in Gold mostra escancaradamente, em várias sequências passadas no final dos anos 1930, com a chegada dos nazistas à Áustria, a bestial brutalidade contra os judeus – e deixa muito claro que boa parte do povo austríaco apoiou os criminosos nazistas, ou, no mínimo, não se opôs a eles.
Mas o filme não tem, de forma alguma, um tom, um viés sionista, de ode aos judeus como os escolhidos de Deus, a melhor coisa da humanidade. Esse viés lamentável aparece em alguns filmes, na minha opinião – como, por exemplo, os franceses Enquanto Houver Esperança/La Maison de Nina (2005) e Amor e Ódio/La Rafle (2010).
Aqui não há isso – não há maniqueísmo, esquematismo, todos os judeus são perfeitos, todos os austríacos são monstruosos. De forma alguma. Não há ranço.
Há, com todo direito do mundo, uma condenação virulenta da estupidez, da brutalidade, da ignomínia do nazismo. O regime executou seis milhões de pessoas – e, além disso, promoveu o saque, o roubo, de um número absurdo de bens dos perseguidos pelo regime. Jóias, dinheiro, propriedades de todos os tipos – e obras de arte.
Essa questão só tem sido abordada pelo cinema nos últimos anos, como nos documentários citados acima e no bom filme de George Clooney. “Esse interesse meio tardio é compreensivo”, disse, em entrevista, o diretor Simon Curtis. “O número de perdas de vidas humanas durante a Segunda Guerra foi tão catastrófico que ninguém falava de roubo de obras de arte, era um tema secundário, era o que menos importava nas décadas que se seguiram. Levou gerações para que as dramáticas histórias envolvendo o sequestro de coleções de arte de famílias judias pelos nazistas ganhasse importância.”
Ainda bem que esse tema tem sido agora objeto de livros e filmes. É um tema importantíssimo.
A última das frases dos letreiros finais do filme é assustadora:
“Estima-se que mais de 100 mil obras de arte roubadas pelos nazistas nunca retornaram a seus legítimos donos.”
Até já houve outros genocídios. Mas esse crime absurdo, essa pilhagem de proporções dantescas, jupiterianas, isso nunca teve paralelo na História do mundo.
Anotação em outubro de 2015
A Dama Dourada/Woman in Gold
De Simon Curtis, Inglaterra, 2015
Com Helen Mirren (Maria Altmann), Ryan Reynolds (Randy Schoenberg)
e Daniel Brühl (Hubertus Czernin), Katie Holmes (Pam Schoenberg), Tatiana Maslany (Maria Altmann jovem), Nellie Schilling (Maria Altmann criança), Max Irons (Fritz Altmann), Antje Traue (Adele Bloch-Bauer), Allan Corduner (Gustav Bloch-Bauer), Henry Goodman (Ferdinand Bloch-Bauer), Nina Kunzendorf (Therese Bloch-Bauer), Charles Dance (Sherman), Frances Fisher (Barbara Schoenberg)
e, em participações especiais, Elizabeth McGovern (Juíza Florence Cooper), Jonathan Pryce (juiz Rehnquist, da Suprema Corte), Moritz Bleibtreu (Gustav Klimt)
Roteiro Alexi Kaye Campbell
Fotografia Ross Emery
Música Martin Phipps e Hans Zimmer
Montagem Peter Lambert
Produção The Weinstein Company, BBC Films, Origin Films.
Cor, 109 min
***1/2
Prezado Sérgio,
Eu achei tremendamente curioso o fato de que as críticas ao filme digam que a obra descamba para o melodrama, que o uso do “flash-back” é excessivo e que as filigranas jurídicas não operam como mecanismos para gerar a sensação de que o desafio dos protagonistas é quase insuperável.
Como resultado, os vereditos de tais análises é de que o filme deixou de transformar em algo grandioso uma boa premissa.
Entendo que todos esses supostos problemas deixam de lado o principal tema do filme, que não é nem a vitória judicial, nem mesmo o roubo de arte, mas a perda.
“Perda” no sentido de que todas aquelas pessoas tiveram os locais a que pertenciam inapelavelmente e irreparavelmente espoliados.
Ou seja, o local onde a protagonista cresceu e era feliz com sua família foi literalmente obliterado, e ela teve de fugir de lá como se realmente fosse um ser inferior para não padecer do mesmo fim.
Ela passa a odiar aquele lugar. Quando retorna, de fato passou a ser uma estrangeira.
É justamente por isso que a cena mais brilhante, aquela que nos fez lembrar de “Morangos Silvestres”, me pareceu tão fantástica e tocante (é a segunda vez que sou levado às lágrimas em um filme…): ela remonta tudo aquilo que foi roubado da protagonista.
A humanidade em si é roubada quando tantos homens e mulheres são massacrados a troca de preconceitos, do “espaço vital” ou de qualquer outro pretexto que seja utilizado para justificar a canalhice e o genocídio.
Em suma, a perda me pareceu o sentimento que justifica a produção da obra e, apesar dos eventuais problemas do filme, esse tema é tratado com glorioso maturidade.
Era isso… Desculpe o tamanho do texto!
Grande abraço!
André
Beleza de análise, André!
E não tem sentido você pedir desculpa pelo tamanho do texto. Logo pra mim, que escrevo anotações do tamanho do “Guerra e Paz”!
Muito obrigado por enviar o comentário.
Um abraço.
Sérgio
Sérgio,
Muito obrigado! Mas o importante mesmo é o espaço para a reflexão e a discussão disponibilizado.
Aliás, da próxima vez, vou lembrar que, tão relevante quanto a redação de um texto, é a sua revisão…
Agora sobraram vírgulas…
Não está fácil hoje!
Duvido que alguém tenha chegado a seus pés na análise do filme A Dama Dourada. Simplesmente completo, bem escrito e merecedor de todos os elogios o seu texto. Congratulations, hehehe.