Adivinhe Quem Vem para Jantar / Guess Who’s Coming to Dinner

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4.0 out of 5.0 stars

É fascinante, espantoso, chocante como Adivinhe Quem Vem para Jantar é um grande filme.

Mal me lembrava que tinha visto antes. Claro, sabia de muita coisa sobre ele, porque é um filme marcante, importantíssimo, mas tinha até dúvidas se já vira antes ou não. Tive que consultar minhas anotações. Elas dizem que vi, sim, o filme, em 1969 – mas eu de fato me lembrava muito pouco dele.

Foi um choque revê-lo agora – é um filme extraordinariamente bom.

Ele é tão bom quanto é importante – mas entre ser importante e ser bom há distância tão grande quanto intenção e gesto.

Deus e o Diabo, por exemplo, é importantérrimo. Tudo que Gláuber fez é importantérrimo. Todo o Godard dos anos 60 é mais do que importantérrimo.

Jamais vou rever Gláuber, Godard. É importante, importantérrimo, pode até ser genial – mas é chato, profundamente chato, horrorosamente chato, cruelmente chato. A vida é curta demais – não vou perder meu tempo com coisa profundamente, horrorosamente, cruelmente chata.

zzadivinhe3Rever Adivinhe Quem Vem para Jantar foi uma experiência maravilhosa, gratificante, emocionante.

Que belo filme!

Não é preciso ser chato para ser bom e ser importante. Essa é uma verdade que os cinéfilos de nariz empinado desconhecem. Os cinéfilos de nariz empinado acham que, para ser bom, um filme tem que ser profundamente, horrorosamente, cruelmente chato.

Adivinhe é uma demonstração clara de que um filme pode ser bom, e importante, sem ser chato.

O mundo mudou demais, de 1967, quando Stanley Kramer fez Adivinhe, até hoje. São 46 anos, quase meio século. Em muitas coisas, mudou para pior; em muitas outras, para melhor.

Os Estados Unidos só acabaram legalmente com seu próprio apartheid em 1964

Especificamente sobre racismo, o tema do filme, houve imensos avanços. (Não no Brasil dos últimos 11 anos, em que houve violento retrocesso, mas eu gostaria de não falar de cotas, do racialismo que o PT vem implantando no Brasil, nesta anotação. Vou fazer um imenso esforço para não falar sobre isso.)

Especificamente sobre racismo, houve imensos avanços. O nojento apartheid da África do Sul foi derrubado, sepultado. A África do Sul teve a sorte imensa de contar com um dos maiores estadistas de que a História tem notícia para conduzir o processo de saída do apartheid rumo a uma sociedade plural.

Nos Estados Unidos, em especial, os avanços foram formidáveis.

Até os anos 60, em diversos Estados americanos – o país que se diz do sonho e da esperança –, o segregacionismo era legal, garantido por lei. Não tinha o nome ignominioso de apartheid, mas era idêntico a ele. As pessoas de pele negra tinham que se sentar atrás nos ônibus, não tinham direito a voto; havia banheiros separados para as pessoas de pele clara e as pessoas de pele escura. Havia bares, lojas que não admitiam a entrada de pessoas de pele escura.

Tudo legal, garantido por leis.

O casamento entre pessoas de cor de pele diferente era proibido por lei. Um diálogo extraordinário do filme nos lembra que isso era lei em 16 ou 17 dos 50 Estados americanos.

Não canso nunca de lembrar que apenas em 1964, durante o governo de Lyndon B. Johnson, foi aprovado o Civil Rights Act que proibiu a discriminação contra minorias raciais, étnicas, nacionais e religiosas.

Os Estados Unidos só acabaram legalmente com seu próprio apartheid em 1964 – apenas 30 anos antes do fim do regime nojento, abjeto, da Áfríca do Sul.

O filme é uma beleza de estudo sobre a distância entre intenção e gesto

zzadivinhe2Nas últimas décadas, passou a ser politicamente incorreto ser racista, no país da economia mais poderosa do mundo.

Em 2008, um homem de pele escura foi eleito presidente do país.

Lembrar essas verdades, essas obviedades todas, é fundamental para se compreender bem a grandeza do filme de Stanley Kramer.

Não que ele seja um filme velho, datado. De forma alguma.

Adivinhe Quem Vem para Jantar é hoje um filme tão poderoso, fascinante, como era quando feito, quase meio século atrás, quando o mundo, e os Estados Unidos em especial, era muito pior, em relação ao racismo.

Hoje, quando o pior do racismo nos Estados Unidos já passou, já virou poeira da História, dá para admirar o filme como uma beleza de estudo sobre a distância entre intenção e gesto.

Os pais da moça loura não são reacionários; são liberais, progressistas

Embora este seja um dos filmes mais emblemáticos, mais importantes dos anos 60, não é obrigatório que todo mundo saiba do que se trata, e então vai aqui uma sinopse.

No Havaí, um homem, John, e uma mulher, Joey, se apaixonam. A primeira tomada do filme mostra um avião se aproximando – John e Joey estão chegando do Havaí para San Francisco, a cidade dela. John, veremos mais tarde, tem 37 anos, já havia sido casado e perdera a mulher e o filho num desastre. Joey tem 23 anos.

Chegam a San Francisco para que Joey apresente o futuro marido aos pais.

John é um médico de currículo perfeito, respeitadíssimo no meio, com cargo na Organização Mundial de Saúde. Vem na pele negra e lindérrima de Sidney Poitier.

Joey (Katharine Houghton ) é branca, loura .

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Mas a questão principal é que os pais de Joye são liberais, no sentido político e americano do termo, ou seja, avançados, progressistas, pra frente. O pai de Joey, Matt Drayton, veremos em seguida, é o dono de um jornal progressista; passou a vida defendendo o que é correto. Combateu as injustiças durante toda a vida. Era um defensor dos direitos civis, da igualdade de direitos.

Joey tem absoluta certeza de que os pais aceitarão como natural o fato de estar para se casar com um negro.

Quando se trata da filha, porém, surge a distância entre intenção e gesto, entre a certeza política na teoria e a prática.

Tanto a mãe de Joey, Christina (interpretada pela maravilhosa Katharine Hepburn), quanto o pai (o gigante Spencer Tracy, em seu último filme) ficam perplexos quando a intenção liberal, honesta, correta, se choca com o gesto, a verdade dos fatos.

O filme nos questiona, nos provoca

Se a humanidade não se destruir, seja através de bombas atômicas coreanas do Norte, iranianas, israelenses, seja através da incapacidade de compreender que as mudanças climáticas são assunto sério demais, é bem possível que lá pelo ano de 3013 Adivinhe Quem Vem para Jantar seja mostrado nas aulas de História como uma beleza de exemplo não apenas da questão maior – aquela doença perversa, felizmente então já há muito desaparecida, do racismo –, mas também sobre essa coisa tão humana que é a distância entre intenção e gesto.

A grande sacada do filme é exatamente o fato de que os pais de Joey são liberais, intelectuais, anti-racistas – mas de repente têm que enfrentar o fato de que o que pensam, ou acham que pensam, vire verdade com sua própria filha.

As distâncias entre intenção e gesto podem ser enormes, amazônicas, jupiterianas.

Tipo: você é uma pessoa boa, esclarecida, anti-homofobia. Tem bons amigos e amigas gays, e os admira. Mas de repente sua filha diz que é lésbica.

Não é a mesma coisa.

Pior ainda: você é uma pessoa boa, esclarecida, anti-homofobia. Tem bons amigos e amigas gays, e os admira. Mas de repente seu filho diz que é homo.

Como assim: meu filho é veado?

Ahnn… Será que estarei me fazendo compreender?

zzadivinhe5Dou outro exemplo.

Digamos que Joaquim da Silva é (assim como eu mesmo sou) absolutamente contra a pena de morte, e contra a Lei de Talião, aquela do olho por olho, dente por dente. Absolutamente, ferozmente, profunda, profundamente contra.

Tudo bem. Suponhamos agora que, num sequestro-relâmpago que se deu mal, um bandidinho mate a filha do correto, íntegro Joaquim da Silva. E que as gravações dos circuitos internos, e mais um criterioso trabalho da Polícia, identifiquem o assassino da sua filha.

Continuaria ele sendo contra a pena de morte? Contra a Lei do Talião?

Um dos muitos brilhos do filme é este: ele nos põe na situação de quem foi surpreendido por uma notícia que não esperava.

O racismo nos olhos dos outros é refresco. O mesmo com a homofobia. É isso que o filme nos diz, nos joga na cara, nos questiona, nos provoca.

Alguém poderia argumentar que a estrutura é teatral. Que é melodrama. E daí?

Ao rever esta maravilha agora, fiquei pensando em que tipo de argumento alguém poderia usar para dizer que é um filme ruim.

Bem, boa parte dos cinéfilos de nariz empinado poderia simplesmente dizer que é um filme americano. Essas pessoas deveriam ganhar – como diria o Elio Gaspari – uma passagem de ida, sem volta, para Havana, Caracas ou Pyongyang.

Hahá, mas sempre haveria também quem dissesse que é uma estrutura muito teatral. Que se desenrola como um melodrama. Que é tudo muito esquemático, simples, fácil.

Tudo bem: não é crime ter opinião – mesmo que a opinião seja imbecil.

Um casal maravilhoso, fantástico, admirável

Adivinhe foi o último filme da dupla Katharine Hepburn-Spencer Tracy.

Já houve maravilhosas duplas no cinema. Ingmar Bergman-Liv Ullmann. Woody Allen-Diane Keaton. Laurel-Hardy. Hitch-Grace Kelly. Hitch-Bernard Herrmann. Hitch-Alma. Kieslowski-Preisner.

Fora do cinema, na vida, houve tantas: Dashiell Hammett-Lillian Hellman, Francis Scott-Zelda, John-Yoko…

O casal Spencer Tracey-Katharine Hepburn me parece um dos mais extraordinários de todos.

zzadivinhe999A relação dos dois mereceria um filme. O duro seria encontrar atores para interpretar esses monstros sagrados, que estivessem à altura deles.

Foram amantes durante décadas, e ele continuou sempre casado com Louise Treadwell, desde 1923 até sua morte, em 1967.

Não vi três dos nove filmes que fizeram juntos, mas dá para dizer que são todos deliciosos. Tudo em que o casal punha a mão virava ouro.

Aqui vai a lista dos nove:

O Fogo Sagrado/Keeper of the Flame, de George Cukor, 1942;

A Mulher do Dia/Woman of the Year, de George Stevens, 1942;

Sem Amor/Without Love, de Harold S. Bucquet, 1945;

Mar Verde/Sea of Grass, de Elia Kazan, 1947;

Sua Esposa e o Mundo/State of the Union, de Frank Capra, 1948;

A Costela de Adão/Adam’s Rib, de George Cukor, 1949;

A Mulher Absoluta/Pat and Mike, de George Cukor, 1952;

Amor Eletrônico/Desk Set, de Walter Lang, 1956;

E este Adivinhe Quem Vem Para Jantar, de Stanley Kramer, 1967.

Um monte de grandes diretores.

Uma parceria que nas telas durou um quarto de século. Quando fizeram o primeiro filme, em 1942, ele estava com 42 anos (é de 1900, nove anos mais velho que minha mãe), e ela tinha 35 (nasceu em 1907). Já eram grandes astros, com filmografias respeitáveis.

Spencer Tracy morreria no mesmo ano em que o filme foi produzido; tinha apenas 67 anos, mas parecia muito mais, o que é natural – com o passar do tempo, as pessoas foram envelhecendo cada vez mais com aspecto jovem. Bruce Springsteen, só para dar um exemplo, comemorou 64 durante sua estadia no Brasil, em setembro de 2013, exibindo um fôlego de garoto de 20.

Katharine viveria até 2003.

Creio que, até a consagração de Meryl Streep, Katharine foi a recordista de Oscars. Teve incríveis 12 indicações ao prêmio e venceu quatro, uma delas exatamente por seu papel como Christina Drayton neste filme aqui.

Spencer Tracy teve um pouco menos: sete indicações (uma delas, já póstuma, por sua interpretação como Matt Drayton), das quais venceu duas.

Spencer Tracy é uma daquelas figuras que são muito mais importantes do que qualquer prêmio. Me permito transcrever aqui o que escrevi depois de ver um dos muitos belos filmes estrelados por ele, Conspiração do Silêncio/Bad Day at Black Rock:

Spencer Tracy estava com 55 anos em 1955, mas parecia mais velho. Homens e mulheres pareciam mais velhos, meio século atrás. Spencer Tracy tinha o cabelo todo branco, aos 55 anos, e os ares de um senhor de uns 70. Talvez porque carregasse nos ombros uma carreira longa, esplêndida, extraordinária, e uma imagem imaculada de o mais respeitado ator do cinema americano. Poderia não ser o mais famoso, ou o que desse maior bilheteria, mas era o mais respeitável, o mais respeitado. (…) Spencer Tracy era o retrato acabado da dignidade.”

Dignidade é um produto que há de sobre neste filme

Dignidade – comentou Mary, quando li esse trecho que havia escrito sobre Spencer Tracy para ela – é um produto que há de sobra em Adivinhe Quem Vem para Jantar.

Sem dúvida.

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O trailer de Adivinhe ressalta o fato de que seus três atores principais são vencedores do prêmio da Academia. É um bom argumento para vender o filme para as platéias.

Mas poderia perfeitamente ter ressaltado também o fato de que os três atores principais são exemplos de dignidade.

Eles – assim como seus personagens.

O personagem interpretado por Sidney Poitier é digno – e belo – como o próprio ator.

O médico gênio John Prentice é um poço de dignidade. É um homem de princípios firmes, rígidos. Aconteceu de, durante passagem pelo Havaí, conhecer a bela loura – e aconteceu de os dois se apaixonarem perdidamente. Aos 37 anos, muito mais maduro que a amada de apenas 23, tinha seriíssimas dúvidas sobre qual seria a reação dos pais dela à vontade da garota de se casar com um homem de pele negra. Joey não tinha preocupação alguma quanto a isso: como havia aprendido com os pais que o racismo é algo abjeto, nojento, abominável, estava tranquila. Os muito jovens, é natural, não conhecem ainda a distância entre intenção e gesto, entre as opiniões e a realidade dos fatos.

John diz para os atônitos pais da moça algo que não havia dito para a própria namorada, iminente esposa: só se casará com ela se tiver a absoluta e total aprovação deles.

Um pouco mais tarde, Christina, a mãe, perguntará a Joey quão íntima havia sido a relação entre os dois nos dias que haviam passado juntos no Havaí. Como é uma mulher moderna, liberal, avançada, logo em seguida dirá que não tem direito de fazer aquela pergunta. Mas Joey, livre leve e solta como são as filhas de pais modernos, liberais, avançados, não perde a chance: “Você quer saber se dormimos juntos?”, pergunta ela, num diálogo que só poderia existir num filme americano a partir de então, 1967, toda a revolução comportamental acontecendo, os velhos preceitos do Código Hays virados letra mortas. “Não. Porque ele não quis.”

zzadivinhe8Dignidade. John, 37 anos, poderia perfeitamente ter comido a moça – não comeu porque ela era jovem demais; queria antes ter a aprovação dos pais da moça para o casamento.

Matt e Christina, os pais da moça, também esbanjam dignidade.

O monsenhor Ryan (uma deliciosa interpretação de Cecil Kellaway), o maior amigo do casal, esbanja dignidade, sabedoria, amor à vida, às pessoas.

Os pais de John também são pessoas extremamente dignas.

Como os pais de Joey, assustam-se, apavoram-se ao ver que a namorada do filho tem cor de pele diferente da deles. Aos olhos do pai (Roy E. Glenn Sr.), em especial, parece uma indignidade o filho se casar com uma moça de cor pele diferente. Para ele, aquilo não é natural, normal.

O autor do argumento e do roteiro, William Rose, fez um monte de coisa boa

Todos os diálogos do filme, os enfrentamentos entre esse bando de pessoas dignas, são absolutamente brilhantes. Ditos por aqueles atores soberbos, são lições de vida.

De fato, a estrutura da narrativa – toda centrada em diálogos, em enfrentamento de posições, em discussões de idéias – faz lembrar teatro filmado. No entanto, Adivinhe não se baseia numa peça de teatro. É um roteiro original, escrito diretamente para o filme por William Rose.

Hum… William Rose. Quem é mesmo?

Americano do Missouri, 1914-1987. Autor de 21 roteiros e/ou argumentos. Trabalhou com o diretor Stanley Kramer (e com Spencer Tracy) na comédia Deu a Louca no Mundo/It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World, de 1963. Fez o roteiro de Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando!, a arrasadora sátira sobre a paranóia americana durante a guerra fria dirigida por Norman Jewison – que dirigiu Sidney Poitier em outro filme virulentamente anti-racismo, No Calor da Noite/In the Heat of the Night, do mesmo ano de 1967.

zzadivinhe99Meu Deus! William Rose é o autor do argumento e do roteiro de Quinteto da Morte/The Ladykillers, a deliciosa comédia inglesa de Alexander Mackendrick de 1955 com Alec Guinness e um então jovem e desconhecido Peter Sellers, que os irmãos Coen refilmariam – também deliciosamente – em Matadores de Velhinhas/The Ladykillers, de 2004, com uma das mais fantásticas interpretações cômicas de Tom Hanks.

William Rose ganhou o Oscar de roteiro original. Com o prêmio de melhor atriz para Katharine, a Grande, foram dois os Oscars para o filme, que teve oito outras indicações – para filme, direção, ator para Tracy, ator coadjuvante para Cecil Kellaway, atriz coadjuvante para Beah Richards (que faz a mãe de John), direção de arte, montagem e trilha sonora.

Seria talvez necessário falar um pouco sobre Stanley Kramer, esse diretor não fugia de temas controversos, polêmicos – ao contrário, corria atrás deles. Mas esta anotação já está grande demais, e então basta lembrar que esse cineasta desaforado, corajoso, foi o autor de Julgamento em Nuremberg (1961), em que Spencer Tracy faz o papel central, à frente de um elenco de grandes astros de várias nacionalidades, e de Acorrentados/The Defiant Ones (1958), em que Sidney Poitier divide com o branco de olhos azuis Tony Curtis os papéis centrais.

Acorrentados, exatamente como este Adivinhe Quem Vem Para Jantar, é, além de um belo filme, uma beleza de panfleto mostrando que, entre todos os muitos tipos de crimes que a humanidade inventou, o racismo é um dos mais abjetos.

Anotação em outubro de 2013

Adivinhe Quem Vem para Jantar/Guess Who’s Coming to Dinner

De Stanley Kramer, EUA, 1967

Com Spencer Tracy (Matt Drayton), Sidney Poitier (John Prentice), Katharine Hepburn (Christina Drayton), Katharine Houghton (Joey Drayton), Cecil Kellaway (Monsignor Ryan), Beah Richards (Mrs. Prentice), Roy Glenn (Mr. Prentice), Isabel Sanford (Tillie), Virginia Christine (Hilary St. George)

Argumento e roteiro William Rose

Fotografia Sam Leavitt

Música Frank De Vol

Montagem Robert C. Jones

Produção Stanley Kramer, Columbia Pictures. DVD Columbia.

Cor, 108 min

R, ****

19 Comentários para “Adivinhe Quem Vem para Jantar / Guess Who’s Coming to Dinner”

  1. Acho que já vi algumas vezes esse filme e sempre ficava indignada com a reação dos pais da mocinha, ultraliberais, ao saber que a filha branca e loura pretende casar com um médico negro. Nunca tinha pensado na sua hipótese de que a explicação é que a prática difere muito dos conceitos teóricos em que se acredita. O fato de os pais do médico também serem contra o casamento me deixou um pouco perplexa pois, tanto quanto eu saiba, um negro casar com uma branca, pelo menos no Brasil, é há muito tempo símbolo de ascensão social.
    E o mais interessante nessa reação contrária dos pais é que ambas as mães acabam aceitando bem o casamento dos filhos. Não esqueço a atitude firme da mãe do médico quando fala a ambos os pais que eles se esqueceram o que é paixão, a transfiguração de sentimentos que seus filhos estão sentindo, por isso se opõem de forma tão ferrenha a uma união baseada no amor.
    Guenia Bunchaft
    http://www.sospesquisaerorschach.com.br

  2. Um grande filme! De fato, avançamos em relação ao racismo, o pior passou, mas não completamente e nem como deveria. Acho que você está sendo otimista ao dizer que em cem anos o filme será usado apenas como exemplo do que era o racismo, mas torço para que eu esteja errada.
    Os diálogos são mesmo brilhantes, e o roteiro é quase perfeito, a não ser por duas questões: o machismo da mãe da Joey ao dizer que ela foi muito feliz nos anos em que pôde ajudar o marido, e que a filha também seria feliz pelo mesmo motivo (acho que naquela época a mulher só existia em função do marido e de um casamento). A outra é quando o personagem do Sidney Poitier diz ao pai da Joey que já havia pensado na questão dos filhos (sofrerem racismo), pois um casamento sem filhos não é casamento.

    Realmente, há enorme distância entre intenção e gesto, e às vezes eu faço esse exercício de me imaginar em determinada situação; não é fácil colocar em prática o que se prega.
    Eu acho o filme bastante teatral, sim, mas isso eu acho de todos os filmes de antigamente; as cenas eram muito mais marcadas, tomadas longas, as falas eram quase que declamadas, etc.
    É verdade que os personagens esbanjam dignidade, e isso nos faz gostar ainda mais do filme. A alegria e a felicidade (sem falar na bondade) da Joey são contagiantes, a retidão moral e a educação de John Prentice são admiráveis, e tudo o mais que você já falou dos outros. São pessoas das quais eu gostaria de ser amiga ou de ter na família.

    Fiquei espantada ao saber a idade do Spencer Tracy; como você disse, as pessoas aparentavam mais idade, e com 40 anos já eram consideradas velhas. Aliás, o tempo todo fiquei pensando que o casal já era meio avançado na idade para ter uma filha tão nova, ainda mais para a época, onde se casava jovem e logo vinham os filhos.
    Me chamaram a atenção o carinho entre a família, a cumplicidade afetuosa entre mãe e filha (a personagem da Katharine várias vezes se emociona ao longo do filme) e a mente aberta, avançada, o espírito evoluído do monsenhor.

    And last but not least, não pude deixar de notar como a maquiagem da Beah Richards estava claramente alguns tons abaixo da cor da pele dela; maquiagem para a pele negra só veio surgir há pouco tempo.

  3. Ahhh, só agora fui fazer as contas – na calculadora, lógico – e vi que não são cem anos, mas mil. Aí sim, pode haver uma esperança.

  4. Esse filme é maravilhoso, gostaria de tê-lo.
    Se tiver como me passar esse filme completo, eu ficaria muito, mas muito feliz.
    Obrigada!!

  5. Prezado Sérgio,
    Acompanho seu site há alguns anos, mas nunca havia me manifestado anteriormente. Entretanto, este filme merece algumas palavras. A sua profecia de que o filme será objeto de aulas de história é perfeita, contudo, penso que os direitos civis são mera alegoria na obra. O binômio “intenção x gesto” pode ser empregado nos mais variados temas/conflitos decorrentes da evolução constante do conceito de família e de hábitos da sociedade, razão pela qual a película não envelhece. Arrisco dizer que sua pertinência permanecerá por muitos anos. Logo, além de aulas de história, avalio que o seu mote/potencial deveria ser explorado também pelos ramos da sociologia e filosofia. Aproveito a ocasião para parabenizar pelo seu trabalho, sou fã do site! Grande abraço, Rafael

  6. Aliás, deixo como sugestão o recente filme francês Qu est-ce qu on a fait au Bon Dieu?
    Pode-se dizer que se trata de uma releitura ou homenagem à obra de Kramer.

  7. Caro Rafael, agradeço muito pelas suas mensagens.
    É muito interessante o que você diz sobre o “Adivinhe quem vem para jantar”.
    E, naturalmente, fiquei bem feliz com os elogios.
    Muito obrigado, e um abraço.
    Sérgio

  8. É um dos melhores filmes que já vi. Aliás, eu o vi umas seis ou sete vezes. Uma pérola, uma obra-prima!

  9. Seja pelo demonstrativo que seja, na Literatura, no Teatro, no Cinema, no Rádio ou na Televisão, o RACISMO nunca deixará através dos tempos de configurar-se como o ATAVISMO mais vil do BICHO-HOMEM!

    Logo, caberá aos Homens Dignos expor o fato pelas vias alcançáveis à Humanidade como um todo.

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